quinta-feira, 30 de abril de 2015

Julio Méndez

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1994 - 2015
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Ben E. King

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1938 - 2015
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Troféus TV 7 Dias 2015: os vencedores

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Telenovelas
Telenovela: Mar Salgado (SIC)
Actor Principal: Ricardo Pereira, Mar Salgado
Actriz Principal: Sofia Alves, Mulheres
Actor do Elenco: Luís Gaspar, Mulheres
Actriz do Elenco: Paula Lobo Antunes, Mulheres
Música do Genérico: "O Tempo Não Pára", de Mariza, Mulheres
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Séries
Série: Bem-Vindos a Beirais (RTP)
Actor: João Tempera, Os Filhos do Rock
Actriz: Oceana Basílio, Bem-Vindos a Beirais
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Humor
Humorista: António Raminhos, 5 para a Meia-Noite
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Troféu Carreira: Ana Bola
Troféu Memória: Emídio Rangel
Troféu Prestígio: Carlos do Carmo
Troféu Realizador: João Patrício
Troféu Revelação: Vasco Palmeirim
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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Cinzas e Brasas (2015)

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Cinzas e Brasas de Manuel Mozos é uma curta-metragem portuguesa de ficção e uma das que se encontra na Competição Nacional de Curtas-Metragens do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente que decorre na capital até ao próximo dia 3 de Maio.
Dulce (Isabel Ruth) é uma escritora que vive isolada no campo. Algures no tempo Dulce (Ana Ribeiro) conheceu Rui (Gustavo Sumpta), detido por um qualquer crime e sobre quem quis escrever um romance.
Agora, largos anos depois de terem perdido contacto Rui, já em liberdade, volta para encontrar Dulce... por quem ainda tem uma tórrida atracção.
O argumento de Luís Lopes leva o espectador a uma estranha viagem sobre a solidão, o desejo, a beleza, a loucura e os excessos. A "Dulce" interpretada por Ana Ribeiro aparenta ser uma mulher ambiciosa, alguém capaz e disposta a tudo para que os seus objectivos mais primários sejam satisfeitos e, no seu caso, estes prendem-se com a vontade extrema em alcançar fama e sucesso. Por sua vez a mesma "Dulce", agora interpretada por Isabel Ruth, é uma mulher por quem o tempo passou, alguém que nunca conseguiu - ou quis - estabelecer qualquer tipo de relação mais pessoal e que passou pela vida sem realmente a viver apenas cumprindo objectivos de interesses concretos.
Agora que a vida parece dissipar-se muito rapidamente, "Dulce" regista uma solidão incomparável; vive só e não contacta com ninguém até que "Rui" surge novamente na sua vida. Mas aqui o espectador depara-se com a mais emblemática curiosidade desta curta-metragem ao constatar que ele se encontra exactamente da mesma forma como da primeira vez que "Dulce" o vira. Enquanto que os anos claramente passaram por ela e o envelhecimento seja notório, "Rui" é um homem com o mesmo olhar intenso pelo qual os anos não parecem ter surtido qualquer tipo de efeito.
A conclusão imediata pela qual o espectador atravessa é que "Dulce" é uma mulher que ficou transformada pelos seus próprios desejos. Se inicialmente a beleza e a juventude eram aspectos e formas pelas quais poderia alcançar os seus objectivos - mesmo sem criar qualquer tipo de relação com os demais - com o passar do tempo e com o desvanecimento dos mesmos ela transforma-se numa mulher de certa forma afectada e traumatizada cuja latente solidão em que vive nada ajudam. Aliás, O passar dos anos e a solidão contribuem para que se senta a perder a noção da realidade, do espaço e dos momentos que atravessa.
Algures no tempo "Dulce" despede-se de alguém despejando as suas cinzas na lagoa. Quem, não sabemos. Torna-se aliás indiferente na medida em que não vemos nela uma mulher afectiva mas sim alguém com desejos... Escreve e toma pequenas notas talvez para um eventual novo romance, mas poucos são os registos de que por aquela casa alguma vez tenha passado qualquer tipo de vida para além da sua. Se a dúvida existe de que a beleza - ou o seu desvanecimento - e a solidão a afectaram de forma provavelmente irrecuperável, a dança que enceta com "Rui" ao som de La Folie dos The Stranglers capta o melhor de todas as anteriores premissas... uma dança sedutora e cúmplice - talvez a única cumplicidade que ela alguma vez tenha estabelecido - onde a entrega é total. Terá sido este - por se encontrar detido e ser de certa forma um amor impossível - o único homem que alguma vez amou?
Entre as brasas - o desejo ardente - e as cinzas - o apagar de uma vida - "Dulce" vive nas margens de uma lagoa como que numa espera de uma vida que não tem e de uma morte que será incerta, qual purgatório.
Isabel Ruth é, para quem ainda tinha dúvida, uma força. A confiança com que agarra as suas personagens não tem limites e desde o primeiro instante percebemos que aquela mulher que interpreta é maior do que a própria vida - independentemente de concordarmos ou não com a forma como a vive. Despojada - ao que percebemos - voluntariamente de qualquer tipo e laços e ligações em nome de um sucesso obtido graças ao(s) seu(s) romance(s), a sua "Dulce" é uma mulher que vive numa margem entre o desejo e a amargura. Alguém que pode eventualmente ter sentido a necessidade de partilhar a sua vida com alguém mas que, ao mesmo tempo, percebe que ao fazê-lo iria "condenar" a sua total liberdade e objectivos. Enigmática e por vezes até cruel, Isabel Ruth transforma "Dulce" numa mulher assumidamente marcante cuja vulnerabilidade desconhecemos e cujo silêncio é a forma mais eficaz de comunicar mesmo quando as recordações insistem a reaparecer.
Intensa e sedutora, a curta-metragem Cinzas e Brasas é um firme e criativo regresso de Manuel Mozos à direcção de uma obra de ficção e mais um excelente marco representativo de uma diva do cinema nacional como o é Isabel Ruth.
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9 / 10
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O Rebocador (2015)

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O Rebocador de Jorge Cramez é uma curta-metragem portuguesa de ficção presente na Competição Nacional de Curtas-Metragens do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente a decorrer em Lisboa até ao próximo dia 3 de Maio.
Um rebocador (Adriano Luz em mais uma grande interpretação) recolhe os restos de um veículo acidentado. No lugar do pendura segue o sobrevivente (Jaime Freitas) que num estado quase catatónico o escuta. Num monólogo que percorre a noite de ambos, rebocador e acidentado estabelecem uma estranha e improvável relação pela força das circunstâncias.
Arnaldo Lopes Marques e Edmundo Cordeiro escrevem o argumento desta curta-metragem que inicialmente nos leva para a imediata circunstância pós-acidente mas que lenta e suavemente leva o espectador a uma viagem à vida solitária de um homem que de noite - a grande personagem deste filme curto - percorre os momentos mais negros da vida dos demais.
A solidão que sente - escondida pelas sombras de uma noite sempre densa-, é proporcionalmente inversa às vidas daqueles que socorre. Se para ele a noite representa o expoente máximo da sua solidão onde normalmente percorre as noites no mais profundo silêncio, outros têm na noite a representação da ostentação e da posse máxima... é nela que se afirmam e glorificam ao ponto de esquecerem a sua própria segurança. No entanto, o "Rebocador" também entende que são - todos eles - solitários. Vivem numa experiência de aparência que se esfuma aquando da sua primeira dificuldade chamando sempre por uma "mãe" ausente que não chega e na qual revêem todo o seu conforto e segurança - então - desaparecidos.
Por seu lado o "Sinistrado" apenas fisicamente presente, re-avalia num estado catatónico a sua existência ou o facto de ter escapado a um acidente improvável. Pensa o espectador que nunca consegue decifrar o seu estado para lá de uma aparente alucinação que o faz testemunhar um ocasional acto bizarro e sem explicação.
Adriano Luz que dispensa qualquer tipo de apresentação, não dispensa - no entanto - os rasgados elogios a uma forte e intensa interpretação como este homem marcado pelo seu próprio anonimato. Sem nome para além da profissão que o designa, o seu "Rebocador" é um homem que cruza a vida de tantas e tantas pessoas sem que, no entanto, consiga deixar nelas qualquer tipo de marca. Um homem que apenas interage socialmente nas bancas nocturnas de bifanas onde se alimenta para passar ao dia seguinte ou, por sua vez, com aqueles poucos que socorre dos seus trágicos destinos. Ainda que esta curta-metragem esteja ainda por fazer o seu devido percurso "académico", Luz tem seguramente uma das mais fortes interpretações do ano.
Num registo que prima pela reflexão sobre a existência - ou as suas diversas formas - e sobre a solidão que as invade, tão presente nas mais diversas formas, O Rebocador acaba por se transformar num triste - pela sua premissa - conto confessionário onde se tentam expiar os fantasmas de uma vida marcada pelo desvanecer do Homem sem ninguém que testemunhe a sua existência ou a sua passagem. Entre mortos e vivos solitários quem regista de facto que por cá todos andámos?
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8 / 10
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Lei da Gravidade (2014)

