domingo, 31 de julho de 2011

Super 8 (2011)

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Super 8 de J. J. Abrams é um bastante aguardado filme de suspense e ficção científica com a produção de Steven Spielberg.
Este filme conta-nos a história de um grupo de amigos que se encontram em plena produção de uma curta-metragem de terror onde os zombies reinam. No meio das suas escapadelas nocturnas assistem, e são eles também parte integrante, a um violento acidente com um comboio do qual escapam milagrosamente ilesos.
Nos dias que se seguem a este acidente a sua até então pacata cidade é assolada por misteriosos desaparecimentos... primeiro pequenos electrodomésticos, depois os cães e finalmente algumas pessoas.
Sendo esta a premissa principal do filme, que depois irá culminar na grande descoberta sobre o que se está afinal a passar na cidade, temos também a história parelela de Joe Lamb (Joel Courtney) um jovem tímido e recatado marcado pela recente perda da sua mãe num acidente de trabalho.
Sendo esta uma história essencialmente de suspense e ficção científica é impossível não encontrar alguns elementos que a transformam também numa história dramática nomeadamente neste último aspecto referido sobre a perda de um progenitor. Tomamos conhecimento deste facto logo na abertura do filme e nos momentos imediatos. Sabemos que aquela criança perdeu a mãe e que a sua vida familiar é agora bem mais complicada sentindo-se ele próprio um estranho no seu espaço.
Estes elementos constituem um forte paralelismo com a própria situação do extra-terreste, que descobrimos mais tarde ser o causador de tão estranhos desaparecimentos, e que se encontrou durante anos preso no nosso planeta sendo que a única coisa que pretendia era a evasão e o regresso a casa. O afastamento dos seus poderia provocar (e provocou) um estado mais alterado e selvagem que em muito se nota também nas personagens humanas afastadas de um ambiente mais familiar.
Mas, e escusado será pensar o contrário, o ponto alto deste género de filmes (e este não é excepção) são de facto os aspectos técnicos do mesmo. Todos eles desde a montagem, efeitos especiais visuais e sonoros e também a fotografia que transforma toda uma boa parte do filme num ambiente mais pesado e sombrio são seguramente aqueles que maior profissionalismo e excelência mostram.
O extra-terrestre com um aspecto meio disforme, não fosse esta uma produção de J.J. Abrams apesar de não assustar muito quando o vemos de perto, tem uns movimentos aracnídeos que... metem o seu respeito (talvez só a mim), e este filme não me espantava em nada se nas categorias técnicas de som e efeitos especiais visuais e sonoros obtivesse as respectivas nomeações aos Oscars.
Como os momentos mais impressionantes destaco a sequência algo longa mas proveitosa do acidente do comboio e pelo lado mais dramático os instantes finais em que Joe deixa partir a única coisa que o ligava à sua falecida mãe e que era provavelmente a sua mais forte memória dela naquele que é possivelmente o momento mais emocionante do filme.
Interessante é também, já após os créditos finais terem iniciado, assistirmos à curta-metragem que os jovens estiveram a fazer durante uma boa parte do filme. Divertida e espirituosa temos nela algumas referências ao grande mestre do terror que é George Romero dignas de registo e a sua concepção ao estilo de filme dentro do filme está francamente bem conseguida como tal quando começarem os créditos finais, não se levantem logo da sala de cinema pois o filme... ainda não terminou.
Quanto ao filme propriamente dito não será de fácil degustação para aqueles que não são apreciadores do género mas, ainda assim vale pelos bons momentos de alguma comédia e pelo suspense que consegue ser uma constante do princípio ao fim.
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"Dr. Woodward: If you speak of this, you and your parents will be killed."
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8 / 10
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sábado, 30 de julho de 2011

Parking (2010)

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Parking de Jorge Molina é uma curta-metragem espanhola de comédia mas algo previsível no seu desfecho. Com a pressa de quem quer fechar um negócio um executivo corre de um lado para o outro dentro de um parque de estacionamento até que, ao chegar ao seu carro, vê que alguém já lá está dentro.
Depois de uma pequena luta onde a sua vida parece estar mais a andar para trás do que para a frente ele percebe finalmente o que é mais importante para a sua vida.
Previsível no seu final que, sem revelar o que acontece, conseguimos facilmente perceber onde vai dar, mas ainda assim não deixa de ter os seus momentos mais cómicos e um excelente trabalho de fotografia.
Não é nenhuma pérola do género mas ainda assim consegue ter os seus momentos interessantes e descontraídos.
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6 / 10
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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Invention of Love (2010)

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A Invenção do Amor de Andrey Shushkov é uma excelente curta-metragem de animação onde o amor prevalece acima de tudo.
Ele e Ela amam-se e casam. Vivem num sítio idílico onde tudo aparenta ser perfeito. No entanto cedo ela percebe que toda essa perfeição que a rodeia tem agarrado a si um senão... Tudo é perfeito mas mecânico. Animais, equipamentos, plantas, flores... tudo. Tudo está desprovido de vida. É o custo que se tem de pagar.
Quanto Ela morre, Ele sente-se só e tal como fez com tudo aquilo que os rodeava, também com ela a transformou numa máquina para assim a ter junto a si para sempre bela. Mas também percebe que já nada será como fora até então.
Muito bem executada, o que me fascinou mais nesta curta é o facto de durante toda a animação não se vislumbrarem quaisquer tipo de rostos das personagens. No entanto, todos os demais detalhes a respeito do ambiente que os rodeia bem como dos demais gestos que têm são expressivos demais contribuindo na perfeição para a compreensão do que decorre a cada momento.
Uma das melhores e mais bem feitas curtas de animação que vi nos últimos tempos e considerando que é um trabalho ainda de estudante, aguardo então pacientemente pelos trabalhos "profissionais" deste realizador.
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8 / 10
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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Land of the Dead (2005)

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Terra dos Mortos de George A. Romero com a participação de um conjunto interessante de actores tais como Simon Baker, Dennis Hopper, John Leguizamo e Asia Argento nesta história que tráz de novo "à vida"... os mortos-vivos.
Depois de a praga que assolou o planeta ter afectado a maioria da população transformando-os em mortos-vivos, os poucos humanos não infectados resistem numa pequena cidade isolada divididos em duas classes. A primeira rica e com poder vive num edifício protegido onde se deleitam com uma vida de luxo e opulência desinteressados do que se passa "lá fora". A segunda classe pobre e que sobrevive de negócios paralelos vive fora do prédio e nos limites da cidade onde a criminalidade é tão assustadora como o que vive do outro lado.
Riley (Baker) e Cholo (Leguizamo) são dois tipos que vivem à margem da lei e que costumam entrar nas partes infectadas da cidade para roubar o que ainda resta da antiga civilização para vender a elevados preços aos habitantes do prédio exclusivo que tudo fazem para manter o seu antigo nível de vida que é cuidadosamente gerido por Kaufman (Hopper).
Riley entretanto conhece Slack (Argento) e salva-a de uma morte certa tornando assim evidente a cumplicidade entre ambos, especialmente quando os mortos-vivos mostram sinais de inteligência e fartos de uma vida miserável percebem que conseguem chegar ao tão afamado edifício.
Estes filmes de mortos-vivos e afins são mais do que aquilo que aparentam inicialmente. Não se trata só de uma simples história de infestação que ceifou a maior parte da vida humana mas sim um filme que, à semelhança de todos os outros que Romero fez dentro desta temática e em épocas específicas, trata de assuntos bem mais importantes, abrangentes e actuais.
Neste filme em particular os mortos-vivos de Romero mais não são do que uma alusão à sociedade aparentemente dividida em dois grupos bem distintos onde uma extensa maioria pouco ou nada tem para subsistir e uma minoria que vive na opulência sem querer saber do que o rodeia "lá fora".
Temos também aqueles que não infectados vivem à margem de uma vida boa nos limites da cidade. Uma classe média (pobre) que sobrevive como pode num mundo devastado é, graças a Romero, um cada vez mais claro exemplo da sociedade actual.
E se repararmos nos outros filmes deste género, quase todos senão mesmo todos com o dedo de Romero, poderemos constatar que foram realizados em épocas cruciais nas quais tentou fazer uma clara denúncia aos vários problemas que afectavam a sociedade. O apartheid e o racismo... o consumismo... globalização... a acentuada diferenciação de classes, todos estes factores estiverem presentes e condenados nos seus filmes de uma forma demasiado evidente. E é isso que os faz funcionar tão bem e terem sempre algo de diferente além da simples zombificação humana (que não deixa de ser uma grande sátira) face a tantos problemas sociais reais.
Se pensarmos no filme apenas como entretenimento... resulta também bastante bem pois são inúmeros os sustos óbvios que vamos ter ao longo do filme, mais que não seja pela excelente caracterização que estes mortos-vivos têm e que só por si nos dá algum "medo".
Assim sendo, e para aqueles que gostam deste género de filme em particular, têm aqui uma excelente escolha para uma qualquer noite, porque sim... estes filmes devem ser vistos à noite.
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6 / 10
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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Boys Grammar (2005)

