sábado, 31 de julho de 2010

What About Bob? (1991)

O Que se Passa com Bob? de Frank Oz é uma das melhores e mais hilariantes comédias dos anos 90 que tem nos papéis principais dois míticos actores. São eles Bill Murray e Richard Dreyfuss.
Bob Wiley (Murray) é um homem com múltiplas fobias e mania de todo e mais algum tipo de doenças. Tudo para ele é complicado e problemático e o simples facto de sair à rua é para ele um risco não só para a sua saúde como para a sua vida.
Todos os psiquiatras fogem dele. Nenhum o aguenta. É esgotante acompanhar uma pessoa que é na realidade uma bomba relógio de doenças.
No entanto, o proeminente psiquiatra Leo Marvin (Dreyfuss) que tem a vida perfeita, a família perfeita e a carreira perfeita aceita, a pedido de um seu colega, acompanhá-lo e tratá-lo, e aquilo que parecia um negócio perfeito acaba rapidamente por se mostrar o maior pesadelo deste médico.
Se inicialmente o doente parecia um desequilibrado, à medida que o filme se desenrola facilmente se percebe que quem fica fora de controlo é o psiquiatra.
Com o decorrer da história acabamos por conhecer não só Bob como uma pessoa com problemas sim, mas que na realidade estes mais se devem a um profundo estado de solidão e de medo em se relacionar com as demais pessoas que o rodeiam pois não quer ser abandonado. Pretende sim um círculo onde se integrar e onde possa ser aceite.
Por sua vez, o psiquiatra Leo Marvin tem aquilo a que se pode chamar de uma vida perfeita. Perfeita a todos os níveis. Perfeita demais até. É por isso que ao longo do filme a vemos desmoronar e revelar-se como aquilo que é na realidade... Uma perfeita imperfeição. Uma vida de muita fachada e muita aparência que esconde muitos problemas especialmente de relação social e familiar.
Tanto Murray como Dreyfuss têm aqui duas interpretações soberbas e que deveriam ter sido recompensadas com nomeações a todo o tipo e mais algum de prémios no ano correspondente, mas que foram, estranhamente (ou talvez não) quase ignoradas. Os dois complementam-se de uma forma tão brilhante que é uma delícia ver este filme. E acreditem quando o digo pois vi-o vezes e vezes sem conta que até hoje ainda me lembro de vários diálogos do filme. E o pior é que nunca me cansou.
Este O Que se Passa com Bob? é daquelas comédias com que não se pode deixar de simpatizar, rir, gostar e repetir a dose. Simplesmente perfeita e hilariante. É impossível vê-la e no final não ficar com alguns tiques... "A noodle... a poodle... a doodle..."

"Bob Wiley: I feel good, I feel great, I feel wonderful... I feel good, I feel great, I feel wonderful..."

10 / 10

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Bad Santa (2003)

Bad Santa: O Anti-Pai Natal de Terry Zwigoff é interpretado no principal papel por Billy Bob Thornton no papel que será seguro dizer do Pai Natal mais ordinário, rasca e desprendido de tudo e todos que alguma vez o cinema "viu" e que é possivelmente um dos seus melhores papéis de sempre.
Willie (Thornton) é um tipo que tem apenas dois prazeres na vida... beber e sexo. O seu modo de vida é simples... todas épocas festivas ele e o seu amigo Marcus (Tony Cox) vestem-se respectivamente de Pai Natal e Duende e vão para grandes superfícies comerciais onde de dia maltratam crianças que vão fazer os seus pedidos especiais e que durante a noite se entretêm a assaltar os locais para viverem desafogados o resto do ano.
Um dia algo corre "mal" quando uma dessas crianças (Bret Kelly) ganha uma especial empatia por Willie e o trata como se de um ídolo se tratasse. Como se isto já não bastasse para os seus planos começarem a dar para o torto, ainda o chefe da segurança do centro comercial (Bernie Mac) em que se encontram começava a duvidar seriamente de tão estranho par.
Além de ser um filme de comédia fora do normal, este filme vence sem qualquer réstia de dúvida com o seu fabuloso elenco. Qualquer um dos actores está no seu melhor.
Thornton que foi inclusive nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Actor em Comédia tem realmente aqui o papel pelo qual, assumo, o irei recordar para sempre. Bêbado, desligado, corrosivo e despreocupado, nem nada nem ninguém são para ele dignos de importância ou sequer de ser considerados. Vive apenas e só para beber... para sexo... e quanto muito para chegar ao dia seguinte.
Tony Cox como o seu companheiro de esquemas tem um papel que o põe ao mesmo nível de Thornton (não, não é nenhuma piada relacionada com a altura do actor), e consegue não só ser adorável como perfeitamente detestável.
O miúdo completamente irritante, chato mas que no fundo só procura é alguém que lhe dê atenção, Bret Kelly, tem com o seu papel um brilhante desempenho que ora nos causa alguma graça pelo absurdo das situações em que se encontra, ora nos dá alguma angústia por perceber que se calhar até existem pessoas naquelas condições.
A completar o elenco dos actores principais temos Bernie Mac. É impossível não conseguir achar piada a um chefe de segurança tão ou mais mafioso do que os próprios vigaristas. É impossível não simpatizar com o ar cool, despreocupado mas francamente atento com que ele vai tentando moldar os esquemas dos outros para o seu próprio proveito.
Finalmente, quanto aos secundários há apenas a destacar dois. Lauren Graham, que muitos de nós conhecemos pelas Gilmore Girls, como a parceira de cama, chão e dentro do carro de Thornton e finalmente o tão estimado John Ritter que teve neste filme o último desempenho da sua extensa carreira, quase na sua totalidade dedicada à comédia.
Temos então uma fantástica história de comédia sobre a despreocupação para com o mundo... a revolta que temos para com ele... o quão desligados estamos para com aqueles que cruzam o nosso caminho e que, na maioria das vezes, quase desejamos que nem sequer olhem para nós para não termos de nos preocupar a pensar sobre o que será que se passa com as outras pessoas.
No entanto, há sempre (mas sempre mesmo) alguém que nos faz quebrar a barreira de gelo que temos e que nos separa de todas as outras pessoas. E quando esse alguém surge criam-se empatias, laços, amizades, relações... famílias. E como apesar do que muita gente diz "a família não se escolhe", com este exemplo que retrata muitas realidades (talvez não desta forma exagerada mas...), ficamos a perceber que chega a altura em que todos nós acabamos por ceder à simplicidade de um olhar que simpatiza connosco.
Brilhante comédia que nos consegue arrancar longas gargalhadas devido à sua trash talk que é também um brilhante drama com importantes momentos mais sérios e reflexivos que nos mostram que poderemos passar por uma vida sem estarmos sempre sózinhos.

