segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Zombie Kiss (2016)

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Zombie Kiss de Roberto Pérez Toledo é uma curta-metragem espanhola de ficção e o mais recente trabalho do realizador canário que aqui associa ao Halloween - esta noite celebrado - ao "culto" da máscara... esse objecto que metaforicamente tantas pessoas utilizam...
Ele (Íñigo Etayo) e Ele (Álex Cerezal) amam-se de forma francamente apaixonada. A sua cumplicidade apenas encontra par com uma química sexual que é inicialmente revelada. Os dois escondem-se do e para o mundo por detrás de uma outra relação que lhes confere a sua ilusão de segurança. As máscaras que usam diariamente apenas podem ser comparadas com esta noite que agora se preparam para celebrar.
A diferença - ou aquilo que para os demais pode ser considerado como tal - é aqui explicado de forma simples como o motivo pelo qual todos utilizam máscaras... A vontade de não ser olhado como o "outro" distante e diferente explicada a necessidade sentida de encarnar um papel social que apenas pode ser ignorado quando vivido dentro de quatro paredes porque todos querem ser vistos como iguais numa sociedade - e por vezes comunidade - sempre preparada para encontrar algo que a todos distinga.
No final fica a pergunta... o que é o amor? Aquilo que cada um sente independentemente do género... ou a imagem ou ideia que os demais têm de cada um, espelhados a uma ideal social que tendencialmente tem vindo a ser quebrado?
Com uma marca que qualquer espectador - ou crítico - que acompanhe a carreira de Pérez Toledo, Zombie Kiss é um - mais um - dos sempre atentos e presentes olhares deste realizador espanhol que insiste de forma coerente e digna em filmar o amor, os sentimentos, os afectos e claro... todo o seu resultado sexual intenso e sentido.
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7 / 10
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Amor Scout (2016)

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Amor Scout de Roberto Pérez Toledo é uma curta-metragem espanhola de ficção que junta Ele (Edgar Córcoles) e Ela (Ángeles Calderón) numa amena e descomprometida conversa sobre o "amanhã" de uma relação - que o espectador supõe como sexual - que poderá surgir.
Ao acordar é descoberto todo um lado mais juvenil de uma jovem mulher que parece pouco interessada no parceiro que tem no seu quarto. Ele, por outro lado, parece interessar-se cada vez mais naquela jovem com quem passou algumas horas. A descoberta do inesperado aproxima-o dela e o seu olhar revela mais que o simples resultado de uma noite de prazer.
Pérez Toledo de quem não me canso afirmar como um dos novos e mais sentimentalmente intensos realizadores espanhóis transforma o escutismo - dela - e a vontade de mudar o mundo - de ambos - como o arranque do motor para uma relação em potência que, por ele, terá toda a abertura para se transformar em algo melhor... afinal, não é esse o sentido do amor verdadeiro?
Do casual ao encanto da descoberta e da vontade de transformar o mundo em algo melhor começando pela formação cívica dos mais jovens - por um lado - e pela construção de um amor - por outro - são os motes principais do enredo desta curta-metragem que apenas "peca" por deixar o espectador levar-se pela imaginação sobre o "e depois", e não consumando nada que certamente se gostaria de confirmar.
Sempre um intenso explorar do lado afectivo, sentimental e claramente também o sexual, Pérez Toledo afirma-se com um contador de histórias sobre aquilo que une as pessoas e principalmente sobre aquilo que elas ocultam e preferem ver escondido do seu mais íntimo, ou seja, uma implícita e não confirmada vontade de amar que se deixa - por vezes - sobrepôr a um medo inconsciente de uma eventual rejeição... do outro, da sociedade e também de si próprio.
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6 / 10
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domingo, 30 de outubro de 2016

Don Marshall

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1936 - 2016
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Ocho Apellidos Catalanes (2015)

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Namoro à Espanhola - Aventura na Catalunha de Emílio Martínez Lázaro é a mais recente longa-metragem espanhola a estrear em sala e a continuação de Ocho Apellidos Vascos (2014) que foi, à data, o maior sucesso de bilheteira do país vizinho.
Depois da separação de Rafa (Dani Rovira) e de Amaia (Clara Lago), esta última apaixona-se por Pau (Berto Romero) um catalão. Rumo à Catalunha deixando tudo para trás, é Koldo (Karra Elejalde), o seu pai, que segue para a Andaluzia para convencer Rafa a conquistar, uma vez mais, o coração da sua filha. No entanto, nem tudo parece ser assim tão fácil naquele que poderá ser o primeiro casamento de uma Catalunha independente...
Borja Cobeaga e Diego San José estão uma vez mais por detrás do argumento desta sequela de Ocho Apellidos Vascos tentando recuperar muito do espírito de comédia que esteve na origem daquela que foi uma divertida e espontânea história de amor. Uma história de amor igual a tantas outras onde as diferenças não só do indivíduo como também de toda uma comunidade culturalmente distinta se evidenciam como entraves à sua concretização mas que, por força de um qualquer mistério, parecem resultar como uma oposição, ou seja, quando mais esta diferença se assume mais sentida faz à aproximação daqueles que as denotam.
Espanha para o mundo... Espanha das nações a nível interno. Os vários mundos que compõem o país vizinho parecem embelezá-lo enquanto comunidade para o exterior mas, internamente, o espectador percebe que existem momentos e situações dignas de um cómico de situação que, no entanto, pouco poderão fazer rir aos mais fundamentalistas. Desde as separações linguísticas ao imaginário de uma independência ainda por confirmar, Ocho Apellidos Catalanes recupera o tal imaginário dos bascos senhores de si próprios, da independência ainda não confirmada de uma Catalunha dona de si própria contrariamente ao dolce fare niente de um sul andaluz onde os propósitos fundamentais de uma vida bem vivida passam pela diversão, pelo bom comer e pelo amor - numa prática mais ou menos consumada - que se (os) distancia de um restante país mais Europeu... e menos "quente".
Mas, no meio de tudo isto o que sobra para realmente compreender... O amor... Por si só incompreensível - pois desista quem o tenta explicar -, mas capaz de se afirmar como a força motora das vidas destas personagens que se têm contentado com a solidão, com casamentos e uniões "menos más" e que lhes confiram a tal "idade adulta" que até então lhes tem passado ao lado ou até mesmo a aceitação de uma vida a solo que, no entanto, os impeça de sofrer pela entrega a alguém que (não sabem) poderá nunca os amar em idêntica proporção. Mas, o que irá realmente acontecer quando decidem finalmente arriscar e reclamar o seu direito à felicidade?
É com esta pergunta em mente que assistimos à dinâmica entre "Koldo" (Karra Elejalde) e "Merche" (Carmen Machi) e, por outro lado, a "Rafa" (Rovira) e "Amaia" (Lago). Os primeiros, já idos nos seus sessenta's, concentram-se na aceitação mais ou menos implícita, de uma vida a solo onde apenas podem esperar retirar alguns dias "menos maus" sem alguém a seu lado. Apaixonados - nem sempre secretamente - mas com o real receio de que não sejam aceites - mais ele que ela - aceitaram que o casamento (ou mesmo uma simples união) não é para eles... pelo menos não até os reais sentimentos de "Koldo" serem revelados para salvação de um dia melhor para "Rafa". Já este, concentrado num dolce fare niente que a sua vida lhe tem proporcionado, acorda finalmente quando compreende que o amor da sua vida - "Amaia" - poderá deixar de ser sua pelo compromisso que está prestes a aceitar com "Pau", um artista catalão demasiadamente concentrado na auto-adoração do que propriamente num amor que mais não é - para ele - do que algo de ocasião que irá satisfazer uma avó "independentista".
Ainda que os cómicos de situação derivados de alguns preciosismos independentistas tenham resultado em Ocho Apellidos Vascos, é também certo que em Ocho Apellidos Catalanes apenas funcionam pela óbvia e esperada conclusão que o espectador sente em relação a estas personagens que o apaixonaram há cerca de dois anos e não tanto pela dinâmica aqui recriada com um humor mais ligeiro, mais naïf e também um pouco mais resultante da ocasião do que propriamente pela comédia em si. Por outras palavras, se momentos existem em que nos fazem esboçar um sorriso... este já não é tão sentido como aquele tido há dois anos com Ocho Apellidos Vascos, muito mais espontâneo, emocional, divertido e até mesmo natural mas sim de uma certa "esperança" que desta vez o destino destas personagens seja aquele que nessa altura para eles desejámos.
Com vontade assumida de destacar os seus actores secundários esbatendo a interpretação de Rovira e Lago, Ocho Apellidos Catalanes é uma longa-metragem simpática, com momentos bem conseguidos e uma certa verve catalã - nunca havia visto tantas bandeiras da Catalunha juntas num filme - ou "barreiras" linguísticas que fazem uma vincada e assumida distinção entre as várias Espanhas de Espanha mas, ainda assim, não tem tanta alma (ou espírito) como o título original que agarrou os espectadores não só no país vizinho como também por todos aqueles por onde passou, que garantiu o Goya a três dos seus actores, Elejalde, Machi e Rovira - Actores Secundários e Revelação respectivamente - e que soube brincar com o amor, com as diferenças e com os estereótipos de um país que sabe, assumidamente, rir de si próprio e que não esquece uma vedeta - que o é - como Rosa Maria Sardà, aqui a dar alma a uma independentista catalã com valores de família e de conservadorismo bem firmes na sua mente.
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6 / 10
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sábado, 29 de outubro de 2016