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Boys Grammar de Dean Francis é uma trágica curta-metragem baseada em factos reais onde Gareth (Matt Levett) é sexualmente abusado por Nick (Tom O'Sullivan) nos balneários de um restrito colégio privado.
Nesta história é um facto notório que existe uma certa tensão sexual mútua entre os dois jovens mas só assumida por Nick muito mais tarde. E é esta mesma repressão da sua própria sexualidade que o leva a cometer um tão vil e desesperado acto sobre o seu colega.
Confiando na veracidade dos factos esta curta-metragem não só é chocante pelo acto bárbaro cometido como também pela complacência do pai que ao saber que o filho tinha sido vítima de bullying (sem conhecer, penso, a violação em si), afirma que são "actos destes que tornam as pessoas mais fortes", quando qualquer forma de violência deveria (DEVE) ser severamente punida.
Bons desempenhos por parte dos conjunto de actores com claro destaque para a interpretação de Matt Levett num retrato convincente de um jovem que vive com vários dramas quer de sexualidade reprimida, quer do abuso de que foi vítima bem como de incompreensão no seu próprio lar.
Não posso também de deixar um pequeno registo ao título escolhido para esta curta... Boys Grammar ("Gramática de Rapazes" se formos traduzir à letra)... como que se a violência fosse a forma de linguagem que rapazes ou homens utilizassem para se exprimir... um pequeno àparte que dá que pensar.
Bem dirigida e com bom argumento e interpretações é uma curta a ver e a ter em consideração pela sua temática bem chocante.
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8 / 10
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terça-feira, 26 de julho de 2011

Bowfinger (1999)

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Bowfinger - O Sem Vergonha de Frank Oz é, ao pensarmos bem nele, um divertido filme sobre uma enorme paixão pela arte cinematográfica.
Bowfinger (Steve Martin) é um produtor de cinema que vê recusada a participação de Kit Ramsey (Eddie Murphy), um grande actor, no seu último filme.
A única solução que ele então vê para a conclusão do filme é mesmo fazê-lo mas sem que este actor saiba do seu envolvimento e que os demais técnicos pensem que esta estrela simplesmente não queira contacto com os demais profissionais.
É com base nesta premissa que Bowfinger vai realizar o filme da sua vida tudo tendo como base uma história onde alienigenas estão a controlar as mentes dos terráqueos e em que todos os sustos apanhados por Kit sejam ficcionados, tal não é o seu potencial artístico e interpretativo.
Além dos incontáveis momentos de comédia que apenas actores como Steve Martin e Eddie Murphy conseguem criar, aquilo que para mim é admirável neste filme é também o facto de no meio de tantas risadas e esquemas que se esperam resultar, estar uma enorme e verdadeira paixão por cinema que aquelas personagens irradiam.
Esta paixão está visível em inúmeros momentos e para isso basta pensarmos em tudo aquilo que aquele desesperado produtor faz e inventa em nome da concretização do seu filme. Bowfinger mente, adultera, inventa, improvisa tudo apenas para ver andar um filme que idealizou. O mais engraçado de tudo é que uma vez pronto quando assistimos ao resultado final percebemos que ali não está, nem de longe, o filme do ano com desempenhos inesquecíveis. Pelo menos não para "nós" pois para quem esteve envolvido na sua produção daquele "Chubby Rain", sabemos e vemos pelas suas expressões que aquele sim foi "o" filme.
E se isto não bastasse tinhamos ainda os segmentos finais em que assistimos ao projecto seguinte deste grupo de actores para podermos esperar o "pior" caso aquilo fosse uma equipa de produção verdadeira e não apenas um grupo de actores a representarem... actores.
Curioso é também ver como no seio de um filme de comédia se encontra a produção de um filme de terror. Ao contrário do habitual em que temos um filme de terror com momentos mais ligeiros de comédia para desanuviar o ambiente aqui é exactamente o oposto mostrando que ambos os géneros se encontram de mãos dadas por onde quer que passem (apenas a título de curiosidade...).
Martin e Murphy são as almas deste filme mas não seria justo esquecer todos os outros actores onde se destacam também Christine Baransky ou Heather Graham e Robert Downey Jr. e Terence Stamp em participações quase especiais mas que conseguem abrilhantar um pouco mais o ecrã para esta comédia que se quer ligeira mas que se nota ser feita com coração.
Apesar deste filme já ter uns quantos anos e de ser dificíl de o encontrar (por não ter sido um sucesso), por vezes damos com ele a passar num qualquer canal televisivo secundário. Para aqueles que tenham a sorte de o encontrar não deixam de aproveitar e ver os delírios megalómanos de uma equipa de profissionais de cinema com aspirações bem mais altas do que aquelas que lhes são permitidas. Afinal, não foi assim que nasceu a magia do cinema?
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6 / 10
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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Love Language (2010)

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Love Language de Jason Y. Lee é uma excelente curta-metragem feita como uma campanha de sensibilização para a população com problemas auditivos que não só resulta pela sua mensagem principal como tem ainda o grande feito de se tornar numa muito bonita história de amor.
Sem grandes palavras, porque realmente não fazem falta, apenas deixo a curta para poderem ver. Garanto que não se arrependem.
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8 / 10
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Mihalis Kakogiannis

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1922 - 2011
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domingo, 24 de julho de 2011

Arachnophobia (1990)

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Aracnofobia de Frank Marshall é aquele filme que para muitos serve como um verdadeiro teste aos nervos e aos problemas cardíacos. Sim... eu sou um deles. Não pode haver no mundo criatura mais asquerosa do que uma aranha e aqui elas são literalmente aos milhares.
Depois de uma viagem pela América Latina onde um norte-americano morre em estranhas circunstâncias, o seu corpo é enviado para a sua terra natal onde muitas mais estranhas mortes ocorrem.
Ross Jennings (Jeff Daniels) o novo médico local agora suspeito de má prática médica por ser ele o último a analisar todas as vítimas mortais pela última vez descobre que algo mais se passa do que simples mortes... e tinha razão.
Daqui para a frente aquilo a que vamos assistir é a um sem fim de aranhas que se lembram de vir atacar uma pequena e pacata localidade do interior até descobrirmos o verdadeiro "lar" da raínha das ditas para nos arrepiarmos surpreendermos com o tamanho da criatura.
Por mim falo quando digo que se me aparecesse uma aranha daquele tamanho à frente morreria mais depressa de uma qualquer paragem cardíaca antes sequer do animal me ferrar a mandíbula e espalhar o veneno. Sim, é verdade... é capaz de ser o único animal ao cimo da Terra que me dá um profundo asco e me retira o sossego.
Passando ao lado dos enormes, longos e inúmeros planos em que durante este filme tive de olhar para aranhas... e mais aranhas... que são francamente muito penosos, há a destacar a interpretação de John Goodman que é o que alivia a tensão durante esta penosa hora e meia de filme. Goodman enquanto o cómico exterminador de aranhas dá o melhor de si nos breves momentos em que surge no ecrã. Breves mas os suficientes para nos tranquilizarem e relaxarem um pouco para não pensarmos demais naqueles nojentos seres de oito pernas (estou a ser tão imparcial...).
Dito isto sim... assumo que apesar do algum stress que me provoca muito deste filme, o que é certo é que ele é um clássico daqueles que não resisto ocasionalmente a ver e que bastante me diverte. Que me lembre mais nenhum foi feito com a categoria deste onde as aranhas de facto parecem mesmo ser reais e que estão ali tão perto de nós (demasiado perto).
Dentro do género é de facto um dos melhores e que recomendo... mesmo aos cardíacos, como sendo uma aposta segura em bom entretenimento. E para quem tem asco a aranhas... acredite quando digo que depois de ver este filme... não irá passar. Pelo contrário, ficará ainda pior.
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7 / 10
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sábado, 23 de julho de 2011

Camino (2008)