10 / 10

quinta-feira, 29 de julho de 2010

António Feio

1954 - 2010
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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Bruce Almighty (2003)

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Bruce Todo Poderoso de Tom Shadyac com Jim Carrey, Morgan Freeman e Jennifer Aniston é daqueles filmes que só dão mesmo para nos rirmos do princípio ao fim.
Bruce Nolan (Carey) repórter de um canal de televisão que não consegue a promoção que tanto desejava queixa-se de que Deus não lhe dá as oportunidades que ele "merece" e culpa-o de todos os seus infortúnios.
Deus (Freeman), já farto de ouvir as queixas de Bruce, convida-o para uma entrevista de trabalho que consiste, nada mais nada menos, do que na sua substituíção para comprovar que o trabalho divino não é tão fácil ou simples como possa parecer.
O que podemos dizer de um filme com Jim Carrey? Bom... É quase escusado dizer que as parvoíces e as aventuras, cada qual mais cómica que a anterior, são um ponto mais que certo.
Carrey, que tem aqui um dos seus melhores filmes de comédia, consegue recriar as mais hilariantes situações onde vale, basicamente, tudo. Macacos com sérias tendências anais (sim... anais), cometas, influências lunares no apetite sexual... temos de tudo. Literalmente de tudo. E consegue com isto criar um filme onde é impossível sairmos sem dar umas quantas gargalhadas.
Quanto a Morgan Freeman... bom... é um perfeito Deus... a sua voz calma e assertiva juntamente com a sua pose e porte majestoso fazem dele o actor mais que perfeito para interpretar tão divina personagem. É escusado dizer o quanto admiro este actor e como aprecio vê-lo seja qual fôr o registo em que participe.
O argumento de Steve Koren, Mark O'Keefe e Steve Oedekerk, apesar de cómico não deixa de tocar em temas tão importantes como a amizade, o amor e o respeito, todos muito bem refletidos ao longo do filme se bem que, por tão cómico ser, passarem na maior parte das ocasiões totalmente despercebidos.
Vale a pena... é uma hora e meia de pura diversão e entretenimento com bons desempenhos por parte do tio principal e um sem número de situações cómicas que dão um toque especial a esta história, e com momentos imperdíveis com o cão de Carrey e Aniston... esses sim... a não perder mesmo!
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7 / 10
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terça-feira, 27 de julho de 2010

A Filha (2003)