DocLisboa - Festival Internacional de Cinema 2016: os vencedores

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Depois de dez dias de múltiplas sessões que decorreram na Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema e Fundação Calouste Gulbenkian, o DocLisboa - Festival Internacional de Cinema terminou hoje com o anúncio dos seus vencedores. São eles:
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Júri Internacional
Grande Prémio Cidade de Lisboa: Calabria, de Pierre-François Sauter
Menção Honrosa: Sol Negro, de Laura Huertas Millán
Prémio Sociedade Portuguesa de Autores: Azayz, de Ilias El Faris
Prémio FCSH - Melhor Primeira-Obra: 300 Miles, de Orwa Al Mokdad
Prémio Jornal Público: Downhill, de Miguel Faro
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Júri Nacional
Prémio Ingreme DocLisboa: Ama-San, de Cláudia Varejão
Prémio Kino Sound Studio: A Cidade onde Envelheço, de Marília Rocha
Prémio José Saramago: Correspondências, de Rita Azevedo Gomes
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Júri Escolas
Prémio Escolas ETIC: O Espectador Espantado, de Edgar Pêra
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Júri Verdes Anos
Grande Prémio La Guarimba: Pulse, de Robin Petré
Prémio Especial do Júri: O Cabo do Mundo, de Kate Saragaço-Gomes
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Prémio do Público: Cruzeiro Seixas - As Cartas do Rei Artur, de Cláudia Rita Oliveira
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Norman Brokaw

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1927 - 2016
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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

AACTA - Australian Academy of Cinema and Television Arts 2016: os nomeados

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Foram ontem divulgados os nomeados aos AACTA, prémios da Academia Australiana de Cinema e Televisão, nos quais se destaca o quase pleno de Hacksaw Ridge, a mais recente obra realizada por Mel Gibson que parte, portanto, como o mais sério candidato aos troféus.
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Melhor Filme
The Daughter, Jan Chapman e Nicole O'Donohue (prods.)
Girl Asleep, Jo Dyer (prod.)
Goldstone, Greer Simpkin e David Jowsey (prods.)
Hacksaw Ridge, Bill Mechanic, David Permut, Paul Currie e Bruce Davey (prods.)
Tanna, Martin Butler ADG, Bentley Dean ADG e Carolyn Johnson (prods.)
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Melhor Documentário
Chasing Asylum, de Eva Orner
In the Shadow of the Hill, de Dan Jackson
Remembering the Man, de Nickolas Bird e Eleanor Sharpe
Snow Monkey, de Lizzette Atkins e George Gittoes
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Melhor Curta-Metragem de Ficção
Bluey, de Darlene Johnson e Heather Oxenham
Dream Baby, de Lucy Gaffy e Kiki Dillon
Homebodies, de Yianni Warnock e Charles Williams
Nathan Loves Ricky Martin, de Steven Arriagada, Llewellyn Michael Bates e Bryan Chau
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Melhor Curta-Metragem de Animação
The Albatross, de Joel Best, Alex Jeremy e Alex Karonis
The Crossing, de Marieka Walsh e Donna Chang
Femme Enfant, de Bonnie Forsyth e Grace Lim
Oscar Wilde's "The Nightingale and the Rose", de Angie Fielder, Brendan Fletcher e Del Kathryn Barton
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Melhor Realização
Girl Asleep, Rosemary Myers
Goldstone, Ivan Sen
Hacksaw Ridge, Mel Gibson
Tanna, Bentley Dean ADG e Martin Butler ADG
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Melhor Actor Protagonista
John Brumpton, Pawno
Andrew Garfield, Hacksaw Ridge
Damian Hill, Pawno
Ewen Leslie, The Daughter
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Melhor Actriz Protagonista
Maeve Dermody, Pawno
Maggie Naouri, Joe Cinque's Consolation
Teresa Palmer, Hacksaw Ridge
Odessa Young, The Daughter
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Melhor Actor Secundário
Mark Coles Smith, Pawno
Damon Herriman, Down Under
Sam Neill, The Daughter
Hugo Weaving, Hacksaw Ridge
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Melhor Actriz Secundária
Kerry Armstrong, Pawno
Rachel Griffiths, Hacksaw Ridge
Miranda Otto, The Daughter
Anna Torv, The Daughter
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Melhor Argumento Original
Down Under, Abe Forsythe
Goldstone, Ivan Sen
Hacksaw Ridge, Andrew Knight e Robert Schenkkan
Pawno, Damian Hill
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Melhor Argumento Adaptado
The Daughter, Simon Stone
Girl Asleep, Matthew Whittet
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Melhor Montagem
The Daughter, Veronika Jenet
Girl Asleep, Karryn de Cinque
Goldstone, Ivan Sen
Hacksaw Ridge, John Gilbert
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Melhor Fotografia
Girl Asleep, Andrew Commis
Hacksaw Ridge, Simon Duggan
Spear, Bonnie Elliott
Tanna, Bentley Dean
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Melhor Música Original
Boys in the Trees, Darrin Verhagen
Gods of Egypt, Marco Beltrami
Tanna, Antony Partos
Teenage Kicks, David Barber
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Melhor Som
The Daughter, Liam Egan, Nick Emond, Tony Murtagh, James Andrews, Yulia Akerholt e Robert Sullivan
Gods of Egypt, Wayne Pashley, Peter Grace, Derryn Pasquill, Fabian Sanjurjo, Greg P. Fitzgerald e Peter Purcell
Hacksaw Ridge, Andrew Wright, Robert Mackenzie, Kevin O'Connell, Mario Vaccaro, Tara Webb e Peter Grace
Tanna, Emma Bortignon, James Ashton e Martin Butler
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Melhor Design de Produção
The Daughter, Steven Jones-Evans
Girl Asleep, Jonathon Oxlade
Goldstone, Matt Putland
Hacksaw Ridge, Barry Robison
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Melhor Guarda-Roupa
Girl Asleep, Jonathon Oxlade
Gods of Egypt, Liz Palmer
Hacksaw Ridge, Lizzy Gardiner
Spear, Jennifer Irwin
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Melhor Caracterização
A Place to Call Home, Wizzy Molineaux
Cleverman, Kath Brown, Simon Joseph e Troy Follington
Gods of Egypt, Lesley Vanderwalt, Lara Jade Birch e Adam Johansen
Hacksaw Ridge, Shame Thomas e Larry Van Duynhoven
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Melhores Efeitos Visuais ou Animação
Game of Thrones (S6E9) - Battle of the Bastards, Glenn Melenhorst e Ineke Majoor
Game of Thrones - Sept Wildfire Destruction (S6E10) - The Winds of Winter, Joe Bauer, Steve Kullback, Sam Conway, Hubert Maston e Anthony Smith
Gods of Egypt, Andrew Hellen, James Whitlam e Julian Dimsey
X-Men: Apocalypse, John Dykstra, Matt Sloan, Blondel Aidoo e Cameron Waldbauer
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Os vencedores serão conhecidos no próximo dia 7 de Dezembro, numa cerimónia que se irá realizar no The Star Event Centre, em Sydney.
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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A Monster Calls (2016)