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Camino de Javier Fesser foi o grande vencedor dos Goya em 2009 tendo vencido as categorias principais nomeadamente Filme, Realizador, Argumento, Actriz (Carme Elias), Actriz Revelação (Nerea Camacho) e Actor Secundário (Jordi Dauder).
Neste brilhante filme baseado em factos reais conhecemos Camino (Camacho) uma jovem pré-adolescente que vive no seio de uma família onde Gloria (Elias) a sua austera mãe apenas vê o bem-estar da sua família no seio da religião num profundo fanatismo, ao contrário de José (Mariano Venancio) que apenas deseja que a sua jovem filha viva uma vida normal típica de criança ao contrário da irmã mais velha que dedicou toda a sua existência à religião, a Deus e a uma vida de clausura.
Um dia Camino adoece subitamente. Descobre-se que tem um tumor que começa rapidamente a degenerar todos os seus sentidos. É aqui que começa a grande dualidade entre vida e morte. Paixão e religião. Família e Deus.
Este excelente e multi-premiado filme espanhol aborda, juntamente com as diversas dinâmicas agora apresentadas, comporta também um profundamente drama que se centra em absoluto nos últimos dias da vida desta criança que tinha tantos sonhos e desejos. Se deles alguma vez tivemos dúvidas bastaria recordar o momento em que José percebe qual o verdadeiro significado daquilo que a sua filha balbuciava e que todos pensavam ter outro significado.
Camino que tardiamente estreou em Portugal (basta considerarmos ser um filme de 2008 premiado nos Goya em 2009), algo incompreensível considerando que é um filme espanhol, é dotado de uma grande ambiguidade. Por um lado temos a frieza com que nos é apresentada a relação entre mãe e filha onde a estima que uma tem pela outra prende-se apenas com o facto desta última poder seguir o caminho religoso para a sua vida tal como a irmã.
Por sua vez temos ao mesmo tempo um profundo drama e sensibilidade quando analisamos a relação que pai tem para com a sua filha. Independentemente de respeitar o lado religioso que a filha possa um dia vir a optar como aquele que quer dar à sua vida ele é, acima de tudo, o pai dela. Como pai apenas pretende que a filha seja uma criança feliz com sonhos e que tenho amigos. Nada mais deseja do que um crescimento e vida normal.
Uma grande mensagem que este filme nos entrega é mesmo a de fazer um retrato bastante fiel de como uma família pode ser destruída em nome de fanatismos (independentemente deles quais forem). Os fanatismos que destroem sonhos, vontades e liberdades.
Neste caso concreto temos uma família que só o é em nome. Na prática cada um vive vidas independentes e distantes que em nada se assemelham a uma família real. Temos um extraordinário Mariano Venancio a interpretar um pai crente e respeitador que vive uma relação desinteressada com a sua mulher. Um pai que vive afastado da vida da sua filha mais velha que optou (ou terá sido a isso obrigada) por uma vida religiosa fruto de uma desilusão de amor provocada em tudo pela sua mãe. Pai esse que pretende a todo o custo preservar a relação próxima que tem com a sua filha mais nova e dar-lhe a oportunidade de escolher aquilo que ela realmente quer para a sua vida.
Por outro lado temos a mãe, um brilhante desempenho vencedor de um Goya de Carme Elias, austera e por vezes insensível que comanda as vidas dos que a rodeiam concretamente as suas filhas visto que o seu marido por não seguir o mesmo rumo que ela, lhe é totalmente indiferente. Conseguiu fazer com que a filha mais velha seguisse o caminho religioso e quer forçosamente que a mais nova faça o mesmo. Até depois da doença nada trava esta mãe que quer apenas que a filha seja temente e respeitadora a Deus. A doença é quase relegada para um plano inexistente ou pior para um plano em que pode ser "útil" para a obra de Deus.
Este não só dramático mas também profundamente reflexivo filme tem interpretações igualmente brilhantes. De Carme Elias e de Mariano Venancio já não há mais a dizer. Agora há que referir o desempenho de Nerea Camacho que não só emocionou como a jovem Camino como também ao receber o Goya de Actriz Revelação. É simplesmente emocionante vê-la a interpretar aquela jovem que tão cheia de sonhos típicos de uma menina da sua idade, os vê de repente serem cortados por uma enfermidade tão grande e avassaladora. Que me desculpe Carme Elias mas o Goya de Melhor Actriz deveria ter sido entregue a Nerea Camacho por toda a sua emotividade e brilhante empenho a encarnar esta personagem real.
Algo de que gostei também bastante neste filme foi o facto de na sua quase totalidade ter sido filmado com uma "frieza" enorme mas inúmeros foram os momentos finais em que toda ela simplesmente desaparece. A delicadeza de José para com a sua filha e na famosa pastelaria onde descobre o significado das palavras por ela utilizadas assim como os momentos finais da vida de Camino são profundamente tocantes e avassaladores.
Este sensível e tocante filme que demorou mais de dois anos a estrear em Portugal é uma pérola quase esquecida cheio de emoção e uma história profundamente tocante. Apesar de já não estar em cinema já saiu a um preço bastante recomendável em dvd... é de aproveitar.
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9 / 10
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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ondskan (2003)

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Cruel de Mikael Håfström foi um filme que só pelo seu extraordinário trailer e pela sinopse me conquistou imediatamente.
Este magnífico filme sueco começa com a expulsão de Erik (Andreas Wilson) do seu colégio depois de um violento segmento de luta em que esteve envolvido. Impedido assim de concluir os seus estudos, a mãe de Erik envia-o para um colégio privado que o aceita e onde terá hipótese de finalizar os seus estudos sem problemas... ou assim pensava.
Aquilo que Erik encontra no seu novo colégio é um sistema de dominação e subjugação dos alunos considerados mais fracos ou fora da classe dominante de membos conservadores e de extrema-direita que controlam tudo e tudo pela opressão e intimidação.
Erik que havia prometido à mãe não se meter em problemas dá por si a lutar contra todo o tipo de dominação que querem exercer sobre si naquela que é uma das mais bem sucedidas lutas contra a tirania e que acaba com proporções bem dramáticas.
Falar deste filme não é tão simples como pode inicialmente parecer e por detrás daquilo que poderemos ver como um ajuste de contas entre membros de dois cãs bem distintos existe realmente toda uma questão cultural que os caracteriza.
Temos de analisar em primeiro lugar o contexto em que este filme decorre... Uma Suécia pós-segunda guerra mundial onde muitos membros da classe dominante e conservadora tinham reais simpatias com o nazismo alemão recentemente extinto (?) e que ainda professavam naquele país "neutral" muitas das doutrinas que ensombraram a Europa durante largos anos.
Em segundo lugar temos de perceber que uma classe mais abastada e tradicionalmente ligada a valores religiosos e de dominação política ultra conservadora onde o bom nome de família era bem mais importante do que valores morais e humanísticos continuava ainda a dominar aqueles que eram tidos como liberais, progressistas e com ideias de inovação e igualdade para todos. Estes últimos tidos como elementos subversivos e como tal desrespeitadores eram o alvo perfeito a abater.
A luta e a distinção de classes bem como a clara distinção entre um Sul pouco trabalhador, calão e com características rácicas menos perfeitas (sempre tão presente) para com um Norte honrado, perfeito e de características alvas e defensoras da moral e bons costumes são elementos que caracterizam muito de um povo e de uma sociedade que se apresenta progressista mas que na realidade está parada num espaço temporal a anos luz dos valores que realmente importam como a dignidade e a moral de respeito para com o próximo.
A defender estes valores bem distintos temos duas interpretações de excelência. A representar o futuro, o progresso e a igualdade temos um notável Andreas Wilson que apesar de ter aqui um dos seus primeiros trabalhos cinematográficos tem também aquele que será seguramente para sempre o filme pelo qual será recordado. Erik Ponti, a personagem à qual não só dá corpo como alma, assume-se durante todo o filme como o anjo vingador que não irá tolerar qualquer tipo de injustiça da qual também ele se sentiu durante tanto tempo vítima às mãos de um padrasto castrador e socialmente frustrado.
Do outro lado temos um notável Gustaf Skarsgård que encarna um Otto Silverhielm herdeiro de uma família abastada e nobre que através do medo, da intimidação, subjugação e tortura mantém a pirâmide social a seu favor fazendo-o em nome daquilo que é correcto... a classe dita perfeita sempre no topo.
Estas duas personagens dotadas de uma perfeita alma, que se encontram nos antípodas uma da outra, vivem numa constante tensão que percebemos ir facilmente terminar num conflito de tal ordem grande que apenas um irá poder conseguir resistir.
Este filme tem momentos em que nos provoca um mau estar constante pois através de rostos perfeitamente "inocentes" recebemos uma constante selvejaria e momentos de tão grande humilhação que seria impossível sentirmo-nos de outra forma.
E é precisamente aqui que reside o grande triunfo deste filme. É óbvio que ao longo dele conseguimos forçosamente simpatizar com uma das personagens mas, mesmo esta não está isenta de culpa e de também pactuar com a "necessária" violência a que tem de se sujeitar para pôr termo às injustiças de que ele, e os seus poucos amigos, são alvo. Acabamos assim por de certa forma concordar com a própria violência em nome do bem-estar e da defesa da honra. A honra através da violência... A tranquilidade através da violência e, no fundo, a paz através da violência.
Este filme sueco que fora nomeado a Oscar de Filme Estrangeiro e do qual não saiu, infelizmente, vencedor é das melhores e maiores surpresas que poderia vir do cinema europeu nos últimos anos. Bruto mas não insensível, directo e de extrema violência não deixa no entanto de ser doseado com breves e muito esclarecedores momentos de simplicidade e sentimento que apenas poderiam culminar com um último brilhante mas decisivo momento em que, e aqui sim, temos de assistir à violência final. Aquela que irá acabar definitivamente com todos os tormentos porque um jovem passou... e que aponte o dedo aquele que não adorou aquele segmento final onde todos sem excepção deram um pequeno sorriso.
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"Pierre: O que separa os humanos dos animais não é só a inteligência. É também a moral."
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10 / 10
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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Uncle Buck (1989)