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Lei da Gravidade de Tiago Rosa-Rosso é uma curta-metragem portuguesa de ficção presente na Competição Nacional de Curtas-Metragens da mais recente edição do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente que decorre na capital até ao próximo dia 3 de Maio.
Pedro (Pedro Gomes) e Zé (José Bernardino) são duas personagens de um filme improvável não porque não aconteça mas porque o esperam na incerteza. Que filme será esse? Um filme português com certeza.
Depois de Deus Dará, Tiago Rosa-Rosso entrega mais um filme que delicadamente e de forma irónica aponta o dedo a tantos preconceitos que já temos como certos que por vezes nem perdemos tempo a pensar na sua veracidade.
Aqui encontramos duas personagens - "Pedro" e "Zé" - que num vão de escada, impávidos e serenos, aguardam por algo. Perdidos no seu espaço, pois afinal não sabem o que os espera ou sequer quando irá surgir, estas duas personagens terminam por encontrar algo que fazer dissertando sobre aquilo que supostamente fazem... o cinema. E aqui entra o primeiro momento irónico de Lei da Gravidade. Ambos - "Pedro" e "Zé" - esperam pelo filme que não chega... O filme que lhes poderia dar vida, sustento e talvez uma história, mas que por motivos desconhecidos tanto para eles como para o espectador insiste em não começar. Talvez sinal do vazio de ideias... Talvez pela falta de investimento na produção nacional! Independentemente dos motivos - todos eles recrimináveis - estas duas personagens estão assim privadas da sua "vida" e do seu desenvolvimento ou, por outras palavras, da sua própria existência.
Finalmente, chegamos ainda a outra crítica feita por Rosa-Rosso através das suas personagens que consiste na existência do próprio cinema português, ou seja, se para "Zé" este é uma "seca" e "vazio de conteúdo" é, no entanto, para "Pedro" - um jovem de sotaque brasileiro - que o elogia e diz que é repleto de simbologia e mensagens. No fundo um pouco que ainda acontece de facto com o cinema nacional... Se em Portugal ele é renegado e tantas vezes vítima de lugares comuns e preconceitos bacocos, não é menos verdade que além fronteiras é uma arte reconhecida e respeitada alcançando mesmo galardões nos mais importantes festivais de cinema. Rosa-Rosso deixa assim de forma mordaz e inteligente uma crítica a um público desinteressado e nem sempre esclarecido sobre o seu próprio cinema enquanto que "de fora" chegam os mais rasgados elogios e louvores para o mesmo.
Lei da Gravidade transforma-se assim num filme sobre tudo... ou talvez sobre o nada que tudo é. Em breves instantes e sempre com um sentido de humor mordaz e muito apurado, as personagens de Rosa-Rosso falam do cinema, da vida e da existência e até da própria morte - a sua - que não tendo o que desenvolver não têm, por sua vez, motivos para existir, tornando-se assim um filme que até pode criar humor mas esconde por detrás das suas palavras e momentos um sentido maior que pensa e faz pensar sobre o "nós" e os verdadeiros propósitos de "estar (por) cá".
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8 / 10
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terça-feira, 28 de abril de 2015

Globos de Ouro SIC/Caras 2015: os nomeados

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Melhor Filme
Os Gatos não têm Vertigens, de António-Pedro Vasconcelos
O Grande Kilapy, de Zezé Gamboa
Os Maias - Cenas da Vida Romântica, de João Botelho
A Vida Invisível, de Vítor Gonçalves
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Melhor Actor
Graciano Dias, Os Maias - Cenas da Vida Romântica
Filipe Duarte, A Vida Invisível
Pedro Inês, Os Maias - Cenas da Vida Romântica
Nuno Lopes, Cadences Obstinées
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Melhor Actriz
Sara Barros Leitão, Pecado Fatal
Maria do Céu Guerra, Os Gatos não têm Vertigens
Maria João Pinho, Os Maias - Cenas da Vida Romântica e A Vida Invisível
Leonor Seixas, Sei Lá
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Na categoria Revelação está ainda nomeado o actor Tiago Teotónio Pereira pela sua participação na telenovela Mar Salgado.
Todos os vencedores serão conhecidos no dia 24 de Maio através da cerimónia que será transmitida pela SIC a partir do Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
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Farcume Brasil - Festival de Curtas-Metragens de Faro / Boa Vista - Paraíba 2015: os vencedores

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Ficção
1º lugar: Dentro del Túnel, de Sérgio Román (Espanha)
2º lugar: Isa, de Patrícia Vidal Delgado (Portugal)
3º lugar: A Prisão das Almas, de Erik Medeiros de Souza (Brasil)
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Documentário
1º lugar: Piove, il film di Pio, de Thiago Mendonça (Brasil)
2º lugar: Kabeza, de Fernando Bordeo (Espanha)
3º lugar: Tesouras e Navalhas, de Hernâni Duarte Maria (Portugal)
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Animação
1º lugar: Premier Automne, de Carlos de Carvalho (França)
2º lugar: Payada pá Satán, de António Bolseiro e Carlos Bolseiro (Argentina)
3º lugar: Inércia, de Becho lo Bianco e Mariano Bergara (Argentina)
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Videoclips
1º lugar: A Song for Elaine, de Borja Ramirez (Espanha)
2º lugar: Garden's Rose, de Juan Galinanes e Olga Osório (Espanha)
3º lugar: O Tempo na tua Mão, de Pedro Matos (Portugal)
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Melhor Filme Popular: Tesouras e Navalhas, de Hernâni Duarte Maria
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Festival de Cine Español de Málaga 2015: os vencedores

