quarta-feira, 30 de novembro de 2011

The Tourist (2010)

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O Turista de Florian Henckel von Donnersmarck, o muito aguardado filme que reune pela primeira vez esses dois mitos de Hollywood que são Johnny Depp e Angelina Jolie, numa história de intriga, paixão e espionagem mas tudo, sem excepção, com algum humor e aventura.
Tudo começa com Frank (Depp), um homem pacato que viaja de comboio para Itália e Elise (Jolie) que deliberadamente se cruza com ele e se insinua.
Aquilo que parecia ser uma simples e pacata viagem ganha outros contornos quando Elisa convida Frank a ficar consigo num luxuoso hotel em Veneza e ele é confundido com o homem que roubou dinheiro à mafia russa.
O filme era um dos acontecimentos cinematográficos do ano pela junção de dois actores que trabalhavam juntos pela primeira vez. O filme, tal como Depp e Jolie acabariam inclusive por ser nomeados aos Globos de Ouro nas categorias de Comédia, mas a realidade é que este foi um dos desempenhos mais fracos de ambos actores bem como de von Donnersmarck que quatro anos antes nos entregou esse estrondoso filme que foi A Vida dos Outros (vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro).
Este O Turista é repleto de momentos já infindavelmente filmados sobre conspirações e complots internacionais e, sob esse ponto de vista, não adianta absolutamente nada. O único e exclusivo prazer que retiramos deste filme acaba por ser o facto de ser interpretado por estes dois actores que reunem uma legião de fãs por todo o mundo e como tal levar-nos a assistir. Soubessemos antecipadamente que este filme, no final, acaba por ser a um nível global pobre e nem sequer lá iriamos pôr os pés. É certo, tem um ou outro momento engraçado e que consegue despertar um pouco, muito pouco, o interesse mas nunca ao ponto de nos considerarmos satisfeitos com aquilo que estamos a ver.
O argumento deixa-me ainda mais espantado pois além do próprio von Donnersmarck reune outros Oscarizados como Christopher McQuarrie (Os Suspeitos do Costme) e Julian Fellowes (Gosford Park). Com bastantes falhas e momentos bastante previsíveis, exemplo disso é aquele final que estava mais que certo a partir de metade do filme, tornam-no quase impossível de se ver com muito agrado.
O que o safa? Bom... para mim foi as imagens e cores de Veneza captadas pelo magnífico trabalho de cinematografia de John Seale (também ele já Oscarizado) e a banda-sonora moderna e bem movimentada da autoria de James Newton Howard, um dos eternos nomeados da Academia de Hollywood que ainda não tem uma estatueta dourada nas suas mãos.
Retirando estes dois aspectos e alguma, pouca, comédia que o filme tem, acabamos por dar por nós a passar por ele sem retirar grande "sumo" daquilo que vemos. Damos-lhe o desconto por ter estes dois actores que todos nós estimamos mas, na realidade, se fosse com quaisquer outros actores, possivelmente não teríamos uma grande imagem a salvar do filme.
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6 / 10
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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Saints and Soldiers (2003)

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Anjos no Inferno de Ryan Little decorre no período que sucedeu ao massacre de Malmedy onde soldados alemães executaram um grupo de soldados norte-americanos tendo apenas escapado quatro com vida.
Esta história baseada em factos verídicos dá-nos a conhecer os dias seguintes onde, estes quatro soldados norte-americanos e um britânico que entretanto se lhes juntou, tentam regressar para junto dos soldados Aliados e assim escapar à morte quer às "mãos" do rigoroso Inverno quer às mãos dos soldados alemães que se encontravam por todo o lado.
Este interessante filme dá-nos a conhecer a história para lá do massacre. Dá-nos a conhecer uma história de sobrevivência e de cumplicidade entre um grupo de homens que apesar de unidos nos ideais contra os quais combatem estão, de certa forma, separados em muitos aspectos mas que encontram um consenso para poderem lutar pela sua própria salvação.
Não será uma super-produção hollywoodesca... Aliás, bem pelo contrário, para o género de filme que representa e do qual estamos habituados a assistir a produções megalómanas repletas de surpreendentes efeitos especiais, aqui pensa-se mais no desempenho dos actores que recriam esta história verídica, longe de grandes campos de batalhas físicas mas bem de perto de uma luta pela sua sobrevivência que só conseguirão alcançar se a travarem juntos.
Este género de filmes que têm como suporte distribuidoras que quando vemos as suas páginas cibernéticas mais não dão do que vontade de fugir, normalmente não me seduzem ou sequer impressionam. No entanto, há que assumir que surpreendentemente gostei desta história. Não só pelo facto de ser baseada em factos verídicos, o que ajuda sempre para cativar a minha atenção, mas também pelo facto de se desenrolar naquele que considero ser um dos períodos mais negros da História mundial e que, quer uns queiram quer não, continua (e suspeito que continuará sempre) a suscitar o interesse de qualquer cinéfilo que se preze.
Não temos campos de concentração nem tão pouco a morte de alguém pela sua total desumanização. Aqui, pelo contrário, temos a afirmação do Homem enquanto tal. O Homem enquanto ser pensante e que consegue distinguir entre aquilo que deveria ser fundamental... A própria "humanidade" que existirá, ou não, dentro de cada um.
Interpretações competentes mas com alguma previsibilidade, destaco a participação de Alexander Polinsky como o descrente médico que sobrevive ao massacre e que, no final, acaba por dar razão à ideia de que a humanidade pode realmente existir naqueles de quem menos se a espera, este filme tem igualmente um interessante trabalho de fotografia também da autoria de Ryan Little que muito bem consegue captar não só o ambiente gélido do Inverno como também o do próprio tempo que se vivia.
Não sendo uma pérola deste género cinematográfico, e ficando muito longe de um Resgate do Soldado Ryan, este filme não deixa, no entanto, de ser uma interessante obra sobre um importante período que muitos certamente não conhecem.
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7 / 10
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New York Film Critics Awards 2011

Best Picture: The Artist
Best Director: Michel Hazanavicius for The Artist
Best Screenplay: Steven Zaillian and Aaron Sorkin for Moneyball
Best Actor: Brad Pitt for Moneyball and Tree of Life
Best Actress: Meryl Streep for The Iron Lady
Best Supporting Actor: Albert Brooks for Drive
Best Supporting Actress: Jessica Chastain for Tree of Life, The Help and Take Shelter
Best Cinematography: Emmanuel Lubezki for Tree of Life
Best First Feature: Margin Call
Best Documentary: Cave of Forgotten Dreams
Best Foreign Language Film: A Separation
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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

In Good Company (2004)