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O Meu Tio Solteiro de John Hughes é uma das melhores e mais bem conseguidas comédias (com algum drama à mistura) desse grande actor John Candy.
Buck (Candy) é um homem de meia idade que não pretende ter qualquer tipo de responsabilidades ou compromissos e como tal vive uma vida àparte de tudo e todos. Mantém uma relação que não ata nem desata com Chanice (Amy Madigan) e está afastado da sua família à tempo suficiente para já nem sem lembrar dos seus sobrinhos.
Um dia por força das circunstâncias vê-se a tomar conta dos seus três sobrinhos naquela que será possivelmente a sua maior e mais difícil aventura que o levará não só a conhecer-se como a eles e as vantagens de assumir de vez uma relação e constituir a sua própria família.
Tudo isto, como é óbvio, ao mesmo tempo que decorrem todo o tipo de aventuras imagináveis dentro de uma nada pacata vivenda de subúrbios onde tudo irá ganhar um novo rumo.
John Hughes esse grande realizador que soube filmar come ninguém estas comédias ligeiras sobre uns quantos inadaptados, fossem eles geracionais, na sociedade, na convivência ou até mesmo dentro da própria família, dá aqui a John Candy aquele que é para mim a sua maior interpretação no cinema (talvez a par de Eu, Tu e a Mamã).
Candy que se destacou quase exclusivamente à comédia, alguma da qual não da melhor qualidade, tem aqui aquela interpretação que sendo maioritariamente cómica consegue ter bastantes momentos reflexivos embrenhados numa tão grande Humanidade que acabam por ter a sua grande dose de drama. Todos nós sem excepção pensamos no porquê de não termos um tio assim pois seria ele possivelmente a única pessoa que nos conseguiria compreender. Todos os nossos problemas... deles sabe, deles percebe, a eles compreende.
E aquilo que Candy consegue com este filme acaba por ser igualmente agradável no que diz respeito ao seu trabalho com as demais personagens. Não há uma com quem ele não consiga estabelecer um qualquer tipo de relacionamento. Seja de ódio, indiferença, paixão, amizade, compaixão ou desdém, todas elas, sem excepção, estabelecem uma proximidade indiscutível com ele.
E é principalmente com as personagens femininas com quem ele estabelece essas relações mais vincadas. Seja com Chanice (Madigan) com quem vive uma relação de amor/ódio (mais marcante na primeira), quer seja com Tia (Jean Louisa Kelly) onde o ódio é forte durante praticamente todo o filme, com Marcie (Laurie Metcalf) onde é feito o momento de dança mais sensual do filme ou com a implacável directora da escola com quem vive momentos de puro desdém em defesa da honra da sua sobrinha (Gaby Hoffmann).
Quer seja verdade ou não (no meu imaginário quero crer que sim), é extraordinária a química que existe entre ele e todos os actores deste filme sejam eles mais ou menos experientes e acaba por ser inquestionável a extrema dedicação que sentimos da sua parte para a sua personagem e claro está para que este filme resulte como aquele que para mim, e acredito que muitos outros, o fará para sempre ser recordado.
Muitos são os momentos bons desta simpática e inteligente comédia e como tal não irei destacar nenhum em especial deixando no entanto a chamada de atenção para aqueles que nunca assistiram o fazerem pois é daqueles comédias que apesar dos anos que tem não irá estar desactualizada. As mensagens que tem no seu excelente argumento, também da autoria de Hughes, são importantes demais e nunca ficam ultrapassadas, tornando-o numa das comédias mais sentimentais e bem dispostas dos últimos largos anos.
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"Buck: How would you like to spend the next several nights wondering if your crazy, out-of-work, bum uncle will shave your head while you sleep? See you in the car."
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9 / 10
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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Porky's (1981)

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Porky's de Bob Clark é provavelmente o maior e mais divertido filme "liceal" que alguma vez foi feito. Muito distante no tempo desse sucesso mais recente que é a saga American Pie, este é literalmente o filme onde tudo, sem excepção, foi feito.
A história típica deste género de filmes que gira em torno de adolescentes em viragem para a idade adulta e que muito prolíferos foram na década de 80 centra-se no despertar sexual de um grupo de adolescentes que em nome da "primeira" (ou enésiam) vez fazem o maior número de aventuras que giram entre esquemas manhosos ou partidas aos amigos mais "pintas".
Num misto de piadas hardcore bem camufladas e sempre, sempre, em tom de comédia temos mais de uma hora e meia de puras e genuínas gargalhadas enquanto assistimos a situações mais elaboradas do que a anterior.
Os próprios personagens tornaram-se símbolos do género. Quem não se lembra de Pee Wee, do carismático director que não sabe lidar com as inúmeras aventuras dos seus estudantes e de Beulah, a célebre e malévola (nesta fase) professora de ginástica que tudo faz por apanhar em flagrante e expulsar tão incómodos alunos. Todos eles marcaram uma época e o mais curioso é que são personagens que, dentro do género de filme referido, se tornaram símbolos que ninguém consegue esquecer.
Curioso é ainda verificarmos lá no meio uma actriz que há altura era ainda uma jovem quase desconhecida de seu nome Kim Cattrall que tem uma apetência muito particular para visitar os balneários masculinos e... bom, fica para verem.
Temos uma comédia sólida, enérgica, bem humorada e que ainda tem mais duas partes sem que nenhuma delas perca a energia e a boa disposição desta inicial e com uma particularidade bem interessante que é o facto de tanto nesta como no segundo filme os temais raciais serem uma constante tornando-se nos (poucos) momentos mais sérios desta saga.
Para todos aqueles que se consideram amantes de filmes de comédia e que até gostam de ver aqueles que são passados em liceus este é, de longe, aquele que se deve ter como referência pela sua enorme qualidade e boa disposição.
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8 / 10
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terça-feira, 19 de julho de 2011

My Life Without Me (2003)


