sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

CinEuphoria Prémios 2011: os filmes seleccionados

Chegado ao último dia do ano aqui deixo a listagem dos filmes que serão alvo dos votos do público e também da escolha oficial do Blog CinEuphoria.
Até ao final do dia todos os votos ainda serão considerados por isso para quem ainda não votou... Aqui ficam então os filmes seleccionados e umas óptimas entradas em 2011.
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(500) Days of Summer
Alice in Wonderland
An American Girl: Chrissa Stands Strong
An Education
Antichrist
Away We Go
The Bad Lieutenant: Port of Call - New Orleans
A Bela e o Paparazzo
The Blind Side
The Book of Eli
Bright Star
Brothers
Celda 211
Cinerama
Clash of the Titans
Como Desenhar um Círculo Perfeito
The Crazies
Crazy Heart
Dear John
O Dez
Dorian Gray
Edge of Darkness
Estômago
Filme do Desassossego
Fish Tank
From Paris With Love
The Ghost Writer
Green Zone
Greenberg
Les Herbes Folles
Human Zoo
Humpday
I Love You Phillip Morris
The Imaginarium of Doctor Parnassus
Inception
Invictus
It's Complicated
John Rabe
The Kids Are All Right
The Last Song
Lebanon
Legion
The Lion Cub from Harrods
Looking for Eric
The Lovely Bones
The Messenger
Mine Vaganti
Mistérios de Lisboa
Momentos
Nine
A Noite do Fim do Mundo
Peacock
Percy Jackson & the Olympus: The Lightning Thief
Precious: Based on the Novel Push by Sapphire
Predators
Prince of Persia: The Sands of Time
The Private Lives of Pippa Lee
[REC] 2
Remember Me
República
The Road
Robin Hood
Salt
Sanguepazzo
El Secreto de Sus Ojos
O Segredo de Miguel Zuzarte
A Single Man
Shutter Island
Solomon Kane
The Sorcerer's Apprentice
Um Funeral à Chuva
Un Pophète
Up in the Air
Vicky and Sam
Vincere
Das Weisse Band
Where the Wild Things Are
The Wolfman
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Dorian Gray (2009)


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Dorian Gray de Oliver Parker é uma longa-metragem britânica cujo argumento de Toby Finlay tem como base a obra de Oscar Wilde e que aqui tem como protagonistas Ben Barnes e Colin Firth.
Dorian Gray (Barnes) chega à Londres vitoriana sedento de conhecer um mundo novo. Depois de convencido por Basil (Ben Chaplin) a posar para um retrato que a todos seduz, Dorian fica enfeitiçado pela beleza nele reflectida e numa conversa informal com  Lord Henry (Firth), afirma não se importar de estabelecer um pacto com o diabo para manter dessa forma a sua eterna juventude.
Mas o quadro desaparece - pelas suas mãos - e Dorian parece nunca envelhecer em contraste com todos os seus amigos londrinos pelos quais o tempo e as vivências passaram. É quando se apaixona por Lady Emily (Rebecca Hall), filha de Henry, que todas as verdades serão, finalmente, descobertas.
Tal como já muito discutido sobre a obra original, também esta longa-metragem levanta uma - apenas uma - grande questão; até que ponto está o Homem disposto a ir para alcançar a eterna juventude? Num meio consumido pela mudança, por uma vã ideia de modernidade e pelo claro choque entre urbano e rural tudo é, para este jovem "Dorian", uma novidade que não espera por ser descoberta. Tudo precisa - necessita - ser experimentado e vivido como se não existisse uma outra oportunidade; desde as drogas ao sexo, de uma ilusória experiência sobre o "viver depressa" sem, pelo meio, esquecer a paixão... a paixão ardente e sem complexos.
É neste ambiente que o nosso protagonista se vê lançado e no qual tenta sobreviver da melhor forma que pode... misturando-se nos demais e deixando-se levar pelas hipóteses que a experiência lhe proporciona. E é desta forma que o ideal de um fascínio pela beleza, pelo jovem e pelo eterno que "Dorian" encara como a sua missão se tornam na sua própria cela a céu aberto. Colhido por uma ambição desmesurada e por um sentido de "eterno" que só ele possui, os anos passam - mas não por ele - e sim na figura retratada de um quadro que se torna o símbolo do seu pacto com um diabo nunca visto. "Dorian" protege-o e vive para ele. Todos os que se colocam no seu caminho são peças dispensáveis de uma vida com a qual ele não se assume. A beleza pode ser eterna... e desta forma também o seu poder com os demais que o estranham mas que vivem fascinados com aquilo que os seus olhos presenciam esquecendo aquilo que, no fundo, nenhum deles parece (já) ter... uma alma.
É nesta ilusão que todos vivem... o que é eterno?! E vivem-na com uma duplicidade de considerações que se esfumaçam com o tempo. Se inicialmente todos parecem vibrar e sentir a juventude e frescura de um jovem não habituado a uma vida de opulência e de riqueza, gabando-lhe a mesma como se da dos próprios se tratasse, é também um facto que com o passar dos anos as amizades desvanecem - muito pela própria indiferença manifestada por "Dorian" - e, mais tarde, por todos repudiada como algo não natural. Desconfiados ou desinteressados, a sua presença começa a ser um incómodo com o qual têm de lidar ou distanciar para retomar a (sua) normalidade de uma sociedade que lentamente se tornava mais conservadora e moralista.
Da juventude ao ritmo dos bon-vivants, da opulência a uma degeneração que se lhes chega de forma proporcional sobre e na sua alma, Dorian Gray espelha - então tal como hoje - o reflexo de uma sociedade que se diz moderna mas que (se) defende com garras dos elementos que são, por si só, diferentes.
Com um sentido apurado de crítica social e comunitária, Dorian Gray pode ser esse tal espelho das sociedades tal como elas são transversalmente ao longo dos anos e das diferentes épocas. Existe sempre o culto de uma beleza ideal que será, mais tarde, desprezada pelos mesmos que a adoraram, invejada por aqueles que não a alcançam e vilanizada por aqueles que se sentem - pelos seus "portadores" - ridicularizados. A beleza seduz, até certo ponto, e transforma pelo seu excesso e exibição aqueles que a rodeiam das mais diversas formas. No entanto, e mesmo com esta dicotomia da diferença versus homogeneidade social, Dorian Gray - o filme - está longe de conseguir ser o tal filme referência no género mantendo-se em boa parte como um relato visualmente rico de uma sociedade vitoriana - magnífico guarda-roupa, caracterização e direcção artística - mas pobre na execução da mensagem bem como nos seus emissários (os actores) que por muito que tentem parecem, também eles, limitados no seu espaço e no seu tempo limitando-se a meras caricaturas do mesmo ou uma figuração especial que ali se resolveu fixar.
Pouco fluído e menos ainda concretizado, este Dorian Gray parece ser apenas um oportuno veículo de lançamento mediático para Ben Barnes então saído de The Chronicles of Narnia: Prince Caspian (2008), de Andrew Adamson e Stardust (2007), de Matthew Vaughn, esquecendo todos os demais actores britânicos que "pisam o palco" eventualmente com personagens igualmente ricas que poderiam ter sido melhor dinamizadas para este filme, não esquecendo os efeitos especiais relativamente ao "Dorian" retratado que estão longe de ser credíveis ou medonhos como seria de esperar dado que será (seria!) este o reflexo do seu envelhecimento não tão gracioso.
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4 / 10
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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Single Man (2009)