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Uma Boa Companhia de Paul Weitz é um simpático drama familiar que conta com a participação de Dennis Quais, Topher Grace, Scarlett Johansson e Marg Helgenberger.
Dan (Quaid) é um executivo de meia idade que enfrenta uma nova etapa na sua vida... Primeiro descobre que vai ter um novo patrão (Topher Grace) que tem metade da sua idade. Descobre também que vai ser novamente pai e finalmente sabe que Carter (Grace) anda a dormir com Alex (Johansson) a sua filha.
Pelo meio de uma crise de idade e familiar, Dan tem de encontrar a harmonia na sua nova vida tanto familiar como profissional como forma de encontrar não só o equilibrio entre ambas como também o seu próprio equilibrio neste seu novo estado.
O realizador Paul Weitz que nos entregou, entre outros, American Pie, American Dreamz ou esse grande e excelente filme que foi o About a Boy, fica muito àquem com este filme. A premissa sobre as mudanças que a vida pode levar nas alturas mais inesperadas funcionou neste último filme que referi de uma forma estrondosa. Muito ajudou a química sentida entre os vários actores, especialmente entre Hugh Grant e Nicholas Hoult, mas o que é certo é que a história flui de uma forma tão agradável que damos por nós a devorar o filme a cada minuto que passa.
Neste Uma Boa Companhia a premissa também se encontra lá mas, no entanto, a química entre os actores e como tal a empatia que nós enquanto espectadores poderíamos ter para com o filme simplesmente não existe.
O filme é engraçado e tem uma estrutura até bem delineada mas algo falha. O grupo de actores não me parece funcionar bem entre si. Johansson que costuma entregar interpretações bem mais simples e que a favorecem enquanto actriz tem aqui, pelo contrário, um filme onde se encontra muito presente mas que não lhe dá devido crédito ou rendimento. O mesmo acontece com Dennis Quaid que já com um desempenho bem mais adulto do que aqueles a que ficámos acostumados, fica longe da simpatia que tinhamos por essa sua já ida fase. Mesmo com uma interpretação mais "adulta" fica bem distante daquela também por si entregue em Far from Heaven.
Quanto a Topher Grace, que afinal acaba por ser o actor principal deste filme quando deveria ter um protagonismo mais partilhado, também não brilha o suficiente para que torne o filme "seu". Muitos poderão eventualmente identificar-se com a figura de um jovem que assume responsabilidades enormes sem sequer se encontrar a si próprio primeiro mas ao mesmo tempo a sua fria interpretação deste jovem não consegue ser suficientemente convinvente.
De tudo destaco no entanto, a imagem que o filme nos dá das actuais relações laborais onde basicamente funciona o cada um por si. Este aspecto, que provavelmente deveria ser secundário no meio de todo o filme, foi para mim aquele que mais se destacou pela sua subtil relevância. Digo subtil pois à partida deveremos olhar para as pessoas, para os seus dramas e para aquilo que aparentemente define toda a linha principal deste filme mas que, no entanto, acaba por ser um reflexo desse factor laboral. Dan tem medo de perder o seu emprego. Carter vem assumir um novo emprego. Alex prepara-se para poder ter um emprego à custa da sua dispendiosa educação. E muitos dos colegas de trabalho de Dan acabam pelo meio, por perder o seu emprego em nome dos "cortes em despesas". Um retrato secundário, mas fiel, do mundo cão em que vivemos que assume a meu ver o lugar de "protagonista" numa história que se quer sobre uma idade de mudança na vida de um homem... ou de dois homens.
Não deixando de ter alguns interessantes momentos quer de comédia quer de drama, este filme de Paul Weitz não me impressionou muito pela positiva tendo na sua globalidade ficado num estado dito neutro. É interessante e vale pelos momentos que passamos a vê-lo mas, no entanto, não é daqueles filmes que fique para o futuro como o já referido About a Boy.
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6 / 10
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domingo, 27 de novembro de 2011

Ken Russell

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1927 - 2011
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Natália, A Diva Trágicómica (2011)

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Natália, A Diva Tragicómica de João Gomes é um interessante documentário sobre a vida desta mulher se tornou conhecida de um grande público graças às intervenções cómicas de que foi alvo principalmente através da caricatura humoristica que Herman José tanto divulgou à custa da canção "O Nosso Amor é Verde".
O documentário de João Gomes dá-nos um bom enquadramento daquilo que foi a vida desta mulher. Da sua faceta de cantora e da felicidade que isso lhe proporcionava. O facto de poder cantar, deixando de lado os juízos de valor de que era alvo e vítima, causavam a Natália de Andrade um perfeito sentimento de satisfação que aposto em muito lhe alegravam a vida.
Várias são as imagens que nos mostram de Natália, quer em fotografias em vários períodos da sua vida ou filmagens dos vários programas por onde passou e até mesmo capas dos discos que gravou. O que é certo é que em filmagens o seu olhar era o de uma mulher satisfeita com o que fazia e contente por poder exercer o canto, independentemente daquilo que os outros pudessem dizer (se bem que duvido que ela pensasse nisso sequer).
Este documentário que a RTP2 teve a coragem de exibir (chamo-lhe coragem porque é tão raro passarem documentários na televisão, mais ainda o será se considerarmos que esta não é uma figura de topo do nosso panorama nacional) foi, por mim, muito apreciado. Gostei de perceber o que se escondia por detrás daquela mulher que tanta gargalhada causava mas que tão pouco lhe conhecia e, ainda assim, fiquei a desejar que mais tivesse sido abordado sobre a sua vida pessoal. O que se esconde por detrás daquela figura tão cómica e de uma voz que, sejamos honestos, muito pouco melodiosa era.
Temos de facto um olhar dela através de testemunhos de alguns que com ela mais privaram mas, ainda assim, não dá um retrato completo da mulher. Continuamos a saber pouco sobre Natália, a mulher para saermos mais sobre Natália, a Diva mais trágica do que cómica.
Críticas à parte sobre o que Natália de Andrade cantava, ou julgava cantar, o que é certo é que um aspecto tornou-se recorrente neste documentário. Muitos foram aqueles que ao longo dos cinquenta minutos de duração referiram que Natália, acima de tudo, gostava de cantar. Não se sabendo se ela pensava saber realmente cantar, o que é certo é que todos comentam que ela gostava. E isso podemos verificar pelos diversos excertos de gravações onde mesmo perante tantas adversidades, Natália tinha um olhar feliz. Feliz por estar num palco a cantar perante o seu público e outros tantos milhares através da televisão.
Gostemos ou não certo é que Natália de Andrade é referenciada em diversas fontes... internet, publicações sobre as Divas Iludidas, programas humoristicos e agora um documentário... Gostemos ou não teve (tem) o seu lugar na História por muito pequeno e breve que seja, e muito agradeço a este documentário por ter mostrado um pouco mais desta mulher além daquele pequeno trecho sobre o "nosso amor ser é verde" que graças a Herman José está ainda hoje nas nossas memórias.
Interessante documentário sobre uma figura mítica (que o é), e que merece ser visionado. Aos interessados passa novamente hoje na RTP2.
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7 / 10
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Globos de Ouro SIC/Caras 2012: comentário a partir de Novembro

Tendo o cinema nacional assistido a mais algumas estreias desde a última vez que aqui deixei um olhar sobre a cerimónia destes prémios para o ano de 2012, nada melhor do que voltar a referir as estreias deste ano e aqueles que julgo virem a tornar-se nos nomeados para a próxima gala. Assim temos estreados os filmes:
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  • Águas Mil, de Ivo Ferreira
  • América, de João Nuno Pinto
  • O Barão, de Edgar Pêra
  • Cisne, de Teresa Villaverde
  • E o Tempo Passa, de Alberto Seixas Santos
  • A Espada e a Rosa, de João Nicolau
  • O Estranho Caso de Angélica, de Manoel de Oliveira
  • A Morte de Carlos Gardel, de Solveig Nordlund
  • Quinze Pontos na Alma, de Vicente Alves do Ó
  • Sangue do Meu Sangue, de João Canijo
  • Viagem a Portugal, de Sérgio Tréfaut
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E tendo estes filmes como base, as minhas previsões para a próxima cerimónia são as seguintes:
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MELHOR FILME
América, de João Nuno Pinto
O Barão, de Edgar Pêra
Sangue do Meu Sangue, de João Canijo
Viagem a Portugal, de Sérgio Tréfaut
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MELHOR ACTOR
Fernando Luís, em América
Miguel Nunes, em Cisne
Nuno Melo, em O Barão
Rafael Morais, em Sangue do Meu Sangue
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MELHOR ACTRIZ
Beatriz Batarda, em Cisne
Maria de Medeiros, em Viagem a Portugal
Rita Blanco, em Sangue do Meu Sangue
Rita Loureiro, em Quinze Pontos na Alma
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sábado, 26 de novembro de 2011

XX/XY (2002)