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Secção Oficial de Longas-Metragens
Biznaga de Oro - Melhor Filme: A Cambio de Nada, de Daniel Guzmán
Biznaga de Plata - Prémio Especial do Júri: Los Exiliados Románticos, de Jonás Trueba
Biznaga de Plata - Melhor Realizador: Daniel Guzmán, A Cambio de Nada
Biznaga de Plata - Melhor Actor: Ernesto Alterio, Sexo Fácil, Peliculas Tristes
Menção Especial do Júri: Emilio Palacios, Los Héroes del Mal
Biznaga de Plata - Melhor Actriz: Natalia de Molina, Techo y Comida
Biznaga de Plata - Melhor Actor Secundário: Antonio Bachiller, A Cambio de Nada
Biznaga de Plata - Melhor Actriz Secundária: Elsa Olivero, Oliver’s Deal
Biznaga de Plata - Melhor Argumento: Barney Elliott, Oliver’s Deal
Biznaga de Plata - Melhor Argumento Revelação: Leticia Dolera, Requisitos para ser una Persona Normal
Biznaga de Plata - Melhor Música: Tulsa, Los Exiliados Románticos
Biznaga de Plata - Melhor Fotografia - Deluxe: Marc Gómez del Moral, Requisitos para ser una Persona Normal
Biznaga de Plata - Melhor Montagem: David Gallart, Requisitos para ser una Persona Normal
Biznaga de Plata - Prémio Especial do Júri da Crítica: A Cambio de Nada, de Daniel Guzmán
Menção Especial do Júri da Crítica: Los Exiliados Románticos, de Jonás Trueba
Biznaga de Plata Prémio Gas Natural Fenosa do Público: Techo y Comida, de Juan Miguel del Castillo
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ZonaZine
Biznaga de Plata - Melhor Filme: Todo el Mundo lo Sabe, de Miguel Larraya
Biznaga de Plata - Melhor Realizador: Juan Rodrigáñez, The Money Complex: Der Geldkomplex
Biznaga de Plata - Melhor Actor: Diego Toucedo, Todo el Mundo lo Sabe
Biznaga de Plata - Melhor Actriz: Toni Acosta, Cuento de Verano
Biznaga de Plata - Melhor Argumento: Miguel Larraya, Todo el Mundo lo Sabe
Biznaga de Plata - Prémio do Público: Animal, de Fernando Balihaut
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Territorio Latinoamericano
Biznaga de Plata - Melhor Filme: El Comienzo del Tiempo, de Bernardo Arellano
Biznaga de Plata - Prémio Especial do Júri: El Gurí, de Sergio Mazza
Biznaga de Plata - Melhor Realizador: Daniel Higashionna e Bacha Caravedo, Perro Guardián
Biznaga de Plata - Melhor Actor: Carlos Alcántara, Perro Guardián
Biznaga de Plata - Melhor Actriz: Pilar Gamboa, El Incendio
Biznaga de Plata - Prémio do Público: Vestido de Novia, de Marilyn Solaya
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Documentários
Biznaga de Plata - Melhor Documentário: El Gran Vuelo, de Carolina Astudillo Muñoz
Biznaga de Plata - Prémio Especial do Júri: El Hogar al Revés, de Itzel Martínez del Cañizo e Next, de Elia Urquiza
Biznaga de Plata - Melhor Realizador: Óscar Pérez Ramírez, El Tramo Final
Biznaga de Plata - Prémio do Público: Invasión, de Abner Benaim
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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Suzanne Crough

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1963 - 2015
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domingo, 26 de abril de 2015

Jayne Meadows

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1919 - 2015
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Rabo de Peixe (2015)

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Rabo de Peixe de Joaquim Pinto e Nuno Leonel é um documentário português em formato de longa-metragem presente na Secção Director's Cut do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente a decorrer até ao próximo dia 3 de Maio e a mais recente obra de Pinto e Leonel apesar de já ter sido filmada há quinze anos.
Entre 1999 e 2001 os dois realizadores deslocaram-se aos Açores, mais concretamente à Ilha de São Miguel e à freguesia de Rabo de Peixe onde conviveram e acompanharam um conjunto de pescadores artesanais não só na actividade piscatória mas também na sua intimidade junto das suas famílias e no seio de alguns projectos e anseios.
Numa comunidade que, tal como Joaquim Pinto referiu aquando da apresentação de Rabo de Peixe, já não existe tal como filmada no documentário, perdida no meio do Atlântico onde se cruzam as placas continentais Americana e Europeia, formam-se amizades, cumplicidades, partilhas e momentos que apenas a memória na sua amplitude consegue registar. A memória, o mesmo recorrente e tão importante tema já abordado por Pinto em E Agora? Lembra-me e que é aqui - temporalmente - iniciado nesta sua parceria com Nuno Leonel, narrado por ambos enquanto assistimos aos mais variados intervenientes - Pedro, Rui, Emanuel e Artur entre outros - e registamos a sua aceitação de dois completos estranhos que se tornam com o tempo em dois amigos e parceiros com quem partilham a sua profissão, os seus costumes e rituais bem como momentos da sua vida que passam desde o nascimento da sua descendência até aos seus medos - como o não saber nadar numa comunidade que faz do mar a sua vida -, expectativas, ânsias sobre o ter licenças que lhes permitam "viver", e tantos outros dos quais possivelmente nunca iremos saber.
A mesma memória que se denota ser uma preocupação de Joaquim Pinto e Nuno Leonel registada graças à sua obra por detrás das câmaras que encontra o seu semelhante nas vontade de uma pequena comunidade piscatória em lembrar os seus costumes, honrar as suas tradições e principalmente não esquecer aqueles que perderão no mar, a sua fonte de rendimento mas também onde jazem muitos daqueles que conheceram.
É através da calma narração de Pinto e Leonel que o espectador entra naqueles espaços e naqueles momentos vivendo-os como uma partilha, percebendo o espírito comunitário e de união onde tudo funciona com um conjunto de regras verbais - de honra e não obrigacionais ou escritas - e onde Pedro - um dos pescadores - arrisca para além daquilo que lhe é permitido por lei para conseguir o sustento através daquilo que sempre conheceu: o mar.
De uma vivência simples e aparentemente não afectado pelo tempo ou pela dita evolução, Rabo de Peixe é um local de gente e vidas simples. Gente com uma vida difícil e dura mas que consegue encontrar alegria nas pequenas coisas, no mar nem sempre gentil ou mesmo nos pequenos grandes paraísos terrestres perdidos pelas ilhas e que dificilmente alguém de fora conhece ou tão pouco suspeita que existem. O mar, essa personagem sempre presente e também ele com a sua própria linguagem, faz-nos conhecer não só os seus próprios habitantes como também fornece o sustento para aquela "tribo" de pescadores que subsiste com o que lhe é fornecido para além de se preocuparem com a sustentabilidade dos recursos - facto desprezado pelas grandes embarcações espanholas e coreanas que "povoam" os mares da região.
No final, Rabo de Peixe - tanto o documentário como a localidade - são o registo de uma passagem, de um tempo recente mas sentido como distante, da sua memória e do que dela perdurou, da sua gente, dos seus hábitos, dos seus costumes, da sua vivência e principalmente da sua evidente simplicidade com um sentimento de prenúncio dos tempos complicados e difíceis para o futuro. O registo último de um século que estava a terminar e uma celebração dos seus tempos em que as pessoas e a sua palavra ainda tinham um valor e que são celebrados pelo olhar íntimo e humano da dupla de realizadores.
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8 / 10
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sábado, 25 de abril de 2015

Ar(t)menians (2015)

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Ar(t)menians de Ricardo Espírito Santo é um documentário português que relata uma viagem na primeira pessoa à primeira nação Cristã - a Arménia - e a sua História, costumes, tradições, língua, paisagens e o genocídio de que foi alvo pelas mãos do Império Otomano no início do século XX.
A primeira interessante questão que este documentário nos coloca prende-se imediatamente com o facto do que conhecemos nós realmente sobre este país que se localiza no extremo oposto do continente Europeu? Com uma incontornável ligação entre os dois países graças à Fundação Calouste Gulbenkian - mecenas natural da Arménia que encontrou refúgio no nosso país -, que ligações existem entre Portugal e a Arménia para além da evidente?
Percorrendo um pouco toda a História do país, Ar(t)menians é um documentário faz esta viagem através dos tempos em que apresenta a nação sem Estado, a ocupação, os traumas de um genocídio ainda não reconhecido internacionalmente pelo seu perpetrador e também a diáspora e a formação de famílias fora da nação-mãe à qual muitos regressam mantendo um vínculo forte e presente gerações após gerações.
Com uma presente e constante mensagem de aceitação e compreensão da História passada, Ar(t)menians vive ainda de uma vontade de redenção sentida pelo povo retratado que não vê o seu próprio passado perdoado ou reconhecido - pelo menos não os seus momentos mais negativos referindo-se claramente ao genocídio - mas, ao mesmo tempo, não se sente uma vontade de vingança - mas sim justiça - que poderia ajudar a ultrapassar um passado com um século mas que é ainda uma "aresta" não limada da própria História. Assim, o sentimento geral que este documentário nos apresenta é a necessidade de fazer definitivamente as pazes com o passado e abraçar o futuro, acolher aqueles que fizeram as suas vidas fora do país e num espírito de irmandade abraçar a vizinhança num espaço geográfico que tem ainda, infelizmente, alguns conflitos sociais e religiosos por resolver.
Interessante do ponto de vista histórico e uma fresca abordagem não só a um povo como a um Estado e Nação que se encontram a milhas de qualquer referência histórica próxima de Portugal, Ar(t)menians prima pela capacidade de nos apresentar a um espaço geográfico que se mantém ainda como um perfeito desconhecido dos portugueses.
Destaque ainda - pela positiva - para a direcção de fotografia de Pedro Magano que nos apresenta todo um espaço distante que em diversos momentos nos faz lembrar locais e paragens bem próximos daquelas que habitualmente conhecemos.
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8 / 10
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Aqui, em Lisboa: Episódios da Vida da Cidade (2015)