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Sete Minutos Depois da Meia-Noite de Juan Antonio Bayona é uma longa-metragem espanhola e a mais recente do realizador de El Orfanato (2007) e Lo Imposible (2012).
Connor (Lewis MacDougall) é um jovem emocionalmente perturbado que vive com a doença da mãe (Felicity Jones) e ainda vítima de bullying às mãos de alguns dos outros alunos da escola que frequenta.
Incapaz de enfrentar ambas as realidades, Connor desperta a atenção de um Monstro (Liam Neeson) que o visita para dele retirar a verdade que não quer assumir. Conseguirá Connor sobreviver às visitas deste Monstro ou irá permanecer num impasse emocional que desconhece?
Patrick Ness escreve o argumento de A Monster Calls adaptando a sua obra homónima naquele que é um filme que une fantasia e realidade numa história de contornos dramáticos e assumidamente de descoberta e crescimento. Desde os instantes iniciais desta obra, o espectador conhece o jovem "Connor" que vive inconscientemente dois importantes dilemas; o primeiro com a sua situação doméstica onde cuida de uma mãe vítima de um cancro. Sem pai ou com um distanciamento de uma avó que é - para ele - autoritária e controladora, "Connor" assume que a responsabilidade de todas as lides é apenas sua. Incapaz de aceitar que a sua mãe está fisicamente mal, "Connor" trata-a como um seu dever esquecendo que ele próprio ainda nem dele sabe cuidar. O segundo dilema, também ele relacionado com a temática da "aceitação" prende-se com a sua situação escolar e com o bullying de que é vítima e que sofre em silêncio deixando-se permanecer num anonimato social que perpetuam a sua condição. Se por um lado "Connor" sente-se incapaz de falar sobre o que o preocupa, por outro vive numa instabilidade emocional que o impedem de um crescimento livre e saudável.
É então que, inconscientemente, "Connor" encontra o seu único refúgio no conto imaginado de um monstro que habita nas traseiras da sua casa por debaixo de uma enorme árvore que contempla como receptáculo de algo por desvendar. Para ele o monstro que o visita é inicialmente um medo que o inquieta e deixa receoso quanto às suas intenções numa vida que é, desde o primeiro instante, já atormentada pela situação que vive tanto dentro como fora de portas. Assim, este novo elemento que percebemos ser só visível aos seus olhos poderá, de uma ou outra forma, constituir-se também ele, como mais um problema que "Connor" não sabe como resolver. Mas, este monstro vem com uma missão muito própria...
O "Monstro" - porque lhe desconhecemos uma identidade apenas revelada num detalhe muito particular - tem três histórias por contar. Três histórias de sobrevivência, de aprendizagem mas, sobretudo, três contos que não são tão simples como aparentam quando contados e carregam todo um conjunto de ensinamentos que se destinam a "tornar um pouco mais adulto" este jovem que já se assumiu como tal pela força das condições em que vive. O primeiro relata a história de um Rei que habitou aquelas terras muitos anos antes deles ali se encontrarem... Rei esse que, estando viúvo, volta a casar com uma mulher frívola e que, segundo rezava a lenda, o envenenou para usurpar o trono e expulsando o filho do Rei. A segunda história é a deste Príncipe que foge do reino com a sua amada para viver uma história de amor mas que, depois de adormecer debaixo de uma árvore - a mesma do "Monstro" - acorda com a sua amada morta às suas mãos. Finalmente, o terceiro conto, é a história de um homem rico que recusa cortar uma árvore para fornecer as suas raízes a um curandeiro até que estas são necessárias para cuidar da saúde das suas filhas moribundas. Entre verdadeiro amor (primeira história), a usurpação do poder (segunda história) e finalmente a vivência de um dilema moral (terceira história), todos estes relatos contados pelo "Monstro" têm um fundamento que obriga "Connor" a olhar para lá das supostas evidências que os contos lhe revelam obrigando-o não só a observar as acções para lá das impressões como também as palavras ditas em contraposição àquelas que foram relatadas pelo chamado senso comum. Será a nova Raínha assim tão má? Será o Príncipe assim tão bom? O homem rico assim tão altruísta? Existirão realidades mais profundas que desconhece(mos) ou tudo quanto é inicialmente apresentado pode ser discutido e percebido como uma realidade aparentemente mais fiável? Será tudo como inicialmente o percebemos... ou todas as histórias têm um lado (in)voluntariamente oculto que preferimos não ver?!
Mas o mais importante destas visitas deste "Monstro" não são as histórias que ele conta mas sim o anúncio daquilo que espera para a quarta noite. A esperança de que "Connor" conte, finalmente, a sua própria história... Aquilo que o preocupa, que ele não assumiu e que define - de forma geral - toda a sua breve existência num mundo que (lhe) parece distante, despreocupado e desinteressante. Quais são, afinal, os pensamentos que tem... os medos que sente... as esperanças que esconde? No fundo, quem é "Connor" para lá do jovem rapaz que vive num clima de medo desconhecido por todos aqueles com quem convive de uma ou outra forma?
Patrick Ness usa habilmente no seu argumento diversos elementos escondidos na mente de uma criança e que podem justificar muitos dos comportamentos tidos em situação de crise. Por outras palavras, existirá mesmo um monstro que só as crianças vêem? Quem são, ou o que pensam, quando deparadas com uma situação limite que não conseguem compreender ou justificar? Ou mais... Será que não conseguem de facto compreender que todo o seu mundo está a ruir e que são apenas os "mais velhos" que compreendem a real dimensão de um drama prestes a acontecer?!
Desta forma, em A Monster Calls ganham corpo todos estes elementos transformados em pequenas histórias de sobrevivências, de luta, de conquista e sobretudo de queda de barreiras psicológicas que (o) impedem de ver o mundo "mais ou menos" como ele é. Desde o sofrimento, tantas vezes ignorado ou incapaz de ser posto por palavras, de uma criança que percebe e sente - nunca o admitindo - a perda de um progenitor, ao distanciamento de outro que já tem uma nova família (e vida) com que se preocupar a uma difícil expressão do amor de uma avó que - não perceptível para ele mas sim para o espectador - não tem força para amar um neto quando se encontra a braços com a perda da sua única filha. A este distanciamento físico - do pai - e psicológico - da avó - para com as únicas duas pessoas que lhe restam no mundo após a partida de uma mãe que o tenta preparar - saberemos como apenas no final de A Monster Calls - juntam-se os seus próprios sentimentos de compreensão e aceitação da perda, ao silêncio de uma dor sentida mas não partilhada - afinal quem se preocupa com uma jovem criança quando os adultos também não sabem ou compreendem como lutar com a sua própria dor e a sensação de uma incapacidade de amar aqueles que dele estão ausentes - deixando-o entregue ao mundo imaginado (ou talvez não) que o próprio cria para se proteger de uma realidade que se aproxima.
Juan Antonio Bayona que conquistou todos e mais uns quantos como o seu El Orfanato e que voltou a bisar com Lo Imposible, recupera a temática da perda presente nestas duas obras mas principalmente muito da mística envolta na obra protagonizada por Belén Rueda. Ao contrário de Lo Imposible que sabemos ser o retrato de uma das muitas histórias verídicas que o trágico tsunami no Índico provocou, A Monster Calls é a junção de uma história que sim... pode ser real - a tal perda -, mas vista da perspectiva de uma criança que tenta desesperadamente perceber como lhe sobreviver, ou seja, a forma como "Connor" cria o seu próprio mundo para colmatar a sensibilidade afectiva que lhe falta para sobreviver àquilo que (secretamente) sabe ser uma inevitabilidade. Bayona recupera ainda a sua tradição em colocar uma jovem personagem no centro de toda uma trma... tivemo-lo em El Orfanato ainda que aqui apenas como o mote para que outra personagem tivesse um "rumo" para a sua história, mas segue sim o protagonismo tido em Lo Imposible onde um jovem adolescente encontra um evento traumático para se transformar num adulto... antes do seu tempo.
A capacidade de crescer e "envelhecer" antes do seu próprio tempo e a necessidade de encarar o mundo tal como ele é - momentos positivos à parte... os elementos negativos são aqueles que geram mais dificuldade em com eles lidar e conseguir ultrapassar - são o tema central desta obra de Ness e que Bayona dirige de forma irrepreensível através de uma abordagem que, para os adultos, possa fazer chegar um vislumbre de como os mais novos encontram forma de superar a dor, a perda ou até mesmo a incapacidade de adaptação face ao seu mundo.
Com alguns dos melhores técnicos do cinema de nuestros hermanos por detrás da execução de A Monster Calls - Óscar Faura na fotografia, Bernat Vilaplana e Jaume Martí na edição, David Martí e Montsé Ribé na caracterização, Oriol Tarragó e Marc Orts no som, Félix Bergés e Pau Costa nos efeitos visuais ou Fernando Velázquez na música -, Juan Antonio Bayona volta a entregar um sucesso imediato na bilheteira, e no cinema espanhol, ao qual junta nomes bem conhecidos do grande público como Felicity Jones e Toby Kebbell - os apaixonados da segunda história que é contada a "Connor" - como os pais distantes do jovem protagonista, Sigourney Weaver como sua aparentemente frívola avó - a Raínha (não tão) má do primeiro conto que lhe é revelado - e ainda Liam Neeson como o "Monstro" (e não só) - como o irascível curandeiro do terceiro e último conto - que o atormenta e faz crescer. Mas a grande revelação é sem dúvida Lewis MacDougall que oscila entre o inicialmente perturbado mas reservado jovem que aos poucos começa não só a verbalizar como também a transparecer nos seus comportamentos, toda a instabilidade emocional que sente pela aparente, e próxima, transformação de toda uma vida que fora, até então, vivida apenas na companhia de uma mãe que sentia e sabia, amá-lo incondicionalmente. MacDougall, e muito possivelmente Weaver, poderão ser nomeados ao Goya da Academia Espanhola de Cinema - e muito merecidamente - com estas duas interpretações que aparentam encontrar-se em lugares muitos distantes de um desenvolvimento emocional mas que, na realidade, são apenas o espelho - em gerações distintas - de uma mesma dor sentida, sofrida mas nunca confirmada.
Do conto sobre a realidade a uma história imaginada para retratar a mesma, A Monster Calls é a confirmação - mais uma - de que Bayona sabe contar e dirigir uma história... mesmo que tenhamos de passar anos à sua espera... que se apega à imaginação para filmar a tal realidade e que é nos pequenos detalhes, muitas vezes esquecidos no decurso de uma dramatização acentuada, que residem as respostas que não só ansiamos como explicam a origem de uma segurança que apenas tarde se confirma.
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"The Monster: This is the story of a boy to young to be a man... but too old to be a boy."
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10 / 10
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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Michael Massee

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1955 - 2016
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Sarah Winchester, Opéra Fantôme (2016)