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XX/XY de Austin Chick é um filme que conta com a participação de Mark Ruffalo, Kathleen Robertson e Maya Stange numa história que os envolve num trio sentimental e sexual.
Depois de Coles (Ruffalo), Sam (Stange) e Thea (Robertson) estarem envolvidos quer juntos quer à vez, a relação de amizade que tinham vai lentamente desaparecendo criando entre eles pequenos atritos que resultam aos poucos na sua separação.
Dez anos decorridos destes acontecimentos Coles e Sam reencontram-se e estabelecem novamente contacto que termina de novo no seu envolvimento que trará consequências não só para a sua amizade como também nas relações que agora mantêm com os seus respectivos parceiros.
Habituado que estou a ver Mark Ruffalo com interpretações bastante interessantes que mostram o quão bom actor é, não perdi a oportunidade de ver este seu filme, já com alguns anitos em cima, mas confesso que muito pouco me impressionou. À excepção de alguns largos minutos em que entra numa escalada sexual a dois ou a três com as duas actrizes protagonistas, este filme e a sua interpretação mostram os complexos porque muitos atravessam onde a idade avança mas os comportamentos pararam no tempo e numa certa idade como se ainda de crianças se tratassem. A "incapacidade" de crescer e assumir quer compromissos quer responsabilidades é o mote principal desta história que tem como consequência a perda daqueles que os seus intervenientes percebem realmente amar.
O mesmo serve para as duas actrizes principais que embarcam inconscientemente no meu jogo apenas para perceber mais tarde que ele era "alto" demais para nele conseguirem vencer.
Este filme, tanto pelo argumento como pelas interpretações, ou até mesmo a quase insuportável banda-sonora não me impressionaram. O filme, que até é de fácil digestão e não se torna aborrecido em nenhum momento mas demonstra como pessoas com vidas aparentemente estáveis e bem sucedidas podem, a qualquer momento, perder-se e dar asas a caprichos e desejos que se julgavam escondidos e esquecidos.
À excepção dos muito presentes devaneios sexuais a que este grupo de personagens se dá ao longo do filme, quer quando estão ainda em idade de estudantes quer mais tarde quando se reencontram, pouco mais há a acrescentar a este filme que se de início até começa a prometer, rapidamente se perde na banalidade de um argumento que não avança do mesmo ponto no qual começou.
No geral é um filme morno que não tem muito que se lhe diga ou algum momento que consiga realmente impressionar pela positiva ou pela sua originalidade. Não se vê mal e não está mal representado mas ao mesmo tempo também não adianta nada de novo.
Interessante não deixa de ser a fotografia da autoria de Uta Briesewitz que nos seus tons esbatidos e sem "vida" retratam não só a insignificândia e desilusão com que estas personagens caracterizam, de certa forma, as suas próprias vidas mas que no ambiente geral do filme é bem conseguido e aplicado.
O filme na sua globalidade apesar de se visualizar bem e sem grandes problemas consegue, ao acabar, deixar-nos aquela sensação de completa nulidade ou desinteresse por tornar o desfecho das diversas personagens exactamente naquilo que esperamos em que elas se tornem.
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4 / 10
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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

The Tempest (2010)

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A Tempestade de Julie Taymor é a adaptação da obra literária homónima de William Shakespeare na qual assistimos a uma luta não só de poderes como de intelectos e influências.
Neste filme, cujo argumento foi igualmente escrito pela realizadora, a personagem principal é agora feminina e dá pelo nome de Prospera (Helen Mirren), uma mulher que depois da morte do marido, o Duque de Milão, vê o seu trono ser usurpado pelo irmão Antonio (Chris Cooper), sendo de seguida enviada à sua sorte para o mar.
Uma vez chegada a uma ilha Prospera e a sua jovem filha (mais tarde Felicity Jones), encontram Caliban (Djimon Hounsou) que mostrará a Prospera onde se encontram todos os recursos da ilha e a quem esta depois despreza em nome da segurança da sua filha. Prospera e Caliban vivem a partir de então uma relação de inimizade crescente com constantes acesos diálogos sobre a inteligência e os direitos de que este último se vê privado.
No entanto a vingança de Prospera irá um dia consumar-se ao aproximar-se da ilha um barco que transporta todos aqueles que outrora a haviam desprezado e com a ajuda de Ariel (Ben Whishaw), um espírito, ela enceta o ajuste de contas por que tanto esperava.
Como todas as obras de Shakespeare, e esta não poderia ser uma excepção, a vingança e o ajuste de contas interligam-se em diversas histórias que envolvem diversas e riquíssimas personagens. As turtuosas viagens e esquemas a que Prospera sujeita todos aqueles que giram em seu redor são extremamente elaboradas levando-nos quase a crer que aquela personagem é realmente maléfica, mas é só mais tarde que percebemos quais as suas reais intenções.
A partir do momento que tomei conhecimento de mais um filme realizado por Julie Taymor, imediatamente fiquei curioso. Falamos da realizadora que nos entregou filme como Frida, Titus ou Across the Universe, ricos não só no seu argumento e interpretações, mas também no aspecto visual onde são verdadeiros estrondos onde a música, a cor e o espectáculo se cruzam harmoniosamente.
É este mesmo espectáculo visual que transforma certos momentos do filme em perfeitos delírios. Já o tinhamos em Titus e principalmente em Across the Universe, e aqui são novamente evocados momentos em que, neste caso concreto, esta riqueza visual roça de muito perto a loucura em momentos encarnados por Ben Whishaw numa brilhante interpretação que com o seu ar angélico e actos cruéis me fez recordar outra sua grande interpretação em Perfume.
E por falar em interpretações seria impensável falar neste filme sem referir os outros dois grandes actores que dão corpo e alma a este filme. A primeira é a espantosa Helen Mirren que, uma vez mais, dá vida a uma mulher forte e completamente determinada a fazer valer não só os seus direitos como principalmente a sua vingança face a todos aqueles que contra ela conspiraram.
Por outro lado temos Djimon Hounsou, actor que já tantas magníficas interpretações nos deu como em Amistad, Na América ou Diamante de Sangue (estes dois últimos onde foi nomeado ao Oscar de Actor Secundário), aqui com o seu Caliban, um homem enganado e atormentado por alguém em quem confiou mas que o usou para seu proveito próprio em nome de uma vingança que com ele não estava relacionada.
Como em todos, sem excepção, os filme de Julie Taymor, o espectáculo faz-se também graças a outros dois importantes factores. Tão importantes como a história ou as interpretações em si pois são eles que em muito contribuem para o sucesso da narrativa dramática. A banda-sonora e o guarda-roupa. A primeira assinada por Elliot Goldenthal que aqui compõe uma partitura rica, vibrante e emocionante em todos os momentos mais intensos e dramáticos. O segundo assinado pela já vencedora de três Oscars da Academia, Sandy Powell que recria na perfeição um vestuário de época bastante característico do ambiente austero que se propõe recriar.
Este filme é uma adaptação diferente daquilo que estamos normalmente habituados a respeito de uma obra de Shakespeare. No entanto não nos podemos esquecer que por detrás das câmaras está uma realizadora que recria qualquer tipo de universo a uma filmografia muito especial e que faz do espectáculo visual e da opulência aspectos tão importantes como a própria narrativa em si. Julie Taymor torna-os parte integrante da história como se de uma personagem se tratassem.
É de facto uma filmografia muito particular mas aqueles que se preocuparem a apreciar não só a história como toda a opulência que dela faz parte, ou mesmo se já tiverem conhecimento de outras obras desta realizadora, certamente irão saber ver, apreciar e admirar o estrondoso espectáculo que ela nos proporciona. Àqueles dispostos a correrem o "risco", tenho a certeza que não se irão arrepender.
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"Prospera: We are such stuff as dreams are made on, and our little lives are rounded with a sleep."
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8 / 10
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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Thor (2011)