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Aqui, em Lisboa: Episódios da Vida da Cidade de Dominga Sotomayor, Denis Côté, Gabriel Abrantes e Marie Losier é uma longa-metragem portuguesa composta por quatro distintos segmentos dirigidos pelos quatro realizadores já premiados no IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente, e que foi exibido ontem no Cinema São Jorge tendo esgotado a Sala Manoel de Oliveira.
O primeiro dos quatro segmentos é Los Barcos, da autoria de Sotomayor, e conta-nos a breve passagem de uma actriz chilena por Lisboa onde desempenha o papel secundário de um filme que mais ninguém parece ter querido protagonizar e que se perde pelos caminhos da margem sul, solitária e algo desamparada no seu percurso.
Excursões, o segundo dos segmentos, transporta-nos para uma Lisboa vista por Côté onde dois atarefados guias turísticos parecem não conseguir encontrar quem os complemente numa clara alusão ao facto de estarem sózinhos no meio de tanta gente.
Gabriel Abrantes dirige Freud und Friends, o terceiro segmento, onde Herner Werzog - sim, não é engano - viaja às profundezas da mente do realizador para poder registar os seus sonhos e levando o espectador a uma invulgar viagem pela Fundação Champalimaud.
Por fim, o quarto e último segmento L'Oiseau de la Nuit, da autoria de Maria Losier, leva o espectador a conhecer Fernando, nos seus preparativos para encarnar Deborah Krystal, a estrela da discoteca Finalmente em Lisboa, num registo - também ele - muito próximo do sonho e das viagens oníricas de um indivíduo.
Produzido por Miguel Valverde - director do IndieLisboa - Aqui, em Lisboa poderia ser desde o primeiro instante um daqueles projectos falhados que colocaria de certa forma em risco a credibilidade da aventura de um festival em considerar a produção de futuras obras. Não poderia ser mais errado este pensamento. Ainda que Aqui, em Lisboa não seja uma daquelas obras referência do cinema português - não será? - não deixa de ser verdade se torna numa obra assumidamente vencedora pelo facto da sua produção - o festival - conseguir convencer quatro dos seus habituais a entregar ao público um olhar - o seu - sobre a cidade de Lisboa, de certa forma sobre a sua população e sobre aquilo que, no fundo, mais conseguem reter sobre a sua estadia pela cidade e os seus costumes. E tudo isto com a agravante de estarmos perante um não confesso mas assumido público difícil como é o português e o de Lisboa que pouco - por vezes pouco demais - se manifesta perante a obra que lhe é apresentada.
Aqui, felizmente, a aposta foi ganha. Se por um lado temos uma evidente apatia da personagem principal de Los Barcos, chilena mas que poderia facilmente ser portuguesa, não é menos verdade que as igualmente invulgares personagens com quem ela se cruza são o dito "tipicamente português", ou seja, prestáveis, algo amáveis e excessivamente atenciosos mesmo que o assunto não seja consigo, por outro temos ainda com Excursões, um certo sentimento oposto ao mostrar uma Lisboa bairrista mas ao mesmo tempo cosmopolita onde existe pouco tempo ou espaço para dar ouvidos aos sons do coração vivendo então os nossos dois guias uma vida solitária mesmo tendo a seu lado algo que os possa complementar.
Se a dita saudade e melancolia habitam os dois primeiros segmentos de Aqui, em Lisboa, não é menos verdade que os dois últimos revelam alguma excentricidade e loucura não tanto consideradas como parte do povo Lisboeta. No entanto Gabriel Abrantes e Marie Losier captam o espírito boémio que tão bem caracterizou a capital do início do século XX mas... nos dias de hoje. Em Freud und Friends, de Abrantes temos uma viagem ao imaginário - ou sonhos - do realizador, onde um conjunto de personagens bizarras e quanto baste excêntricas povoam a "sua" cidade. Robalos que cantam, peidos - sim, peidos - que têm muita personalidade e figuras que mudam de figura revelam algo de transcendente, peculiar e arriscaria dizer até surreal que fazem renascer e recordar o Spectacular, Spectacular do Moulin Rouge, de Baz Luhrmann. Ainda que o mais aplaudido pós-exibição, não foi o segmento de Abrantes que mais me impressionou - mas claro, dou-lhe os meus parabéns pelo imaginário recriado - mas sim L'Oiseau de la Nuit, de Marie Losier. Se tinhamos dúvidas que já havíamos entrado num domínio do surreal, Losier rapidamente nos revela que lá entrámos e tão facilmente não iremos sair sendo que, no entanto, consegue por pequenos elementos captar com mais fidelidade o certo espírito e imaginário Lisboeta. Se inicialmente conhecemos o já referido Fernando aka Deborah Krystal que se prepara entre tecidos brilhantes e cores estridentes para encarnar a sua mítica personagem da noite gay Lisboeta, não é menos verdade que uma vez encarnada a personagem, o espectador é levado a uma inesperada viagem onde as sereias/ninfas do Tejo ganham vida e (se) revelam no dia (e na noite) por entre um conjunto de figuras mais ou menos selvagens que povoam os espaços da capital e Deborah Krystal - qual deus Afrodite - é tentada pela sedutora maçã que uma cobra (Cindy Scrash - outra performer da noite gay Lisboeta) lhe entrega por baixo da árvore onde todas as criaturas da noite se encontram. Longe de qualquer imediata ligação a Os Lusíadas - independentemente das ninfas e de Afrodite - Losier consegue com esta história onírica e mitológica captar um estranho mas presente espírito da capital onde as sombras da noite confundem as personagens que nela habitam, onde a História e as histórias se confundem com a realidade transformando Lisboa numa cidade aberta, receptiva e presente onde todos encontram o seu próprio espaço.
Vários foram os momentos em durante a apresentação do projecto tanto produtor como os realizadores referiram que Aqui, em Lisboa havia sido uma experiência com diversos problemas - por momentos até passou a noção de que afinal todo o projecto tinha sido de construção quase hedionda - baixando claramente as expectativas daquilo a que o público iria assistir mas, no entanto, ainda que o sentimentalismo presente nos dois segmentos iniciais capte a tal melancolia Lisboeta, os dois últimos conseguem, por sua vez, captar a irreverência tantas vezes forçosamente escondida que as luzes, o brilho e a essência da cidade possuem - e não timidamente. Aqui, em Lisboa foi bem sucedido... foi conseguido... e há que assumi-lo... sem pudores e humildades.
Ainda que o espectador não consiga criar grandes afinidades com nenhuma das personagens ou interpretações - bom, talvez a excepção seja mesmo Gabriel Abrantes - estas complementam-se de forma irreverente. Todas tem o seu espaço, os seus propósitos e conseguimos de certa forma perceber a sua essência e os seus espaços próprios fazendo desta forma com que ignoremos um pouco todos os seus tiques e manias.
Espero que aquando da sua estreia comercial Aqui, em Lisboa não seja apresentado como um projecto que "deu problemas" - será que algum não dá? - mas sim como uma aventura que (quem sabe!) poderá ser repetida num futuro mais ou menos próximo, com outros intervenientes, com outros intérpretes e talvez com outros fundos, essa Hidra medonha que tanto impede e coloca limites à concretização da criatividade... e também que a própria produção divulgue material promocional do filme como, por exemplo, um cartaz que funcione como o seu espelho e não apenas algumas tímidas - mas opulentas - fotografias de produção. Por aqui... o público e a imprensa agradecem.
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8 / 10
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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Capitão Falcão (2015)