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A Minha Vida Sem Mim de Isabel Coixet é uma co-produção espanhola-canadiana que conta com um diversificado leque de actores onde se destacam Sarah Polley, Scott Speedman, Maria de Medeiros, Mark Ruffalo, Deborah Harry, Leonor Watling e Amanda Plummer.
Todo este brilhante filme gira em torno de Ann (Polley) uma jovem mãe de duas filhas, casada e que vive num atrelado nas traseiras da casa da sua própria mãe. Ann trabalha de noite como mulher de limpezas numa Universidade onde nunca irá estudar e vive uma vida longe daquilo que poderia ser o que ambiciona.
Abdicou de sonhos, de projectos, de ideias e de viver uma vida com que muito brevemente poderia ter sonhado. Até um dia.
Após se ter sentido mal e ter ido ao hospital descobre que tem um cancro e que não tem mais do que dois ou três meses de vida. Ann decide que tem então de preprar toda a sua vida, até então adormecida, e planear um futuro que já não será o seu. Tem de pensar em Don (Speedman) o marido e na possibilidade de lhe encontrar outra mulher. Tem de visitar o pai (Alfred Molina), fazes a reconciliação com a mãe (Harry), mudar o penteado (entra em cena Maria de Medeiros) e fazer alguém apaixonar-se por si (trabalho a cargo de Mark Ruffalo).
Esta brilhante história adaptada ao grande ecrã por Isabel Coixet, aquela que considero já ser uma brilhante mestre das emoções humanas, concentra as suas intenções em mostrar como alguém se anulou perante a vida e o mundo e que face a uma fatalidade decide novamente voltar a viver e a experienciar todo um conjunto de situações e sentimentos que estavam, até então, totalmente adormecidas e longe do seu imaginário.
Poderíamos pensar que graças a este despertar para a vida e para o mundo faria deste filme algo que nos deixasse bem e com um espírito mais positivo face ao que nos rodeia. Bem pelo contrário. Mi Vida sin Mi, como eu gosto de lhe chamar, não sendo um filme obrigatoriamente triste é, no entanto, profundamente melancólico e reflexivo na medida que desperta em nós próprios a ideia de o que aconteceria se "amanhã" percebessemos que poderemos estar a viver os últimos instantes da nossa vida. O que é que deixámos por fazer? A quem é que deixámos de dizer "amo-te"? Onde é que acabámos por não ir? O que é que não experimentámos comer... beber... fazer... ver (...).
E, ao mesmo tempo, faz-nos pensar naquelas pequenas situações em que gastamos tanto do nosso precioso tempo sem qualquer razão ou sentido em vez de colmatarmos aquelas pequenas falhas que nós próprios sabemos e conhecemos onde se encontram.
Justo vencedor de dois Goya para Canção Original e para Argumento Adaptado e muito bem recompensado com duas nomeações aos European Film Awards para Filme e Realizadora, este filme consegue destacar-se pelo despertar para a Humanidade e para o que nos rodeia e que deixamos, por um ou outro motivo, por fazer ou realizar à medida que os anos passam por nós. Factos esses aos quais só voltamos a dar importância em momentos que se afirmam como de mudança ou de término por esta nossa breve, por vezes breve demais, passagem.
Mas há esperança. Há sempre esperança, e o próprio título assim o indica. A Minha Vida sem Mim pressupõe que tudo continua num ciclo sem fim e que de uma ou outra forma as experiências que ficam por completar por uns serão, de uma ou outra forma, completadas por outros, perpetuando assim o sentido da vida daqueles que partem.
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"Dr. Thompson: Dying is not as easy as it looks, you know, but there's no need for you to have to feel terrible all the time."

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Brilhante a realização e o argumento de Isabel Coixet que se afirma cada vez mais no cinema espanhol com uma qualidade irrepreensível e que sem fazer verter lágrimas consegue ser um filme emotivo e triste mas, ao mesmo tempo, deixar uma réstia de esperança que aqueles que ficam depois de partirmos irão ficar com um rumo onde "nós" conseguimos deixar a nossa marca.
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"Ann: Alone. You're alone. You've never been so alone in your whole life."
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8 / 10
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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Strange Days (1995)

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Estranhos Prazeres de Kathryn Bigelow reune um muito interessante elenco onde se destacam os nomes de Ralph Fiennes, Angela Bassett, Juliette Lewis, Tom Sizemore, Vincent D'Onofrio e Michael Wincott.
Toda a história gira em torno de Lenny Nero (Fiennes) um ex-polícia que agora ganha a vida a vender memórias e emoções gravadas àqueles que querem vivenciar experiências "fora do normal".
O que aconteceria então se no meio dessas memórias gravadas se encontrasse um crime que poderia abalar as fundações de uma Los Angeles dominada por vários gangs rivais num final de século e de milénio onde todas as emoções e loucuras estão à flor da pele?
Resultado... no meio desta premissa temos várias histórias paralelas que decorrem a um ritmo alucinante tendo todas elas como elemento unificador a Nenny Nero. A primeira delas prende-se inevitavelmente com o facto de decorrer no dia anterior à mudança de ano, século e milénio e os medos e anseios que esta mudança gerava até à sua real concretização. Iria o mundo de facto acabar? Iria existir uma nova ordem mundial? O que esperar na realidade? Tudo era basicamente uma incerteza.
A segunda história prende-se com o homicídio cometido por dois polícias corruptos que irá incendiar grande parte dos ânimos e das tensões raciais existentes na mais conturbada das cidades norte-americanas e que servirá também de elemento catalizador de todos os medos de uma revolta entre os elementos fragilizados das cidade e a alta classe corrupta e insensível aos problemas alheios.
Finalmente temos a terceira e última história que se prende com o amor. O amor de Mace (Bassett) por Lenny e o deste por Faith (Lewis). Nenhum deles correspondido mas apenas um sentido e genuíno que irá, por sua vez, ser abafado pelas circunstâncias e por uma obsessão sem limites que parece não ter fim.
Este filme que, há altura, foi o principal motivo por não ter visto o Casino no cinema tornou-se numa interessante e muito agradável surpresa que guardo ainda hoje. Não só pelo facto de ter um conjunto notável de actores que na sua generalidade aprecio como por no seu campo futurista acaba por constituir hoje uma realidade bastante presente. Muito do "ambiente" recriado nesse ido ano de 1995 está hoje presente e até a caminho de ser ultrapassado pelo menos no que a tecnologias diz respeito.
As interpretações destes actores estão igualmente a um nível que me agrada bastante. Tanto Ralph Fiennes como Angela Bassett descolam-se do seu habitual. Fiennes ao fugir ao seu clássico desempenho em filme de época passando aqui a ser um inconformado com o abandono que se desleixa em tudo na vida, torna-se num anti-herói de acção pouco habitual. Bassett, por sua vez, despe-se do corpo de Tina para passar a ser uma mulher dura e amargurada que vive um amor não confessado.
Esta dupla funciona de tal forma bem que desde cedo percebemos que a química existente entre ambos só pode, a seu tempo, resultar no desfecho que todos nós pretendemos. Só não imaginamos é que vai custar e bem até lá chegar.
Os demais actores cumprem igualmente e bem o seu propósito. Juliette Lewis como a chunga habitual e um Tom Sizemore e um Michael Wincott que dão novamente vida aos vilões de serviço de tal forma bem executados que nos dá realmente asco de os ver quando aparecem em cena. O mesmo se aplica a Vincent D'Onofrio que quase se especializou no género e que aqui não só é vilão como o interpreta de uma forma perfeitamente alucinante e paranóica que nos faz realmente pensar o perigo que seria encontrar alguém assim.
De destaque está ainda a banda-sonora da autoria de Graeme Revell funcional em todas as frentes em que ora temos sonoridades melodiosas e saudosistas de um passado sentido e vivido como temos nos instantes seguintes ritmos perfeitamente alucinantes muito característicos de um final de ano numa cidade à beira de tumultos e da decadência.
De referir que os segmentos finais são filmados muito ao estilo de Bigelow e que se analisarmos a filmografia da realizadora facilmente percebemos as semelhanças entre os seus filmes. Aqui não só temos a loucura de um final de ano como os elementos perfeitos para dar alma a uma revolução prestes a eclodir. Ninguém melhor que esta realizadora para dar vida à sensação pretendida e fazê-lo como um profissionalismo grande ao ponto de não se tornar um simples e banal momento de acção. Até porque o final pretendido não o quer assim...
Acção sim... drama algum... mas sobretudo uma visão futurista dos anos que estariam para vir que reflete sobre a questão da privacidade, ou da ausência dela, e do quão banais e frívolas podem ser recordações do passado que na mente de muitos acabam, de certa forma, por desaparecer.
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"Lenny Nero: Look... everyone needs to take a walk to the dark end of the street sometimes, it's what we are."
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10 / 10
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domingo, 17 de julho de 2011

Meet Joe Black (1998)