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Um Homem Singular de Tom Ford foi uma das revelações da temporada passada de prémios e um dos filmes revelação do ano na medida em que o seu realizador vem, nada mais nada menos, da área da moda.
Toda a história deste filme decorre num dia. Esta premissa inicial transportou-me imediatamente para um dos filmes da minha vida... As Horas.
Assim, num único dia percorremos aquelas que serão as últimas horas de George (Colin Firth), um professor universitário que perdera o seu amigo e companheiro num acidente de automóvel que decide não ter mais razão para viver e como tal irá pôr fim à sua vida.
George tem a vida perfeita... Uma relação baseada naquilo que percebemos ser confiança, amizade e amor. Tem uma profissão estável e respeitada. Tem uma amiga que o idolatra. No entanto, com a morte do homem com quem partilha a vida e impedido de comparecer no próprio enterro, George inicia aquele que será para ele o seu último dia de vida. Arruma o seu gabinete. Levanta os seus pertences do banco. Tem um último jantar com a sua amiga.
Tudo parecia resolvido para George. No entanto, aos poucos, pequenos acontecimentos ao longo do dia tendem a mostrar-lhe o quão desejado ainda é. Seja por Charley (Julianne Moore), a amiga que sempre o amou, seja por Kenny (Nicholas Hoult), um aluno que o admira devido ao seu intelecto, ou por Carlos (Jon Kortajarena), um estranho que simplesmente o deseja.
No entanto para George nada parece ter importância pois aquele que sempre amou e representava a sua vida, desapareceu. Tudo o que tinha, tudo o que fazia e todos os que conhecia deixaram de repente de fazer qualquer sentido.
A representação desta vida sem sentido está brilhantemente representada pelo trabalho de fotografia de Eduard Grau que nos mostra um panorama em tons mortos que oscilam entre os castanhos e os cinza e que, ao ser revelado a George alguma beleza que justifique a continuidade da sua vida explodem para cores vivas, vibrantes e fortes como o azul, o vermelho e o laranja. Por vezes estas oscilações de cor são subtis e precisamos de estar atentos ao filme para nos apercebermos delas. Quando de facto o fazemos sentimos no preciso momento que estamos ali naquele momento a assistir a uma transformação na mente de George. Algo que lhe diz que tem de viver e que tem ainda de sentir aquilo que lhe está a ser apresentado quer seja o sorriso de alguém, a atenção de outra pessoa ou simplesmente uma imagem com que se cruza. São estes mesmos elementos que justificam a vida. Que justificam a sua vida. Elementos que precisam de alguém que os testemunhe. Que os viva. Que os sinta. Que os veja.
A banda-sonora é um complemento, não secundário mas sim igualmente importante, da fotografia. O compositor polaco Abel Korzeniowski, nomeado ao Globo de Ouro e uma das maiores falhas dos Oscars 2010, que foi encarregue de compôr a música que deu vida a este filme, não poderia ter sido mais brilhante. Não nomeada a Oscar mas não deixa no entanto de ser a melhor partitura do ano, esta banda-sonora transborda emoção, sentimento, saudade, angústia e vida. Qualquer uma das músicas que a compõe é simplesmente magnífica e é, em anos, das melhores algumas vez compostas e arrisco-me novamente a fazer a comparação à d'As Horas. Correndo o risco de utilizar um cliché, é simplesmente de nos retirar o fôlego.
As interpretações são igualmente geniais. Colin Firth tem aquele que é de longe o seu maior desempenho bem como um dos melhores do ano. Desempenho este pelo qual venceu a Coppa Volpi em Veneza e o BAFTA e foi nomeado a Globo de Ouro Drama e Oscar. Toda a sua expressão é simplesmente magnífica. Assistimos através do seu olhar e do seu comportamento, àquela que é a despedida de um homem da sua própria vida. Depois de perder aquele que amava nada do que o rodeava fazia qualquer sentido. Tudo se tornou dispensável e irrelevante. Especialmente a vida. Como é que poderia vivê-la sem ter ao seu lado aquele que lhe dava sentido? Aquele com quem havia feito planos e cedências... Colin Firth interpreta todas essas angústias não só pelas suas palavras mas também pelo seu olhar. Um olhar que percebemos despedir-se aos poucos de tudo o que estava à sua volta.
No entanto sentimos o renascer da sua esperança à medida que o dia passa e encontra pequenas coisas que o despertam de novo para a vida. A sedução física de Carlos... A sedução intelectual de Kenny... A inocência de Jennifer... A simpatia da mãe de Jennifer ou a amizade sempre incondicional de Charley.
Já o disse e digo de novo... é uma das grandes interpretações do ano e, considerando aqueles que foram nomeados, deveria ter sido a vencedora do Oscar este ano.
Nicholas Hoult, para quem se lembra dele como o "stalker" de Hugh Grant num filme já com uns anitos, Era Uma Vez um Rapaz, tem aqui um grande regresso que deverá fazer dele um actor a ter em conta, e a sua importância no filme como aquele que dá esperança a George em poder encontrar outra pessoa com quem poder refazer a sua vida, é fundamental.
Quanto a Julianne Moore não se pode dizer muito. É simplesmente fantástico como em todo e qualquer filme que participe, e só a expressão de desespero e de solidão que sentimos apenas através do seu olhar é reveladora da intensidade com que esta actriz trabalha.
Tal como n'As Horas temos aqui um dia na vida de um homem... e nesse dia, toda a sua vida. Esta simples e complexa ideia caracteriza todo o filme. As transformações que podem ocorrer num dia e que podem transformar toda uma vida são de facto enormes. Aquilo que marca então o Homem enquanto tal, é a capacidade de as saber reconhecer por muito insignificantes que possam, à partida, parecer.
Estamos aqui perante um extraordinário filme com um brilhante argumento e igualmente tocantes interpretações por parte dos seus actores, muito em particular de Colin Firth que tem aqui o papel de toda a sua vida.
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"George: If it's going to be a world with no time for sentiment, it's not a world that I want to live in."
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10 / 10
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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

HFPA's Golden Globes 2011: os nomeados

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FILME - DRAMA

Black Swan
The Fighter
Inception
The King's Speech
The Social Network
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FILME - COMÉDIA/MUSICAL
Alice in Wonderland
Burlesque
The Kids Are All Right
Red

The Tourist
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ACTOR - DRAMA
Colin Firth, The King's Speech
James Franco, 127 Hours
Jesse Eisenberg, The Social Network
Mark Wahlberg, The Fighter
Ryan Gosling, Blue Valentine
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ACTRIZ - DRAMA
Halle Berry, Frankie and Alice
Jennifer Lawrence, Winter's Bone
Michelle Williams, Blue Valentine
Natalie Portman, Black Swan
Nicole Kidman, Rabbit Hole
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ACTOR - COMÉDIA/MUSICAL
Jake Gyllenhaal, Love and Other Drugs
Johnny Depp, Alice in Wonderland
Johnny Depp, The Tourist
Kevin Spacey, Casino Jack
Paul Giamatti, Barney's Version
.ACTRIZ - COMÉDIA/MUSICAL
Angelina Jolie, The Tourist
Anne Hathaway, Love and Other Drugs
Annette Bening, The Kids Are All Right
Emma Stone, Easy A
Julianne Moore, The Kids Are All Right
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ACTOR SECUNDÁRIO
Andrew Garfield, The Social Network
Christian Bale, The Fighter
Geoffrey Rush, The King's Speech
Jeremy Renner, The Town
Michael Douglas, Wall Street: Money Never Sleeps
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ACTRIZ SECUNDÁRIA
Amy Adams, The Fighter
Helena Bonham Carter, The King's Speech
Jacki Weaver, Animal Kingdom
Melissa Leo, The Fighter
Mila Kunis, Black Swan
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REALIZADOR
Christopher Nolan, Inception
Darren Aronofsky, Black Swan
David Fincher, The Social Network
David O. Russell, The Fighter
Tom Hooper, The King's Speech
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ARGUMENTO
127 Hours, Danny Boyle, Simon Beaufoy
Inception, Christopher Nolan
The Kids Are All Right, Stuart Blumberg, Lisa Cholodenko
The King's Speech, David Seidler
The Social Network, Aaron Sorkin
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CANÇÃO
Burlesque, Diane Warren, "You Haven't Seen The Last of Me"
Burlesque, Samuel Dixon, Christina Aguilera, Sia Furler, "Bound to You"
The Chronicles of Narnia: The Voyage of the Dawn Treader, Carrie Underwood, David Hodges, Hillary Lindsey, "There's a Place For Us"
Country Strong, Bob DiPiero, Tom Douglas, Hillary Lindsey, Troy Verges, "Coming Home"
Tangled, Alan Menken, Glenn Slater, "I See the Light"
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BANDA-SONORA
127 Hours, A.R. Rahman
Alice in Wonderland, Danny Elfman
Inception, Hans Zimmer
The King's Speech, Alexandre Desplat
The Social Network, Trent Reznor, Atticus Ross
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FILME ANIMAÇÃODespicable Me
How to Train Your Dragon
L'Illusionniste
Tangled
Toy Story 3
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FILME ESTRANGEIRO
Biutiful, México/Espanha
Le Concert, França
Hævnen, Dinamarca
Io Sono l'Amore, Itália
Kray, Rússia
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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

The Imaginarium of Doctor Parnassus (2009)