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Capitão Falcão de João Leitão é uma longa-metragem portuguesa de ficção e a escolhida para a cerimónia de abertura do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente que decorre até ao próximo dia 3 de Maio em várias salas da capital nomeadamente no Cinema São Jorge, na Culturgest, na Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema e no Cinema Ideal.
Num Portugal dos anos 50, o Capitão Falcão (Gonçalo Waddington) com a ajuda do Puto Perdiz (David Chan Cordeiro) protegem o país, sob o olhar atento de António de Oliveira Salazar (José Pinto), da ameaça comunista.
No momento em que o país parece perfeito e em que tudo corre segundo os valores máximos de uma Lusitaneidade divina, eis que surgem os primeiros grandes problemas e ameaças à integridade nacional. Conseguirá o destemido Capitão Falcão proteger Portugal dos temidos Capitães de Abril?
Depois de há quatro anos o projecto Capitão Falcão ter sido ambicionado enquanto uma série de televisão que nunca viu a luz do dia, a longa-metragem estreia finalmente na abertura de um dos mais importantes festivais de cinema da capital e numa das suas mais emblemáticas salas. A antecipação para aquele que é o filme do momento notou-se quando a sala principal do Cinema São Jorge está esgotada e, após um emocionado discurso do realizador se começam a ver as primeiras imagens.
O segmento animado com que se inicia Capitão Falcão marcou o tom. Desde o primeiro instante em que observamos o brilhante Gonçalo Waddington como protagonista que se percebe que este só poderia ser um dos maiores êxitos do ano não só pelo revivalismo que faz de algumas das séries que fizeram história para aqueles que viveram a infância e a adolescência nos anos 80 e 90, mas também pela excelente execução técnica com que Capitão Falcão nos brinda.
O argumento de João Leitão e Nuria Leon Bernardo é astuto. Desde as referências histórias e contemplativas de um Portugal mergulhado num orgulho ultra-nacionalista da ditadura do Estado Novo - que segundo o Capitão Falcão haveria (felizmente não) de ser recordado com o bem maior da Nação - sem esquecer algumas das séries referência das duas décadas passadas como, por exemplo, os efeitos  - não tão bem feitos - especiais como os Power Rangers, Flash Gordon, a série Batman do final dos anos 60 - inegável a comparação a Batman e Robin versus Falcão e Perdiz -, a inegável referência a James Bond e seus rivais (atentos à referência no bar de criminosos), ou mesmo alguns filmes de artes marciais que faziam as delícias daqueles de nós que perdiam as sextas à noite a ver as longas sessões de cinema da RTP (passo a publicidade) fazem desta longa-metragem um marco histórico na evolução e na originalidade de um cinema português que cada vez mais (se) marca pelo bom gosto e por um conjunto de obras cinematográficas que chegam ao público de uma forma engenhosamente feliz.
Habituado que está o espectador a ter o ditador português como aquilo que ele realmente foi... um ditador, em Capitão Falcão temos de o encarar - apenas numa ficção muito alternativa - como um mártir em prol de Portugal que tudo fará para o proteger dos inimigos sempre prontos a colocar a segurança nacional em risco. Num mundo dividido em dois blocos serão os comunistas a principal ameaça a esta (apenas) aparente tranquilidade. Portugal e Salazar precisam de um astuto protector capaz de tudo sacrificar em nome do bem da Nação. Aliás, é uma estreita relação entre "Salazar" e "Capitão Falcão" que é subtilmente abordada em alguns momentos desta longa-metragem e que serão confirmados mais tarde quando percebemos o quão próximos ambos são.
Aqui, aliás, todos os demais são os verdadeiros problemas. Desde os comunistas que, segundo "Capitão Falcão", se apoiam na força numérica mas deixando sempre o indivíduo a sofrer, a mulher que é tida como o ser com cérebro primitivo ou o próprio "submundo do crime" composto pelos já referidos comunistas, marinheiros, feministas, travestis, mafiosos, ladrões, mulheres de má vida e claro... os homens das artes (aqueles que não correspondem aos elevados parâmetros aceites pelo Estado) e sem esquecer os Capitães de Abril que são as verdadeiras mentes do crime, rostos de uma nova ordem que o protagonista espera nunca encontrar. Em Capitão Falcão nada escapa de uma acentuada crítica... nem mesmo o próprio regime que parece ser defendido com unhas e dentes mas, na realidade, é aqui criticado através de uma abordagem quase esquizofrénica da sentida perseguição estrangeira a um Portugal isolado, um descontrole quase mecânico das suas entidades e uma paranóia sobre a defesa do Estado que ultrapassa os limites de qualquer bom senso - inexistente na época retratada - ou até mesmo a submissão da mulher e da família à figura paternal detentora de toda a razão, justiça e lei.
Se Capitão Falcão transmite excelência em todas as suas componentes técnicas desde a caracterização ao guarda-roupa - Sophia do próximo ano espero que estejam atentos - sem esquecer a muito característica música original de Pedro Marques que muito homenageia as referências anteriormente citadas e que são aqui claros pólos de inspiração, a realidade é que é graças a um elenco de luxo que este filme atinge o ponto de excelência. Se de Gonçalo Waddington nada se pode dizer sobre a sua dramatização ao encarnar as mais diversas personagens - desde o "Guarda Silvério" de A Raia dos Medos sem esquecer "Arnaldo Ferreira" em Alves dos Reis, o "Vaz" de Até Amanhã, Camaradas, o "Augusto" de Mal Nascida, o "Abel Olimpio" de Noite Sangrenta ou o próprio "Gonçalo" (ele próprio) de Odisseia - a realidade é que será este "Capitão Falcão" que mais parece lhe assentar como uma luva. Desde um cómico de situação a todo um conjunto de movimentos coordenados/encenados que o robotizam, Waddington encarna com alma aquela que parece faltar ao seu "Capitão". Dono de um aspecto muito comic, Waddington é o herói improvável não por aquilo que jurou defender mas sim pelos momentos que o transformam no tal herói. A sua personagem (sobre)vive da sorte - de ocasião - que o momento lhe proporciona. De um conjunto de acasos mais ou menos estudados e que resultam em seu favor e, sem nunca questionar aquilo que é a doutrina que defende, o "Falcão" de Waddington obtém a simpatia do público pelo surreal de um herói improvável num regime ditatorial e austero. Entre o improvável, o cómico e o "parolo", Waddington confere a "Capitão Falcão" uma estranha graça e humanidade.
Mas o elenco de estrelas não começa ou termina em Waddington. Se ele é a alma desta longa-metragem, não é menos verdade que David Chan Cordeiro se revela num side-kick "Puto Perdiz", braço direito - e esquerdo - do "Capitão" e José Pinto entrega ao espectador um "Oliveira Salazar" muito alternativo - em diversos aspectos - que parodia o ditador não com o objectivo de conquistar a simpatia do público mas sim por reduzir o seu pensamento e doutrina conferindo-lhe uma personalidade que se encontra nos antípodas do verdadeiro conseguindo, portanto, reduzir a sua imagem por escarnear aquilo que este - o ditador per si - encarava como os males de Nação. De um elenco onde ainda se destacam Nuno Lopes, Carla Maciel, Miguel Guilherme, Rui Mendes, Matamba Joaquim, Miguel Borges, Manuel João Vieira ou Pêpê Rapazote, seria impensável deixar esta apreciação crítica sem referir as breves interpretações - mas julgo que determinantes para um futuro... pelo menos assim o espero - como as de Ricardo Carriço como o "Major Al...Berto", a de Luís Vicente como o temido líder dos comunistas - numa clara referência ao "Imperador Ming" de Flash Gordon e a devida homenagem ao êxito Duarte & Companhia dos anos 80 portugueses - e Bruno Nogueira como "Flamingo", um dos mais temidos opositores de "Capitão Falcão", que abre toda uma nova dimensão não só aos homens de barba rija do regime como à própria sexualidade dos seus protagonistas já abalada pelos instantes finais da longa-metragem de João Leitão.
Se o espectador teve de esperar quatro anos para que Capitão Falcão conseguisse ver a luz do dia numa sala de cinema, não deixa de ser menos verdade que agora se espera com igual - ou superior - ansiedade por uma continuação destas histórias que têm não só o potencial a nível de público com a capacidade de continuar a dar uma vida a todas as surreais personagens que o compõem num conjunto daquilo que suspeito possam ser novas e divertidas aventuras do improvável herói português. Especialmente agora que um novo vilão foi anunciado. Que João Leitão faça "nascer" a sequela - se possível com mais apoios - e que esta esteja para muito breve. Ao próprio e a toda a equipa... um aplauso de pé.
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"Capitão Falcão: Somos portugueses, não precisamos de plano."
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10 / 10
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Roberto Talma