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Conhece Joe Black? de Martin Brest foi um filme que muito antecipei não só pelo seu realizador que já havia entregue uma pérola chamada Perfume de Mulher como era o filme que voltava a reunir dois grandes actores de seus nomes Anthony Hopkins e Brad Pitt.
E se um dia ao acordar soubesses que a morte tinha vindo à nossa procura? Aceitá-lo? Recusá-lo e fugir? Despedirmo-nos dos nossos entes mais chegados? Avaliar a vida? Tudo isto é o que faz William Parrish (Hopkins) quando ao receber a visita de Joe Black/Morte (Brad Pitt) percebe que a noite do seu 65º aniversário será a última que irá passar com vida.
Durante os dias em que a Morte resolveu literalmente tirar umas férias onde a única coisa que conhece é o fim de algo... o fim de uma vida, de um percurso, de um caminho, de uma família... aqui pelo contrário resolve conhecer aquilo que a vida tem para lhe dar. Escolhe conhecer o que move as pessoas... a união, o afecto, a lealdade, a amizade a honra e sobretudo o amor. É o amor o sentimento que mais intriga a morte. Aquele por quem "montanhas" são movidas. E quem melhor para o acompanhar nesta viagem do que um poderoso homem dono de um império e que sempre lutou por ter a seu lado as suas filhas e a sua família, nunca as sacrificando em nome de nada ou de alguém.
Não vou mentir ao dizer que inicialmente apenas tive curiosidade de ver este filme por ser o reencontro no cinema de dois actores que em muito aprecio. Actores que conseguem a cada filme que fazem surpreender por a sua categoria e nível interpretativo estarem sempre no seu melhor e que o fazem, para mim, com a maior naturalidade possível.
Escusado será também referir que considero Anthony Hopkins um dos maiores e melhores actores de todos os tempos e quer interprete o bom quer seja o mau da fita, o que é certo é que está sempre no seu melhor. Faz-me lembrar aquela frase feita de que quanto interpreta o bom está bem e quando interpreta o mau está ainda melhor.
Aqui Hopkins desempenha uma vez mais uma interpretação forte e segura como um poderoso homem de negócios que faz tudo por tudo para deixar a sua família bem e tranquila após saber que está prestes a morrer. O curioso é que ao mesmo tempo acompanha a Morte na sua primeira experiência de vida. Acompanha-a na sua vivência inicial de sentimentos que apenas os vivos poderão alguma vez experimentar.
O filme, e as interpretações, que se quer(em) calmos e reflexivos atingem os pontos mais fortes nestes exactos momentos em que se vivenciam sentimos. A negação e a descrença de Hopkins que dão lugar a uma aceitação relutante ou mesmo o trazer vida à Morte e mostrar-lhe que não só de fins se faz a vida mas sim de grandes princípios.
E como quase todos os filmes se fazem de grandes duplas este não seria excepção e a acompanhar Hopkins temos um excelente Brad Pitt que aqui, ao contrário do que muitos dizem, tem um dos seus desempenhos mais fortes onde através de uma pacatez quase gélida dá corpo e alma... à Morte.
Pode parecer algo contraditório mas se pensarmos bem até nem é... Grandes e frutuosas vidas estavam repletas disso mesmo... de vida. E foi na sua fase final onde passaram para uma qualquer outra dimensão (acreditemos nela ou não) que se cruzaram com um elemento de passagem. Uma espécie de Karonte que transportava as almas para uma outra margem. Brad Pitt dá a devida alma a esta Morte que não só se mostra assertiva nos seus pensamentos como ao mesmo tempo nos entrega uma ingenuidade típica de uma criança que está agora a descobir o mundo pela primeira vez.
Brad Pitt sempre tão afastado dos prémios da Academia tem aqui uma daquelas interpretações que lhe deveria ter granjeado a tão ambicionada nomeação como Actor, que só chegaria anos mais tarde com outro poderoso filme de seu nome O Estranho Caso de Benjamin Button.
De Claire Forlani que à altura apenas tinha visto na pequena participação que havia tido em O Rochedo, só tenho as melhores observações. Forlani interpreta a filha mais nova de William Parrish que vive acomodada a uma relação confortável mas desprovida de amor e de qualquer intensidade ou emoção mais forte. Curiosamente é com a Morte que vai descobrir o que é realmente um amor verdadeiro e com o qual espera obter uma vida feliz.
No entanto uma das interpretações que mais me marcou neste filme foi a de Marcia Gay Harden, a filha mais velha de Parrish, que nos mostra uma mulher que sempre viveu a sua vida para agradar os outros, em particular o seu pai, mas que sempre sentiu ser uma segunda "escolha" na sua vida. Conformada com essa situação e sabendo que o seu pai sempre a amara vive, no entanto, uma sensação de isolamento e de alguma tristeza que não conseguirá ultrapassar mas ela sim conformar-se e viver abraçada a ela. De todos os filmes que já tenho visto com esta actriz este é, seguramente, aquele trabalho em que mais me impressionou, e possivelmente aquele pelo qual ela mereceria uma nomeação a Oscar como Actriz Secundária.
A nível técnico vários são os aspectos que considero bem positivos começando pela banda-sonora minimalista na maior parte dos segmentos em que a Morte cruza o ecrã mas repleta de emoção e de sentimento nos momentos mais intimos e onde os vários personagens encontra entre si uma qualquer redenção e percepção de que tudo ficará bem.. Bravo uma vez mais Thomas Newman.
Outra referência pela qualidade é o trabalho de fotografia desse grande génio chamado Emmanuel Lubezki que confere a todo o filme uma dimensão algo sombria. Nada assustadora, antes pelo contrário ela é bem acolhedora e reconfortante mas que nos faz sempre sentir que existe "algo" no ar.
Este grande filme repleto de grandes ideias e pensamentos sobre qual deverá ser o verdadeiro significado do maior bem que temos, a nossa vida, é assumidamente um dos meus preferidos e um que considero ter sido muito mal apreciado e até votado ao abandono em vez de apreciado na sua verdadeira essência. Aquela em que devemos realmente dar valor ao grande bem que temos... a nossa vida e ao caminho que escolhemos dar-lhe... Aquele em que a vivemos ou aquele em que escolhemos viver vidas indiferentes e desligadas morrendo assim antes da nossa própria hora.
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"William Parrish: Love is passion, obsession, someone you can't live without. I say, fall head over heels. Find someone you can love like crazy and who will love you the same way back. How do you find him? Well, you forget your head, and you listen to your heart. And I'm not hearing any heart. Cause the truth is, honey, there's no sense living your life without this. To make the journey and not fall deeply in love, well, you haven't lived a life at all. But you have to try, cause if you haven't tried, you haven't lived."
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10 / 10
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Festival Internacional de Curtas-Metragens de Vila do Conde: palmarés 2011

COMPETIÇÃO INTERNACIONAL .
Grande Prémio Cidade Vila do Conde: Boro in the Box, de Bertrand Mandico
Melhor Ficção: Petit Tailleur, de Louis Garrel
Melhor Documentário: Get Out of the Car, de Thom Andersen
Melhor Animação: Wakaranai Buta, de Atsushi Wada
Melhor Curta Europeia: Dimanches, de Valéry Rosier
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COMPETIÇÃO NACIONAL
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Melhor Filme: O Nosso Homem, de Pedro Costa
Menção Honrosa: Fratelli, de Gabriel Abrantes e Alexandre Melo, e Peixe Azul, de Tiago Rosa-Rosso
Melhor Fotografia: Carlos Catalan, por North Atlantic, de Bernardo Nascimento
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Prémio do Público: Apele Tac, de Anca Miruna Lazarescu
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Competição Experimental: The Pushcarts Leave Eternity Street, de Ken Jacobs
Menção Honrosa: Imperceptihole, de Lori Felker
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Competição Videos Musicais: Release the Freq - Matta, de Kim Holm
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Curtinhas (Curtas-metragens para crianças): Ormie, de Rob Silvestri
Menção Honrosa: Damned, de Richard Phelan e Maybe…, de Pedro Resende
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Take One (Competição de filmes de escola): Artur, de Flávio Pires
Menção Honrosa: Mina de São Domingos, de João Abecasis Fernandes e Despedida, de Andrea Fernández
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Prémio Onda Curta: Apele Tac, de Anca Miruna Lazarescu e Maska, dos irmãos Quay
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13º Videorun RESTART
1º Lugar Prémio IPJ: Ele, Ela, de João Madeira, Tiago Madeira, Tiago Roldão
2º Lugar Prémio RESTART: Superfície, de André Guiomar, Miguel da Santa, Simone Almeida, Vasco Pucarinho
3º Lugar Prémio RESTART: Lar, de Ana Martins, Eduarda Pinto, Rita Cartageno
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sábado, 16 de julho de 2011

Shall We Dance? (2004)

