O Cavaleiro das Trevas Renasce de Christopher Nolan foi uma das estreias mais antecipadas do ano. Talvez mesmo desde o início das suas filmagens que foi antecipado por milhares, senão milhões, de fãs não só do super-herói como da trilogia que agora seria encerrada.
Regressamos a Gotham City oito anos depois dos trágicos acontecimentos perpetrados à cidade por Joker e que mancharam para sempre a imagem de Batman, elevando a herói Harvey Dent, o verdadeiro criminoso, como o justiceiro que se sacrificou em nome da mesma e dos seus cidadãos.
Bruce Wayne (Christian Bale) é agora um homem retirado dos olhares da sociedade. Isolado na sua mansão e sem contacto com o mundo exterior, à excepção do seu fiel mordono Alfred (Michael Caine) até ao dia em que alguns dos accionistas das suas empresas o pretendem destituir e que Bane (Tom Hardy), um novo e muito mais perigoso vilão surge para arruinar com os destinos de Gotham City, altura em que não só Wayne como o esquecido Batman têm de ressurgir e defender não só a cidade como a sua população.
Independentemente de gostarmos ou não do género de filme onde a temática passa por histórias de super-heróis com poderes sobrenaturais, penso que quase ninguém fica indiferente a este caso em particular. Quer seja esta nova trilogia quer seja a anterior que já data de há mais de dez anos, é justo dizer que ninguém lhe fica indiferente. Talvez pelo seu ambiente de fundo e universo muito particular ou talvez pelo próprio conjunto de personagens que consegue de uma ou outra forma captar o melhor e o pior do ser humano, que é como quem diz... de qualquer um de nós.
E este argumento tem sido bem real ao longo desta trilogia, muito concretamente nos últimos dois títulos nos quais este O Cavaleiro das Trevas Renasce se enquadra. Ao assistir a este filme deleitei-me com alguns moomentos nos quais não consegui deixar de tecer paralelos entre a sua história (ficcionada claro está), com a sociedade actual onde todos nós vivemos. Mais ou menos conscientes para com o que se passa à nossa volta as semelhanças, se pensarmos bem no que vemos, são por demais evidentes. Desde a corrupção política, económica e social até aos momentos em que por viver numa crise extrema qualquer um se deixa levar pelo primeiro "justiceiro" que aparece, estas semelhanças são assustadoramente reais, e conseguimos perceber que para além de um filme de super-heróis, este é um filme francamente "real".
Outra curiosidade deste filme, e que já tinha sido "iniciada" com O Cavaleiro das Trevas, reside no facto de nesse título o caos ser fruto das acções de um único homem. A destruíção pelas mãos da ditadura e dos actos loucos e quase difíceis de punir de "um". Em O Cavaleiro das Trevas Renasce, por sua vez, graças a uma vontade de destruíção maior através das mãos de lunáticos que possuem agora uma hipótese de atingir o poder representam a destruíção e ditadura de "todos". Uma quase anarquia total onde a justiça passa a ser popular e sem qualquer regra de punição mas antes de uma aniquilação de todas as regras sociais existentes e claro, de todos aqueles que, até à data, a representaram.
Este filme torna-se assim, e à luz dos acontecimentos que têm surgido um pouco por todo o lado nos últimos tempos, demasiadamente actual e com uma "leve" semelhança à realidade que todos os dias nos afecta.
É impossível falar deste filme sem falar daqueles que lhe deram corpo e alma. Não duvidei das competências de Christian Bale desde o primeiro instante. Para quem acompanhava a sua carreira, brilhante que se diga, desde os tempos em que surpreendeu tudo e todos com a sua adulta e inocente participação em Império do Sol, percebe que daqui só poderia vir um grande actor e que se entregaria de alma às personagens que iria interpretar, fossem elas homens reais, ficcionados ou até mesmo vindos de banda-desenhada que criaram legiões de fãs. Bale é, do início ao fim, aquilo que interpreta. Não seria de espantar que encarnasse Bruce Wayne/Batman com tanta intensidade como qualquer outra personagem que até à data havia interpretado. No entanto julgo que mesmo para ele o sucesso alcançado com esta sua interpretação seja surpreendente. Confesso-me fã incondicional dos dois títulos que no final dos anos 80 e início dos anos 90 do século passado deram vida a este herói. No entanto, julgo que entre esses filmes, e os dois que se seguiram, em comparação com esta nova trilogia, Bale consegue ser o Wayne/Batman mais credível e competente de todos os filmes. Sabemos que é o fim (?) da trilogia e percebemos que vamos sentir saudades de ver mais títulos em que ele participe e volte a presentear-nos no ecrã com a sua composição. Sabemos que vai ser difícil ser superado por outro actor ou mesmo que venha mais algum título desta temática que não o apresente como um dos actores. Christian Bale será, nos próximos largos tempos, os verdadeiros "corpo e alma" deste super-herói.