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A Filha de Solveig Nordlund é para mim um dos grandes filmes desta década, e provavelmente de sempre, que o cinema português viu nascer. Filme que conta com a participação de Nuno Melo e de Joana Bárcia (nomeada ao Globo de Ouro de Melhor Actriz SIC/Caras) como protagonistas e ainda com Margarida Marinho, Cecília Guimarães, Cláudio da Silva e Ana Zanatti como secundários, temos aqui uma história que toca em inúmeros temas que passam pelo medo, a loucura, a ambição, o incesto e a morte.
Ricardo (Nuno Melo) é um bem sucedido produtor de programas televisivos que no dia em que lhe é atribuído um prémio pelo seu mais recente programa de televisão recebe uma mensagem em tom de ultimatum da sua filha. Ou regressa a casa ou nunca mais a vê.
Depois de uns quantos problemas (que envolvem sempre casos sexuais com uma e outra mulher) que o impedem de regressar no mesmo dia, quando finalmente chega depara com uma casa vazia. É aqui que começa a busca pela filha que nunca irá encontrar. Busca esta que faz com a "ajuda" de uma suposta amiga da filha, Sara (Joana Bárcia) que mais não quer do que um lugar como apresentadora de um dos seus programas de televisão.
Não vou  negar que o que me levou a ver este filme foi a presença de dois actores que bastante aprecio. Margarida Marinho, da qual faço por não perder um único trabalho e, claro, o grande Nuno Melo que à custa da sua sitcom Camilo & Filho me conquistou de imediato.
O facto destes dois actores fazerem parte do filme aliado ao facto de o trailer ser muito interessante e ter passado vezes sem conta na televisão ao ponto da frase "Vou já papá" ter-me ficado gravada na memória até aos dias de hoje, foram motivos mais que suficientes para despertar o interesse.
Assim que pude vi o filme e, não foi desiusão nenhuma. Confirmava-se que estava perante um brilhante e dos melhores filmes portugueses dos últimos largos anos.
Joana Bárcia interpreta de uma forma maliciosamente "inocente" aquilo a que a ambição pode levar um individuo. O desejo, puro desejo, de chegar até onde se quer sem olhar a limites. E aqueles poucos que existem podem ser facilmente ultrapassados.
Nuno Melo por sua vez é a encarnação de um homem à beira da loucura, e que rapidamente nela entra, que está disposto a tudo para manter o controlo sobre aqueles que mais facilmente domina, neste caso a sua filha. Bem com encarna o incesto. As suspeitas de que já abusara da sua jovem filha tinham sido encobertas para que não prejudicasse a sua fama em ascenção, no entanto, quando permite que Sara, que julga ser Leonor, o beije e com quem mais tarde se deita (calculamos com que propósito) fazem renascer a ideia de que afinal o que se dizia era de facto verdade.
A morte chegará para ambos como mero culminar das vidas que se permitiram ter. Das vidas que um dia sonharam ter. Uma vida em que a ambição e os seus objectivos desviantes os dominou e que, como tal, teriam de, por eles, ser também eliminados.
Temos um excelente filme, do qual me orgulho dizer ser português, dirigido por uma sueca que também assina o argumento em parceria com Tommy Karlmark e Vicente Alves do Ó, que nos enche de suspense e de tensão... Aqueles momentos finais fechados em casa de Ricardo são no mínimo tensos... Muito tensos e claustrofóbicos. Percebemos finalmente o porquê da sua própria filha ter querido sair e fugir. Percebemos o seu sofrimento quando, tal como agora com Sara, era presa dentro do armário, ao ver as marcas das suas unhas nas portas.
Factores estes que são possivelmente os piores considerando que por detrás de vidas supostamente perfeitas que tudo têm e tudo podem, encontramos potenciais predadores que em nome de vontades desviantes atormentam sem fim aqueles com quem convivem regularmente.
Quanto ao filme em si fico francamente satisfeito em perceber que o cinema português começou de há uns anos a esta parte a produzir uns quantos filmes que marcam pela qualidade tanto de interpretações como de realização e argumento, facto pelo qual há que aplaudir os profissionais que fazem do nosso cinema motivo de orgulho.
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"Sara: Vou já... papá.."
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8 / 10
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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Hallway (2007)

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Hallway de Juan Celis é uma curta-metragem de suspense com todo o tipo de ingredientes já visto em filmes deste género.
Temos presente a mulher que chega à garagem no seu carro e que pressente que alguém a observa. Temos o corredor sinistro do andar em que ela vive e, curiosamente, a sua é a última porta. Temos o misterioso telefonema do psicopata no exacto momento em que ela vai abrir a porta e claro... a célebre chave que cai no momento em que ele se dirige para a esquartejar.
Retirando os clichés habituais, e que como se pode comprovar são "mais que muitos", aquilo que mais impressiona no filme são os instantes finais onde ele lhe segreda "desta vez não te deixo escapar". Isso sim... assustador.
Tudo o resto, apesar de recriar um ambiente claustrofóbico e com algum suspense, já está muito visto em dezenas e dezenas de filmes do género que abordam exactamente as mesmas situações... ao detalhe.
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3 / 10
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domingo, 25 de julho de 2010

Upstairs (2006)

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Upstairs de Mark Howell é uma curta-metragem de suspense feita como trabalho de final de curso mas que poderia ter corrido um pouco melhor.
Quando um jovem casal se muda para uma casa, longe estariam de imaginar que a sua felicidade fosse repentinamente travada com a aparição de um fantasma.
O suspense que consegue por momentos ser criado é rapidamente interrompido quando, depois da fuga do casal, não há qualquer tipo de explicação para a existência daquele fantasma... nem sequer indícios temos sobre o porquê de ali existir.
Interessante mas só até ao seu final, este filme fica longe de cumprir aquilo que é pretendido de algo deste género... ainda assim, ficam as intenções que até eram boas.
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4 / 10
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sábado, 24 de julho de 2010

Midnight Roadkill (2009)

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Midnight Roadkill de Owen Mulligan é uma curta-metragem que se pensa ser de terror mas na realidade mais não é do que um terror... diferente.
Quando um casal viaja por uma qualquer estrada perdida e encontram uma estranha criatura que o homem intencionalmente atropela... a mulher, claramente vítima de maus tratos, resolve abandoná-lo à sua sorte junto a outra estranha criatura com uns dentes muito afiados...
Terror aqui só mesmo os evidentes maus tratos psicológicos de que a mulher é alvo porque de resto... "niente". Mas não tenhamos pena dela... bem no final ela revela que afinal o destino revela umas quantas ironias que até lhe dão um certo prazer.
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4 / 10
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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Amadeus (1984)