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Parnassus - O Homem que Queria Enganar o Diabo de Terry Gilliam foi a última longa-metragem protagonizada por Heath Ledger na qual haveria de ser substituído devido ao seu trágico desaparecimento.
Em Londres, Parnassus (Christopher Plummer) e o seu grupo, a filha Valentina (Lily Cole), o fiel amigo Percy (Verne Troyer) e o assistente Anton (Andrew Garfield), efectuam um pequeno espectáculo que promete uma viagem ao "Imaginarium", um mundo imaginado fruto da mente do próprio Parnassus onde os sonhos daqueles que lá entram se transformam em realidade.
Parnassus afirma ter mais de mil anos de idade mas foi quando se apaixonou por uma mortal que estabeleceu um pacto com o Diabo (Tom Waits) onde abdicava da sua imortalidade pela juventude que lhe garantia a possibilidade de uma relação afectiva. A troca foi a alma da sua filha quando esta completasse o seu 16º aniversário. É quando este dia se aproxima que Parnassus faz um novo acordo com o Diabo... Aquele que primeiro conquistar cinco almas fica com a alma de Valentina. Eis quando aparece Tony (Ledger), um recém enforcado perseguido por russos.
O universo Gilliam é por si só um desafio suficientemente grande para que o espectador tenha uma atenção redobrada a todos os pequenos grandes detalhes com que todos os cantos do ecrã são apimentados. Desde personagens marginais que habitam um espaço que pode ser mais ou menos alternativo até às suas próprias "personalidades" que são na maioria parte dos momentos maiores que a própria vida, um filme de Gilliam é por si só uma aventura psicadélica na qual apenas os bravos ousam entrar, facto que podemos constatar não só por esta obra como por todas as outras que já nos entregou desde Brazil e The Adventures of Baron Munchausen passando por The Fisher King, Twelve Monkeys e Fear and Loathing in Las Vegas.
The Imaginarium of Doctor Parnassus não seria assim uma excepção e é, desde o primeiro instante, uma povoação de personagens excêntricas, e até mesmo bizarras, numa explosão de cor, vida e uma esquizofrenia muito própria que nos fazem a todo o momento pensar que nós próprios perdemos um pouco da lucidez que supostamente nos guia.
Ainda que estéticamente desafiante pelo lado marginal do espaço e das personagens que Parnassus consiga ser, não deixa de ser verdade que a exploração das suas personagens se mantém sempre pelo lado excêntrico e muito "out there" que lhes confere, mantendo as suas motivações perceptíveis mas, ao mesmo tempo, desprovidas de uma sentida humanidade. Percebemos o que os move, quais os seus intuitos e até mesmo os fins que utilizam para alcançar o tal "bem" desejado mas, ao mesmo tempo, sentimos que estamos a viver dentro de uma sociedade fechada, ou seja, um núcleo muito próprio onde aqueles, e apenas aqueles, que nele vivem percebem os comportamentos tidos pelos demais. No fundo é como se nos encontrássemos dentro de uma realidade alternativa que apenas pode ser compreendida por aqueles que connosco a partilham. É aqui que reside a "desumanização" das mesmas... percebemos que existe toda uma entrega por amor, uma abdicação da liberdade por parte de "Parnassus" em nome daquela com quem se vê (viu) a amar mas não é menos verdade que é apenas depois desta percepção que o mesmo quer continuar num "jogo" que em última análise irá retirar-lhe graves consequências nomeadamente o fruto desse mesmo amor.
As aventuras percorridas durante este caminho são, por si só, alucinogeneas. Mundos imaginados, heróis improváveis, multiplicação de personalidades e espaços inexistentes onde apenas poucos - os tais que habitam naquele mesmo espaço - são capazes de existir. É esta mesma realidade, alternativa no entanto, que permite que todo um conjunto de aventuras e de lições morais sejam retiradas. A perda, a entrega, a dor e a alegria são um seu fruto e chegam por mais inesperadas que sejam ou até mesmo sob uma forma que inicialmente seja pouco compreensível. Elas existem, mas precisam de um código próprio para poderem ser traduzidas e ligadas àquilo que qualquer comum mortal considere como sendo "normal" (mas afinal a normalidade existe perguntamo-nos...).
No entanto se Gilliam e Charles McKeown controem um argumento e uma narrativa digna de nos levarem bem perto dessa tal loucura, e que por vezes não sai bem sucedida pela enorme quantidade de caminhos (todos possíveis é um facto) que querem dar aos destinos das suas personagens, não deixa de ser verdade que The Imaginarium of Doctor Parnassus é, tal como os demais filmes de Gilliam, um assombro visual que nos hipnotiza com sede de descobrir todos os pequenos recantos que são construídos justificando na íntegra a pequena viagem que aqui nos quer fazer ter às profundezas da nossa própria imaginação.
E ainda que seja o aspecto cénico de Imaginarium dê uma grande força ao filme (afinal as suas duas nomeações a Oscar foram para Direcção Artística e Guarda-Roupa) - ainda que na minha opinião não a suficiente para o tornar num filme memorável - o mesmo vive muito do factor "azar" do desaparecimento de Ledger, o seu actor principal, que teve então de ser re-interpretado de forma inteligente por um trio de igualmente iconoclásticos actores: Johnny Depp, Colin Farrel e Jude Law. Cada um deles à sua própria maneira interpreta a personalidade de "Tony" (Ledger) aquando das suas incursões no imaginário perdido de "Parnassus" e que dessa forma conseguiu originalmente dar continuidade a um filme que poderia estar condenado.
Assim, e ainda que inteligente pela sua originalidade (ninguém poderá dizer o contrário sobre que obra seja de Gilliam), The Imaginarium of Doctor Parnassus é um filme moroso e pouco pessoal na sua mensagem. Mensagem esta que que só se consegue concretizar pela aproximação (ou falta dela) para com o actor que de certa forma se pretendeu ser a sua alma deixando assim tudo o demais com um sabor agridoce - e seu dependente - e que apenas os fãs fiéis de Gilliam poderão encontrar uma identificação com o mesmo.
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"Tony: Nothing is permanent, not even death."
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5 / 10
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domingo, 26 de dezembro de 2010

Salt (2010)

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Salt de Phillip Noyce, o mestre dos filmes de acção e espionagem, tem desta vez como protagonista a actriz Angelina Jolie num registo de acção e intriga que não lhe ficam mesmo nada mal apesar deste papel não ter sido inicialmente escrito para ela mas sim para Tom Cruise. Detalhes...
E digo que são detalhes sem qualquer pudor pois esta excelente actriz não deve nada do seu talento a ninguém. Consegue suportar qualquer tipo de filme marcando vincadamente o seu próprio espaço sem servir de secundária ou de apoio a ninguém. Sim, foi o meu voto de apoio a Jolie (não que ela precise dele...).
Evelyn Salt, uma agente da CIA é, durante um interrogatório, acusada de ser uma agente russa infiltrada na agência norte-americana como forma de poder, sem suspeitas, assassinar o Presidente do país.
Até aqui nada de novo ou que separe este de tantos e tantos outros filmes do género que acabam por ter esta premissa como a principal... o assassinato do todo poderoso Presidente dos Estados Unidos. Dito isto, aquilo que poderá distanciar este de outros filmes, mesmo correndo novamente o risco de não ser novo, é o facto de ser inserido aqui uma tema interessante como o de agentes russos criados desde novos em território norte-americano (ou por Americanos) ao estilo de "agentes adormecidos" e que, um dia, despertam para cumprir a sua missão.
Noyce especialista neste género de filmes e que já nos entregou verdadeiras pérolas do género como O Coleccionador de Ossos ou Perigo Imediato bem como Calma de Morte e Violação de Privacidade, mostra que o estilo não está gasto e que ninguém como ele consegue dar vida a uma história cheia de tramas e de enredos e também que nos reserva sempre uma surpresa bem lá no final.
Do elenco credível e coeso fazem parte, além de Angelina Jolie, os actores Liev Schreiber e Chiwetel Ejiofor. O trio revela-se muito coeso e funcionam na perfeição. Todos contribuem de forma decisiva para os momentos tanto mais de suspense como nos de acção. Simplesmente funcionam algo que, neste género de filmes é por vezes complicado de conseguir parecendo que cada um puxa para o seu lado.
Retirando isto pouco há mais a dizer deste filme (não que isso seja negativo atenção), simplesmente há a acrescentar que está repleto de intensos momentos de acção, perseguições sem fim e uma banda-sonora à altura que completam aquilo que esperamos de um verdadeiro filme de acção sem que ele caia no banal ou em segmentos repetitivos.
Sem sombra de dúvida este é um filme a reter e, dentro do género, um dos melhores com que este ano nos brindaram no cinema.
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7 / 10
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sábado, 25 de dezembro de 2010