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Vamos Dançar? de Peter Chelsom é uma muita simpática comédia dramática que reune um interessante elenco onde se destacam Richard Gere, Jennifer Lopez, Susan Sarandon e Stanley Tucci.
Tudo começa com John Clark (Gere) um advogado abastado e aborrecido com a vida que um dia deseja alcançar outra coisa para sair da rotina em que se encontra. E esse algo mais surge através de um curso de danças de salão em que se inscreve às escondidas da sua mulher Beverly (Sarandon).
É neste salão que conhece Paulina (Lopez) e aquilo que começa como um simples e inocente hobbie para se distanciar da sua eterna rotina ganha contornos muito maiores e que irá modificar as vidas de todos aqueles que estão à sua volta.
Richard Gere que tem ao longo dos anos dado alguns desempenhos bem interessantes ao seu público teve neste Vamos Dançar? um dos seus melhores. E afirmo-o sem qualquer complexo. Aqui temos aquele tipo de interpretações que consegue não só ser credível na amargura que de certa forma a sua personagem transporta ao viver uma vida preenchida e bem sucedida mas que lhe falta um toque que lhe dê alguma satisfação pessoal como também consegue pegar nessa fraqueza e transformá-la através da arte da dança numa forma não só de tocar nas outras pessoas como, acima de tudo, conseguir tocar no seu próprio interior e na sua sensibilidade.
Por outro lado temos Susan Sarandon que, escusado quase seria de dizer, é aquela actriz que por poucos e breves momentos tenha no ecrã (note-se que não é este o caso) consegue ser sempre e sem qualquer reserva aquela pessoa que consegue "roubar" o protagonismo ao seus parceiros. Beverly, a sua personagem, sente-se uma mulher a quem o marido esconde algo, talvez uma traição, e como tal manda segui-lo para que os seus passos sejam acompanhados. Surpreendida com as escolhas do marido interroga-se sobre os "porquês" da sua decisão. A sua fala com o detective, interpretado por Richard Jenkins, e que escolhi para ser a mais marcante do filme é de longe um dos melhores pensamentos que um filme alguma vez "me" poderia ter dado. A simples (mas bem complexa) ideia de que as pessoas se casam/juntam/vivem em comum com o propósito de poderem ter alguém a seu lado que testemunhe a sua passagem por este planeta é simplesmente esmagadora e digna de ser referenciada como um dos momentos mais fortes e dramáticos do filme.
E como se isto não bastasse Sarandon, mas agora juntamente com Gere, protagonizam ambos o momento alto do filme, e da sua relação, que só não conquista aqueles que sejam totalmente desprovidos de qualquer sensibilidade. E escusado será dizer que "este filme não faz o género" pois o que é certo é que muitos o viram e desses... todos gostaram (sem referir nomes...). E para que o confirmem, aqui fica...
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A compôr o par protagonista temos ainda um vasto elenco de actores mais ou menos secundários mas todos de uma importância extrema para o filme.
Temos Jennifer Lopes como a professora de dança descrente que volta a ganhar alento como o novo grupo de desastrados alunos. A própria dona da escola que já não vê futuro nas aulas de dança de salão, aqui excelentemente interpretada por Anita Gillette. Ou mesmo os outros dois elementos da "turma" aqui interpretados por Bobby Cannavale e Omar Benson Miller. Mas impossível seria falar das interpretações e não referir o brilhante e destacado duo de secundários composto pelos extravagantes Stanley Tucci e Lisa Ann Walter que funcionam tão bem que dão real valor à expressão de que os opostos realmente se atraem.
Este excelente leque de actores revela entre si uma química tal que é quase injusto falar em actores principais e secundários sendo antes preferível referir que existe um elenco uno e coeso que dá uma vida bem forte ao filme.
São estes mesmos actores que conseguem dar vida e cor a um conjunto intenso de sensações e sentimentos que, para mim, são pouco vulgares neste género de filme que na sua maioria acaba apenas funcionar à custa de um conjunto de clichés e frases feitas. Aqui bem pelo contrário o argumento funciona de uma forma tão perfeito que acabamos por sentir empatia e identificação com algumas das personagens ao ponto de pensarmos que também "eu" sinto ou passo por isto ou por aquilo.
De destacar está também a banda-sonora criada por John Altman e Gabriel Yared que não só conjuga temas tradicionais típicas de danças de salão com temas modernos a cargo por exemplo dos Gotan Project ou mesmo sonoridades mais contemporâneas como aquela que deixo para apreciarem.
Este filme que além de ser uma comédia dramática conjuga ainda um "ambiente" que pode ser por vezes difícil de digerir para muitos cinéfilos consegue felizmente ser bastante interessante ao ponto de o considerar não só um dos melhores do género como um dos filmes mais bem conseguidos que tenho visto nos últimos tmepos. Assistimos a agradáveis e bem compostos momentos de comédia bem como aos mais dramáticos e melancólicos que de uma ou outra forma também eles nos deixam a pensar sobre uma ou outra situação das vidas pessoais. E quando um filme me deixa a pensar para além do momento em que o vejo sei que ele é de facto bom.
É este o conselho que deixo... não o julgarem sem verem. E enquanto o vêem darem a oportunidade que garantidamente ele merece. Até porque se pensarmos nos seus actores... eles valem bem que se apreciem e além disso dão do seu melhor numa história que não está em nada ultrapassada e que consegue ele também ir mais além dos típicos clichés do género.
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"Beverly Clark: We need a witness to our lives. There's a billion people on the planet... I mean, what does any one life really mean? But in a marriage, you're promising to care about everything. The good things, the bad things, the terrible things, the mundane things... all of it, all of the time, every day. You're saying 'Your life will not go unnoticed because I will notice it. Your life will not go un-witnessed because I will be your witness'.""
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10 / 10
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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Charlotte Gray (2001)


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Charlotte Gray de Gillian Armstrong tem como principal actriz Cate Blanchett. Só este "simples" aspecto é o suficiente para poder garantir que o enredo bem como o desempenho sejam de referência e de elevada qualidade.
A história deste filme, inspirada em acontecimentos verídicos, decorre durante a Segunda Guerra Mundial. Após o amor da sua vida desaparecer numa França ocupada pelos alemães, Charlotte Gray (Blanchett) decide para como espia para o país afim de contribuir para o esforço de guerra e aí poder ter notícias do homem que ama.
É aí que além das missões que cumpre toma contacto com o sórdido mundo da intriga, da denúncia e da desumanidade que naquela época facilmente se apoderou das mentes humanas.
Uma das mensagens principais deste filme é mesmo a citação final que escolhi... "Tudo pode ser verdade, até mesmo uma mentira". Aquilo que as distingue (às mentiras) é apenas quem as diz. É o portador das mesmas que as diferencia entre si mostrando aquelas que são contadas com o único fim de prejudicar ou nos seus antípodas de poder salvar a vida a alguém. Será toda a mentira má?
Blanchett, num dos seus inúmeros e grandiosos desempenhos, responde a esta questão muito facilmente.. Não, nem todas as mentiras são más. Poderíamos até esquecer todo o seu desempenho ao longo deste filme e concentrarmo-nos apenas no segmento final quando em escassas e breves linhas se faz passar pela mãe de duas crianças judias e lhes escreve uma carta. Poderiam ou teriam aquelas breves palavras ter salvo a vida daquelas crianças pelo simples facto de lhes ter transmitido algum conforto e esperança?
A distinção que se faz de mentira, tão prolífera nesta época onde para se (sobre)viver teriam de ser contadas tantas e tantas, reside nesse simples facto. Mentir para (sobre)viver. Mentir para resistir. Mentir para poder existir.
Michael Gambon é outro dos grandes actores deste filme ao interpretar "Levade", pai de Julien (Billy Crudup) o contacto de Charlotte. Gambon ao desempenhar o cínico e descrente francês tem um dos comentários mais felizes do filme quando diz a Charlotte que ninguém luta por um país mas sim por um ideal... pela esperança, pela família... pelo amor.
E finalmente temos Billy Crudup que interpreta um idealista comunista que luta na Resistência enquanto mantém a imagem de professor (de quem alguns desconfiam) durante o dia.
Escapando ao quase cliché, temos aqui os três maiores intervenientes desta época de guerra... a espia, o membo da resistência e o civil que não se enquadra em nenhum dos "campos de batalha". Três imagens, três perspectivas e três ideias sobre aquele conflito (que poderia adaptar-se essencialmente a qualquer um) num filme que sendo passado durante a guerra não é sobre ela mas sim sobre aquilo que é o mais importante do mundo... a esperança. A esperança numa mudança, na sobrevivência, no reencontro, na família, no amor... É com ela que vivemos e é por ela que podemos morrer.
Blanchett "once again" tem um desempenho brilhante, e tão esquecido, confirmando (se é que ainda era necessário) uma vez mais o seu intenso potencial dramático neste filme do qual não só gostamos mas que revemos com a mesma intensidade da primeira vez e com o qual facilmente nos emocionamos pela relação que se estabelece entre as várias personagens.
Refiro ainda, a título de curiosidade que Charlotte Gray foi inspirado numa história verídica da qual a sua interveniente faleceu este ano após ter recebido as maiores condecorações a nível mundial pelo seu enorme esforço durante aquele tão turbulento conflito.
Um drama de guerra feito com paixão e que para lá de explosões e de batalhas de armas concentra todo o seu potencial numa batalha feita em nome da esperança e da verdadeira identidade de cada um. Como tantos e tantos outros filmes aos quais Cate Blanchett dá corpo e alma, também este é imperdível.
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"Charlotte Gray: Anything could be true. Even a lie."
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9 / 10
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Marilyn Monroe em estátua