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Amadeus de Milos Forman com a participação de F. Murray Abaham como o compositor Salieri e Tom Hulce no papel de Mozart é um intenso drama sobre a vida do compositor austríaco recheado de magníficos segmentos com as suas óperas e um interessante e intenso relato da vida decadente e de miséria que o mesmo levou.
Neste filme acompanhamos toda a história de Wolfgang Amadeus Mozart (Hulce) através do relato daquele que foi o seu maior rival "silencioso", o compositor italiano Antonio Salieri (Abraham) demente por ter prejudicado a vida daquele que considerava ser a voz de Deus na Terra.
Salieri que assistiu ao "nascer" de Mozart na vida social de Viena invejava, com uma grande convicção, a capacidade de Mozart compôr, respirar e no fundo viver música, e ser uma pessoa leviana e sem qualquer tipo de conduta moral. Se aos olhos de Mozart, Salieri ajudava-o na corte austríaca, a realidade era bem diferente.
Pelo meio das inúmeras intrigas de corte em que Mozart saía quase sempre perdedor, vítima das suas próprias ideias que queriam inovação e modernidade onde ela era ainda muito escassa, assistimos igualmente a uma vida recheda de boémia e afastada dos princípios algo castradores do seu pai que o queria numa vida calma, tranquila e guiada pelo temor a Deus. Estes eram os fantasmas pessoais pelos quais vivia assombrada e que, através do esplendor da sua música, conseguia exorcisar.
Utilizando uma expressão muito moderna, Mozart foi uma vítima do seu próprio tempo. Uma alma grande demais que foi silenciada tanto no plano profissional pelas invejas que causava a sua excelência, como também pelos próprios medos que sentia derivados da repressão de juventude.
A dar vida a estas personagens temos um elenco feito à sua medida. Para Mozart temos um excêntrico Tom Hulce que em nada se poupou para encarnar a vida e a alma do compositor austríaco. Ainda hoje todos nós nos lembramos das suas estridentes gargalhadas que em muito contribuíram para o lado cómico neste filme dramático. Da mesma forma que ainda nos lembramos de um Salieri soturno, maquiavélico e invejoso que tudo tentava para travar o génio de Mozart. Este Salieri interpretado por F. Murray Abraham naquele que foi talvez o melhor e maior papel da sua já longa carreira.
Ambos actores tiveram a sua primeira e única, até à data, nomeação para o Oscar de Melhor Actor. Abraham saíria vencedor da estatueta dourada sem, no entanto, deixar de referir que ela também pertencia ao seu parceiro protagonista. Esta dupla funciona simplesmente na perfeição, e realmente ambos mereciam ter levado um Oscar para casa.
Continuando com os Oscar, o filme foi vencedor de oito estatuetas num total de onze para que havia sido nomeado. Além da referida para Actor, o filme venceu ainda as de Filme, Realizador, Argumento Adaptado, Direcção Artística, Guarda-Roupa, Caracterização e Som, tendo ainda sido nomeado para Fotografia, Montagem e claro a segunda nomeação a Actor para Tom Hulce.
Este foi, e com justiça, o filme sensação do ano, que gerou uma legião de fãs ainda hoje resistente e incluindo músicas alternativas, tal não foi o seu sucesso.
Um filme intenso que reflete não só sobre a vida destas personalidades reais, como talmbém, e se calhar especialmente, sobre a inveja, o poder e a ambição. Como elas dominam o homem e os seus objectivos. Como estes mudam em favor da manutenção do poder próprio, e como elas podem levar à destruíção dos outros, mas ainda mais importante é como estes sentimentos podem levar à nossa própria destruíção quando os sentimos e nos deixamos consumir por eles.
E se não quisermos ou virmos o filme nesta perspectiva, ele não deixa de ser um estrondoso e luxuoso espectáculo que deve ser visto e apreciado e considerado, claro está, como um dos símbolos maiores do cinema e da década de 80. Imperdível.
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"Salieri: I will speak for you, Father. I speak for all mediocrities in the world. I am their champion. I am their patron saint. Mediocrities everywhere... I absolve you... I absolve you all."
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10 / 10
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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Dear Frankie (2004)