The Holiday (2006)

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O Amor Não Tira Férias de Nancy Meyers é daquelas comédias que são simplesmente irresistíveis. É impossível e inimaginável não gostar deste filme. Já deu para perceber o quanto me tornei fã? Pois é... gostei MESMO.
Motivos não faltam, aliás, para que seja um filme que desperte pelo menos a curiosidade a qualquer um. Kate Winslet, Cameron Diaz, Jack Black e Jude Law são os actores principais desta comédia dramática que conta ainda com a participação de Eli Wallach como um secundário merecedor de um grande destaque.
Temos então duas mulheres... Amanda (Diaz) e Iris (Winslet) que fartas das suas complicadas a tribuladas vidas amorosas decidem isolar-se e passar a época de Natal num local onde ninguém as conheça.
Amanda decide assim procurar através da internet alguém que esteja disposto a trocar de casa. Encontra assim Iris que, tal como ela, se encontra na mesma situação. Enquanto Iris parte para o sol da California, Amanda instala-se na gelada Inglaterra.
Enquanto Amanda conhece Graham (Law), o irmão de Iris, e vive com ele uma tórrida e momentânea relação, Iris conhece Miles (Black) por quem acidentalmente se apaixona e também Arthur (Wallach), o homem que iria literalmente modificar a sua vida e ensiná-la a auto-valorizar-se.
Aquela que ambas pensavam ser apenas uma viagem de sossego e reflexão tornou-se sim na viagem que iria literalmente modificar as suas vidas para sempre.
Escusado será de dizer, e muitos irão concordar comigo, que um filme em que a Kate Winslet entre é logo um sinal muito claro de que deve ser um filme a ver e a ter em consideração mesmo que, como é o presente caso, seja um filme mais ligeiro com muitos momentos de comédia e grandes doses dramáticas.
Sendo dela a interpretação principal, em parceria com Cameron Diaz, nada mais me resta dizer a não ser que como sempre Winslet está absolutamente fenomenal. Gostamos das suas imensas gargalhadas e da cara de "miúda" simpática que consegue conquistar o coração de qualquer um de nós. Sentimos a sua alegria e a sua tristeza... alias... a sua melancolia, perfeitamente. Sabemos que é genuíno todo o conteúdo pelo qual a sua personagem passa e conseguimos em inúmeras ocasiões transpôr esses mesmos sentimentos e emoções para a nossa realidade. O que fazer com uma traição ou com um objectivo não correspondido? Necessitamos de nos mudar para outro local sem resolver os nossos problemas? Conseguiremos alguma vez dar o passo em frente? Kate, a tudo o que perguntamos dá-nos uma resposta... mais lá para o final...
Aquilo que ainda me colocava algumas dúvidas era a prestação de Cameron Diaz e a relação com Winslet. Diaz, que percebo ser uma actriz ainda pouco valorizada naquilo que sabe fazer bem, tem tido na sua grande maioria, prestações razoáveis em filmes dito fracos, salvo raras excepções. Por isso, estes eram os aspectos que mais me preocupavam neste filme.
No entanto devo confessar que Diaz consegue ter um dos momentos mais fortes de todo o filme e aquele que consegue emocionar qualquer um de nós (e que atire a primeira pedra quem não se emocionou no momento em que ela juntamente com Law e as duas jovens actrizes se encontram na "tenda interior"). São momentos francamente enternecedores e humanos por excelência. Existe uma verdadeira química.
Química esta que, a bem da verdade, é sentida entre todos os actores do filme. As dinâmicas construídas entr eles são sinceras e autênticas. Sentimos isso entre Diaz e Law. Entre Winslet e Wallach e entre Winslet e Black. Este pequeno elenco não poderia ter sido escolhido de outra forma. Está simplesmente perfeito e muito convincente.
Gostei também da banda-sonora composta por Hans Zimmer que recria aqui um ambiente não só divertido como terno e cúmplice demonstrando assim na perfeição a interacção que esperamos ver entre as diversas personagens.
Não há nada que veja no filme e que possa dizer "menos bom". Tudo está no sítio certo e acontece a um ritmo bem planeado e que nos faz assistir a uma excelente comédia dramática que suplanta qualquer uma das do mesmo estilo feitas nos últimos anos.
É um filme simplesmente agradável com boas interpretações e uma história credível. Aliás... além de credível... Tem uma história que nos faz gostar de ver filmes. Muito bom.
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"Iris: I have found almost everything ever written about love to be true. Shakespeare said, "Journeys end in lovers meeting." What an extraordinary thought."
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8 / 10
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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Joyeux Noël (2005)

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Feliz Natal de Christian Carion, nomeado ao Oscar de Filme Estrangeiro bem como ao César de Melhor Filme é, acima de uma história que decorre na época natalícia, uma verdadeira e intensa melodia sobre a amizade, o respeito e a dignidade.
A grande maioria do filme decorre durante a Primeira Guerra Mundial, mais concretamente na noite de Natal. Após alguns conflitos que opunham alemãs a franceses e ingleses que haviam sucedido algumas horas antes nas trincheiras, os alemães decidem colocar ao longo das mesmas as Árvores de Natal que haviam recebido. Um pequena e simbólica forma de trazerem até eles uma das mais bonitas épocas do ano e poderem assim esquecer o conflito que os cercava todo à volta.
Nikolaus (Benno Fürmann), um dos soldados, um tenor alemão, que havia sido recrutado para os conflitos decide que não deve deixar passar a noite sem trazer alguma alegria aos seus companheiros e juntamente com a tenor dinamarquesa Anna Sörensen (Diane Kruger), cantam melodias de Natal para os soldados alemães. O que eles não pensaram naqueles momentos é que estavam também a cantar para todos os outros soldados que se encontravam nas trincheiras vizinhas.
É neste exacto momento que se dá um click que os aproxima. É neste momento que de um ou de outro lado das trincheiras quer alemães, quer franceses e ingleses cantam em línguas diferentes as mesmas melodias fazendo a todos sentir que acima de qualquer ideal político e militar são principalmente homens de família com pais, mulheres, filhos e irmãos.
É precisamente neste momento que se dá a sua aproximação. O respeito entre si. A dignidade que sentem em si próprios e nos outros que combatem em nome de ideais que não deveriam ser apregoados ou sequer defendidos. É neste exacto momento que sob a missa de um padre escocês sentem o verdadeiro significado da época por que passam. O espírito da solidariedade... do amor... da amizade... e daquilo que a época lhes privara... a paz.
Com este breve resumo de um filme que é grande demais para apenas ser comentado, que é como quem diz vão a correr para o ver, fica a ideia de um extraordinário filme que é antes de tudo uma íntegra e sentida mensagem de apelo à paz e a uma harmonia que em tantas e tantas ocasiões tem faltado entre os Homens e neste nosso continente.
Além de Benno Fürmann e de Diane Kruger fazem parte do elenco deste filme actores como Daniel Brühl, Guillaume Canet, Gary Lewis e Dany Boon que foi inclusive nomeado ao Cesar de Melhor Actor Secundário. Todos eles, sem qualquer excepção, constituem um elenco forte e coeso e dão a este filme interpretações dignas de registo pela sua honestidade e entrega. Estão, todos eles, irrepreensíveis.
De destaque... aliás, de um grande destaque está igualmente a espectacular banda-sonora que abre imediatamente o filme com uma das mais belas sequências musicais dos últimos anos no cinema. Pela sua elaboração dou os meus sinceros parabéns ao compositor Philippe Rombi. Esta banda-sonora é, no mínimo, soberba, como aliás o é todo o filme que em diversas ocasiões é intensamente emocionante.
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"Palmer: Tonight, these men were drawn to that altar like it was a fire in the middle of winter. Even those who aren't devout came to warm themselves."
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10 / 10
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Scrooged (1988)