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Sarah Winchester, Opéra Fantôme de Bertrand Bonello é uma curta-metragem francesa presente na secção New Visions do DocLisboa - Festival Internacional de Cinema, este que é o mais recente trabalho do realizador de L'Apollonide (Souvenirs de la Maison Close) (2011) e Saint Laurent (2014).
Uma ópera por vir. Uma peça ainda fantasma que se avizinha. A história maldita de Sarah Winchester como tema de inspiração. Um ensaio do coro e os testes de som. Da Ópera da Bastilha à Ópera Garnier.
Bertrand Bonello que tem sido consistente na recriação de momentos históricos muito particulares como podemos testemunhar nas obras anteriormente referidas, volta a um espaço invulgar com este Sarah Winchester, Opéra Fantôme onde por entre os ensaios de uma ópera na actualidade recria (ou tenta) a trágica história de uma Sarah Winchester - mulher do fabricante de armamento - cuja família enriqueceu e se perdeu num conjunto de momentos macabros.
Da loucura à solidão, da perda labiríntica da mente e do corpo naquele que seria o seu túmulo maior - uma casa fantasmagórica - Sarah Winchester deixou-se levar da sua formosura a uma existência perdida com a morte do marido e do seu jovem bebé refugiando-se na referida demência que a acompanhou até ao último dos seus dias.
Em Sarah Winchester, Opéra Fantôme, Bonello pretende demonstrar a inexistência de um espectáculo do qual o espectador apenas escuta breves trechos musicais e corais em sumptuosas salas de espectáculo que recriam a dimensão da habitação Winchester onde persistem as inúmeras almas daqueles que já ali actuaram e assistiram a espectáculos diversos. Pelos corredores uma única alma perdida... a de uma criança anónima (ou talvez não). Nos calabouços a testar o som temos um Reda Kateb que insiste na criação de uma obra única e a dar corpo a um ensaio traumatizante uma Marie-Agnès Gillot perdida nessa mesma execução e na dor de uma concretização por vir.
Fantasmagórico, labiríntico e por vezes até mentalmente nefasto, Sarah Winchester, Opéra Fantôme é um filme documental diferente, que insere a História passada num momento actual descoordenando propositadamente o espaço e essa dimensão de tempo criando uma certa esquizofrenia de incerteza que desperta as almas daqueles que já foram.
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7 / 10
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Shortcutz Viseu - Sessão #81

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O Shortcutz Viseu regressa no próximo dia 28 de Outubro com a Sessão #81 e com o habitual segmento de Curtas em Competição onde serão exibidos os filmes curtos 4242, de Sara Eustáquio e Natureza Morta, de João Horta estando ambos os realizadores presentes na sessão para apresentar os seus filmes e falar com o público.
No segmento Shortcutz Around the World será exibido o filme Exist, de Klaas Arie Westland (Holanda) inicialmente exibida pelo Shortcutz Amsterdam na rede Shortcutz.
Como é habitual o Carmo'81 é a casa do Shortcutz Viseu e a próxima sessão começa pelas 22 horas da próxima sexta-feira.
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terça-feira, 25 de outubro de 2016

European Film Awards 2016: nomeados a Filme de Comédia e Filme de Animação

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A Academia Europeia de Cinema divulgou hoje os filmes nomeados para as categorias de Melhor Filme de Comédia e Melhor Filme de Animação.
Na categoria de Animação um comité constituído por Antonio Saura (Espanha), Tomm Moore (Irlanda) e Anja Sosic (Polónia) - representantes da Academia - e ainda por Karsten Kiilerich (Dinamarca), Marc Du Pontavice (França) e Vincent Tavier (Bélgica) - da CARTOON - nomeou os seguintes filmes:
  • Ma Vie de Courgette, de Claude Barras (França/Suíça)
  • Psiconautas, Los Niños Olvidados, de Alberto Vázquez e Pedro Rivero (Espanha)
  • La Tortue Rouge, de Michael Dudok De Wit (França/Bélgica)
Na categoria de Comédia,  um comité composto por Ada Solomon (Roménia), Nacho Carballo (Espanha), Kim Foss (Dinamarca), Nik Powell (Reino Unido) e Marten Rabarts (Holanda) nomeou os seguintes filmes:
  • En Man Som Heter Ove, de Hannes Holm (Suécia/Noruega)
  • Er Ist Wieder Da, de David Wnendt (Alemanha)
  • La Vache, de Mohamed Hamidi (França)
Os vencedores serão conhecidos numa cerimónia a realizar no próximo dia 10 de Dezembro em Wroclaw - Capital Europeia da Cultura 2016 -, na Polónia.
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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Vangelo (2016)

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Vangelo de Pippo Delbono é um documentário em formato de longa-metragem de co-produção italiana, suíça, belga e francesa presente na Competição Internacional do DocLisboa - Festival Internacional de Cinema que decorre em Lisboa até ao próximo dia 30 de Outubro.
O realizador Pippo Delbono abre este documentário com uma breve reflexão sobre o seu momento emocional. Com um diagnóstico de HIV recentemente divulgado e a morte da sua mãe com quem - deduz o espectador - tinha uma grande cumplicidade, Delbono questiona o seu lugar no mundo e o que poderá fazer para encontrar um núcleo no qual se possa enquadrar. No entanto, as aparentes boas intenções de firmar - e filmar - algo com um conteúdo histórico e sociológico importante iriam terminar muito rapidamente à medida que Vangelo se "abre" e revela a sua verdadeira mensagem... Por onde começar?!..
Delbono "arranca" com uma importante - pela negativa - frase quando revela que o único local onde poderá sentir-se bem na sua comiseração será ao "lado" daqueles que (tal como ele?!) sofrem e vivem situações desesperadas. É um facto, a perda de um parente próximo como um progenitor ou até mesmo a confirmação de padecer de uma fragilidade a nível de saúde podem distorcer a compreensão do mundo tal como ele é e equiparar - por baixo - todos os demais problemas do mundo classificando "o nosso" como o pior de todos eles. Mas, questiono-me, até que ponto isto se torna verdade quando se utiliza a débil condição alheia para um qualquer regozijo pessoal manobrando a infelicidade para um qualquer prazer pessoal?! Vejamos os exemplos...
Em primeiro lugar temos o realizador "martirizado" numa penosa viagem até um centro de acolhimento de refugiados - aqueles inúmeros e largos milhares que assolam a costa Europeia nos últimos anos e que só recentemente são falados - com os quais se cruza num registo de desfile de moda junto a um milheiral... Pretensiosamente dispersos pelo referido campo - qual camuflado da tropa - Delbono filma-os como que os seus modelos recentemente adquiridos - não utilizarei contratados - para, ao som de uma respiração ofegante e francamente incomodativa - questioná-los e expô-los ao "mundo". "Come ti chiami?""What's your name?" são as perguntas da praxe como se todos eles tivessem obrigatoriamente de dominar as referidas línguas e satisfazer os caprichos de um italiano (in)satisfeito com o seu quotidiano. Como meros manequins - ou melhor bonecos - o espectador percebe os momentos inconvenientes, incómodos e até mesmo despropositados criados pelo realizador junto deste grupo de homens que parecem querer transmitir uma mensagem - a sua - sem que nunca esta seja desejada. Assumidamente, para ver um desfile de moda... teria escolhido outro "canal"...
Como se isto já de si não fosse um início pouco promissor, Delbono presenteia o espectador com mais um espectáculo decadente e até imoral - digo-o eu que não sou um católico praticante - ao tentar recriar a Paixão de Cristo e demais momentos da vida de Jesus - Última Ceia incluída - com um conjunto de homens que sabemos confessar a religião islâmica. Que reconhecem Jesus como um Messias já o sabemos... mas daí a relevarem a história do dito mundo ocidental como uma certeza ou conferirem-lhe a importância que por cá se dá... é uma história completamente diferente. Como os momentos, arrisco dizer, péssimos não terminam eis que Delbono parece desenvolver uma estranha obsessão por um dos "seus" homens que tragicamente começa a observar como o "Jesus" lá do grupo. Por dois momentos assistimos a uma adoração da (sua) câmara para com este homem que repentinamente começa - o realizador - a despir e vestir com um manto... qual Santo Sudário!!!, e se este momento por si não fosse já suficientemente incómodo, Delbono tinha de o abrilhantar com a sua persistente respiração ofegante naquilo que facilmente qualquer espectador poderia considerar um momento masturbatório (qual pornografia light) - não, não estou a exagerar - e este documentário que já havia perdido toda a sua mensagem simbólica ganha contornos não só assustadores como ofensivos - já para não mencionar as referências sublimares a um conjunto de homens que... como não sabem a tradição cristã serão, certamente, meros selvagens que a civilização ocidental agora quer cristianizar.
Andar sobre a água não sabem... que também não conhecem os nomes dos apóstolos é um facto normal, agora que seja necessário levar estes homens a recriar a prisão dos ditos e transformá-los em meros hereges aprisionados para se manterem fora de uma sociedade "normalizada" é transformar Vangelo num circo pouco cristão ou, aliás, pouco humano.
Quando tudo está perdido num misto de estupefacção e incredulidade, Delbono resolve dar o ar de graça daquele que deveria ser o verdadeiro propósito deste documentário entregando ao espectador o relato de um dos "seus" refugiados a bordo de um pequeno barco que o mesmo revela ser semelhante a um daqueles em que viajou e no qual viu desaparecer um dos seus amigos. Se este breve - muito breve - momento foi único a criar no espectador uma empatia para com o seu sofrimento, o realizador cedo resolve recriar mais uma alarvidade e imoralidade ao retirar a identidade destes homens que, numa festa regional, deixam de ter o seu nome sendo baptizados com os nomes dos apóstolos... Pedro, Paulo, Lucas, Mateus e até um Judas que é rapidamente ridicularizado em público... questiono-me se estes homens perceberam a real dimensão desta exposição ou se, por sua vez, não foram mais que meros joguetes na satisfação dos caprichos de um homem de meia idade com dinheiro e tempo a mais nas suas mãos... Como cereja no topo de um bolo mal confeccionado temos ainda a recriação de uma Última Ceia que transforma os recentemente adquiridos apóstolos em meros bárbaros numa mesa a escutar I Feel Good ao vivo, sabendo que o seu destino será a deportação para as suas trágicas origens ou, quem sabe, para a confirmação de uma esperada miséria, doença e morte...
Que o cinema pode ter uma importância extrema na transparência e transmissão de uma mensagem já todos nós sabemos... infelizmente está ainda pouco explorada a sua capacidade de propagandear um conjunto de ideias extremistas como se o alvo de uma investigação - neste caso os refugiados - mais não fosse do que um conjunto de bonecos disponíveis para manobrar como joguetes de uma instrumentalização não política mas sim pessoal satisfazendo, de forma desumana, o sofrimento alheio como forma de poder (o "eu") alcançar um dia de amanhã mais tranquilo e contente.
Depois disto, a minha única e possível apreciação sobre Vangelo poderá resumir-se numa única palavra... Imoral. Imoral pela forma como ridiculariza as condições precárias de um conjunto de homens perdidos num país que não o seu, depois de uma trágica viagem pelo Mediterrâneo na qual assistiram à morte de tantos dos seus e que chegam ali, esperando uma vida melhor, mas deparam-se com um inferno não tanto pelas más condições de vida que ainda se mantêm - pela escassez e demora de tempo em regularizar as suas situações - mas sim pela forma como todo o seu sofrimento é primeiramente desumanizado, depois ridicularizado e finalmente alvo de uma única resposta... "obrigado... mas tem de regressar"... Enquanto isto... esta "coisa" cinematográfica vai percorrendo uns festivais de cinema por esse mundo (desatento) fora enquanto que os outros... regressaram (ou não) ao país de origem onde "se sabe bem viver e têm boa música".
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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Gotham Independent Film Awards 2016: os nomeados