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Thor de Kenneth Branagh recupera a figura mitológica lançada pela Marvel naquela que é uma estranha união de história com o realizador ou não fosse este um habitual em filmes históricos e de época.
Thor (Chris Hemsworth) poderoso e bastante arrogante é enviado para fora do reino de Asgard por Odin (Anthony Hopkins) o seu pai para a Terra. Enquanto Loki (Tom Hiddleston), o seu irmão, planeia tomar o poder em Asgard, Thor inicia uma nova vida no planeta Terra onde conhece Jane (Natalie Portman) e por quem desenvolve uma relação sentimental.
O argumento pode até ser banal e não passar de uma simples história de amor onde dois mundos que se tomam como impossíveis se cruzam e onde cada um dos intervenientes faz parte de cada um desses mundos específicos. No entanto, apesar desta acabar por ser a premissa principal, outras existem que o tornam num filme interessante e dinâmico para o género que representa.
É verdade que com tantos mundos e planos cruzados nesta história, ele poder-se-ia facilmente perder e resvalar numa qualquer história sem nexo ou sequer graça e que mesmo para distracção não serviria, mas há algo que o faz ter uma estranha coerência e ser apelativo para todos os públicos que decidam fazer dele um bom veículo para uma tarde bem passada em puro entretenimento.
Tanto a história de amor entre Thor (Hemsworth) e Jane (Portman) como as demais dinâmicas entre a personagem principal com as demais, o pai Odin, o irmão Loki e os respectivos fiéis amigos, conseguem encaixar de uma forma bastante harmoniosa que nos faz perceber a lógica de existirem tantas vertentes por onde o filme passa. O amor, a lealdade, a vingança, a família e a honra (sobretudo a honra), são todas as premissas que este filme aborda sem que nenhuma delas saia defraldada ou ignorada pelas demais. O filme de facto funciona.
Das interpretações, esperadas para o género de filme que é, sente-se que falta algum "calor" nas personagens de Natalie Portman e de Anthony Hopkins. Não que não se enquadrem bem ou que não façam o que deles é esperado (o melhor), mas sente-se perfeitamente que por muito que tenham gostado de fazer este filme, que em termos do seu conteúdo ou potencial enquanto actores, estas ficam um tanto àquem daquilo que eles sabem conseguir fazer. Ainda assim, não se espera nada menos do que a excelência destes actores e quanto a isso não questiono que o tenham dado.
Quanto a Chris Hemsworth que aqui dá corpo e alma ao herói mitológico nórdico, criou uma personagem à sua medida e que, ou muito me engano, ou poderá eventualmente ter uma continuidade. Duvido que a potencial saga perpetue a participação dos outros dois actores aqui já referenciados mas quanto à figura principal essa poderá dar a Hemsworth a sua continuidade.
Já no que diz respeito a Colm Feore, aqui ultra-caracterizado, e brilhantemente que se diga, não vou dizer absolutamente nada pois a genialidade deste actor ultrapassa todo o tipo de interpretação que possa ter por mais pequena que seja a sua duração.
História e respectivo argumento, intepretações e dinâmicas à parte, a verdade é que este filme de acção é essencialmente um conjunto de aspectos técnicos dos quais o público poderá ou não gostar e assim determinar, claro está, a importância que ele terá no que a bilheteiras diz respeito. Aspectos técnicos esses que se prendem com os efeitos especiais, muito bem executados que se diga, a caracterização de algumas personagens que também é bastante competente, e claro, aquilo em que este género de filmes é normalmente reconhecido, ou seja, o seu respectivo guarda-roupa também ele brilhantemente executado às mãos da já vencedora de um Oscar, Alexandra Byrne.
Filme de puro entretenimento do qual não se deve esperar mais do que isso. E não tem qualquer mal. Há muitos bons filmes que sem uma grande ou profunda história vencem por na sua simplicidade conseguirem entreter um vasto público. Este é um deles apesar das várias histórias dentro da história que ocorrem. Vence por ser um filme bem disposto, de super-heróis (ou deuses) que apela à descontracção do público que a ele assiste.
Bem executado e com efeitos especiais bastante apelativos, aquilo que me surpreendeu neste filme foi de facto o seu realizador de quem esperaria muitos filmes e de géneros variados mas talvez... menos este. Branagh surpreende pela positiva e por dar a este herói mitológico um filme interessante e bem feito.
Para aqueles que são apreciadores deste género, e dos próprios actores que o interpretam, têm aqui um belo exemplar cinematográfico que consegue fazer-nos passar bons momentos.
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7 / 10
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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Perseguido (2011)

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Perseguido de António Castro é uma curta-metragem de ficção que tive o prazer de ver em antestreia absoluta (o que me deixa bastante satisfeito).
Ele (António Castro) acorda perdido no meio de uma serra e encontra ao seu lado uma pequena mensagem que decide respeitar e seguir. Pelo caminho vai dar a diversos locais e todos aparentemente abandonados. Ele encontra-se sózinho nesta sua missão. Ou será que não?
O final desta curta, que não irei revelar como é óbvio, deixou-me agradavelmente surpreso. Não esperava que o caminho tomado, e muito bem pensado desde já adianto, fosse este. De facto o destino encontra-se, por vezes, fora do nosso alcance.
Com uma boa fotografia e enquadramentos explícitos o suficiente para vermos onde nos encontramos esta curta tem um aspecto que a mim enquanto espectador me costuma incomodar. Não pelo facto de ser mal feito mas sim pela sensação claustrofóbica que normalmente me costuma dar... a movimentação de câmara. Os planos em que ela assume o olhar do principal interveniente e em que este não sabe onde se encontra são... aflitivos.
No entanto, é este mesmo aspecto que dá, ao mesmo tempo, a sensação de que Ele por muito que fuja terá sempre alguém atrás de si prestes a capturá-lo, e sem muito se ver, temos a clara noção de que está mais alguém ali por perto.
Gostei igualmente do facto de esta curta apresentar um detalhe curioso, e sempre tão bem sucedido, dos filmes de terror e suspense que se prende com o facto de nos transportar sempre para locais enigmáticos e quase sempre abandonados. O clima e o ambiente que se gera à custa destes pequenos detalhes é sempre um aspecto positivo.
Temos então um bom e bem dirigido trabalho com um desfecho surpreendente e que vale a pena ver que duvido seja antecipado por alguém. Parabéns ao realizador.
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7 / 10
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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

The Rite (2011)