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S.O.S. Fantasmas de Richard Donner é uma adaptação moderna do conto de Charles Dickens em que um cruel e frio homem é visitado por três fantasmas na véspera de Natal... O fantasma do Natal Passado, o do Natal Presente e o do Natal Futuro. Após as três visitas... este homem outrora insensível e desinteressado para com as pessoas compreendo finalmente qual é o verdadeiro espírito e sentido da época festiva.
Nesta versão esse homem é Frank Cross, interpretado pelo literalmente imparável Bill Murray naquele que é mais um dos seus extraordinários desempenhos cómicos onde não falta a eterna mensagem que todas as suas personagens solitários lançam algures durante um filme... A mensagem em que pede a "mão" de alguém para deitar fora a solidão que o torna ora amargo ora indiferente.
Esta história, que toma lugar na estação de televisão que Frank dirige, decorre na véspera de Natal em que todos estão empenhados em ter no ar a própria história de Dickens. Com a devida pressão do programa e os Fantasmas a aparecerem a Frank sem avisarem, o normal de esperar desta história é, como já todos devem esperar, a confusão e o caos total.
Tendo já existido inúmeras adaptações desta história, uma mais outras menos bem feitas, é natural que a história em si possa já não despertar o devido interesse que esperamos. Já todos sabemos o que se vai passar, quando, como e porquê!
No entanto aquilo que torna este filme original é o facto de decorrer nos dias de hoje (não esquecer que o filme já é de 1988) e poder adaptá-lo ao cinismo e calculismo que invadem abruptamente as sociedades modernas. A avareza não é necessariamente para os mais carentes e com menos recursos mas sim para todos aqueles que desafiam a nossa palavra.
Mas como sempre... em todos os Natais... o espírito que este emana e a fraternidade que lhe deve estar sempre inerentes acabam por vencer. E aqui vencem da melhor forma possível com aquele que é, para mim, um dos filmes de Natal mais bem realizados.
Comédia é uma verdade... Mas se o analisarmos bem será que só nos conseguimos rir? Ou será que se prestarmos a devida atenção não verificamos e encontramos mais pontos sérios nos quais devemos reflectir e pensar que afinal o Natal é, e deve ser, mais do que aquele único dia no ano?!
Este filme tem inúmeros momentos delirantes. Os momentos entre Frank e Eliot (Bobcat Goldthwait) ou entre Frank e os três fantasmas... bom.. entre os dois primeiros, pois o Fantasma do Natal Futuro não é para brincadeiras... Todos estes momentos são da mais pura e delirante comédia a qual nenhum de nós consegue ficar indiferente.
Bill Murray, como sempre, tem aqui uma interpretação à sua medida em que consegue dar largas à sua imaginação e onde nada lhe fica mal... Nem os momentos mais delicados... e muito menos aqueles em que ele revela em alto e bom som o quão hipócritas todos podem ser face à magia que o Natal deve ter.
Igualmente brilhante é o trabalho de caracterização nomeado ao Oscar em que pelas mãos de Thomas R. Burman e Bari Dreiband-Burman alguns dos actores são transformados em criaturas perfeitamente... vamos dizer sombrias.
Não será o típico filme de Natal com muita neve e muitas melodias mágicas (se bem que tem de ambas), mas será de certeza um daqueles filmes que ninguém esquecerá depois de o ver e que tem igualmente um elenco de destaque em que, além de Bill Murray se destacam Karen Allen, Robert Mitchum, Alfre Woodward, John Forsythe e Carol Kane, entre muitas outras caras conhecidas.
Para aqueles que não conhecem e querem uma excelente aventura natalícia, este será de longe o filme que não se deverá perder.
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"Frank Cross: It's Christmas Eve! It's... it's the one night of the year when we all act a little nicer, we... we... we smile a little easier, we... w-w-we... we... we cheer a little more. For a couple of hours out of the whole year, we are the people that we always hoped we would be!"
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8 / 10
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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

The Bad Lieutenant: Port of Call - New Orleans (2009)

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Polícia Sem Lei de Werner Herzog é um dos últimos trabalhos de Nicolas Cage e uma das grandes interpretações que este actor teve de há dez anos para esta parte pois conseguimos notar nela alguma significativa qualidade.
No rescaldo do furacão Katrina encontramos o detective Terence McDonagh (Cage) que se lesiona nas costas quando tenta salvar um detido numa prisão inundada. Como consequência do seu acto passa a ter dores insuportáveis que apenas consegue acalmar recorrendo a todo o tipo de medicação e drogas ilegais que passam do cigarro de marijuana até ao consumo de cocaína sem limites.
Vítima não só desta sua nova dependência como também do seu vício de jogo, de esquemas e de sustentar Frankie (Eva Mendes), uma prostituta de luxo e a mulher da sua vida, Terence vê-se envolvido num conjunto sem fim de esquemas dos quais parece ser quase impossível salvar-se.
O filme que é por inúmeros vezes algo pachorrento e difícil de seguir sem sentir alguma impaciência, não deixa de ser dos melhores trabalhos que Nicolas Cage apresenta nos últimos anos. Se tivermos paciência para seguir todos os seus esquemas e tentativas de outos tantos, bem como os momentos em que temos de aturar as suas alucinações que mais não são que o reflexto da quantidade de droga que ingere ao longo do filme (e possivelmente alguns dos melhores segmentos do mesmo), percebemos que depois de assistirmos a tanta porcaria que aquele "polícia" fez teve no fundo um sentido.
Se a meio do filme desistimos de pensar que ele vai ser um justiceiro e um polícia ordeiro, poucos ou nenhuns são os momentos em que o vemos a agir nessa direcção, o final que não é mais do que surpreendente, agrada-nos de uma forma inexplicável. Ponto certo é que percebemos ser impossível atingir fins correctos sem, pelo meio, termos de infringir a lei não sei quantas vezes pois quando a tentamos seguir, tudo acaba por correr exactamente na direcção oposta àquela que queremos.
Resultado? Há que violar a lei vezes sem conta ultrapassando todos aqueles que nos podem fazer frente para, no final, a ver trabalhar e resultar na perfeição.
Cage? Perfeito e no melhor nível. Eva Mendes? Secundária mas aplicada. Jennifer Coolidge num registo mais sério mas tão boa como no seu registo "blonde".
Resultado final? O melhor papel de Cage desde há muito tempo e para o qual chegou a ser falado para a nomeação ao Oscar (não exageremos), mas que encarna e muito bem o retrato de uma América perdida e à deriva que espera sinais de redenção vindos eles não se sabe muito bem de onde.
Uma história que ora nos afasta ora nos atrai mas que, para aqueles que a aguentam, acaba por deixar um certo nível de satisfação no final mais que não seja por sabermos que tudo acaba em bem... apesar dos meios utilizados para lá se chegar não terem sido os mais correctos. No entanto ficamos a perceber que todas as boas acções são compensadas... Mais que não seja exactamente no final...
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7 / 10
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The Last Song (2010)

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A Melodia do Adeus de Julie Anne Robinson e interpretado pela estrela teen norte-americana Miley Cyrus é um filme adaptado do livro de Nicholas Sparks que também assina o argumento em colaboração com Jeff Van Wie.
Seguimos a chegada de Ronnie (Cyrus) e do seu irmão a casa de Steve (Greg Kinnear), o pai que não vêem há vários anos, naquilo que pensamos inicialmente ser o seu afastamento de uma vida algo sem regras em Chicago. A distância que existe entre pai e filha vem já de trás quando se deu o divórcio dos pais e aqui, aos poucos, temos a sua aproximação através de vários acontecimentos que tomam lugar inclusivé a música que sempre foi a paixão que ligou os dois.
A música que Steve agora compõe, e que dá título ao filme, mais não é do que a prova final de que pai e filha estarão para sempre ligados independentemente do que aconteça, nomeadamente a morte que é, neste momento, algo iminente.
Ao contrário de outras adaptações de Sparks ao cinema este A Melodia do Adeus não tem o mesmo impacto. Se pensarmos noutra obra que fora recentemente adaptada, Juntos ao Luar, temos uma distância abismal entre ambos começando não pelos argumentos que têm potencial como história dramática, mas sim pelas interpretações que deixam nesta "melodia" muito a desejar.
Miley Cyrus, que apesar de já conhecer bem pelo nome é o primeiro registo em que a vejo, é francamente pobre e pouco convincente. Cada linha que ela verbaliza mais parece que está a ler do cartão e como se isso não bastasse, parece que o faz ao mesmo tempo que sente sérias dores. Quanto aos restantes actores não se pode ter uma base fiel das suas interpretações pois a acção centra-se toda à volta de Miley, conseguindo ofuscá-los não pelos seus dotes mas pelo quão má consegue ser.
A banda-sonora, da autoria de Aaron Zigman, consegue ser ainda algo que safa e faz o filme fluir de uma forma mais natural, adaptando um registo moderno mas ao mesmo tempo sentimental conseguindo assim dar alguma vida às emoções que se esperam sentir (não sendo no entanto totalmente eficaz).
Esta história que tem algum potencial para fazer um filme credível, acaba por ser um pouco arruinada por um elenco que aparenta não ter grande química entre si, especialmente o par protagonista entre quem se passa a maior parte da acção. Quando temos o primeiro encontro entre ambos percebemos que é entre eles que se vai passar algo mas ao mesmo tempo vemos que não será nada de especial. Parece mais um daqueles encontros de ocasiao de "olá, como estás... ok...ciao"... Se entre o elenco em geral não se sente química... entre o par protagonista sente-se o frio do gelo e também, claro, os clichés e larachas pré-fabricadas que em nada nos fazem sorrir.
Ainda assim, e apenas como entretenimento para quem não tem muito mais para fazer, este filme consegue distrair e fazer passar o tempo. Apenas e só como isso vale a pena ver.
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4 / 10
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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