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Melhor Longa-Metragem
Certain Women, de Kelly Reichardt (real.) Neil Kopp, Vincent Savino e Anish Savjani (prods.) - (IFC Films)
Everybody Wants Some!!, de Richard Linklater (real.) Megan Ellison, Ginger Sledge e Richard Linklater (prods.) - (Paramount Pictures)
Manchester by the Sea, de Kenneth Lonergan (real.) Kimberly Steward, Matt Damon, Chris Moore, Lauren Beck e Kevin J. Walsh (prods.) - (Amazon Studios)
Moonlight, de Barry Jenkins (real.) Adele Romanski, Dede Gardner e Jeremy Kleiner (prods.) - (A24)
Paterson, de Jim Jarmusch (real.) Joshua Astrachan e Carter Logan (prods.) - (Amazon Studios)
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Melhor Documentário
Cameraperson, de Kirsten Johnson (real.) Marilyn Ness (prod.) - (Janus Films)
I Am Not Your Negro, de Raoul Peck (real.) Rémi Grellety, Raoul Peck e Hébert Peck (prods.) - (Magnolia Pictures)
O.J.: Made in America, de Ezra Edelman (real.) Caroline Waterlow, Ezra Edelman, Tamara Rosenberg, Nina Krstic, Deirdre Fenton e Erin Leyden (prods) - (ESPN Films)
Tower, de Keith Maitland (real.) Keith Maitland, Megan Gilbride e Susan Thomson (prods.) - (Kino Lorber, Independent Lens)
Weiner, de Josh Kriegman e Elyse Steinberg (reals. e prods.) - (Sundance Selects and Showtime Documentary Films)
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Prémio Bingham Ray - Realizador Revelação
Robert Eggers, The Witch
Anna Rose Holmer, The Fits
Daniel Kwan e Daniel Scheinert, Swiss Army Man
Trey Edward Shults, Krisha
Richard Tanne, Southside with You
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Melhor Actor
Casey Affleck, Manchester by the Sea
Jeff Bridges, Hell or High Water
Adam Driver, Paterson
Joel Edgerton, Loving
Craig Robinson, Morris from America
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Melhor Actriz
Kate Beckinsale, Love & Friendship
Annette Bening, 20th Century Women
Isabelle Huppert, Elle
Ruth Negga, Loving
Natalie Portman, Jackie
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Actor/Actriz Revelação
Lily Gladstone, Certain Women
Lucas Hedges, Manchester by the Sea
Royalty Hightower, The Fits
Sasha Lane, American Honey
Anya Taylor-Joy, The Witch
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Melhor Argumento
Hell or High Water, Taylor Sheridan
Love & Friendship, Whit Stillman
Manchester by the Sea, Kenneth Lonergan
Moonlight, Tarell Alvin McCraney e Barry Jenkins
Paterson, Jim Jarmusch
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Elenco: Moonlight, Mahershala Ali, Naomie Harris, Alex Hibbert, André Holland, Jharrel Jerome, Janelle Monáe, Jaden Piner, Trevante Rhodes, e Ashton Sanders
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Série Revelação - Longa Duração
Crazy Ex-Girlfriend, Rachel Bloom e Aline Brosh McKenna (creadores) Marc Webb, Rachel Bloom, Aline Brosh McKenna e Erin Ehrlich (prods. Exesc.) - (The CW)
The Girlfriend Experience, Lodge Kerrigan e Amy Seimetz (creadores) Steven Soderbergh, Philip Fleischman, Amy Seimetz, Lodge Kerrigan, Jeff Cuban e Gary Marcus (prods. execs.) - (Starz)
Horace and Pete, Louis C.K. (creador) M. Blair Breard, Dave Becky, Vernon Chatman e Dino Stamatopoulos (prods. execs.) - (louisck.net)
Marvel’s Jessica Jones, Melissa Rosenberg (creador) Melissa Rosenberg, Liz Friedman, Alan Fine, Stan Lee, Joe Quesada, Dan Buckley, Jim Chory, Jeph Loeb e Howard Klein (prods. execs.) - (Netflix)
Master of None, Aziz Ansari e Alan Yang (creador) Michael Schur, David Miner e Dave Becky (prods. execs.) - (Netflix)
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Série Revelação - Curta Duração
The Gay and Wondrous Life of Caleb Gallo, Brian Jordan Alvarez (creador) - (YouTube)
Her Story, Jen Richards e Laura Zak (Creadores) - (herstoryshow.com)
The Movement, Darnell Moore e Host - (Mic.com)
Sitting in Bathrooms with Trans People, Dylan Marron (creador) - (Seriously.TV)
Surviving, Reagan Gomez (creador) - (YouTube)
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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

They Look Like People (2015)

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They Look Like People de Perry Blackshear é uma longa-metragem independente norte-americana que nos relata o reencontro entre Wyatt (MacLeod Andrews) e Christian (Evan Dumuchel), um seu amigo de infância com quem há muito não se cuzava.
Perdido num ambiente que lhe parece estranho, Wyatt prepara-se para uma difícil tarefa quando julga que todo o mundo se prepara para uma invasão que substituirá todos os seus conhecidos por outras entidades e pretende salvar aquele que foi o seu único apoio em tempos idos. Numa encruzilhada entre a realidade e aquilo que parece ser o fim da humanidade tal como a conhecemos, conseguirá Wyatt salvar a única alma ainda pura ou tudo não passa de um invulgar distúrbio do qual ele não se liberta?
Os instantes iniciais de They Look Like People são determinantes para classificarmos o filme de Perry Blackshear numa de duas categorias... Ou o espectador está perante um filme cujo argumento se encaminhará para uma história muito semelhante à de Body Snatchers (1993), de Abel Ferrara ou The Invasion (2007), de Oliver Hirschbiegel nos quais entidades alienígenas se preparam para "ocupar" os corpos humanos habitando, dessa forma, o planeta Terra ou, por outro lado, uma história na qual estamos frente a uma personagem cujo distúrbio psicológico é grave o suficiente para considerar e ver em todos aqueles que o rodeiam potenciais inimigos que têm de ser "dispensados".
Numa viagem que revisita o passado dos dois amigos ao mesmo tempo em que conhecemos mais do presente de ambos, They Look Like People assume-se desde o primeiro momento como uma história que pretende ver triunfar o poder de uma amizade consumada. Se por um lado temos um "Christian" que se apresenta como um homem de sucesso profissional, confiante e que tem todas as mulheres aos seus pés, cedo percebemos que lhe falta o essencial... a presença constante de um amigo com quem possa reviver momentos de uma descomprometida descontracção que o mostrem tal como ele é. É o reacender desta chama de amizade com "Wyatt" que o vai, por um lado, revelar em toda a sua fragilidade, nomeadamente a profissional que não é tão segura como aparenta como, por outro, o fazem perceber que está tão disponível para o seu amigo como este esteve - noutros tempos - para com ele. No entanto, se a cumplicidade que "Christian" faz sentir em relação a "Wyatt", já este último parece estar sempre com motivos secundários na relação que exibe em relação ao seu amigo de infância. "Wyatt" é um homem preocupado, inquieto e assumidamente receoso de tudo o todos quanto o rodeiam. Nada é - para ele - como aparenta, e todos poderão ser eventuais alvos a abater caso o verdadeiro confronto se confirme e ele só tenha "Christian" a seu lado - ou talvez não... Numa verdadeira preparação para um futuro inesperado, os comportamentos de "Wyatt" transformam-se num ritual de sobrevivência e nada o impedirá de recorrer à mais cruel das torturas se assim fôr necessário.
Se o espectador começa a acreditar que está de facto perante uma invasão alienígena e que o fim do mundo como o conhecemos está prestes a desaparecer existem, no entanto, diversos outros factores que o impelem a captar uma outra dimensão - e eventualmente mais real - de que "Wyatt" se encontra num ponto de viragem da sua vida onde uma esquizofrenia ainda por detectar está prestes a tomar conta do seu comportamento e do seu pensamento nomeadamente graças à recepção de misteriosos telefonemas que durante a noite o alertam para a chegada de "dias novos". Na prática a dúvida fica lançada pois... quem saberia de tal "invasão" ou sequer o alertaria - um simples desconhecido - para o fim dos tempos? Com que propósito? Como se conseguiria ele - um simples mortal - salvar de tão grande destruição? Numa calma aparente mas severamente atormentado por um conjunto de pensamentos que não o abandonam, "Wyatt" é um homem à beira do seu próprio limite e qualquer factor que seja alheio ao seu controlo pode despoletar uma chacina que (para ele) determinará a sua salvação.
Tendo sempre em mente esta dicotomia, They Look Like People é, no entanto, uma simpática e bem construída história sobre a sobrevivência do Homem não per si mas sim pelos laços que o unem aos demais. Pela forma como este mesmo Homem - no seu sentido lato - sobrevive em comunidade quando parece imperar o individualismo, a força de um poder material que comanda o mundo ignorando, por outro lado, os laços primários estabelecidos que determinam aquilo que conhecemos como família, amigos e, de certa maneira, aquilo que cada um de "nós" realmente é. No fundo aquilo que They Look Like People questiona o espectador é até bem simples... até que ponto estará cada um de nós disposto a ir para salvar a vida de um amigo em necessidade? Compreender os seus problemas... o que o afecta... as suas crises... e, no fundo, aquilo que independentemente dos seus demónios pessoais... faz dele um humano...
A dupla Andrews e Dumouchel funciona de forma perfeita e os momentos em que recuperam muita da sua juventude perdida agora que entram nos seus trinta's é a confirmação de que as amizades subsistem e resistem a todas as adversidades e distanciamentos. E Andrews, enquanto homem atormentado e preso dentro do seu próprio pensamento, consegue interpretar alguns intensos e dramáticos segmentos nomeadamente aqueles em que a sua personagem compreende que algo mais o atormenta do que uma invasão desconhecida.
Inteligente e com uma importante mensagem sobre o sacrifício e a amizade, They Look Like People consegue - independentemente de todas as condicionantes de um filme independente - ter um argumento coeso e uma construção firme e bem estruturado sendo essencialmente uma aposta bem sucedida de toda uma equipa e de um realizador e argumentista que aqui tem a sua primeira longa-metragem.
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7 / 10
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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Do Not Resist (2016)