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O Ritual de Mikael Håfström é um filme de suspense/terror que retoma um tema tão apreciado para esta temática, ou seja, os rituais exorcistas e aqui com um mestre do terror como Anthony Hopkins de quem se espera uma interpretação bem arrepiante.
Michael Kovak (Colin O'Donoghue) é um jovem seminarista sem fé que é enviado para Itália para um curso de exorcismo onde, relutante, conhece Lucas Trevant (Hopkins), um padre que tem já uma vasta experiência nesta área e que lhe irá transmitir os seus conhecimentos.
É quando o próprio Padre Lucas cai nas garras de um demónio que a razão e a fé de Michael serão definitivamente colocados à prova para aquilo que será determinante nas suas escolhas para o seu próprio futuro.
O trailer deste filme prometia em vários aspectos. Para começar a temática em si, para um amante de cinema de terror, começa logo por ser aliciante o suficiente para sabermos que não o vamos perder (e só isso já basta). No entanto, se a um filme de terror juntarmos a carismática presença que é a de Anthony Hopkins e que dá corpo e alma aos dois lados da "barricada", então aí aquilo que podemos esperar é imediatamente um sucesso no que diz respeito ao terror. Intenso, aliás muito intenso, é o momento em que um Padre Lucas tem contacto com aquela simpática menina... e mais não digo.
Em segundo lugar, o facto deste filme ser baseado em factos e acontecimentos verídicos também nos deixa de imediato receptivos a visualizarmos este filme com algum maior respeito. Sabemos que não será uma história onde se anda a vomitar todo o tipo de liquídos nojentos... bom, vomitam-se outras coisas mas, ao mesmo tempo sabemos que o terror que aqui vamos assistir tem o seu findo de real e como tal merece o devido respeito pela história que nos é apresentada mesmo sabendo que alguns factos correm sempre o risco de serem ficcionados para a melhor dramatização dos mesmos.
Finalmente, e se calhar o mais importante de tudo, real ou total ficção o que é certo é que qualquer cinéfilo que se apresente como tal adora o género de terror como o ar que respira, e contra isso será impossível dizer seja o que fôr. Como tal, aqui está o filme que todos, independentemente de admitirem ou não, sabem que o vão querer ver. E, com razão, compensa.
Como disse, não temos o tipo de história onde  vamos assistir a um conjunto de peripécias mais ou menos nojentas que provocam a repulsa pelo aspecto que têm mas, por sua vez, o medo aqui provocado prende-se com o facto desta história nos ser apresentada como real. Sabemos que os exorcismos existem e que estão de boa saúde o que, por sua vez, abre caminho para pensarmos que afinal os espíritos (e pelos vistos bem maus) andam por aí "à solta"... Basta pensarmos nisso para este filme passar a ter uns contornos um pouco... diferentes.
Em todo o caso, alguns dos acontecimentos aqui relatados tornam-se igualmente assustadores por si só. Todo o ambiente do filme, sinistro a maior parte do tempo, consegue colocarmos um pouco em sobressalto pois percebemos que a qualquer momento pode acontecer algo que nos irá assustar. E, se o filme por si já recria uma atmosfera bem sinistra, não deixa de ser verdade que são os instantes finais onde temos um Hopkins bem inspirado (que é como quem diz... possuído) e com uma caracterização bem eficaz e competente (mas longe da nossa querida Linda Blair), que lançam os momentos mais tensos e assustadores ao longo de todo o filme.
Além do terror, que está sempre presente, este filme é bom pelo facto de nos deixar pensar em determinados aspectos com a fé, as crenças pessoais e no desconhecido que pelos vistos é um terreno ainda muito vasto. Como experiência cinematográfica é um filme interessante que vale a pena ver e que nos faz passar um bom bocado pela sua história e suspense.
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"Father Lucas Trevant: Does a thief or a burglar turn on the lights while he's robbing your house? No. He prefers you to believe that he's not there... like the devil!"
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7 / 10
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domingo, 20 de novembro de 2011

Joy Ride 2: Dead Ahead (2008)

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Não Brinques com Estranhos 2 de Louis Morneau dá vida a Rusty Nail, um dos vilões das estradas norte-americanas naquela que é uma muito fraca sequela do filme original.
Depois do seu carro avariar e levarem um de uma propriedade perdida no meio de nenhures, um grupo de jovens depara-se perseguido pelo temível Rusty Nail que encontra aqui as vítimas perfeitas para continuar a sua longa e turtuosa série de assassinatos e humilhações.
Nada de novo com este argumento até aqui. Bom, até aqui e também no restante filme que em nada inova face ao filme original. Nem espaço há para as excepções pois elas de facto não existem. Temos as perseguições, as vítimas mais ou menos inocentes, as humilhações a que o vilão de serviço as sujeita e claro... muitos e muitos parolos lá do sítio como se ninguém civilizado ou minimamente inteligente existisse no mundo.
De novo, se é que se pode achar isso como sendo algo de novo, é o facto de assistirmos a alguns momentos mais bizarros e mais sangrentos, não que o faça aproximar-se de um filme gore (nem pouco mais ou menos), apesar das intenções estarem lá explícitas, mas o que é certo é que a bizarria impera.
Bizarras também são também as interpretações destes actores que parecem, aliás...são mesmo, fracas. Muito fracas ao ponto de muitos só existirem para serem mutiladas e eliminadas por tão temido assassino. Não há nenhuma que seja suficientemente marcante, ou relevante sequer, para além de serem (e aqui sim uso o cliché) "carne para canhão".
Fora isto pouco mais adianta como filme ou pelo conjunto das suas personagens. É um filme que se vê mas do qual não se deve esperar absolutamente nada. Nem sequer na personagem, que acaba por ser a principal, de Rusty Nail podemos esperar nada de inovador. Limita-se a ser mau... limita-se a querer a matar e a gostar do que faz. E com isto, está tudo dito.
Vê-se... distrai e acabamos por passar um tempinho com algum suspense mas... da mesma forma esquece-se.
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3 / 10
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sábado, 19 de novembro de 2011

Rosa (2011)

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Rosa de Jesús Orellana é uma excelente curta-metragem espanhola de animação que nos transporta para um cenário pós-apocalíptico onde a Humanidade há muito que desapareceu. É neste cenário que um dia desperta ROSA, um robot que encarna a última tentativa dessa mesma Humanidade desaparecida em restabelecer a vida através da recuperação de toda uma flora.
Neste cenário desolador rapidamente percebemos que ROSA não está sózinha... Só não sabemos se aqueles que a "acompanham" serão assim tão desejados...
Jesús Orellana que além de realizar também escreve o argumento desta curta viveu um momento inspirado ao fazê-lo. Cria aqui uma história na qual entre todo um cenário desolador vem, do mais improvável dos seres, um verdadeiro momento de esperança através de algo que não antevemos logo à partida. Sem revelar detalhes sobre o que se passa pois tem de ser visionado, o que é certo é que os nomes dados às personagens acabam por estar intimamente ligados com o renascimento do próprio planeta.
Igualmente boa é a animação em si que cria aqui personagens com movimentos bem reais e credíveis que a tornam bastante dinâmica e apelativa e com uma banda-sonora feita à medida da acção a que assistimos.
Dito isto não me espantaria que num futuro próximo Jesús Orellana não esteja já a trabalhar com orçamentos gigantescos numa qualquer produção espanhola ou mesmo, quem sabe, norte-americana pois a qualidade deste seu trabalho abrir-lhe-à, seguramente, muitas portas.
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10 / 10
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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Winter's Bone (2010)