How to Train Your Dragon (2010)

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Como Treinar o Teu Dragão de Dean DeBlois e Chris Sanders tornou-se instantaneamente um dos meus filmes preferidos do ano e um dos melhores de animação que vi nos últimos tempos e que será, seguramente, um dos candidatos a Oscar de Melhor Filme de Animação e quem sabe até ao de Melhor Filme, e que é já um forte nomeado ao Globo de Ouro de Filme de Animação do Ano.
Esta história desenrola-se numa Escandinávia povoada não só pelos seus Vikings como também por uma muito activa população de dragões que ameaçam constantemente as pequenas povoações marítimas.
Hiccup, um jovem e pouco tradicional Viking que pouco tem ou quer vir a ter com a caça aos dragões que constantemente perturbam a calma da pequena aldeia, vê-se um dia na situação de ter capturado um perigoso dragão sendo que ninguém acredita nele.
É a partir daqui que Hiccup forma através daquilo que é uma relação de suspeita entre humano e dragão, uma bela amizade que vai consistir e depender acima de tudo, na confiança que cada um deposita no outro.
E é neste âmbito que os filmes de animação são consistentes, fortes e sempre muito bem sucedidos. A componente de dar a conhecer, principalmente aos mais jovens mas atenção que não só a eles, que a amizade pode surgir vinda de qualquer parte e de qualquer pessoa é ponto fundamental.
Aqui esta amizade surge sob a forma de um humano e um dragão. Aquilo que parece impossível e inimaginável, torna-se numa realidade. Assistimos àquilo que é a desconfiança inicial entre dois seres de espécies diferentes e que com o tempo e com o hábito de se verem se transforma de uma relação de desconfiança e necessidade em respeito, admiração e cumplicidade.
Se por mais não fosse estes filmes de animação, os de qualidade claro está, são mestres em fazer mostrar os verdadeiros e bonitos sentimentos humanos... e não só.
Finalmente gostei de ver o final do filme. Não o tradicional final onde tudo acaba bem e os "maus" da fita são para sempre eliminados deixando os bons a viver em perfeita harmonia (que sim, é sempre bom que tudo acabe em bem), mas aquilo que me deixou mais espantado foi saber que mostram um "herói" sobrevivente mas... lesionado.
Sendo estes filmes tradicionalmente para as crianças, é bom de verificar que se lembram daqueles que nascem de alguma forma incapacitados e de como devem ser aceites em igualmente com todos os outros. Num tempo em que as diferenças pessoais de cada um são cada vez mais utilizadas como factor de uma diferenciação exclusiva, é reconfortante saber que há sempre alguém que se lembra de que é na aceitação das diferenças individuais e na sua inclusão que uma sociedade consegue realmente evoluir e crescer harmoniosamente.
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8 / 10
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Fundação GDA: galardoados 2010

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O Júri do III Prémio de Actores de Cinema Fundação GDA - 2009, composto por João Perry, Antonino Solmer e André Gago, designou a actriz Soraia Chaves, Melhor Actriz Principal no filme de longa-metragem Salazar - A Vida Privada e o actor Virgílio Castelo, Melhor Actor Secundário no filme de longa-metragem Um Amor de Perdição, estreados em 2009.
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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Clash of the Titans (2010)

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Choque de Titãs de Louis Leterrier é o remake do filme com o mesmo título mas dos anos 80 que conta a história de Perseu (Sam Worthington), semi-deus e filho de Zeus (Liam Neesn) que vive e sobrevive a inúmeras provações causadas pelos deuses do Olimpo de forma a encontrar uma solução para evitar que o Kraken, uma figura mitológica que tráz consigo a destruição, consiga fazer desaparecer do mapa a cidade de Argos.
Em relação ao primeiro filme que já leva quase com trinta anos de distância, podemos em termos de elenco compará-los e dizer que estão ambos recheados com um conjunto de actores que faz inveja a qualquer filme. Se na versão original tinhamos Laurence Olivier, Maggie Smith, Burgess Meredith, Ursula Andress e Harry Hamlin como interpretes, aqui temos um Liam Neeson, Ralph Fiennes, Sam Worthington, Mads Mikkelsen e Gemma Arterton, tudo caras conhecidas do panorama cinematográfico da actualidade quer sejam actores já reputados quer caras novas e com futuros promissores. Aqui, ambos filmes são pesos pesados...
No entanto, é certo que este remake vence nos ultra-modernos efeitos especiais que tornam tudo bem mais "real" do que a versão original. Talvez o ponto forte do filme consiga mesmo ser este, e aí é quase indiscutível, também devido à época em que vivemos.
Em todo o caso se considerarmos esta mesma questão dos efeitos especiais, por muito rudimentares que sejam os da versão original, e que em muitos casos o são mesmo, o que é certo é que o filme dos anos 80 consegue ao mesmo tempo ter muita mais magia e uma legião de fãs por todo o mundo. Poucos são aqueles, e eu incluído, que olham para o filme e pensem "lá está algo que se percebe ter sido menos bem feito". Quando vemos o filme perdemo-nos na magia e na mitologia que ele acarreta e lembra-nos do quanto gostavamos de ver este filme quando éramos mais novos. Se há filmes que se pode dizer serem "de culto", a versão original deste Choque de Titãs é um desses filmes.
Em todo o caso, e assumindo desde já que a versão original é a minha preferida e pela qual nutro mais simpatia, não deixo de dizer que este filme de Louis Leterrier me deixou agradavelmente surpreendido e, dentro do género, considero-o um filme interessante e que nos proporciona bons momentos de diversão e emoção. É, de forma geral, um filme bem feito que apenas perde por ter um antecessor de muito peso e do qual todos nós nos lembramos.
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7 / 10
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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um Funeral à Chuva (2010)