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Querido Frankie de Shona Auerbach é uma daquelas emocionantes e poderosas histórias às quais ninguém fica indiferente.
Este filme conta-nos a história de Frankie (Jack McElhone) um rapaz que vive com Lizzie (Emily Mortimer) a sua mãe e Nell (Mary Riggans) a sua avó. De início não percebemos bem o porquê de tanta agitação nas suas mudanças de casa, mas com o decorrer do filme fica claro que a sua fuga se deve ao receio que têm de encontrar o pai de Frankie devido ao seu passado violento, mas do qual  este não se recorda, pensando que o pai trabalha num barco em alto mar.
Chegados a uma nova terra onde Lizzie começa a trabalhar no restaurante de Marie (Sharon Small), e devido às pressões que Frankie faz ao descobrir que o barco do pai vai chegar à cidade, Lizzie tem então de encontrar um "pai" para Frankie. Pai esse (Gerard Butler) que será encontrado por Marie e que ganha de imediato a simpatia e carinho de Frankie e a admiração de Lizzie.
Esta comovente e encantadora história escrita por Andrea Gibb é um poderoso hino ao sacrifício e ao amor. O amor protector de uma mãe que faz tudo para proteger o seu filho de um pai violento e de uma relação condenada e também o amor que este filho tem para com um "pai" que não é o seu mas que corresponde às expectativas que ele tem. Encontrou naquele estranho um pai de coração por quem nutre um carinho e afecto superior a qualquer laço de sangue.
Esta é a dinâmica que, para mim, acaba por ser mais relevante de todo o conteúdo do filme. A capacidade que qualquer indivíduo tem de influenciar a vida dos outros de forma positiva. A forma como as pessoas entram dentro da vida umas das outras e como se consgue realmente construir uma família com pessoas que nos são estranhas. Como é delas que se conseguem estabelcer laços e ligações. Como se constroem os afectos, os carinhos, o amor e a amizade.
Esta premissa acaba por abanar definitivamente aquela em que não se pode escolher a família. Na realidade pode. São as pessoas que contribuem de forma positiva para o nosso bem-estar e para a nossa felicidade que são, de facto, a nossa família. Aqueles que queremos ter por perto. Aqueles com quem queremos partilhar a nossa vida, os nossos momentos de alegria e, em particular, os nossos momentos de tristeza.
As interpretações do trio protagonista, McElhone, Butler e Mortimer são francamente inspiradoras. Sem grandes diálogos existencialistas ou sem grandes demagogias conseguem conquistar rapidamente a nossa simpatia. Consquistam a nossa atenção e a nossa aprovação, se é que ela é de alguma forma esperada.
É um brilhante filme com uma história comovente e uma banda-sonora do compositor Alex Heffes que não só é emotiva como muito inspirada que funciona quase como um presente para adornar aquele que já é um fantástico filme.
Uma história que poderia ser triste e solitária, tanto ou mais como a paisagem natural em que decorre, cinzenta, castanha e muito fria mas que pelo seu enorme sentido humano ganha contornos de esperança não só num futuro individual como muito em especial na esperança que se pode ter nas pessoas com quem nos podemos cruzar no nosso futuro. 5 *****
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10 / 10
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quarta-feira, 21 de julho de 2010

La Finestra di Fronte (2003)


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A Janela em Frente de Ferzan Ozpetek é mais um intenso e bonito drama urbano do realizador turco que, espante-se, é uma co-produção italo-anglo-turco-portuguesa. É verdade... este filme tem também uma pequena mão portuguesa e por cá, para não variar, passou algo despercebido em 2003, ano da sua estreia no nosso país.
Com interpretações de elevado nível onde se destacam os actores Giovanna Mezzogiorno, Filippo Nigro, Raoul Bova e Massimo Girotti, este filme conta-nos a história de Giovanna (Mezzogiorno) e Filippo (Nigro), um jovem casal de Roma com dois filhos que vive os dramas urbanos de uma família com inúmeras dificuldades financeiras e que mais ou menos secretamente ambicionam ter uma vida melhor e realizar os sonhos que noutros tempos, não tão longinquos assim, tinham.
Um dia quando caminhavam na rua são abordados por Davide (Girotti), um homem mais velho que tem, aparentemente, amnésia. Giovanna desconfia, mas após alguma pressão de Filippo recebem-no em casa com o intuito de avisar a polícia.
Apenas mais um factor para atrapalhar a já confusa relação entre o casal que vive constantemente com a pressão da falta de dinheiro e insegurança profissional que Filippo tem. Com isto Giovanna começa a despoletar um interesse por Lorenzo (Bova), o vizinho da frente... aquele que diariamente ela vê da sua janela.
Temos então uma Giovanna dividida entre Lorenzo, que segundo ela poderá mostrar-lhe a vida que ela queria e ainda não teve, e Filippo, o marido fiel e preocupado com a família que lhe oferece segurança e estabilidade.
É com esta divisão que ela vive, e que ao longo do filme assistimos interligada com a experiência de Davide que em 1943 viveu um amor proibido com outro homem, numa altura em que Roma vivia sob a invasão nazi e que tudo e todos eram alvos de suspeitas e de perseguições.
Uma vez mais Ferzan Ozpetek, o magnífico realizador turco, dá-nos mais um excelente filme não só sobre a forma como a sociedade transforma, para bem e para mal, as pessoas mas também sobre a forma como estas se adaptam e sobrevivem em vez de viver, tal como Davide aconselha Giovanna a fazer... Viver.
Temos um magnífico argumento da autoria de Ferzan Ozpetek e Gianni Romoli que aborda temas tão variados como a dificuldade de manter alguma estabilidade financeira ou sobre os problemas de jovens casais em manterem uma família. Sobre a capacidade que nós temos em nos adaptarmos às duras realidades de uma vida dita "adulta". Sobre o preconceito. Sobre a vontade de sermos mais. Sobre o respeito. Sobre a diferença que existe entre amor, paixão e atracção.
As interpretações que dão rosto a todos estes sentimentos e sensações são brilhantes e Ozpetek retirou, como sempre, o melhor de cada um deles. Temos os olhos quase vazios e com sede de ter mais de Mezzogiorno. Podemos sentir o desespero de Filippo Nigro em inúmeros momentos, especialmente quando se senta de noite sózinho na cozinha e a única coisa que consegue fazer é chorar. Percebemos o quão vã e solitária é a vida de Bova que se limita a olhar para alguém que o atrai pela janela e segui-la pelos caminhos por onde ela anda. E finalmente temos Davide que, por ter perdido o seu único e verdadeiro amor através de uma sua escolha, ficou solitário e demente com o passar dos anos.
Temos essencialmente a solidão. A solidão por perda de um amor (Davide). Por não tentar conquistar aquele que se quer (Lorenzo). Por se ter e não se conseguir manter (Filippo). Ou simplesmente por nunca se ter alcançado algo (Giovanna).
Excelente é também a banda-sonora da autoria de Andrea Guerra que foi vencedora do Donatello na respectiva categoria. Muito emocionante mas com uma vivacidade fantástica.
Vencedores de Donatello foram também as interpretações de Giovanna Mezzogiorno e de Massimo Girotti assim como o próprio filme foi vencedor como o melhor do ano. Justo vencedor em todas as categorias que se diga, e pena foi só não ter ganho ainda mais.
Belíssimo filme que apenas confirma o que por aqui já disse inúmeras vezes a respeito do cinema italiano, e que dá um certo orgulho por haver uma mãozita portuguesa pelo meio. Só é pena que o nosso cinema não tenha mais destes exemplos. Magnífico drama digno de ser visto.
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10 / 10
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terça-feira, 20 de julho de 2010