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Despojos de Inverno de Debra Granik foi o filme independente sensação do ano e que resultaria, entre outras, em quatro nomeações para os Oscars para Filme, Actriz, Actor Secundário e Argumento Adaptado.
Esta história centra-se na vida de uma família algo disfuncional do interior dos Estados Unidos onde Ree (Jennifer Lawrence) uma adolescente de dezassete anos toma conta dos seus dois irmãos mais novos e da sua mãe física e psicologicamente debilitada.
A vida, que já lhes é difícil pela falta de condições de vida num espaço que é agreste, complica-se ainda mais quando as autoridades abordam Ree para lhe revelar que o seu pai recentemente saído da prisão deu como garantia a propriedade onde eles vivem e que lhes será retirada se não comparecer em tribunal. Ree, determinada e assumindo o papel de chefe de família decide partir em busca do seu pai numa viagem que lhe poderá ser fatal.
Tinha já há algum tempo muita curiosidade em ver se este filme era tão bom quanto os relatos que dele me chegavam aos ouvidos. A verdade é que realmente é um filme muito bom e por variados motivos. O primeiro, e talvez o mais importante, é por nos dar um retrato real e bem cruel sobre inúmeras famílias que por este mundo vivem em condições quase desumanas, com carências e problemas financeiros, educacionais e sociais que praticamente (senão totalmente) os excluem do ambiente que os rodeia. Facto este que acaba por se agravar pela também quase inexistente falta de solidariedade para com problemas tão reais e presentes. Este aspecto, aqui centrado numa família do interior profundo desse tão grande país que são os Estados Unidos, poderia aplicar-se a qualquer outro local do mundo.
Em segunda lugar, e quase intimamente ligada ao primeiro, há que referir que sem grande violência física (apesar de tambéms e registar ao longo do filme em diversas ocasiões), esta violência apresenta-se aqui sobre diversos outros aspectos nomeadamente pela impossibilidade financeira de Ree poder estudar, alistar-se no exército ou simplesmente ser uma jovem de acordo com a sua idade mas que aqui, pela força das circunstâncias da sua vida e especialmente da sua família, acaba por se ter de tornar numa mulher adulta de quem todos acabam por depender.
Finalmente este argumento da autoria da própria realizador Debra Granik em parceria com Anne Rosellini sai vencedor por abordar algo de extrema importância e que poderia ficar perdido pelo meio de tantos outros aspectos... Ree, no meio de uma jovem e problemática vida demonstra através dos seus actos e vontades o quão é importante para si o poder e a união da família... da mãe, dos irmãos, de um pai criminoso e ausente e de um tio de passado violento e com quem ela pouco se relaciona. A honra e a lealdade que ela tem para com todos eles é possivelmente o factor mais importante e que serve de elo de ligação entre todos os demais aspectos que compõem esta fascinante história.
Este filme composto por um conjunto variado de interpretações secundárias é simplesmente abrilhantado pela presença desta jovem actriz de seu nome Jennifer Lawrence que revela ser um dos nomes a considerar para o futuro. O seu talento e interpretação entregam-nos uma capacidade dramática notória e a quem aparentemente ninguém ficou indiferente tendo nomeado justamente a jovem actriz para uma quantidade sem fim de prémios de interpretação. Lawrence entrega-nos uma interpretação que toca nos dois polos... excessivamente dramática pelo fardo que a sua personagem acarreta como, por outro lado, é reveladora de uma frieza e indiferença pelas consequências que podem resultar dos seus actos. Correndo o risco de utilizar um cliché muitas vezes utilizado mas Jennifer Lawrence é, de longe, uma verdadeira força da natureza.
Algo que contribui para esta tão rude paisagem é mesmo o conjunto de cenários desoladores e abandonados repletos de vidas à margem da lei, como seria de esperar pelas actividades que percebemos serem a fonte de rendimentos de grande parte daquela comunidade, e que apenas é intensificada por um magnífico trabalho de fotografia da autoria de Michael McDonough que torna toda a paisagem circundante desprovida de qualquer cor que possa estar intimamente relacionado com calor, sentimento ou força.
Apesar de ser um filme bastante parado e sem grandes planos ou sequências de acção que possam intensificar o potencial dramático do filme, este é sim obtido pelas fortes interpretações dos actores bem como pela rudeza e brutalidade do argumento que roça de muito perto o lado mais selvagem que o ser humano tem dentro de si. Mas tudo sempre feito em nome da protecção dos seus e do seu espaço próprio no mundo sem com isso reclamar mais do que aquilo que se merece pois Ree percebe que aquilo que tem ao seu alcance é... muito pouco.
Extraordinário filme, interpretações e argumento que compõem aquele que é sem qualquer sombra de dúvidas um dos melhores filmes deste ano.
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"Ree: Never ask for what oughta be offered."
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9 / 10
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O Teu Sapato (2011)

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O Teu Sapato de João Seiça é uma curta-metragem portuguesa de ficção com a participação de Miguel Borges no desempenho principal e secundado por José Wallenstein, Paulo Pinto e Margarida Moreira.
Gomes (Borges) é um homem ciumento que vive uma relação possessiva com a mulher (Moreira) com quem partilha alguns momentos de paixão.
Estes ciúmes são tantos que durante grande parte desta curta-metragem assistimos aos devaneios psicológicos de uma realidade bem alterada pela qual Gomes passa e onde a sua sexualidade e desejo estão sempre ao rubro não conseguindo, por vários momentos, fazer uma distinção entre a realidade e o imaginário do subconsciente.
Não que tenha algo a ver mas achei graça a determinados aspectos apresentados com esta curta-metragem nomeadamente aquilo que facilmente poderiam ser referências cinematográficas como por exemplo a questão do sapato, a Cinderella, ou aquela camisa de Gomes que me fez imediatamente lembrar um ícone do cinema de terror, mais concretamente Fred Kruger.
A fotografia, brilhante, que em tons de vermelho e negro espelham na perfeição um ambiente lascivo e de luxúria tanto representado depois por Miguel Borges como por Margarida Moreira que vivem intensamente a sua relação sexual.
Bastante interessante e negra quanto baste esta curta é um ponto alto do universo cinematográfico português e, caindo naquilo que é já um lugar comum das curtas que tenho comentado... o potencial para uma longa-metragem é imenso. Muito bom trabalho.
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7 / 10
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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Red Riding Hood (2011)

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A Rapariga do Capuz Vermelho de Catherine Hardwicke, realizadora da saga Twilight, faz renascer a centenária história do Capuchinho Vermelho numa abordagem que assumo ter achado interessante (vai cair o Carmo e a Trindade com esta observação).
Quase é escusado falar sobre a história pois duvido que exista alguém que não a conheça, no entanto e para que ninguém leia isto sem saber do que se fala, aqui seguimos a história de Valerie (Amanda Seyfried) que vive numa aldeia quase medieval e que vive atormentada por um enorme e estranho lobo que reclama as suas vítimas, que quase sempre são pequenos animais domésticos, para saciar uma quase voraz fome. Valerie é uma adolescente prometida em casamento a um jovem rapaz mas apaixonada por Peter (Shiloh Fernandez) seu amigo de infância e lenhador, e que também nutre por ela uma paixão, na mesma altura em que o misterioso lobo volta a atacar a já amedontrada aldeia.
O argumento de David Johnson faz renascer esta história mas aqui com vários novos aspectos que lhe dão um ar bem mais moderno. Em primeiro lugar temos uma Capuchinho Vermelho que em plena idade adolescente vive com furor o calor das suas hormonas. Quero com isto dizer que temos alguns momentos em que a jovem Valerie mostra ser uma jovem com desejos carnais pelo seu apaixonado, algo nunca antes visto nesta história que a tomava como uma jovem pura e inocente.
Outro dos aspectos novos que esta adaptação da história nos dá é o facto do lobo... não ser um lobo qualquer mas sim um lobisomem dando assim um sentimento de desconfiança entre as várias personagens da história pois o "mal" estaria a viver entre eles há diversos anos.
E finalmente, ainda relativamente a esta história temos a originalidade do conhecido lenhador do conto ser, como já referi, o próprio apaixonado pela Capuchinho, ou como aqui se chama, Valerie, e não um qualquer homem que se encontrava pela floresta.
É assumidamente uma adptação moderna do conto que, ainda assim, não perde os elementos fundamentais da história que ficou imortalizada mas, pelo contrário, soube inovar para atrair um vasto público para uma história infantil que aqui... de infantil tem muito pouco.
A história está repleta de desconfianças e medos... de lascívia e de desejo... de traição e de loucura que a tornam em diversas situações um tanto claustrofóbica. Basta para isso pensarmos no facto de tudo acontecer numa pequena aldeia isolada no meio das montanhas de onde ninguém conseguirá, à partida, escapar. E quando pensamos que no meio de tudo não há ninguém em quem se possa abertamente confiar... estão a ver a ideia!
Confesso claramente que estava muito desconfiado a respeito deste filme. E porquê? Bom, isso é simples... Basta ver quem o realizava e o trabalho que fez com a mais recente saga de filmes sobre vampiros e lobisomens que as minhas esperanças para este filme ficavam muito longe daquilo que poderia considerar um filme bom (para o género claro está). Mas o que é certo é que gostei daquilo que aqui vi. A história que todos conhecemos ganha uns quantos aspectos modernos e mais apelativos para a juventude que deve ter invadido as salas de cinema com esta história mas não o tornou com isso um filme... "bimbo". Este A Rapariga do Capuz Vermelho consegue ser um filme interessante com algum suspense e uma Capuchinho que mostra ser uma jovem e decidida mulher capaz de enfrentar o perigo sem medos. Bom... com alguns poucos...
É claramente um filme para jovens e disso não há qualquer escapatória possível mas, no entanto, abre também as portas a um maior público não só por alguma seriedade que é dada à história como também pelo conjunto de actores mais respeitados que junta no ecrã, nomeadamente Julie Christie que interpreta a Avó, Virginia Madsen no papel de Mãe e Gary Oldman como Solomon, um fanático padre que vê bruxaria e o diabo atrás de cada porta e que pretende capturar e assassinar o mal-fadado Lobo Mau.
E os aspectos positivos continuam... Excelente o trabalho de guarda-roupa da autoria de Cindy Evans que dá ao capuz vermelho da jovem características e "vida" de uma verdadeira personagem. E também de fazer uma referência ao extraordinário trabalho de fotografia da autoria de Mandy Walker que torna o ambiente desta pequena aldeia muito pesado e sombrio pela junção de cores bem carregadas que são notórias em quase todo o filme.
Não será um filme que iremos recordar ao longo dos tempos mas para aquilo que se quer está um filme bastante competente e interessante e que com toda a certeza descolará a sua realizadora da saga lobo-vampírica que a tornou conhecida. Vale a pena ver pois é um filme que não só é competente nos aspectos inovadores que trouxe para o ecrã como também está uma história que certamente consegue agradar a todo o tipo de audiências.
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7 / 10
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Caminhos do Cinema Português 2011: palmarés