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1949 - 2015
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Shortcutz Xpress Viseu - Sessão #51

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O Shortcutz Xpress Viseu está de volta ao Museu Grão Vasco para a sua Sessão #51 onde terá no segmento de Curtas-Metragem em Competição os filmes Pena Fria, de Luís Costa e Herdade dos Defuntos, de Patrick Mendes contando com os dois realizadores na sessão para a apresentação das suas obras.
No segmento da Curta-Metragem Convidada marcará presença Exit Road, de Yuri Alves que também estará presente na sessão, filme curto que terá assim a sua estreia nacional.
Uma vez mais o Museu Grão Vasco será o centro da noite de Viseu a partir das 22 horas com uma noite do melhor cinema em formato curto.
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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Em Branco (2015)

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Em Branco de Luciano Sazo é uma curta-metragem portuguesa de ficção que estreou hoje em Lisboa e que nos conta uma história bem actual.
Paula (Cleia Almeida), é uma mulher de trinta anos. Sem filhos ou qualquer relação próximo à excepção da de uma amiga (Oceana Basílio) que ocasionalmente escuta os seus desabafos.
Há oito anos que convive de perto com a doença de Armando (José Neto), o seu pai que vive com Alzheimer. Talvez esta seja a sua mais fiel companheira pois acompanha-a bem de perto fazendo-a esquecer da jovem mulher que é.
Para quem segue a ainda "jovem" - e promissora - carreira de Luciano Sazo, uma marca é já característica e reconhecível nos seus filmes, ou seja, existe em todas as suas curtas-metragens uma personagem central que capta de imediato a nossa atenção e a qual está normalmente "inadaptada" de um meio social dito "normal". Se em Eu, Martim (2012) e Clarisse (2013) a encontramos sob a forma de dois jovens desenquadrados do seu meio e desesperados por um pouco de protagonismo - cada um à sua própria e especial maneira - e se em Talvez (2013) temos dois protagonistas inadaptados pelo seu inconfessado e por confirmar amor, em Em Branco temos uma jovem "Paula" inadaptada por ter abdicado de toda a sua jovem vida em nome da família que sente ter de cuidar antes de tudo o mais, inclusive de si própria.
Ao acompanhar "Paula" - num brilhante registo de Cleia Almeida para quem adivinho e desejo uma carreira muito longa - seguimos todo um seu trajecto de silêncios. Aqueles silêncios que inicialmente se adquirem por cansaço de proferir uma palavra e estabelecer uma conversa mas que, pela sua habituação, se tornam uma parte de nós constituindo todas aquelas conversas que abdicamos e esquecemos de ter e que aos poucos se transformam num traço característico que nós não reconhecemos mas com os quais os "outros" rapidamente nos identificam. No fundo, de que interessam certas banalidades e trivialidades do dia-a-dia quando no nosso íntimo nos apetece gritar sobre um qualquer desespero que aos poucos se acumula no nosso pensamento? De que valem essas pequenas e desinteressantes conversas tão típicas de uma certa idade, quando na realidade já amadurecemos o suficiente para sermos mais velhos do que a maioria das pessoas mais velhas que conhecemos? De que vale pensar no "eu" quando lá fora existem tantos problemas difíceis de resolver e que já nos ocupam tempo suficiente sendo, na sua maioria, questões que não desaparecem facilmente e com as quais temos de conviver diariamente?
Esta é uma breve e não tão simples caracterização de "Paula". Uma jovem mulher que não se tendo esquecido de si colocou-se, no entanto, como o último problema a resolver. Ela apenas precisa do essencial... dormir umas horas... alimentar-se um pouco e trabalhar fora de casa como forma de garantir que as contas correntes são pagas. Para lá destas necessidades tidas como básicas tudo o demais é excedentário. "Paula" vive num silêncio contido. Sabe que tem de cuidar do seu pai como se fosse ela agora a mãe, sem esquecer um irmão mais novo que tem obrigatoriamente de encaminhar para uma vida onde os estudos - e o seu futuro - está em primeiro lugar. Alheada de tudo o demais, é já bem perto do final que "Paula" faz a tão importante questão "E agora?". O que será da vida dela quando já não tiver um pai de quem tratar ou um irmão que já não precise de tanta atenção. O que acontecerá quando os tais silêncios começarem a dar lugar a vazios que precisam ser novamente preenchidos por algo mais do que a sua tão eloquente presença? O que acontecerá quando "Paula" finalmente perceber que ainda se encontra viva? E finalmente, o que acontecerá quando ela perceber que tem de dar o próximo passo tendo como objectivo o seu "eu" e não dependendo das necessidades alheias?
Ainda que uma doença vivida essencialmente no silêncio de quem a sofre e nos tabus daqueles que a presenciam, o Alzheimer é aqui tido quase como um tema secundário que dá sim mote à relação estabelecida entre os elementos de uma família que vivem na sombra da cumplicidade que em tempos ditos lúcidos tiveram. "Paula" vive dedicada a um pai que sem a sua ajuda estaria perdido não só nos seus próprios pensamentos mas também numa sociedade que ainda não compreende aquela doença que nem o próprio sabe dela padecer. Existe, aliás, um único momento em que o "Armando" de José Neto dá um breve mas revelador sinal e olhar de perceber a sua condição debilitada. O mesmo momento em que de forma desarmada parece estar prestes a ceder num pranto de desgosto face à condição que percebe - agora - sofrer. Talvez o mesmo momento que (in)voluntariamente o fez desistir e finalmente ter o descanso que lhe é devido. Se prova era necessária de que o cinema nos transmite uma mensagem sem ser necessariamente precisa uma palavra foi aquele em que um simples olhar comunicou todas as emoções de uma vida.
Se existe filme que lance um realizador para "outro patamar", Em Branco acaba de fazer essa missão para Luciano Sazo colocando-o como um interessante e genuíno contador de histórias sobre gente comum, real e com as quais nos cruzamos todos os dias sem dar conta, valor ou tão pouco considerar todos aqueles pequenos grandes dramas pelos quais poderão estar a atravessar.
Destaque positivo também para a expressiva direcção de fotografia de Alexandre Valentim que com a sua constante ausência de luz coloca o espectador num espaço fechado, quase ténebre, onde todos os sonhos ficaram esquecidos e onde está constantemente presente o peso das responsabilidades, apenas entregando algum plano aberto e claro quando se desviam os olhares do interior daquela casa que se sente pesada e frequentemente claustrofóbica fazendo-me lembrar por momentos alguns planos captados sob a mão de Leonardo Simões para Cavalo Dinheiro ou A Vida Invisível. E finalmente uma nota igualmente positiva para a sentida direcção musical de Miguel Pereira, Diogo Jourdan, Filipe Goulart - música que "Paula" escuta pelos seus phones enquanto caminha e que funciona como uma quebra entre a tensão existente ao longo da narrativa - e Jorge Prado - com o carismático fado final - que acompanha a constante melancolia sentida pelas personagens de Em Branco e que se faz sentir como uma personagem não visível mas presente deste filme.
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9 / 10
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domingo, 19 de abril de 2015