E é também impossível não falar naqueles que o acompanharam... Desde um competente e comovente Michael Caine como o seu fiel mordomo Alfred ou o seu braço direito, sempre na sombra, Lucius Fox composto por Morgan Freeman ou o Comissário Gordon de Gary Oldman, passando por um conjunto de brilhantes novos actores que vieram enriquecer este último título, todos eles são aqui simplesmente perfeitos.
De Anne Hathaway confesso que tinha as minhas reservas para a sua composição enquanto Selina Kyle/Catwoman. Para mim esta personagem será sempre, e sem qualquer reserva, uma interpretação de Michelle Pfeiffer. As comparações tornam quase obrigatoriamente inevitáveis, e esta última actriz (lamento para os fas), ganha por muitos pontos de vantagem a Hathaway. No entanto, sou igualmente obrigado a dar o braço a torcer e assumo que fiquei rendido a esta nova composição e assumo que Hathaway me conseguiu conquistar. Para o filme, e esquecendo o universo muito particular que Tim Burton conseguiu recriar nos seus títulos, Hathaway está simplesmente divinal. Afastados que estão os elementos simbólicos da Catwoman de Burton, aqui o que temos é uma vigarista e ladra que através dos seus dotes de sedução a homens ricos, muito ricos, tenta comprar a vida a que nunca teve direito. Pouco sabemos dela no passado além de pequenos detalhes que nos são fornecidos ao longo do filme, e dali percebemos que surgiu esta mulher que faz o que faz não porque gosta, mas sim porque sabe ser a única forma que tem de sobreviver num mundo que é tantas vezes injusto para a maioria das pessoas. E quando o mundo nos priva de algo que sabemos ser de nosso inteiro direito, o "animal" que existe dentro de cada um de nós nasce e luta pela sua própria sobevivência... Puro darwinismo... a sobrevivência dos mais aptos.
A grande surpresa surge, no entanto, dos outros dois novos actores que se juntam a este filme. Joseph Gordon-Levitt como Blake, um jovem polícia que se torna num dos maiores defensores de Batman e de Gotham City e que tem uma pequena surpresa mesmo no final do filme, é ele também um elemento bem positivo e talvez depende dele a continuidade de Gotham nos grandes ecrãs. E finalmente há que falar naquela que constitui a que para mim foi a maior revelação, pela positiva, de uma interpretação neste filme... Marion Cotillard. A Miranda Tate a quem dá vida é desde o primeiro instante uma personagem que nos deixa pouco à vontade. Não sabemos bem como defini-la e nos momentos em que aparece fica-nos uma sensação de que algo não é tão "glamouroso" como a sua imagem pretende que seja. E algo que confirmamos bem perto do final quando descobrimos finalmente quem ela é, e onde nos é revelada uma verdadeira personificação do mal. De um mal absoluto... e ela fá-lo com maestria.
E falando em mal absoluto... nada como este perfeito vilão Bane que Tom Hardy interpreta e que, sem vermos o seu rosto na totalidade, e apenas com expressões do seu olhar e a sua voz medonha, consegue compôr um dos melhores vilões que o cinema viu nos últimos tempos.
Logo no início deste comentário disse que este foi um dos filmes mais antecipados do ano... e com razão. Para um desfecho de trilogia não poderia haver um melhor filme. É um filme tecnicamente perfeito desde os seus efeitos especiais (quer visuais quer sonoros) bem como pela sua excelente fotografia que desmistifica a verdadeira identidade de Gotham City para claras referências à cidade de Nova York, dando-lhe uma luz muito própria, à igualmente brilhante banda-sonora da autoria de Hans Zimmer que é, ela própria, uma personagem do filme. Forte, comovente e doseada da intensidade perfeita para ser ela própria grande... muito grande e fazer deste filme um dos trunfos maiores do ano cinematográfico que transforma qualquer um num fã, mesmo que este não seja, à partida, o filme de eleição de muitos.
Depois de o ver percebo o porquê de tanto furor à sua volta e subscrevo que é realmente um dos filmes maiores do ano e que sem fugir ao essencial conteúdo de super-herói que é Batman consegue humanizar e fazer dele um homem que que justiça e segurança para todos. E se alguém questiona esta humanidade... que fique muito atento àquele que é um dos finais mais comoventes de sempre de um super-herói que consegue fazer de um filme muito bom... magnífico.