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Um Funeral à Chuva de Telmo Martins foi um dos filmes que saiu vencedor da última edição dos Caminhos do Cinema Português tendo vencido os prémios de Melhor Longa-Metragem, o Prémio da Imprensa e o Prémio do Público.
Este filme gira em torno da história de um grupo de amigos que se reune dez anos depois da sua formatura universitária para o funeral de João (João Ventura) na Covilhã.
A notícia da morte de João espanta todos. Diana (Sandra Santos), uma apresentadora de televisão que não seguiu o sonho de representação e vive por isso frustrada, Marco (Alexandre da Silva) que se havia formado em engenharia mas que agora escreve sobre viagens para uma revista, Rui (Pedro Górgia) que não conseguiu vingar na sua área e trabalha agora num clube de vídeo, André (Luís Dias) que desistiu do curso para poder tratar da mãe, e a sua irmã Susana (Sílvia Almeida) que conseguiu terminar o curso, exerce mas vive os sentimentos de culpa pelo facto do seu irmão não ter tido as mesmas oportunidades.
Finalmente temos Zé (Hugo Tavares), aquele que era o mais "estróina" do grupo mas que acabou agora como professor na Universidade onde todos estudaram e que avisou os amigos da morte de João, por ter sido o único que se manteve em contacto com ele mesmo depois da sua licenciatura. E é Zé que se mostra mais afectado com a morte do amigo. Nota-se nas suas expressões e reacções que se encontra desesperado, sózinho. Nota-se que entre os dois amigos seria possível que existisse algo mais do que amizade. Possivelmente um amor ocultado de todos.
O encontro entre estes amigos dez anos depois é feito em grande parte à volta de uma mesa, de muito alcoól e de algumas ganzas para "animar a malta". Falam sobre o passado e as suas experiências assim como a presença do João nas suas vidas. Aqueles que com ele mais privaram e as poucas palavras sábias que este seu amigo, silencioso como eles próprios admitem, ocasionalmente lhes dava.
Refletem todos sobre os belos tempos universitários que tiveram, e sobre as experiências que fizeram deste grupo amigos para toda a vida independentemente da distância que os poderia separar. Mostram-nos como as suas vidas aparentemente perfeitas não o são na realidade. Falam sobre o que ficou por fazer e por tentar. Revelam-nos de como os seus sonhos ficaram para sempre, aparentemente, esquecidos.
Este filme de Telmo Martins e com um argumento do próprio realizador em parceria com Luís Campos e Jorge Vaz Nande aparenta ter a nível das interpretações algumas "falhas" pois elas são, por vezes, pouco naturais. No entanto, esse mesmo aspecto contribui para que nos pareçam reais os momentos de diálogo entre os vários amigos. Parecem realmente ser pessoas que estiveram separadas durante dez anos.
É agradável ver como o cinema português finalmente, ao que me parece, já ultrapassou complexos antigos e que agora já se permite fazer filmes de todo o género e feitio e que conseguem chegar a todos os géneros de público. É bom perceber, gostemos ou não daquilo que nos é apresentado, que já há filmes para todos os gostos e que o cinema português começa a dispersar por todas as áreas não se limitando apenas ao chamado "cinema de autor" onde, supostamente, apenas algumas pessoas têm direito a poder ver filmes do nosso "mercado".
Deixo ainda um pequeno destaque à banda-sonora de André Fernandes que não só é enérgica e divertida como emocionante nos momentos certos. É uma lufada de ar fresco (cliché à parte) que resulta muito bem no filme e com a sua história.
Este Um Funeral à Chuva foi para mim uma surpresa agradável. Foi bom poder ver um filme do qual pouco sabia, e que me conseguiu provocar algumas risadas por um ou outro momento mais divertido num filme que, é essencialmente sobre a morte de uma pessoa. Filme este que ao mesmo tempo e através da sua simplicidade consegue também deixarmos a pensar sobre as nossas vidas, os nossos amigos e os nossos sonhos para o futuro. É aqui que este filme se torna um vencedor.
Parabéns aos actores e ao realizador Telmo Martins que... lá por Abril ou Maio, altura em que deve conquistar a nomeação ao Globo de Ouro SIC/Caras para Melhor Filme.
Uma aposta ganha e que espero seja o motor de arranque para outras histórias do género que aposto saírem igualmente vencedoras e alvo de curiosidade do público nacional.
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7 / 10
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Chicago Film Critics Association: vencedores

Filme: The Social Network
Realizador: David Fincher, The Social Network
Actriz: Natalie Portman, Black Swan
Actor: Colin Firth, The King's Speech
Actriz Secundária: Hailee Steinfeld, True Grit
Actor Secundário: Christian Bale, The Fighter
Argumento: Aaron Sorkin, The Social Network
Documentário: Exit Through The Gift Shop
Filme Estrangeiro: Un Prophète (França)
Filme de Animação: Toy Story 3
Fotografia: Wally Pfister, Inception
Banda-Sonora: Clint Mansell, Black Swan
Intérprete Revelação: Jennifer Lawrence, Winter's Bone
Realizador Revelação: Derek Cianfrance, Blue Valentine
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domingo, 19 de dezembro de 2010

Where the Wild Things Are (2009)

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O Sítio das Coisas Selvagens de Spike Jonze foi um dos filmes sensação de 2009/10 que conta com a participação do jovem actor Max Records no principal desempenho, secundado por Catherine Keener e Mark Ruffalo.
Iniciamos este filme com a presença de Max (Records) um miúdo com sérios problemas de atenção por parte não só da sua mãe como da sua irmã e que se sente literalmente inadaptado junto da sua família. A única forma que pensa ter de chamar a atenção é literalmente comportar-se como um miúdo mimado e birrento e de facto confirma-se... não pelo melhor dos sentidos.
Um dia numa discussão com a mãe que tenta fazê-lo perceber que o seu comportamento não é o melhor, Max foge indo parar a um local onde vivem monstruosas e imaginárias criaturas.
Bom, dito isto... admito que o que me levou inicialmente a ver este filme foi o extraordinário trailer de apresentação que era, de facto, muito bom e com uma banda-sonora que aguçava o apetite de qualquer um de nós.
O filme em si é, de uma forma geral, engraçado. Sei perfeitamente que não é daqueles filmes que alguma vez irei considerar ser "da vida", mas sei também que é uma muito boa história sobre a fase de crescimento pela qual todos nós passamos, bem como os medos do desconhecido pelos quais todas as crianças passam. Todos anseiam ser adultos, mas é uma vez lá chegados que todos percebem que afinal a melhor etapa das nossas vidas é de facto a infância. No entanto só o sabemos, e percebemos, quando já a perdemos definitivamente.
Também a fuga de Max tem uma justificação... Ela mais não é do que uma representação da sua fuga física e psicológica à indiferença que sente dentro da sua casa. Enquanto a sua irmã adolescente se prepara ela para ter a sua vida e a sua mãe se prepara para refazer a sua, Max é, de certa forma, "abandonado". É uma criança, que necessidades terá ele? Comparando com os outros... poucas.
Esta fuga é assim a sua forma de se revoltar e rebelar contra a indiferença de que se sente vítima. Refugiar-se num mundo alternativo, onde os monstros mais não são do que representações gigantescas dos seus medos, tal como eles aparentam ser a qualquer criança com receio do que está para "além" daquilo que se controla... A solidão, o medo ou a vontade de pertencer e integrar algo são constantes da sua jovem e curta vida.
No entanto estes mesmos monstros não representam só os medos de Max. Eles são também representações daquilo em que Max, ou qualquer outra pessoa, se transforma. Futuros adultos com ânsia e impaciências. Medos e receios que, de uma ou outra forma, poderão resultar em impulsos mais violentos como reacção àquilo com que se depara.
Não será para mim, como disse, um filme genial. Existirão (existem) filmes melhores e que poderei considerar como os grandes filmes do ano. Este, no entanto, se não me conseguiu conquistar gande simpatia durante uma boa parte da sua história é no entanto no final que consegue captar mais da minha atenção e da minha empatia para com ela.
É a percepção por parte dos monstros de que Max vai abandonar a ilha (que é como quem diz abandonar a sua jovem idade e entrar numa adolescência) que conseguimos perceber a nostalgia que ele inconscientemente e de imediato sente ao ver que aquela fora a sua melhor idade e que jamais a poderá repetir. É talvez aqui que todos nós enquanto espectadores percebemos que a nossa melhor fase de vida foi de facto a infância. Uma altura de sonhos, de aventuras e de sermos nós próprios sem rótulos, fachadas ou representações a que a sociedade obriga. Uma altura simplesmente natural em que somos nós próprios.
Será esta a grande mensagem que a mim, tal como a tantos outros, este filme conseguiu transmitir e olhando-o assim consegue ser uma história engraçada e agradável de se ver.
Além destes imensos "detalhes" é de destacar ainda a participação de nomes reconhecidos como James Gandolfini, Catherine O'Hara, Paul Dano, Forest Whitaker ou Chris Cooper a dar voz aos monstros bem como é de referir ainda a magnífica banda-sonora da autoria de Carter Burwell e Karen Orzolek como pontos altos deste filme.
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"Judith: Happiness is not always the best way to be happy."
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7 / 10
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sábado, 18 de dezembro de 2010

Solomon Kane (2009)