Alone (2009)

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Alone de Damaine Radcliff é a típica história de terror em que uma mulher está sózinha em casa e, curiosamente, a ver filmes de terror em trajes menores. De repente recebe um telefonema e percebe que está alguém a espiá-la e que (novamente curiosamente) esse alguém está mesmo dentro da casa onde ela se encontra.
Cliché atrás de cliché já visto e rebatido em anos e anos de história do cinema do terror fazem desta curta-metragem um filme perfeitamente banal e desinteressante. Nem sequer a máscara do assassino é inovadora como o fora em tempos a da saga Gritos (clara referência inspiradora desta curta), limitando-se aqui a reproduzir a utilizada no filme V de Vendetta.
Perfeitamente dispensável e sem qualquer factor apelativo... vê-se apenas por não haver mais nada que fazer no momento e esquecesse exactamente após o final da mesma.
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1 / 10
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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Un Prophète (2009)

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Um Profeta de Jacques Audiard foi o filme que saiu grande vencedor da edição dos César deste ano tendo saído com nove troféus, de um total de treze nomeações, incluindo para Melhor Filme, Actor, Actor Revelação, Actor Secundário e Realizador. Este filme conta com a participação do já veterano Niels Arestrup (César de Actor Secundário) e com a grande revelação não só do cinema francês como também do cinema Europeu que foi Tahar Rahim (César de Actor e Actor Revelação).
Com este filme conhecemos a história de Malik El Djebena (Tahar Rahim) um jovem francês de origem árabe que passou toda a sua jovem vida em centros de detenção juvenil e que aqui inicia a sua primeira sentença de seis anos numa prisão de adultos.
Iletrado, sem qualquer perspectiva de vida para o futuro, sem amigos ou inimigos dentro ou fora da prisão, Malik encontra-se totalmente sózinho no Mundo e nada mais quer do que cumprir a sua pena em paz e sossego. No entanto, pouco tempo depois de chegar à prisão, dividida por muçulmaos de um lado e corsos dominantes e que controlam os guardas do outro, é abordado por César Luciani (Niels Arestrup), o chefe dos mafiosos corsos, que domina o que se passa dentro e fora da prisão. É este César Luciani que vai dizer a Malik que ele apenas tem duas opções... trabalhar para ele dentro da prisão ou morrer.
É então a partir deste momento que Malik entra em acção e muda toda a sua vida. Trabalha para os corsos e para Luciani em particular, e através desta convivência próxima que garante a sua segurança ao ponto de não só trabalhar para ele dentro como fora da prisão nos inúmeros esquemas ilegais que Luciani tem.
Malik aprende a ler e a escrever, aprende a língua corsa, sem ninguém saber, através da convivência que tem com os mafiosos corsos dentro da prisão, ganha posição dentro e fora da mesma e além disso começa principalmente a planear a sua própria vida para ter garantias no dia em que saia. Tudo isto sem ninguém tomar conhecimento até ao ponto em que estando a maioria da mafia corsa fora da prisão, é agora ele que comanda os destinos do que lá se passa dentro.
Este Um Profeta foi sem dúvida o filme revelação em França, e prova disso foram os nove César que o filme ganhou, a própria nomeação ao Oscar de Filme Estrangeiro e dois prémios da Academia de Cinema Europeu nomeadamente ao actor Tahar Rahim.
Com um brilhante argumento da autoria de Jacques Audiard, Thomas Bidegain, Abdel Raouf Dafri e Nicolas Peufaillit, que foi inclusive premiado com o César, este filme dá um excelente retrato do interior multi-étnico de uma prisão francesa, e de certa forma daquilo que é a própria sociedade daquele país. Ao mesmo tempo que se torna num filme dramático ao espelhar os problemas e dificuldades dessa multiculturalidade aguça também o próprio enredo visto que temos um olhar sobre os problemas com a população corsa e a existência da própria Mafia organizada, e bem, no país. Basicamente temos um olhar sobre o país da liberdade, igualdade e fraternidade onde nenhum destes Direitos fundamentais está de facto no "activo".
As interpretações do filme são de primeiro nível. Já não falando de Niels Arestrup, que venceu o César de Actor Secundário, que já nos habituou a intensos e fortes desempenhos onde entrega tudo e algo mais de si, temos um elenco muito interessante por parte dos actores franceses de origem árabe nomeadamente do seu actor principal Tahar Rahim. Este jovem actor é sem sombra de dúvidas a grande revelação do ano não só em França como será seguro dizer que da Europa. Não só venceu o César como o prémio da Academia Europeia de Cinema de Melhor Actor do ano, como é daqueles prémios que é merecido na sua totalidade. De um jovem indefeso e sózinho com um olhar frágil e sem qualquer tipo de esperança no futuro, dentro ou fora da prisão, a sua interpretação como Malik El Djebena mostra de forma clara ao longo do filme, o seu crescimento para se tornar num individuo frio e calculista que apenas pretende salvaguardar-se e planear o futuro que até então não tinha.
A sua confiança que inicialmente era inexistente torna-se aos poucos o motor para a sua própria segurança e liberdade. O motor para se manter vivo e para se infiltrar não só junto dos corsos como, mais tarde, se poder juntar à demais população prisional de origem árabe que começa a povoar de forma exponencial a prisão onde se encontra. A mesma confiança que, fora da prisão, lhe permite gerir negócios que o enriquecem para garantir a sua vida e a sua sustentabilidade.
Como nada neste filme foi deixado ao acaso, também a banda-sonora tinha de estar ao cargo de um mestre da actualidade. Ninguém melhor que Alexandre Desplat para dar vida à acção a que assistimos compondo uma forte e emocionante melodia para o filme, também ela nomeada, mas não vencedora, do César.
Longe vão os tempos em que olhávamos de lado para o cinema francês que, nunca deixando de ter qualidade, poucos lhe chegavam pelas suas histórias quase de contemplação e que muito raramente juntavam boas histórias dramáticas a um bom ritmo e acção. Longe vão também os tempos em que pensar assistir a um filme europeu era quase como pensar que se iria adormecer a meio tempo.
São filmes como este Um Profeta que nos (me) fazem crer que o cinema europeu não só é realista, forte, bruto, pesado e violento, como também é capaz de mostrar das melhores histórias, das melhores interpretações e do mais credível realismo que nos prendem ao ecrã sem dele conseguir desviar por uma vez o olhar. São filmes como este que nos mostram que existem muitas histórias bem perto de nós capazes de nos fazer querer ver mais e mais cinema.
A tantos, mas em especial ao Sr. Jacques Audiard... os meus mais sinceros parabéns por esta extraordinária obra que tão depressa não irei esquecer.
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10 / 10
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domingo, 18 de julho de 2010