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Do Not Resist de Craig Atkinson é um documentário norte-americano que tem como base os incidentes ocorridos em Ferguson, no Missouri nos Estados Unidos após a morte de Mike Brown, um cidadão afro-americano em Agosto de 2014, às mãos de um corpo policial cada vez mais militarizado.
Partindo desta premissa, este documentário avalia a rápida militarização e vigilância de uma sociedade cada vez mais dividida e atormentada pelas sucessivas injustiças sócio-culturais que afastem, dividem e minam a confiança num sistema que parece previlegiar uns e destruir aqueles que já são mais desfavorecidos na mesma.
Com um elevado sentido descritivo sobre uma sociedade que se militariza tanto a nível civil como policial Do Not Resist deixa ainda um interessante e igualmente preocupante alerta sobre a forma como se desenvolvem estudos raciais aplicados ao aumento da taxa de criminalidade e à violação da lei e da ordem que o país parece sentir.
A partir do acontecimento já referido, este documentário começa por alertar para comportamentos de manutenção da ordem social apenas registados em cenários de guerra - como o recolher obrigatório por exemplo -, para depois questionar de forma pertinente os métodos utilizados pela polícia para prevenir e travar o crime. É aqui que começam as grandes dúvidas para o espectador que se questiona em primeiro lugar sobre a forma como os departamentos locais de polícia de cidades rurbanas necessitam de equipamento desmilitarizado - outrora de cenários de guerra e agora "despojos" de conflitos em que os Estados Unidos participaram - para a manutenção de ordem sobre pequenos conflitos ou manifestações que nelas ocorram? No seu seguimento, o espectador equaciona a verdadeira necessidade destes equipamentos quando, na realidade, sabe que o país atravessa graves dificuldades a nível de educação, saúde e até de miséria económica mas, por outro lado, existem fundos suficientes para adquirir este equipamento especialmente se considerarmos que os locais intervencionados não necessitam do mesmo...
Como uma consequência directa deste último aspecto, e também referenciado no próprio documentário, existe uma questão levantada sobre a militarização da sociedade num país que proíbe constitucionalmente a existência de um exército que actue nas ruas do país... como resposta pouco esclarecedora... a polícia não é comparada a um exército mas sim a uma força de manutenção da ordem. Tendo em seu poder equipamento que fora utilizado em cenário de guerra e que aqui é simplesmente "reconvertido" em equipamento "local"... as dúvidas sobre essa militarização de uma força de segurança - bem como os treinos e acções de formação que recebem - é altamente questionada deixando, inclusive, uma imagem curiosa quando nas ruas de pequenas cidades afastadas do rebuliço cosmopolita de outras como Nova York, podemos ver a circular pelas estradas interiores jipes que mais se assemelham a tanques de guerra... até que ponto - pensamos - não estamos perante um excessivo controlo policial interno que, em certa medida, para lá de prevenir e controlar desacatos poderá impedir - pelo receio - o direito à manifestação.
Um outro aspecto curioso em Do Not Resist é a forma como retrata o policiamento invisível das suas cidades, ou seja, através da adjudicação dos serviços e controlo e segurança a empresas privadas que com mais meios e recursos podem controlar todos os indivíduos que considerem "suspeitos". Considerando que a polícia aqui é um mero alvo de "informação disponibilizada", o espectador questiona-se sobre de que forma poderão estas entidades privadas utilizar os meios que têm disponíveis - visto terem permissão para tal - para controlar opositores, detratores das suas actividades ou até mesmo indivíduos que com eles tenham registado algum problema, subvertendo uma "investigação" numa caça ao homem... sendo o "homem" um mero inocente vítima de uma punição pessoal...
Finalmente, e eventualmente o aspecto que mais controvérsia (me) gerou foi a reacção a um evidente tensão inter e intra-racial. A primeira pela forma como se expõe em Do Not Resist a "dedução lógica" de que o "outro" - apenas pela diferença de um tom de pele - é um potencial criminoso que deve - ou pode - ser investigado e, por sua vez, a forma como polícias também eles (neste caso em particular) afro-americanos lidam com os cidadãos que são apontados... apenas pela cor da sua pele. Em que lugar se posicionam estes indivíduos que têm, por um lado, de manter a paz e a ordem e por outro se vêem forçados a investigar aqueles que sempre conheceram não pela suspeita de um crime... mas pela suspeita de que por serem de uma dada etnia podem tê-lo cometido...
Como directa consequência deste último factor, Do Not Resist lança aquele que é - na minha opinião - o aspecto mais preocupante de toda esta temática na medida em que pleno século XXI são ainda questionadas as origens, etnias e as chamadas "raças" como factores determinantes de uma "previsibilidade" de perpetração de crime. Por outras palavras, para alguns estudiosos é mais possível alguém de uma etnia que não a chamada caucasiana cometer um crime do que estes... devido a origens potencialmente mais humildes, sujeitos ao abuso e consumo de drogas duras ou mesmo meios economicamente menos previlegiados. Por momentos recordei o filme Minority Report (2002), de Steven Spielberg no qual era "possível" a previsão de um crime antes do mesmo ser cometido... ou seja, como será possível culpabilizar alguém por algo que virá a cometer (nunca o saberemos) baseado estudos sobre aspectos que facilmente poderão ser considerados como xenófobos ou rácicos e que, na prática, ainda não se confirmaram?! Esta dúvida que persistirá obriga o espectador a pensar sobre até que ponto são fidedignas estas informações e principalmente aqueles que "habilmente" as poderão manobrar...
Inteligente, mordaz e sobretudo um alerta, o realizador Craig Atkinson dirige um assustador Do Not Resist e aquelas que poderão ser as nefastas consequências de uma militarização "preventiva" de uma sociedade que tem demasiados conflitos sociais e culturais, que parece perder-se - a sociedade - numa revanche de preconceitos ainda não extintos e instalar uma comunidade que vive no medo, na perseguição e na suspeita de um futuro ainda não cumprido.
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"Terrorism wins because it makes people irrational."
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Day of Reckoning (2016)