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Solomon Kane de Michael J. Bassett é um intenso e muito interessante filme de acção e aventura que tráz ao grande ecrã a história de Kane (James Purefoy) um combatente não só frente aos espanhóis como também das forças demoníacas que começavam a invadir os meios rurais do Reino, e que utiliza todos os meios possíveis, inclusivé os mais violentos, para fazer justiça pelas próprias mãos.
Um dia numa das suas missões conhece o enviado do Diabo que vem reclamar a sua alma devido às inúmeras atrocidades que cometeu durante toda a sua vida mas, rebelde como é recusa acompanhá-lo e após conseguir escapar renuncia a toda a violência refugiando-se num mosteiro.
No entanto, como nada parece correr como ele quer, rapidamente é posto fora do mosteiro e rapidamente se apercebe de que o mundo com o qual começa agora a manter contacto está muito diferente daquilo que deixou, e as forças do mal começam a apoderar-se aos poucos dos terrenos do país.
Este filme saiu como justo vencedor do Prémio do Público do último Fantasporto e confesso que é daqueles filmes que demorei a ver mas do qual saí francamente satisfeito com os resultados finais. James Purefoy que dá corpo e alma a Solomon Kane torna-se com este filme, do qual em nada me espantava que desse vida a uma saga do género, um herói instantâneo do género fantástico. É delirante ver a rudeza e falta de humanidade que tem para com aqueles que considera serem ameaças ao bem-estar geral. Mais delirante é quando se lança sem piedade numa missão de extermínio geral que parece quase não ter fim.
O ambiente geral criado pelo filme é igualmente soberbo. O trabalho de fotografia de Dan Laustsen consegue criar realmente uma atmosfera quase da idade das trevas onde tudo é muito sombrio e sentimos que a qualquer momento sai alguém da escuridão para atacar o nosso herói de serviço.
Não será com certeza o melhor filme do género ou sequer um retrato interessante de uma época mais ou menos sombria. No entanto não deixa de ser um óptimo exemplo de como o cinema do género fantástico está alive and kicking e que muitos espectadores vibram com este tipo de filme. Eu assumo... sou um deles. Quando bem feitos conseguem ser filmes de pura adrenalina que conseguem não só entusiasmar como entreter qualquer cinéfilo.
Michael J. Bassett... Parabéns... Será muito pedir mais uns quantos filmes a dar continuidade às aventuras de Solomon Kane?
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"Solomon Kane: There are many paths to redemption, not all of them peaceful."
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7 / 10
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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Alice in Wonderland (2010)

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Alice no País das Maravilhas é a mais recente adaptação deste conto de Lewis Carroll desta vez feita pelas mãos de Tim Burton que tanto já nos encantou com os seus filmes que passam por Big Fish e Eduardo Mãos de Tesoura.
Alice (Mia Wasikowska) está de volta ao País das Maravilhas após se ter metido, no seu mundo, em mais um problema que não antecipava... o seu casamento arranjado. Uma vez lá chegada encontra novamente as mesmas personagens estranhas como o Chapeleiro Louco (Johnny Depp), a Raínha de Copas (Helena Bonham-Carter) e uma Raínha Branca (Anne Hathaway) que se encontram num estado de pré-guerra para ver quem assume de uma vez por todas o domínio de tão bizarra terra.
Sendo um filme de Tim Burton é natural que qualquer cinéfilo salive por saber qual o filme com que o mestre nos vai presentear. Basta considerarmos toda a filmografia do realizador para sabermos que aquilo que nos espera é mais uma genial obra que enriquece o imaginário de qualquer um.
No entanto este Alice, não sendo mau, seria impossível sê-lo, é um filme que enquanto o estamos a ver, e em especial depois, nos deixa a pensar que ficou ali muito por dizer. As personagens que são por si só suficientemente ricas, ficam quase como que decorativas e não são exploradas no seu máximo. É impossível não gostarmos de uma Raínha de Copas interpretada por Helena Bonham-Carter que consegue sempre retirar uma ponta de loucura exagerada de qualquer uma das suas personagens. E por muito violenta que ela aqui seja... ganha a simpatia de qualquer um de nós.
O mesmo acontece com o Chapeleiro Louco criado por Johnny Depp que nos mostra através do seu olhar tanto de louco como de melancólico e saudoso. Este papel, que lhe valeu esta semana a nomeação para o Globo de Ouro de Melhor Actor Comédia, e que espero sinceramente que saia vencedor, é possivelmente um dos papéis mais comentados e apreciados do ano. Duvido que lhe consiga dar uma nova nomeação a Oscar mas que fica na galeria das suas personagens mais aplaudidas, disso não tenho a menor das dúvidas.
O ponto forte deste filme serão seguramente todos os seus aspectos técnicos que, desde o Guarda-Roupa de Colleen Atwood, à Banda-Sonora de Danny Elfman e a Fotografia de Dariusz Wolski fazem deste filme um verdadeiro espectáculo de cor e de sons que em nada ficam atrás de tantos outros filme do género fantástico. Áreas estas que não me espantaria nada se obtivessem uma nomeação na próxima cerimónia dos Oscars em 2011. Duvido que Depp chegue a uma nomeação. Parece-me que o seu papel é reduzido demais para a alcançar, e em especial num ano em que as grandes (esperamos) interpretações masculinas são muitas, mas o Globo de Ouro será, quase de certeza, seu.
Mensagens a reter deste filme são também algumas... É impossível não vermos o mundo imaginário de Alice como o seu refúgio quando se lhe deparam problemas que podem mudar toda a sua vida como até então a conhece. As próprias incertezas de uma jovem mulher numa altura em que as mesmas pouco tinham a opinar sobre a sua própria vida e claro... a presença de um Jabberwocky (excelente registo da voz de Christopher Lee... seria impossível pensar noutra pessoa para lhe dar voz) que mais não é do que aquele eterno "Velho do Restelo" presente em cada uma das nossas consciências quando alguma mudança de maior se aproxima. Aquele medo que todos nós temos de conquistar e ultrapassar.
Garanto que gostei do filme, apesar do meu comentário sobre o mesmo parecer algo "indefinido". Acho simplesmente que ele poderia ter sido bem mais explorado para nos garantir pelo menos mais uma hora de puro entretenimento. Não iria fartar ou aborrecer ninguém, pois afinal de contas todos nós gostamos daquilo que Tim Burton nos oferece.
Mais ainda digo... todo o filme é visualmente rico e a certa altura acabamos por nos perder com tanta cor vibrante e apelativa que percorre todo o filme desde o princípio até ao final... Aquilo que simplesmente digo é que este não será o filme de Tim Burton que me ficará na memória como aquele de que mais gostei de todo o seu excêntrico e magnífico registo mas que é, ainda assim, um excelente filme do género fantástico e que certamente não irá deixar nenhum de nós indiferente.
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"The Red Queen: It is far better to be feared than loved."
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8 / 10
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief (2010)

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Percy Jackson e os Ladrões do Olimpo de Chris Columbus conseguiu convencer-me que ainda se faz um excelente cinema do fantástico sem que, para isso, se tenha sempre de recorrer a remakes de filmes do passado que acabam, quase sempre, por não ser tão bons como os originais. Este sim, ganha pela originalidade e pela piada que de facto tem.
Neste filme conhecemos Percy Jackson (Logan Lerman) um jovem estudante com disléxia (pensamos nós) que vive com a sua mãe e um padrasto bem labrego que os maltrata. Mas, com isto dito, ficamos também a saber que Percy tem algo mais escondido na sua história pessoal... Ele é, segundo percebemos, filho de Poseidon, Deus dos Mares.
Depois de terem roubado o trovão de Zeus, a arma mais poderosa do Mundo, e das suspeitas terem recaído sobre Percey, começa então uma entusiasmante história de aventuras e de acção que combina os tempos modernos à História da mitologia grega que persiste intocável desde à milhares de anos, criando assim um interessante e bem conseguido filme de entretenimento que não desilude ninguém.
As interpretações são igualmente delirantes e considerando o género de filme que é estão igualmente bem conseguidas e trabalhadas. Logan Lerman como Persey Jackson, Catherine Keener como a sua mãe, Uma Thurman, magnífica como sempre, como a mortal Medusa, Sean Bean como Zeus, Kevin McKidd como Poseidon e uma Rosario Dawson ao estilo de matadora como Persefone ou um Pierce Brosnan como um professor de História que é mais do que parece, completam um elenco extraordinário que faz deste filme um daqueles que primeiro desconfiamos e depois passamos a gostar.
Além destes aspectos, todos eles positivos na minha opinião, não se pode igualmente deixar de referir os excelentes efeitos especiais e que, muito possivelmente, poderão ter uma nomeação ao Oscar na sua respectiva categoria.
Puro entretenimento que deixa qualquer um bem disposto. E quem não acredita... que veja os segmentos com Uma Thurman, que é como quem diz... Medusa.
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7 / 10
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