The First Purge de Gerard McMurray (EUA) é a prequela esperada da saga The Purge iniciada em 2013 e à qual se seguiram The Purge: Anarchy (2014) e The Purge: Election Year (2016).
Numa época em convalescença de uma crise financeira e de hipotecas onde o colapso da economia parece iminente, um novo partido político emerge nos Estados Unidos... o NFFA - New Founding Fathers of America. Este partido chegado ao poder com o apoio das massas mas com intenções claramente anti-sociais promete aos cidadãos restabelecer a imagem do "sonho americano" mas, no entanto, a sua agenda de violência e de limpeza social é colocada em marcha quando a Dra. Updale (Marisa Tomei) decide com o apoio do partido no poder efectuar uma experiência em Staten Island onde todo o tipo de violência é permitida durante um período de doze horas...
O argumento, novamente da autoria do mentor James DeMonaco, revela as origens já conhecidas d'A Purga. Um país social e economicamente desolado mas no qual todos anseiam ocupar um qualquer lugar nesse imaginado El Dorado sofre os efeitos de uma cada vez mais acentuada crise entre classes onde os mais favorecidos julgam suportar financeiramente uma maioria sem grandes recursos e oportunidades, vendo neles claros malefícios para a sua própria prosperidade. Qual a melhor forma de se livrarem de uma doença? Eliminando-o radicalmente do "corpo"... a sociedade. A Purga - como um remédio social -, é então "i(g)niciada" supostamente como forma de expiar o descontentamento de uma população no limite do aceitável comportamento não violento mas partidariamente utilizada como forma de expiar uma agenda política claramente extremista e descriminatória que vê nos socialmente mais frágeis a razão de todos os males e problemas. Equacionar que uma perspectiva - a social - é menos nociva que a outra - a política - é meramente uma formalidade sabendo o espectador que todas as teorias de extermínio começam como "experiência sociais" com fins claramente de divisão e de criação do "nós" e dos "outros"... vítimas e culpados... inocentes e causadores desse já referido mal social que, na realidade, surge sim (o mal) pela mão de um conjunto de moralistas sociais dessa sociedade ultra-conservadora que passam pelas milícias armadas, Klu Klux Klan e demais extremistas de ultra-direita que proliferam pelos locais mais recônditos destes Estados Unidos cada vez mais segregacionistas.
Mas, a grande questão surge quando o espectador se questiona sobre a validade da premissa desta longa-metragem apresentada como "a origem", quando nos três títulos que o procederam já tudo isto havia sido explicado, entendido e observado na medida em que todos eles expiam a vontade de uma violência gratuita assumida ou não entre classes ou etnias diferentes como pano de fundo de uma América ultra-conservadora e violenta que vê nos financeiramente menos abonados os causadores de todos os seus (e do país) problemas. A cor, o dinheiro, o meio e a formação como forma de diferenciar e excluir e de nunca tenta a inclusão... Assim, qual a pertinência de uma obra cuja essência já estava explorada nas anteriores obras... cujas personagens não acrescem em nada para a dinâmica da saga - para lá da inserção da mentora do projecto numa brevíssima participação de uma pouco inspirada Marisa Tomei - e na qual todo o seu enredo já é bem conhecido do espectador com momentos de intensidade e adrenalina melhor conseguidos nas mesmas? Pouca pertinência para lá, claro, da confirmação que o poder da bilheteira determina a existência (sem fim?!) de títulos que prolonguem esta saga - já se fala de uma série televisiva - e de apresentar todo um conjunto de improváveis sobreviventes e heróis nas franjas da sociedade, muitos dos quais meros marginais naquele mundo que pensamos tranquilo mas que nas situações de adversidade extrema se transformam nos novos exemplos a seguir... da marginalidade, da pobreza, dos desprivilegiados e dos aparentemente mais fracos surgem então os heróis de um esperado amanhã que... pelos títulos anteriores... já todos nós sabemos que irá acontecer. Personagens heróicas essas que não têm continuidade nos títulos anteriores (que aqui são o futuro porvir) e que o espectador apenas conhece pelos breves instantes que com eles partilha nesta história onde se compreende o uso de máscaras como garante de uma possibilidade de violência que sentem necessitar mas que pela improbabilidade do acto querem esconder... nem sempre nos títulos precedentes como o espectador bem saberá.
Com alguns já esperados momentos mais intensos e fiel à linha que DeMonaco já tem habituado o espectador, The First Purge é o título (não necessário) introdutório a toda esta dinâmica e aquele que talvez se apresenta com menor efeito surpresa por já ter todo o seu enredo explanado nos diversos títulos anteriores... Mantém-se fiel ao princípio de que é do mais improvável e indefeso elemento da sociedade que surge o mais respeitado dos resistentes... mesmo que em tempos ditos "normais" este seja aquele do qual toda a vizinhança pretende fugir.
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6 / 10
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