Simplesmente imperdível.
.Bruce Wayne (Christian Bale) é agora um homem retirado dos olhares da sociedade. Isolado na sua mansão e sem contacto com o mundo exterior, à excepção do seu fiel mordono Alfred (Michael Caine) até ao dia em que alguns dos accionistas das suas empresas o pretendem destituir e que Bane (Tom Hardy), um novo e muito mais perigoso vilão surge para arruinar com os destinos de Gotham City, altura em que não só Wayne como o esquecido Batman têm de ressurgir e defender não só a cidade como a sua população.
Independentemente de gostarmos ou não do género de filme onde a temática passa por histórias de super-heróis com poderes sobrenaturais, penso que quase ninguém fica indiferente a este caso em particular. Quer seja esta nova trilogia quer seja a anterior que já data de há mais de dez anos, é justo dizer que ninguém lhe fica indiferente. Talvez pelo seu ambiente de fundo e universo muito particular ou talvez pelo próprio conjunto de personagens que consegue de uma ou outra forma captar o melhor e o pior do ser humano, que é como quem diz... de qualquer um de nós.
E este argumento tem sido bem real ao longo desta trilogia, muito concretamente nos últimos dois títulos nos quais este O Cavaleiro das Trevas Renasce se enquadra. Ao assistir a este filme deleitei-me com alguns moomentos nos quais não consegui deixar de tecer paralelos entre a sua história (ficcionada claro está), com a sociedade actual onde todos nós vivemos. Mais ou menos conscientes para com o que se passa à nossa volta as semelhanças, se pensarmos bem no que vemos, são por demais evidentes. Desde a corrupção política, económica e social até aos momentos em que por viver numa crise extrema qualquer um se deixa levar pelo primeiro "justiceiro" que aparece, estas semelhanças são assustadoramente reais, e conseguimos perceber que para além de um filme de super-heróis, este é um filme francamente "real".
Outra curiosidade deste filme, e que já tinha sido "iniciada" com O Cavaleiro das Trevas, reside no facto de nesse título o caos ser fruto das acções de um único homem. A destruíção pelas mãos da ditadura e dos actos loucos e quase difíceis de punir de "um". Em O Cavaleiro das Trevas Renasce, por sua vez, graças a uma vontade de destruíção maior através das mãos de lunáticos que possuem agora uma hipótese de atingir o poder representam a destruíção e ditadura de "todos". Uma quase anarquia total onde a justiça passa a ser popular e sem qualquer regra de punição mas antes de uma aniquilação de todas as regras sociais existentes e claro, de todos aqueles que, até à data, a representaram.
Este filme torna-se assim, e à luz dos acontecimentos que têm surgido um pouco por todo o lado nos últimos tempos, demasiadamente actual e com uma "leve" semelhança à realidade que todos os dias nos afecta.
É impossível falar deste filme sem falar daqueles que lhe deram corpo e alma. Não duvidei das competências de Christian Bale desde o primeiro instante. Para quem acompanhava a sua carreira, brilhante que se diga, desde os tempos em que surpreendeu tudo e todos com a sua adulta e inocente participação em Império do Sol, percebe que daqui só poderia vir um grande actor e que se entregaria de alma às personagens que iria interpretar, fossem elas homens reais, ficcionados ou até mesmo vindos de banda-desenhada que criaram legiões de fãs. Bale é, do início ao fim, aquilo que interpreta. Não seria de espantar que encarnasse Bruce Wayne/Batman com tanta intensidade como qualquer outra personagem que até à data havia interpretado. No entanto julgo que mesmo para ele o sucesso alcançado com esta sua interpretação seja surpreendente. Confesso-me fã incondicional dos dois títulos que no final dos anos 80 e início dos anos 90 do século passado deram vida a este herói. No entanto, julgo que entre esses filmes, e os dois que se seguiram, em comparação com esta nova trilogia, Bale consegue ser o Wayne/Batman mais credível e competente de todos os filmes. Sabemos que é o fim (?) da trilogia e percebemos que vamos sentir saudades de ver mais títulos em que ele participe e volte a presentear-nos no ecrã com a sua composição. Sabemos que vai ser difícil ser superado por outro actor ou mesmo que venha mais algum título desta temática que não o apresente como um dos actores. Christian Bale será, nos próximos largos tempos, os verdadeiros "corpo e alma" deste super-herói.