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PRÉMIOS JÚRI OFICIAL
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Grande Prémio "Cidade de Coimbra": Sangue do Meu Sangue, de João Canijo
Melhor Longa-Metragem: Viagem a Portugal, de Sérgio Tréfaut
Melhor Curta-Metragem: O Voo da Papoila, de Nuno Portugal
Melhor Animação: Mulher Sombra, de Joana Imaginário
Melhor Documentário: José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes
Prémio Revelação: América, de João Nuno Pinto
Melhor Actor: Fernando Luís, em América
Melhor Actor Secundário: Ângelo Torres, em Estrada de Palha
Melhor Actriz: Rita Blanco, em Sangue do meu Sangue
Melhor Actriz Secundária: Isabel Ruth, em Viagem a Portugal
Melhor Realizador: João Canijo, por Sangue do Meu Sangue
Melhor Direcção Artística: João Nunes e Paulo Gomes, por Quinze Pontos na Alma
Melhor Argumento Original: João Canijo, por Sangue do meu Sangue
Melhor Argumento Adaptado: Luísa Costa Gomes e Edgar Pêra, por O Barão
Melhor Fotografia: Luís Branquinho, por O Barão
Melhor Guarda-Roupa: Paulo Gomes, por Quinze Pontos na Alma
Melhor Caracterização: Jorge Bragada, por O Barão
Melhor Montagem: Tiago Antunes, por O Barão
Melhor Som: Vasco Pimentel, Tiago Matos e Joel Rangon, por Cisne
Melhor Música Original: Paulo Furtado, por Estrada de Palha
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PRÉMIOS JÚRI ENSAIOS VISUAIS
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MELHOR FILME: Alegoria dos Sentidos, de Nelson de Castro e Wilson Pereira (Universidade Lusófona)
MENÇÃO HONROSA: Piton, de André Guiomar (Universidade Católica Portuguesa - Porto)
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PRÉMIO JÚRI FICC IFSS - PRÉMIO D. QUIJOTE: Independência de Espírito, de Marta Monteiro
MENÇÃO HONROSA: José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes
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PRÉMIO REVISTA C: Quinze Pontos na Alma, de Vicente Alves do Ó
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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Hanna (2011)

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Hanna de Joe Wright foi um filme muito aguardado por mim considerando que tem como uma das protagonistas uma actriz que muito estimo... a grande Cate Blanchett. Se a ela juntarmos os nomes de Saoirse Ronan e Eric Bana o filme torna-se uma promessa que será confirmada pelo excelente trailer que foi apresentado.
Hanna (Ronan) é uma adolescente criada pelo pai (Bana) para ser a assassina perfeita... sem sentimento, sem piedade e sem emoção. A sua missão é encontrar Marissa (Blanchett) uma agente da CIA e eliminá-la juntamente com todos os seus colaboradores. Para tal Hanna é atravessa parte da Europa numa perseguição entre "gato e rato" que terminará com algumas surpresas e com muitas vítimas pelo caminho.
Este filme que não só tem a história como os actores perfeitos e que conseguem atrair qualquer cinéfilo às salas foi, e sublinho o passado, um filme que não só aguardei ver como depois de o concretizar muito me desiludiu. E porquê? Bom, em primeiro lugar por considerar que tanto do realizador em questão como dos actores, foi uma obra francamente fraca. A realização de Joe Wright revela a sua intenção de dinamismo com alguns, muitos, segmentos de filmagem com a câmara em movimento. Na prática estes mesmos momentos mostram mais um filme aborrecido do que propriamente o dinamismo e acção que se lhe esperam.
A interpretação de Saoirse Ronan como "Hanna" acaba por ser a que, de todas, mostra um maior empenho. Ronan interpreta competentemente uma jovem adolescente que passou toda a sua ainda curta vida a aprender todos os truques e técnicas para se tornar numa assassina perfeita e sem coração. Mas, ao mesmo tempo, com toda a abertura que adquire a um mundo até aqui desconhecido, acaba por vivenciar e experimentar os sentimentos de uma jovem em crescimento. A primeira amizade, um primeiro rapaz por quem se pode vir a apaixonar e os perigos que o mundo lhe pode trazer.
Por sua vez a menos inspirada neste filme é mesmo Cate Blanchett. Não deixa de ser uma senhora do cinema que muito aprecio mas a sua interpretação aqui revela ter muito pouco sumo, ao contrário daquilo que lhe é habitual. Blanchett limita-se a estar quase sempre numa correria infernal atrás de "Hanna" e sabemos que eliminou todos os documentos que a ligavam a tão maquiavélico plano (não se percebe bem porquê considerando que ela própria o queria terminar) até que tem um merecido protagonismo no final que, se olharmos bem para o plano realizado em que a sua "Marissa" sai literalmente da boca do lobo antes de morrer às mãos do "Capuchinho"... "pouco vermelho".
Este filme tem uma enorme sensação agridoce. Por um lado a história e os actores são apelativos o suficiente para fazer deste um grande filme. Por outro, à medida que o visionamos ficamos com a sensação de que ele decorre a um ritmo acelerado demais para criarmos uma qualquer empatia por ele ou para com as suas diversas personagens independentemente de estarem de um ou do outro lado do bem.
Mas nem só de aspectos menos bons é feito este comentário... Há que destacar a excelente banda-sonora da autoria de Tom Rowlands e de Ed Simons, que é como quem diz dos The Chemical Brothers bem como do extaordinário trabalho de fotografia da autoria de Alwin Küchler que transforma este filme à medida da acção do momento. Temos os momentos de descoberta da jovem adolescente que há em Hanna cores mais vivas e fortes, quase de desejo por saber cada vez mais e, em contrapartida, aqueles em que as cores esbatidas revelam personagens desprovidas de sensações e sentimentos.
Depois de tudo isto dito não quero que passe a ideia de ser um mau filme. Mau não será de todo mas sim é um filme que poderia ter chegado muito mais longe com o simples facto desta linha de argumento em que "desperta" o facto de crianças criadas para se tornarem os assassinos perfeitos. Tivesse a continuidade da história sido mais dinâmica e estaríamos com certeza perante um dos melhores filmes do ano. Assim, não é bom... limita-se a ficar pelo razoável.
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"Marissa: Sometimes children are bad people too..."
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6 / 10
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Florbela (teaser)