Prémios Shortcutz Lisboa 2015: os nomeados

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Melhor Curta
Tormenta, de Francisco Carvalho (Janeiro)
Chico Malha, de Guilherme Gomes e Miguel Reis (Fevereiro)
Rhoma Acans, de Leonor Teles (Março)
Primária, de Hugo Pedro (Abril)
Dios Por el Cuello, de José Trigueiros (Maio)
O Som do Silêncio, de Paulo Grade e João Lourenço (Junho)
Longe do Éden, de Carlos Amaral (Outubro)
Jigsaw, de Basil Al-Safar e Rashad Al-Safar (Novembro)
Tejo Mar, de Bernard Lessa (Dezembro)
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Melhor Documentário
Memories from the Cross, de Vítor Carvalho
Primária, de Hugo Pedro
Rhoma Acans, de Leonor Teles
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Melhor Animação
Adolfo, de João Carrilho
Forbidden Room, de Ricardo Almeida e Emanuel Nevado
A Viagem, de Margarida Pereira
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Melhor Produção
Fronteira, Rui Oliveira
Longe do Éden, Rodrigo Areias
Lost Haven, Patrício Faísca
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Melhor Realizador
Jigsaw, Basil Al-Safar e Rashad Al-Safar
Longe do Éden, Carlos Amaral
Má Raça, André Santos e Marco Leão
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Melhor Actor
Vítor Correia, Longe do Éden
Víctor Gonçalves, Maria
Fernando Luís, Terra 2084
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Melhor Actriz
Sara Carinhas, O Vazio Entre Nós
Joana Pais de Brito, Chico Malha
Fernanda Serrano, O Som do Silêncio
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Melhor Argumento
Chico Malha, Guilherme Gomes, Ana Reis e Miguel Reis
Dios Por el Cuello, José Trigueiros
Jigsaw, Basil Al-Safar e Rashad Al-Safar
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Melhor Montagem
Jigsaw, Rashad Al-Safar
Longe do Éden, Carlos Amaral
Lost Haven, Patrício Faísca e Sonat Duyar
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Melhor Fotografia
Longe do Éden, Paulo Castilho
Má Raça, Rui Xavier
Rio Turvo, João Nacho e Ricardo Pereira
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Melhor Música Original
Adolfo, Tiago Alves
Longe do Éden, Miguel Santos
Som do Silêncio, Jorge Faria e Nuno Miguel Silva
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Melhor Som
Adolfo, Márix e Miguel A. Teixeira
Jigsaw, de Rashad Al-Safar
Maria, Simão Lopes e Joana Niza Braga
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Melhor Direcção de Arte
Forbidden Room, Emanuel Nevado
Jigsaw, Basil Al-Safar
Longe do Éden, Júlio Alves
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Melhores Efeitos Visuais
Jigsaw, Rashad Al-Safar
Longe do Éden, Carlos Amaral
Lost Haven, Emanuel Lourenço e Patrício Faísca
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Quai d'Orsay (2013)

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Palácio das Necessidades de Bertrand Tavernier (França) filme que conferiu a Niels Arestrup o César de Actor Secundário entregue pela Academia Francesa de Cinema, conta a história de Alexandre Taillard de Vorms (Thierry Lhermitte), o excêntrico Ministro dos Negócios Estrangeiros de França que procura todas as oportunidades para brilhar... desde as conferências nas Nações Unidas em Nova York às crises de poder num qualquer país africano alicerçado num conjunto de valores que defende... legitimidade, lucidez e eficácia.
É quando chega o jovem Arthur Vlaminck (Raphaël Personnaz) para ser o seu assistente e perito em "linguagem" que a verdadeira máquina diplomática francesa começa a funcionar... para o bem e para o mal deixando para trás todo um rasto de incoerências e indecisões.
Baseado em Quai d'Orsay - Chroniques Diplomatiques da autoria de Abel Lanzac e Christophe Blain, a dupla em parceria com o realizador Bertrand Tavernier escreve o argumento desta obra cinematográfica que oscila entre o cómico e o alucinado num retrato que pensamos fiel de todo o enredo diplomático... francês ou não! E é neste constante registo que o espectador encontra Quai d'Orsay.
A obra de Tavernier, nomeada a três César da Academia - para lá do já mencionado troféu na categoria de Actor Secundário foi ainda nomeada para Actriz Secundária e Argumento Adaptado - centra-se essencialmente num registo de comédia sarcástica que equipara - de forma inteligente até - os meandros dos corredores diplomáticos a um certo frenesim onde tudo acontece... sem que nada aconteça de facto. Perdidos num registo linguístico que tenta respeitar o "politicamente correcto" e valores auto-impostos nos bastidores de um mundo diplomático impedindo, dessa forma, de que verdadeiras medidas, resoluções ou vontades sejam tomadas para a harmonização da relação entre os Estados. Aqui, pelo contrário, Quai d'Orsay é, tal como o nome indica em português, não o Palácio das Necessidades onde se tentou (de forma mais ou menos tácita) expôr o centro diplomático português mas sim um verdadeiro palácio de necessidades políticas onde tudo se respeita mesmo que se compreenda o absurdo deste "bem-estar" político não entre famílias partidárias mas sim entre Estados soberanos esquecendo (polidamente) que todos o são... e não uns mais que outros à la Orwell.
Quai d'Orsay é, portanto, o centro de toda uma necessidade de convivência pacífica e ultra-respeitadora (quase como um fanatismo), desprovido de valores ou, por outro lado, recheado daqueles que resultam do imediatismo desses mesmos corredores diplomáticos, deixando não só o espectador num estado esgotante e esgotado de corredores e caminhos que se percorrem vezes sem conta ao longo do dia para que, no final, nada seja resolvido, nada seja decidido e todos permaneçam num constante estado de impasse limite do qual ninguém parece querer, poder ou conseguir sair.
Inteligente pela forma como estabelece a relação entre Ministro dos Negócios Estrangeiros e Director de Linguagem e Comunicação - imprescindível nestes dias que correm -, e pela erudita e não menos cómica disposição do frenesim que todos parecem assumir no Ministério onde nada se decide para lá do impasse (e até mesmo este parece ser decidido a muito custo), Quai d'Orsay é, no final, um filme que reside essencialmente na dinâmica da personagem semi-silenciosa de toda esta história... "Claude Maupas" (Niels Arestrup) com todos os seus colaboradores revelando que ele sim é o homem na sombra que faz todos os gabinetes  movimentarem-se (ainda que num passo muito discreto) e assumindo que com esforço, subtileza e com a noção de que não existe vida privada e particular se cria a fórmula para um verdadeiro membro do corpo diplomático existir... ainda que em última análise o trabalho de toda uma vida possa ser... quase nulo.
Simpático pela sua recriação da dinâmica diplomática onde tudo gira em torno de nada e na qual todas as incertezas são a única certeza destes homens e mulheres que se dedicam às relações entre Estados - e seus chefes -, Quai d'Orsay transforma-se nos últimos instantes numa experiência tão desgastante para o espectador como o é para as personagens que os seus actores pretendem retratar. Não deixando de ser inteligente e mesmo como os seus apontamentos de humor semi-refinado, a longa-metragem de Tavernier circula livremente - ou mais freneticamente - em torno da "não-história", ou seja, sobre aqueles factos que nunca chegam a existir pela força da própria política diplomática levando o espectador a crer que assiste sim a uma obra em que todos circulam, todos giram e caminham sem que, no final, alguma coisa tenha sido, de facto, alcançada.
Excessivamente - ou voluntariamente - longo (quase duas horas de duração), Quai d'Orsay é a prova de que pode existir um filme sobre tudo... onde reina o nada e onde as suas personagens podem ter um longo e rico debate sobre a melhor forma de como abordar o outro implementando um discurso onde absolutamente nada seja dito... ou revelado. Ou, talvez tenha realmente tudo sido dito revelando assim a ineficácia ou incapacidade de tomar medidas quando as mesmas são necessárias e urgentes...
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6 / 10
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Bilas Film Fest 2015: selecção oficial