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Day of Reckoning de Joel Novoa é uma longa-metragem independente norte-americana e o mais recente título cinematográfico a recuperar o sub-género apocalíptico onde uma Terra vive sob a ameaça de uma invasão de criaturas do Inferno.
Quinze anos depois de registada a primeira invasão, o planeta vive sob a nova ameaça que poderá surgir aquando do eclipse do Sol. Com um conjunto de sinais de indicadores de que a destruição se prepara para uma repetição, alguns sobreviventes têm de encetar uma luta contra-relógio que poderá determinar a sua continuidade na Terra. Conseguirão eles escapar ou irão as ameaças determinar o seu fim?
O argumentista Gregory Gieras recupera - sem não estar perdido - o filme que teoriza sobre as mais variadas formas do "fim de mundo" tal como o conhecemos criando pequenas mensagens subliminares que alertam o espectador para uma ideologia ecológica e os malefícios do Homem enquanto um todo para com a natureza que o rodeia sem esquecer a devida menção a uma economia exploradora e impiedosa. Mas antes de lá chegarmos pensemos nos intervenientes por si só... "David" (Jackson Hurst) é um tipo que vive de expedientes e, sem uma aparente vida normalizada depois de um divórcio consensual, tenta manter-se à tona num limite entre o que queria... e o que tem. "Laura" (Heather McComb) a sua ex-mulher tenta levar uma vida profissional intensa - enquanto professora - esquecendo todo o lado sentimental do qual parece sentir falta. Sem grande interacção para lá do evidente que se avizinha, a dupla protagonista de Day of Reckoning vê-se forçada a co-existir num mundo que se prepara para uma segunda destruição às mãos de estranhas criaturas que saem do subsolo.
Afastado o drama familiar e existencial - quem sou eu no mundo se não tiver uma relação do passado devidamente resolvida?! - Day of Reckoning apresenta finalmente as "suas" verdadeiras questões existencialistas... Teoria da conspiração? Talvez... mas o que é certo é que os sinais estão lá. Esqueçamos por momentos a elevada militarização de uma sociedade que desdenha por um qualquer controlo sobre os demais ou até mesmo uma história que se concentra - em boa medida - num cenário naturalmente desértico perto de uma das cidades mais populosas dos Estados Unidos para, por sua vez, olharmos em primeiro lugar para os alvos destas estranhas - e computorizadas - criaturas que surgem aos milhares... As sedes de grandes organizações bancárias... A destruição, que parece presente iminente num mundo em perigo, parece inicialmente apenas concentrar-se nos grandes símbolos de uma sociedade concentrada única e exclusivamente no seu dinheiro e no seu lucro, esquecendo as verdadeiras vítimas de uma hecatombe... as pessoas.
Se este pequeno elemento passa rapidamente - e despercebido -, o mesmo não se poderá dizer a respeito da tal salvação "ambiental" que tão explicitamente escondida encontramos nesta longa-metragem. Desde o local de onde estas criaturas cedo surgem - uma qualquer plataforma eléctrica/petrolífera (?!) que escava o planeta sem percebermos bem com que sentido - nada é de facto claro em Day of Reckoning a não ser que as criaturas surgem aquando de um eclipse (porque este e não os outros?), os pássaros encetam viagens migratórias fora de tempo, o planeta está à beira de uma mudança (qual?) e os tremores de terra parecem ser ou aquilo que desperta tais criaturas... ou então o tremer provocado pelas intensas manadas que saem do submundo. Demónios? Seres pré-históricos? À escolha do freguês que se segue que, no entanto, é devidamente "alertado" por uma ou outra referência Biblíca sem, no entanto, ser confirmada.
Sem uma confirmação daquilo que os poderá salvar e com a certeza de que durante o eclipse (de largas horas) são alvos fáceis destas criaturas que parecem mais do que destruir o planeta, procurar este grupo de sobreviventes como se fossem os únicos que conhecem a sua fraqueza, Day of Reckoning entrega a salvação através de dois importantes elementos da nossa (pouco) estimada Terra... o primeiro à água... composto principal de um planeta e o elemento que toda a vida garante... o segundo o sal... Esqueçamos lá o detalhe de que mais de 60% do planeta é composto por água salgada e... o planeta está salvo quase na sua totalidade em qualquer das suas parte... Assim, estes demónios concentrados numa perseguição ao homem - um homem e seu grupo especificamente - termina muito antes de ter começado, não sem antes levar as vítimas do próprio grupo que não resistiram a uma "dentadinhas" de amor destes demónios disfarçados de animais retirados do talho e que desconhecemos se os perseguem porque chegou "aquele" ano em concreto ou se por outro lado apenas desejam expiar os malfeitores de um planeta que tudo fornece... e que por isso é explorado até à sua exaustão.
Longe estará o espectador que julga ir aqui encontrar aquele grande filme do género - sempre difícil de concretizar - ou mesmo um cuja história denote coerência, bons registos interpretativos ou até mesmo um agradável momento cinematográfico mesmo que a história não seja a sua favorita. Em Day of Reckoning apenas encontramos um conjunto de momentos já conhecidos - e melhor filmados ou editados - com pouco suspense, pouca credibilidade na construção e execução dos seus "demónios" que facilmente se identificam com efeitos especiais computorizados pouco naturais e  mal inseridos no ambiente terrestre mas que, ainda assim, pode contribuir para um momento bem passado a altas horas de uma sexta-feira onde todos os momentos monótonos da vida se esquecem graças à fragilidade de um filme cheio de boas vontades mas com poucas qualidades esquecendo-se com mais rapidez do que aquela com que foi visto.
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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Pedro (2016)

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Pedro de Marco Leão e André Santos é uma curta-metragem portuguesa de ficção presente na secção competitiva na sua categoria da vigésima edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que decorreu entre os passados dias 16 e 24 de Setembro no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Pedro (Filipe Abreu) regressa a casa já de madrugada. Em casa, e enquanto a cidade dorme, ele prepara-se para dormir quando a sua mãe (Rita Durão) insiste que quer ir para a praia.
Com argumento da dupla de realizadores, Pedro insere o espectador no centro de uma história atípica sobre as relações internas de uma família composta por uma mãe e um filho. "Pedro", o protagonista desta história é um rapaz aparentemente desligada de uma relação familiar dita saudável que chega a casa quando lhe apetece vindo de destinos que apenas o percurso desta curta-metragem nos possibilita imaginar. Nos silêncios para com a sua mãe preocupada com uma qualquer relação que tenta dinamizar, "Pedro" vive uma pós-adolescência marcada por uma sexualidade florescente e momentos de exibicionismo que as novas tecnologias lhe permitem ter com estranhos. Se este lado relativamente oculto - no contexto - da sexualidade de "Pedro" despertam a curiosidade do espectador para o que poderá vir a seguir, é também justo afirmar que a dinâmica e a privacidade entre mãe e filho estão apenas separadas - se é que algo - por uma ténue linha que os aproxima como dois conhecidos e não como a relação entre mãe e filho poderiam fazer esperar. A nudez e falta de privacidade de "Pedro" apenas parecem colidir com a imediata e evidente dependência que a mãe parece ter em relação a este filho único e, como tal, permitir ao espectador deduzir que a origem de um qualquer incesto pode eventualmente surgir entre ambos.
É também esta dependência afectiva da mãe em relação a "Pedro" que se fazem sentir quando esta o arrasta forçadamente para a manhã de uma praia desertificada na esperança de encontrar o tal homem com quem falava anteriormente ao telefone. Filho este que interpõe no espaço como que se de uma saída de amigos se tratasse esperando conquistar - do outro - a aprovação para uma qualquer nova relação que possa ter. No entanto, é neste mesmo momento que filho se distancia da mãe - talvez por não querer embarcar numa nova aventura sentimental de uma mãe insegura e incerta - aproximando-se da própria exploração da sexualidade com um outro homem (João Villas-Boas) que se insinua para ele na esperança de um qualquer contacto e momento de prazer. É novamente com esta dinâmica inesperada que, uma vez mais, a mãe se impõe como um elemento predominante assistindo ao flirt estival deste homem com "Pedro" mas presumindo que o mesmo o faz para consigo.
"Pedro" de poucas conversas mas assumidamente interessado numa sexualidade activa com este homem - que aproxima a curta-metragem de André Santos e Marco Leão de um L'Inconnu du Lac (2013), de Alain Guiraudie português e observemos a própria dinâmica sexual e parecença física das personagens interpretadas por Filipe Abreu e João Villas-Boas em relação a Pierre Deladonchamps e Christophe Paou - vive um silêncio que é apenas quebrado pela sua manifesta vontade de seduzir pelo olhar, pelos gestos e pelas breves manifestações físicas que o aproximam do desconhecido e de uma qualquer manifestação sexual que o satisfaça... de momento.
O clima criado em Pedro pela dupla de realizadores é, assumidamente, de uma tensão sexual. Por um lado da (implícita) repressão do desejo de uma mãe que, no entanto, deseja a sua concretização e, por outro, de "Pedro" enquanto jovem que vive o auge da descoberta e da sua sexualidade sendo o eventual desconhecido (Villas-Boas) aquele que faculta à mãe a imagem do já referido desejo e ao filho a sua concretização.
Com uma direcção de fotografia de Hugo Azevedo que divide esta curta-metragem em dois momentos distintos - do interior de um apartamento na alvorada à luz constante de um dia de sol por confirmar - e uma música original de Bruno Cardoso que incute um clima moderno e jovem à dinâmica aqui pretendida, Pedro prima pela afirmação da tentada sedução do talento de um jovem Filipe Abreu, pela marcada interpretação de uma sempre excelente Rita Durão aqui como uma mãe emocionalmente dependente de um filho que luta silenciosamente pela sua independência emotiva e emocional e um João Villas-Boas que ainda que com uma interpretação secundária se afirma facilmente pelo magnetismo e importância que a composição da sua personagem assume na dinâmica da relação entre mãe e filho.
Eventualmente o filme mais intenso e marcante desta dupla de realizadores que aqui não só registam a sua obra mais determinante (à data) como um passo significativo para que o espectador os tenha "debaixo de olho", Pedro assume-se como um dos filmes curtos mais fortes desta última edição do QueerLisboa e possivelmente um dos melhores do ano cinematográfico português.
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Morrer no Mar (2015)