The Visitor (2005)

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The Visitor de Steven Kale é uma curta de suspense na qual uma mulher sózinha em casa é assediada por um homem que lhe pede abrigo.
Pessoalmente eu suspeitei logo do estilo quando ao vermos o interior da casa daquela mulher encontramos um conjunto infindável de bonecos que normalmente associamos, em filmes deste género, a alguém seriamente perturbado... Sem adiantar grande coisa... não me enganei muito.
Quanto à curta em si tem um nível demasiado amador e as interpretações não estão nem de perto nem de longe a um nível razoável exigido para dar vida a estas personagens algo que os faz cair em lugares comuns já muito explorados.
Detalhe muito engraçado é ver como a "vítima" tem o cuidado de lavar a faca com que acabou de matar alguém para remover as manchas de sangue... Muito fraquita...
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2 / 10
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sábado, 17 de julho de 2010

Boys on the Side (1995)

Homens à Parte de Herbert Ross é um brilhante e fantástico filme que conta com um trio feminino protagonista de luxo: Whoopi Goldberg, Mary-Louise Parker e Drew Barrymore.

Jane (Goldberg) é uma cantora em bares que quer mudar de vida e como tal procura alguém que a acompanhe e partilhe despesas de viagem rumo a outra cidade. O seu pedido é atendido por Robin (Parker) uma mulher reservada e demasiado controlada que, à partida, nada tem a ver com a personalidade de Jane.

Pelo caminho encontram-se com Holly (Barrymore) amiga de Jane que vive uma relação claustrofóbica de onde não consegue sair.

Evitando detalhes desnecessários sobre a restante história que poderão estragar a curiosidade de quem nunca viu este filme, aquilo que logo à partida posso dizer sobre este filme é que tem um trio fantástico de actrizes que se complementam entre si.

Qualquer uma delas começa a sua viagem emocionalmente reprimida e afastada de qualquer ligação saudável para com outro ser humano. Jane percebemos estar sentimentalmente magoada e retraída enquanto que Robin está psicologicamente (pensamos nós) abatida e desgastada.