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A selecção oficial da segunda edição do Bilas Film Fest foi divulgada. No festival, que decorrerá nos dias 8 e 9 de Maio próximos no Teatro de Vila Real, estarão presentes:
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Água, e Luís Antero e Tiago Cerveira
Calou-se. Saiu. Saltei., de Bruno Carnide
Contactos 2.0, de Bernardo Gomes de Almeida e Rodrigo Duvens Pinto
Demência, de Rafael Almeida
From Beyond, de Liliana Pereira
(In)Sanidade, de Isabel Pina
Lei da Gravidade, de Tiago Rosados
Os Meninos do Rio, de Javier Macipe
The Third Attempt, de Nuno Serrão
Videoclube, de Ana Almeida 
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sábado, 18 de abril de 2015

As Mil e Uma Noites em Cannes

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O filme As Mil e Uma Noites, de Miguel Gomes terá a sua estreia na Quinzena dos Realizadores do Festival Internacional de Cinema de Cannes.
A primeira longa-metragem de Miguel Gomes após Tabu - premiado em Berlim - será composta por três volumes autónomos de aproximadamente duas horas cada - O Inquieto, O Desolado e O Encantado - que irão contar com a interpretação de actores como Joana de Verona, Rogério Samora, Gonçalo Waddington, Diogo Dória, Carloto Cotta, Teresa Madruga, Adriano Luz, Maria Rueff, Luísa Cruz, Margarida Carpinteiro, Bruno Bravo e Cristina Carvalhal.
Edouard Waintrop, director da Quinzena dos Realizadores, descreve As Mil e Uma Noites como "uma soberba série, inspirada nas histórias contadas por Xerazade e em factos ocorridos no Portugal dos anos 2013 e 2014, um país então submetido a uma política que negava toda a justiça social, e que irá dar o tom à programação”. 
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A notícia foi anunciada hoje e, segundo a revista norte-americana Variety, As Mil e Uma Noites foi muito apreciado pelo comité de selecção do festival, que ponderou incluí-lo entre os filmes em competição, tendo apenas recuado devido à duração da obra. No entanto, diz também, que o festival ofereceu a Miguel Gomes um lugar na secção oficial Un Certain Regard, tendo o realizador recusado para aceitar o convite do prestigiado programa paralelo da Quinzena dos Realizadores.
Gomes não foi, no entanto, o único realizador a recusar a participação no Un Certain Regard, tendo Arnaud Desplechin feito o mesmo e cujo novo filme, Trois Souvenirs de Ma Jeunesse, com a participação de Mathieu Amalric, terá estreia mundial a 15 de Maio. O programa da Quinzena dos Realizadores abrirá no dia anterior com L’Ombre des Femmes, de Philippe Garrel.
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Segundo o produtor Luís Urbano “os três volumes vão sair com um intervalo de tempo entre cada estreia”, que espera que As Mil e Uma Noites chegue às salas em Portugal na segunda quinzena de Setembro.
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Presença portuguesa no Farcume Brasil

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O Farcume Brasil - Festival de Curtas-Metragens de Faro / Boa Vista-Paraíba 2015 anunciou a sua selecção oficial e entre eles encontramos um conjunto de curtas-metragens portuguesas nas diferentes categorias do festival.
Na secção de Documentário temos presente a curta-metragem Tesouras e Navalhas, de Hernâni Duarte Maria e Pescador de um Rio sem Margem, de Rodolfo Silveira.
Também presente no festival mas desta vez na secção de Ficção encontram-se presentes as curtas-metragens Falha no Sistema, de José Moreira, Os Meninos do Rio, de Javier Macipe, Cigano, de David Bonneville e ainda Isa, de Patrícia Vidal Delgado.
Finalmente na secção de Videoclips, Portugal encontra-se representado com O Tempo na tua Mão, de Pedro Matos.
O Farcume decorre entre os dias 22 e 25 de Abril próximos numa competição em que se encontram presentes - para além de Portugal - filmes de Espanha, Estados Unidos, Brasil, Israel, México e Argentina.
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quinta-feira, 16 de abril de 2015

One Way Or Another (Reflections of a Psykokiller) (2012)

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One Way Or Another (Reflections of a Psykokiller) de Edgar Pêra é uma curta-metragem (ou proto-filme) de produção portuguesa e sul-coreana de ficção que transporta o espectador para as movimentadas ruas de Busan, na Coreia do Sul, onde um psicopata se movimenta à procura da sua potencial próxima vítima.
Queira isto dizer o que quiser, mas ao assistir a One Way or Another (Reflections of a Psykokiller) o mais atento espectador das obras de Edgar Pêra - nomeadamente A Janela (Maryalva Mix) (2001), Oito Oito (2002) ou O Barão (2011) - irá imediatamente reconhecer o ambiente muito característico em que vivem as suas personagens assim como toda uma atmosfera envolvente que se percebe ser muito própria das obras do realizador português. Quer sejam os marialvas de uma Lisboa alternativa, os fanáticos ideológicos de Oito Oito ou uma bizarra personagem de um interior perdido de Portugal, todos eles vivem num universo alternativo quase tido como paralelo que fascinam nem sempre pelos seus actos mas sim pela forma como se impõem e à sua individualidade.
É ao reconhecer este traço de "personalidade" das personagens que identificamos uma obra de Pêra... e em One Way or Another (Reflections of a Psykokiller) voltamos a encontrar essa especificidade que nos faz olhar para aquele psicopata não como uma personagem que consigamos compreender mas sim como uma da qual queremos saber mais e documentar o seu ambiente - por mais sinistro ou tortuoso possa parecer.
Quanto a este homem - numa impressionante, intensa e muito forte interpretação de Danwoo Jung que estou convencido Edgar Pêra teria (terá?) gostado de mais desenvolver - encontramo-lo perfeitamente perdido nos seus pensamentos psicopatas onde reflecte sobre todos os pequenos detalhes reais ou imaginados que encontra nos demais para torná-los no seu próximo alvo. Desde um olhar ou andar diferente passando pela cor de um casaco que o irrita ou uma postura inapropriada, este psicopata encontra um qualquer pretexto para saciar a sua vontade de sangue e morte.
Sem que este desejo seja consumado - pelo menos não o é neste proto-filme que espera a sua devida continuidade - este homem observa todos aqueles com quem se cruza e pretende materializar os seus pensamentos mais hediondos eliminando todo um conjunto de pessoas que abomina e despreza. Os rostos - os dos outros - são sempre turvos e distorcidos tornando-os anónimos em ruas imensas, transformando qualquer um deles - de nós! - em potenciais alvos, provocando uma reflexão imediata do espectador que se questiona sobre quão alvo e observado é para os outros com quem diariamente se cruza na rua!
A sobreposição de imagem bem como a sua distorção - elementos já característicos nas obras de Pêra - transformam esta perturbação mental numa realidade aos olhos do espectador que vibra com a calma tensão de alguém que aparenta poder explodir a qualquer momento. Facto este que é apimentado com uma genial música original de Miguel Urbano e Edmundo Rivotti que criam um ambiente inseguro, instável e caótico.
Como fã confesso de Edgar Pêra apenas poderia - posso?! - esperar o melhor do seu trabalho (como aqui se comprova) e lamentar o facto de não existirem apoios à produção que transformariam esta curta-metragem (ou proto-filme como lhe chama) num intenso thriller de suspense que facilmente seria uma muito bem sucedida e original longa-metragem portuguesa não só junto da crítica como do público.
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"Psycho Killer: One way or another I will find you."
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8 / 10
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