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Morrer no Mar de Sérgio Galvão Roxo é uma curta-metragem portuguesa de ficção presente na competição In My Shorts da vigésima edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que decorreu no Cinema São Jorge, em Lisboa entre os passados dias 16 e 24 de Outubro.
Uma mulher (Isa Viegas) e um homem (Pedro Velho) encontram-se. Em breves minutos de viagem falam sobre alguém que já não têm. Ambos o amaram. A distância parece ser o único destino.
Sérgio Galvão Roxo e Pedro Velho escrevem o argumento desta curta-metragem que reflecte sobre a existência de um presente fortemente marcado por um passado que é - ao espectador - desconhecido. A relação tida entre estas duas almas que numa breve viagem de automóvel parecem despedir-se sem retorno das vidas que então tiveram não chega - para eles e para nós - para firmar uma redenção desse passado tido e distante. Pelas suas palavras apenas transparece que ambos amaram um mesmo homem... Um pai? Uma paixão em comum? A distância temporal aqui exercida parece funcionar (na perspectiva do espectador) como o resultado de uma memória longínqua que ambos percebem ter vivenciado mas que é agora algo praticamente esquecido e que já não possuem.
"Ela" (Viegas) mostra-se amargurada - brilhante registo da actriz que se note -, procura-o mas a comunicação entre os dois é praticamente inexistente. Vive na sombra desse amor tido e já não concretizado e na (vã) esperança de poder manter com "Ele" (Velho) algo que já está perdido. Já "Ele", por sua vez apresenta-se como alguém que mantém inúmeras relações de ocasião... com mulheres que encontra pelo seu caminho e com homens com os quais se envolve sexualmente e de forma violenta como uma penitência que cumpre sem qualquer percepção de prazer ou sentimento. Sem qualquer tipo de ligação aparente e uma relação que mais não é do que uma memória escondida no passado, ambos fazem esta viagem de automóvel a última linha que os separa de duas vidas diferentes, distantes e sem qualquer possível intimidade (familiar, sentimental, (...)). Enquanto a viagem dela continua... e segue outro caminho. Quase sem palavras parecem imóveis no seu trágico e diferente destino.
Com uma linha narrativa que deixa o espectador imaginar os porquês desta aparente separação (?), e um conjunto de silêncio que parecem querer gritar por algo que ficou por dizer, Sérgio Galvão Roxo dirige aquele que é o seu mais emblemático filme curto - à data - e um que me deixa enquanto crítico e espectador ansioso pelo seu próximo. O registo de um passado que se percebe sentido e doloroso sem que, no entanto, este seja discutido ou alvo de uma reflexão e expiação deixa o espectador num impasse sobre duas personagens que não sendo propriamente afáveis ou de empatia com o mesmo registam, no entanto, a elevada curiosidade que suscitam. Estas vidas não (nos) são indiferentes e percebemos que os seus olhares escondem mais do que a apatia que inicialmente transparecem.
Intenso e capaz de fazer transparecer toda uma dor (ela) e indiferença (ele), Morrer no Mar chega com uma turbulência maior que não só não nos deixa indiferentes como também expectantes e curiosos sobre aquilo que os separa mas insistentemente os faz cruzar os seus caminhos.
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8 / 10
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Sur les Pointes (2015)

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Sur les Pointes de Diana Ricardo, Maria do Carmo Duarte e Sandra Carneiro é um documentário em formato de curta-metragem português que esteve presente na competição In My Shorts da vigésima edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que decorreu no Cinema São Jorge, em Lisboa entre os passados dias 16 e 24 de Outubro.
Este documentário abre com imagens de um conjunto de objectos que o espectador tende facilmente a associar à feminilidade. Um cisne, uma caixa de música, pulseiras, poney's e constantes referências a ballet. O pré-conceito estabelecido de que estes objectos "pertencem" a uma menina lança o mote para uma breve história em que João David, um jovem que cedo desafiou os lugares comuns pré-estabelecidos numa sociedade que define (sem fronteiras) aquilo que pertence ao homem e à mulher, desconstrói esses preconceitos que estão, de certa forma, inerentes a toda uma sociedade fundamentada em divisões de masculino versus feminino.
Num mundo que vive no seio do socialmente "correcto", João David questiona de forma natural a ideia da identidade de género pré-estabelecida. Porque motivo será que o azul é cor de meninos e o rosa de meninas? Porque razão não poderão os primeiros gostar de ballet e elas de futebol? No fundo, e como o próprio refere, sente falta do elemento feminino quando se sente mais masculino e, por sua vez, quanto este último se manifesta sente desperdiçar o seu lado masculino. No fundo a grande questão que implicitamente coloca - e que acaba por ser bem simples - é porque não pode existir um meio termo, uma aceitação do "eu" que os outros desconhecem ou mesmo, porque têm de existir "papéis" socialmente aceites... e outros não?!
Numa interessante e mordaz comparação com o mundo animal, é o pavão que exibe o mais luxuoso e vistoso manto de penas para uma pavoa "despovoada" de simbologia dita feminina que a demarca-se do demais grupo... Se no reino animal "irracional" se aceitam papéis sociais atípicos (em comparação com o Homem), porque motivo fará tanta confusão no reino "racional" que existam aqueles que se demarcam do "socialmente" aceite?!
Com uma interessante e importante abordagem sobre a reflexão das diferentes formas de vida, Sur les Pointes afirma-se como um inovador marco sobre a tal "diferença" que não o é. Por outras palavras, essa "diferença" apenas subsiste porque nos habituámos a nascer e crescer num mundo onde, sem escolha possível, os destinos já estavam traçados por outros que decidiram por nós... o "correcto".
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7 / 10
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Traça (2016)

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Traça de Miguel Bonneville é uma curta-metragem experimental portuguesa que esteve presente na secção competitiva de Curtas-Metragens na vigésima edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que decorreu até ao passado dia 24 de Setembro no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Dividido em três momentos específicos, Traça é baseado nas biografias de Jean-Marc Gaspard Itard, Marie Antoinette e Friedrich Nietzsche que apesar das suas histórias distintas partilham, no entanto, momentos de uma devastação sentimental que, de certa forma, os une.
O primeiro desses momentos I - Síndrome de Víctor retrata a convivência entre Jean-Marc Itard e o jovem que adoptou e que tentou educar durante cinco anos para os costumes de então sentindo, no entanto, que a sua missão falhará. Itard deixará a Victor uma carta para ser lida após a sua morte no qual explicita os motivos da sua desistência nos quais se denota uma relação que vai para lá de uma simples amizade. Deixado ao critério do espectador - existindo já um relato cinematográfico desta relação na obra L'Enfant Sauvage (1970), de François Truffaut - Traça parece alertar para uma relação que poderia oscilar entre os laços de familiaridade àqueles que sendo sentimentais sempre condicionaram a proximidade entre ambos ignorando o autismo de que se suspeita ser a principal condicionante de aprendizagem deste jovem.
O segundo momento II - Brioche reflecte sobre a relação entre Marie Antoinette e Fersen - seu amante - e a carta que esta lhe deixou na esperança que após a sua morte lhe chegasse às mãos. Este relato que mescla os sentimentos de uma paixão sentida com uma despedida que se aproxima, revelam os desgostos de uma então raínha deposta, incompreendida e humilhada pela mudança de um regime que a desprezava. Com a única certeza de um amor sentido e vivido, Marie Antoinette despede-se não só de Fersen como principalmente de um mundo que olhou para o seu estatuto social e não para a mulher que se escondia por detrás das paredes de um palácio.
O terceiro e último segmento de Traça é III - Autópsia de Deus relata a relação de Nietzsche e Lou Salomé afectada por uma possessiva irmã do filósofo e a incompreensão deste para a "falta de intelectualidade" na mulher que amava. Distanciados por uma incompatibilidade que os afastava da dita normalidade, Lou responde sabiamente que "os deuses (venerados) apenas anseiam a normalidade" como que uma resposta de que nem os ditos superiores o anseiam ser.
Com interpretações de Victor Gonçalves (Itard), Vanda Cerejo (Marie Antoinette) e António Afonso Parra (Nietzsche), está presente em todos estes registos para a posteridade um assumido desgosto sentimental que estas figuras da História sentiram e desabafaram nos seus instantes finais. Com a percepção de que o mundo - ou época - que viveram não os compreendeu, e que os próprios se sentiam fora dos lugares comuns que forçadamente viviam, Traça regista, a título experimental, estes precisos instantes finais onde a lucidez abafa o pensamento e clarifica aquilo que se esperou, desejou e do qual foram privados em boa medida. Os preconceitos, as mentiras piedosas que precisavam ser vividas e até mesmo a força das aparências numa sociedade conservadora demais para os seus espíritos livres são aqui retratados com inteligência e precisam nesta obra de sentidos de Miguel Bonneville que retira o espectador da ficção (quase sempre retratada) despojando-o de cenários de época mais ou menos luxuosos e trabalhados para o centrar na imagem da mensagem do "testamento" em vida que lega não bens materiais mas sentidos ensinamentos para aqueles que, no futuro, os desejem realmente conhecer.
Inteligente e mordaz, assumidamente sentimental sem recorrer aos lugares comuns de uma vida nem sempre emocionante, Traça é um intenso filme sobre um preciso momento... aquele que regista uma despedida sempre sentida.
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"Marie Antoinette: Estudar a arte de mentir tem as suas vantagens, principalmente quando somos obrigados a viver na chamada vida real."
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7 / 10
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