E é também impossível não falar naqueles que o acompanharam... Desde um competente e comovente Michael Caine como o seu fiel mordomo Alfred ou o seu braço direito, sempre na sombra, Lucius Fox composto por Morgan Freeman ou o Comissário Gordon de Gary Oldman, passando por um conjunto de brilhantes novos actores que vieram enriquecer este último título, todos eles são aqui simplesmente perfeitos.
De Anne Hathaway confesso que tinha as minhas reservas para a sua composição enquanto Selina Kyle/Catwoman. Para mim esta personagem será sempre, e sem qualquer reserva, uma interpretação de Michelle Pfeiffer. As comparações tornam quase obrigatoriamente inevitáveis, e esta última actriz (lamento para os fas), ganha por muitos pontos de vantagem a Hathaway. No entanto, sou igualmente obrigado a dar o braço a torcer e assumo que fiquei rendido a esta nova composição e assumo que Hathaway me conseguiu conquistar. Para o filme, e esquecendo o universo muito particular que Tim Burton conseguiu recriar nos seus títulos, Hathaway está simplesmente divinal. Afastados que estão os elementos simbólicos da Catwoman de Burton, aqui o que temos é uma vigarista e ladra que através dos seus dotes de sedução a homens ricos, muito ricos, tenta comprar a vida a que nunca teve direito. Pouco sabemos dela no passado além de pequenos detalhes que nos são fornecidos ao longo do filme, e dali percebemos que surgiu esta mulher que faz o que faz não porque gosta, mas sim porque sabe ser a única forma que tem de sobreviver num mundo que é tantas vezes injusto para a maioria das pessoas. E quando o mundo nos priva de algo que sabemos ser de nosso inteiro direito, o "animal" que existe dentro de cada um de nós nasce e luta pela sua própria sobevivência... Puro darwinismo... a sobrevivência dos mais aptos.
A grande surpresa surge, no entanto, dos outros dois novos actores que se juntam a este filme. Joseph Gordon-Levitt como Blake, um jovem polícia que se torna num dos maiores defensores de Batman e de Gotham City e que tem uma pequena surpresa mesmo no final do filme, é ele também um elemento bem positivo e talvez depende dele a continuidade de Gotham nos grandes ecrãs. E finalmente há que falar naquela que constitui a que para mim foi a maior revelação, pela positiva, de uma interpretação neste filme... Marion Cotillard. A Miranda Tate a quem dá vida é desde o primeiro instante uma personagem que nos deixa pouco à vontade. Não sabemos bem como defini-la e nos momentos em que aparece fica-nos uma sensação de que algo não é tão "glamouroso" como a sua imagem pretende que seja. E algo que confirmamos bem perto do final quando descobrimos finalmente quem ela é, e onde nos é revelada uma verdadeira personificação do mal. De um mal absoluto... e ela fá-lo com maestria.
E falando em mal absoluto... nada como este perfeito vilão Bane que Tom Hardy interpreta e que, sem vermos o seu rosto na totalidade, e apenas com expressões do seu olhar e a sua voz medonha, consegue compôr um dos melhores vilões que o cinema viu nos últimos tempos.
Logo no início deste comentário disse que este foi um dos filmes mais antecipados do ano... e com razão. Para um desfecho de trilogia não poderia haver um melhor filme. É um filme tecnicamente perfeito desde os seus efeitos especiais (quer visuais quer sonoros) bem como pela sua excelente fotografia que desmistifica a verdadeira identidade de Gotham City para claras referências à cidade de Nova York, dando-lhe uma luz muito própria, à igualmente brilhante banda-sonora da autoria de Hans Zimmer que é, ela própria, uma personagem do filme. Forte, comovente e doseada da intensidade perfeita para ser ela própria grande... muito grande e fazer deste filme um dos trunfos maiores do ano cinematográfico que transforma qualquer um num fã, mesmo que este não seja, à partida, o filme de eleição de muitos.
Depois de o ver percebo o porquê de tanto furor à sua volta e subscrevo que é realmente um dos filmes maiores do ano e que sem fugir ao essencial conteúdo de super-herói que é Batman consegue humanizar e fazer dele um homem que que justiça e segurança para todos. E se alguém questiona esta humanidade... que fique muito atento àquele que é um dos finais mais comoventes de sempre de um super-herói que consegue fazer de um filme muito bom... magnífico.
Simplesmente imperdível.
"Selina Kyle: There's a storm coming, Mr. Wayne. You and your friends better batten down the hatches, because when it hits, you're all gonna wonder how you ever thought you could live so large and leave so little for the rest of us."
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