Até à Primavera de 2012 poderá ser vista na Michigan Avenue em Chicago uma estátua de Marilyn Monroe.
A estátua da autoria do escultor Seward Johnson terá oito metros de altura e é feita de quinze toneladas de aço inoxidável e alumínio. Fará parte de uma homenagem denominada "Para Sempre Marilyn" e é baseada no filme O Pecado Mora ao Lado de 1955, numa réplica da cena que deu fama mundial à actriz.
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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Atonement (2007)


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Expiação de Joe Wright reune um elenco britânico de luxo onde se destacam os nomes de James McAvoy, Keira Knightley, Brenda Blethyn, Vanessa Redgrave, Romola Garai e Saoirse Ronan que foi nomeada para vários prémios nomeadamente o Oscar, o Globo de Ouro e o BAFTA de Actriz Secundária, num filme que foi igualmente multiplo nomeado e vencedor do Oscar de Banda-Sonora.
Tudo começa com Briony Tallis (Ronan) uma jovem aspirante a grande escritora que "na sombra" presencia a sua irmã Cecilia (Knightley) e Robbie (McAvoy) numa situação que ela interpreta como sendo comprometedora e que devido aos acontecimentos que se irão passar naquela casa durante o restante dia, irão desencadear uma série de mal entendidos provenientes da imaginação de Briony modificando assim, para sempre, as vidas de todos.
Depois de uma jovem visita da família ser molestada, Briony acusa Robbie de tal acto sem, no entanto, ter certeza daquilo que realmente vira.
Algum tempo após ser preso Robbie tem a oportunidade de sair da prisão não como homem livre mas sim como combatente durante a guerra contra a Alemanha. Aquilo que assistimos a partir daqui é a toda a destruição não só de uma família como principalmente à destruição do Homem, do bom nome e como estes podem abalar inequivocamente a moral e até por vezes a integridade.
O brilhante argumento de Christopher Hampton baseado no romance de Ian McEwan transporta-nos para vários universos durante a duração de todo este filme. Temos o ambiente perfeito recheado de paixões juvenis enquanto nos encontramos dentro daquela propriedade a assistir a uma extensa mas reveladora apresentação das várias personagens.
Coonseguimos realmente perceber as suas diversas vontades e principalmente o seu carácter através de, por vezes, escassos relatos ou participações que os colocam em cena. Mas por muito breves que sejam os seus momentos, a sua essência encontra-se lá.
A partir do momento em que Robbie é detido seguimos as vidas separadas que cada uma destas personagens teve até ao momento do seu reencontro. Ele enquanto militar e Cecilia enquanto enfermeira que auxiliava os feridos em Londres e a seu tempo, ao seu reencontro com uma Briony (Romola Garai) também ela enfermeira.
Mas é sobretudo o percurso que Robbie toma que é o mais doloroso. A sua passagem por vários cenários que, não sendo de guerra são o seu perfeito reflexo enquando destruidor de inúmeras vidas humanas.
Li em tempos numa qualquer revista da especialidade que o momento junto ao mar onde todos os militares aguardam por transporte, desesperados e em fome com inúmeros feridos e mortos por perto era "a mais perfeita descrição da descida aos infernos"... Não poderia estar mais de acordo. Enquanto que em muitos filmes assistimos a relatos sobre o mal enquanto uma qualquer força estranha, aqui temo-lo na sua forma mais assustadora que é a própria capacidade destrutiva do Homem. E que cenário mais perfeito para lhe dar "vida" do que aquele que outrora haveria servido como estância de férias e de recreio de tantas e tantas famílias que poderemos apenas imaginar como estando, também elas, destruidas. É aqui que temos de tudo... a fome, os feridos, a destruição, o desespero, a loucura, a ruína, a morte num daqueles que é dos mais "ricos" momentos de um filme que consegue ser cativante em todos os seus minutos.
É também este romance e argumento que têm das mais surpreendentes e emocionantes reviravoltas. Quando pensamos que afinal tudo aconteceu com uma finalidade de terminar "menos mal", que somos literalmente "esmurrados" para presenciar aquilo que não queriamos ver. Não vou revelar, pois considero que é forte demais para que quem vá assistir a este filme saiba já aqui o seu desfecho, mas assumo que a mim nao só me surpreendeu como de certa forma me "deprimiu" o perceber que afinal nada se havia passado como aparentava... e mais não digo além do facto de que, tal como uma das taglines do filme afirma "you can only imagine the truth". Apenas podemos imaginar a verdade... Qual verdade? A que realmente existiu ou aquela que para nós nos interessa que tenha existido? É provável que a maior pergunta que se poderá fazer após visionar este filme seja "Qual o seu verdadeiro poder?". O da imaginação, note-se.
Briony, aqui brilhantemente interpretada por Saiorse Ronan, Romola Garai e Vanessa Redgrave em três distintas idades é, em qualquer uma delas, a personagem secundária que acaba por servir de elo de ligação entre as demais e nós espectadores. É através dos seus vários momentos que tomamos total conhecimento de toda a história, independentemente de por momentos não nos apercebermos disso.
Qualquer uma das três actrizes tem um desempenho notável. Ronan que fora nomeada para tantos prémios por este seu desempenho afirmou-se como aquela jovem actriz do momento que se deve ter em conta e isso confirmou-se logo no ano seguinte aquando da sua prestação em The Lovely Bones.
E claro, seria impossível não falar do par protagonista que tem aqui, uma vez mais, interpretações dignas do melhor que se poderá ver em cinema. Knightley afirma-se, e confirma, que apesar da sua ainda jovem idade é já uma digna sucessora de nomes como Julie Andrews ou Julie Christie, e que os filmes de época terão sempre um lugar reservado para si. São já vários e não só os faz bem como os faz com mestria. A sua elegância e vulnerabilidade iniciais que se transformam numa força e dureza fruto dos acontecimentos conquistam-nos facilmente. Knightley, se é que ainda existiam dúvidas, confirma o seu intenso potencial.
James McAvoy que já o disse e repito, deveria ele sim ter sido nomeado e recebido o Oscar por The Last King of Scotland, confirma aqui também ser um actor intenso e para mim aquele que tem a interpretação mais forte e emocionante de todos, mais que não fosse por ser ele o observador, e que faz de nós também observadores, de toda a insanidade e decadência que a guerra consegue causar no mais pacífico e tranquilo lugar.
Joe Wright consegue também ele com mestris e genialidade retirar de todos estes actores, interpretações dignas de constarem na galeria das melhores dos últimos anos e é de minha opinião terem sido injustamente esquecidas na cerimónia dos Oscars de 2008 que apenas premiaram, justissimamente, a estrondosa e emocionante banda-sonora de Dario Marianelli.
Briony (Redgrave) autora deste Atonement, consegue recriar as condições perfeitas para no final pensarmos e refletirmos sobre se deverá ela ter ou não a absolvição pelos seus actos enquando criança de treze anos que acusa injustamente uma pessoa tendo por base apenas os seus ciúmes e desconfianças juvenis. E é exactamente essa a questão que nos é deixada enquanto assistimos a todos os acontecimentos... não como eles foram contados mas sim como eles realmente aconteceram.
Este filme é obrigatório e simplesmente fantástico e imperdível pela sua riqueza de argumento, de interpretações, de cenários, de banda-sonora e claro do mais importante... a sua mensagem.
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"Cecilia Tallis: I love you. I'll wait for you. Come back. Come back to me."
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10 / 10
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