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De Vicente Alves do Ó
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Faminto (trailer da curta-metragem)

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Dos realizadores Hernâni Duarte Maria e Pedro Noel da Luz
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Agarrar a Vida (2011)

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Agarrar a Vida de David Ferreira é uma curta-metragem de ficção feito no âmbito de um trabalho de final de curso que toca num tema bem sensível das sociedades actuais... as dependências. Aqui estas dependências não se relacionam com as drogas, o alcoól ou o jogo ilegal, mas sim os jogos de computador.
A originalidade do argumento transporta-nos para esta realidade ainda pouco discutida mas muito presente nas vidas de tantos que abdicam de um mundo real para horas seguidas de um jogo virtual ignorando por completo a sua dependência para com ele.
No entanto nem só de pontos positivos é feito este trabalho, e aquele que tenho de acentuar como o que retira alguma atenção para a história é mesmo o seu som que em vários momentos é deficitário, perturbando assim a atenção que lhe é devida. Em segunda lugar, não tido como um ponto negativo mas sim como algo que não está bem enquadrado, que se prende com o facto de alguns diálogos não terem um seguimento natural mas quase como se estivessem a ler do papel.
Ao realizador e ao argumento dou os parabéns por trazerem para um trabalho académico uma temática ainda tão pouco explorada ou debatida como esta dependência e vício ainda por muitos vistos como um passatempo.
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5 / 10
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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Em Terra Frágil (2011)

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Em Terra Frágil de Bruno Carnide é uma curta-metragem portuguesa de ficção que nos conta a história de uma família. Uma família desfeita após a mãe ter saído de casa e emigrado para outro país deixando o seu marido e filha sózinhos. O porquê deste abandono só podemos perceber pelo revelar de factos e das dependências apresentadas pelo Pai (Nuno Nunes) que a curta nos transmite, não por uma clara percepção dos mesmos mas sim pela dedução lógica que deles podemos fazer. O momento em que a Mãe (Alice da Cunha) fala com a Filha (Beatriz Costa) é francamente revelador.
Terror, sem que ele seja claro ou explícito, muito bem filmado e dirigido com toques de drama que apenas o acentuam. Original e com planos muito bons abrilhantados por uma banda-sonora da autoria de Fabricio Cordeiro, Gonçalo Crespo, Nuno Rancho e Miguel Samarão.
Gostei dis pequenos detalhes cinematográficos apresentados ao longo do filme... os cartazes de filmes como Alice e Pulp Fiction ou as referências a Orson Welles e a fotografia de Amália Rodrigues promocional do filme Capas Negras.
Mais uma vez, e correndo o risco de me tornar repetitivo no que diz respeito às curtas nacionais, é bom perceber que o cinema português está vivo e de muito boa saúde e que os novos talentos são muitos e estão em força, como aqui podemos, mais uma vez, confimar.
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7 / 10
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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Lovely & Amazing (2001)

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Encontro de Irmãs de Nicole Holofcener tem um elenco protagonista de actrizes que fará qualquer apreciador de cinema deslocar-se para o ir ver... Brenda Blethyn, Catherine Keener e Emily Mortimer, a quem se juntam em desempenhos secundários Jake Gyllenhaal, Dermot Mulroney e James LeGros.
A história cruza as vidas de uma mãe (Blethyn) e três filhas (Keener, Mortimer e Raven Goodwin) e os seus dramas existenciais que ocorrem no preciso momento em que a mãe efectua uma lipoaspiração. Elizabeth (Mortimer) uma actriz que continua sem conseguir a grande oportunidade, Michelle (Keener) que continua sem conseguir vender a sua arte e obter assim a sua independência económica e Annie (Goodwin) a filha adoptiva que vive uma crise de identidade.
De um argumento que se pensa ter capacidades para uma comédia dramática aquilo que acabamos por receber deste filme é um conjunto sem qualquer nexo ou seguimento lógico de várias histórias que se colam e das quais se tenta fazer o relato de um drama transversal a várias gerações.
Uma mãe que apenas pretende fazer uma lipoaspiração para de novo se tornar interessante aos olhares dos homens com quem se cruza. Duas filhas que não conseguem estabelecer uma carreira profissional... uma delas que não consegue convencer com a sua arte e a outra que como actriz dependente da sua agente que pouco se interessa pela carreira dela. E finalmente uma filha mais nova e adoptada que não se enquadra no seio desta família e vive o seu drama pessoal e existencial. Os homens que não as acompanham nem sequer querem saber das suas vidas e finalmente um mundo grande demais onde de certa forma elas nada mais são do que anónimas.
Tudo isto poderia ser até francamente interessante se as histórias fluíssem com algum sentido e ligação entre si. No entanto, ao visionarmos este filme, aquilo que percebemos é que as histórias são relatadas e "coladas" umas de seguida às outras apenas e só com um sentido descritivo que o torna muito pouco dramático ou sequer cómico. As intenções estão lá mas, infelizmente, o resultado é muito pouco interessante.
Brenda Blethyn que costuma brilhar em qualquer interpretação que tenha, por mais simples que ela possa ser, aqui limita-se praticamente a interpretar uma vulgar mulher que, não fosse o caso de a conhecermos, poderia ter sido encontrada numa qualquer rua sem qualquer tipo de experiência. Quanto às demais actrizes, de tão neurótica serem as suas interpretações, acho que nem vale a pena o esforço sequer de comentar o quão desinteressantes foram as suas interpretações.
Não sou profissional de cinema, pelo menos não no sentido de filmar, escrever ou interpretar uma qualquer história. Apenas o sou como espectador e por assistir a filmes de todos os géneros, proveniências ou duração desde muito tenra idade. No entanto sei apreciar quando num filme há uma falta de ligação entre as várias histórias que ele possa contar. E isso aqui sim está muito presente. Àparte das interpretações muito fracas e sem qualquer carisma que este trio de actrizes protagonistas nos entrega, as histórias têm de facto uma continuidade entre si mas aparentam ser contadas como se fossem "soltas" e sem relação entre si. Imaginemos um dia normal na vida de cada um de nós... Imaginemos que esse dia seria levado ao cinema. E agora imaginemos que em vez de começar às 8 da manhã, começava sim mas às 15 horas... Tudo o que estava antes deduzimos ter existido mas... na prática não sabemos se realmente aconteceu ou não. Aqui está aquilo que é para mim este Encontro de Irmãs.
Francamente desinteressante apesar do argumento interessante, mas pouco aproveitado, que tem e que o torna num filme entre tantos que acaba facilmente por cair no esquecimento de qualquer um.
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3 / 10
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domingo, 13 de novembro de 2011

Lisbon & Estoril Film Festival 2011: palmarés

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PRÉMIO MELHOR FILME
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Twilight Portrait, de Angelina Nikonova
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PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI – JOÃO BENARD DA COSTA
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Une Vie Meilleure, de Cédric Kahn
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MENÇÕES HONROSAS
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Amnesty, de Bujar AlimanI
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Oslo, August 31st, de Joachim Trier
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PRÉMIO CINEUROPA
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Une Vie Meilleure, de Cédric Kahn
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PRÉMIO MEO
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Here I Am, de Bálint Szimler (University of Theatre and Film, Budapeste/Hungria)
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Aman (Safe and Sound), de Ali Jaberansari (London Film School, Londres/Inglaterra)
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MENÇÃO ESPECIAL
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Frozen Stories, de Grzegorz Jaroszuk (The Polish National Film Television and Theater School, Lodz/Polónia)
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L’Estate Che Non Viene, de Pasquale Marino (Centro Sperimentale di Cinematografia - Scuola Nazionale di Cinema, Roma/Itália)
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PRÉMIO L’OREAL
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Miguel Nunes
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PRÉMIO CANON
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Encadeados, de Ana Delgado Martins
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