Esta viagem é assim vista por todas como uma forma de se afastarem dos locais que até à data foram tóxicos e nocivos para as suas vidas e para os seus seres. Uma viagem para se afastarem das vidas que tiveram. Das mágoas que aos poucos se foram apoderando das suas vidas e dos problemas e situações que foram limitando os percursos e os sonhos que tiveram.
Ao estilo de road-movie, mas de qualidade, assistimos então à partilha, amizade e cumplicidade que nasce aos poucos entre estas três mulheres que as faz não só começarem a gostar umas das outras como confiam em si as suas próprias vidas e os seus segredos mais profundos. Aqueles que poderiam abalar a vida de qualquer um. Aqueles segredos que todos prefeririam guardar e esquecer.
À medida que se aproximam do seu destino planeado, nunca lá chegando sequer, as fragilidades começam a afectá-las de uma forma muito forte e marcada. É neste ponto que se vão deparar com todos os testes e provas que irão pôr em causa tudo aquilo que construiram anteriormente. Serão assim tão fortes os laços que criaram?
Um dos factores mais fortes dete filme (sim, um dos pois eles são inúmeros) é a fantástica banda-sonora que tem. Composta por David Newman encontramos então acordes melodiosos e serenos ao mesmo tempo que escutamos temas que fizeram história por todas as rádios mundo fora. Um desses temas faz parte daquele que é possivelmente o momento mais emocionante e tocante de todo o filme (que também sim... são muitos). Momento esse que dispensa qualquer tipo de comentário extra e que aqui deixo para aqueles que quiserem assistir...


Depois deste breve mas intenso momento há também que falar de um brilhante argumento da autoria de Don Ross. Uma história que versa tantos importantes temas como a amizade, a dedicação e para mim aquele que é talvez o mais significativo que consiste no facto da família, da verdadeira família... Aquela que criamos com a vida e o passar dos tempos... Essa que surge das pessoas mais inesperadas... nos momentos mais "impossíveis"... das situações menos calculadas. Este sim, um dos pontos muito fortes de toda a história. Aquele que pelo menos a mim me marcou com maior intensidade.

É impossível falar de um bom filme sem falar de um bom conjunto de actores. Aqui então é indispensável referir estas três mulheres como capazes de suportar todo um filme que por si só já é 5 estrelas. Whoopi Goldberg mostra aquilo que qualquer um de nós que a acompanha desde os idos anos de Uma Mulher dos Diabos, sabe. Esta mulher é um símbolo. Um marco. Um monumento vivo da interpretação. Uma força viva da natureza. Intensa. Dramática. Cómica. Forte. Potente. Tantos são os adjectivos que a podem caracterizar. Tantos...

E não está só. Tem uma Mary-Louise Parker felizmente devidamente aproveitada para um papel feito ao seu nível, e que o consegue agarrar com unhas e dentes mostrando com ele todo o seu potencial. E finalmente impossível não mencionar Drew Barrymore e aquele que foi possivelmente o seu primeiro grande papel dramático (ok ok... meio cómico também) após uma longa e árdua travessia no deserto.

Sem qualquer sombra de dúvidas este filme marca o percurso destas três grandes actrizes e não seria imaginável existir sem qualquer uma delas. Elas completam-se e complementam-no na perfeição. Um filme tocante e dono de uma sensibilidade extrema digna de ser apreciada.


"Elaine: I do the best I can, honey. I know it's not enough and I'm sorry. But that's what you get in life, you know? You get whoever you end up with. Whoever is willing to stick by you, and fight for you, when everyone else is gone. And it ain't always who you expect. But you just have to make do."

10 / 10

In America (2002)

Na América de Jim Sheridan é aquilo a que eu posso simplesmente chamar de pérola. Um verdadeiro hino à união, à família, à recuperação e à redenção com brilhantes desempenhos por parte do conjunto dos cinco actores que o compõem e ainda com uma fantástica história escrita também pelo realizador como pelas suas duas filhas Naomi e Kirsten Sheridan, que carrega uma complixidade e carga dramática enormes sem com isso ser um daqueles filmes que puxe pela lágrima fácil (mas que acaba por fazê-la cair em todas as devidas ocasiões).

A história dá-nos a conhecer a viagem de uma família irlandesa composta por pai, mãe e duas filhas que, vinda do Canadá tenta entrar nos Estados Unidos e aí recomeçar a sua vida. Recomeçar uma vida não por um ou outro problema financeiro mas sim recuperá-la após a morte do filho que sucumbiu devido a um tumor maligno.

Com este filme Jim Sheridan dirige um fabulosa elenco. Fazem dele parte a actriz inglesa Samantha Morton que com o seu fabuloso desempenho de uma mãe numa família à beira da ruptura e que tenta encontrar um novo lar, conquistou a sua segunda nomeação a um Oscar.
A química entre Morton e o actor Paddy Considine, que aqui interpreta o seu marido, é fulminante ao ponto de percebermos que aquele outrora feliz casal vivia agora um drama profundo que os separava e desgastava ao ponto de a família ir ruindo de dia para dia.
Considine tem em todo o filme talvez o papel mais magoado. Por serem de uma família irlandesa e profundamente crentes, foi Johnny (Considine) que sentiu a maior revolta pelo seu filho não ter sobrevivido. A sua revolta com Deus impediu-o de viver a partir desse dia. Está presente e convive com as suas filhas e mulher mas sente-se emocionalmente apagado... possivelmente morto. Sem alegria. Sem a "vida" suficiente para amar e para sentir. Vive apoderado pelo desgosto e pela mágoa que diariamente o consomem e à custa dos quais não consegue representar e ganhar a vida de uma forma que os retire de uma vida em dificuldades.
A compôr a família temos as duas filhas do casal. A mais nova, Ariel que é possivelmente a "luz" de todos eles, é interpretada pela jovem actriz Emma Bolger que nos entrega não só uma belíssima composição dramática e muito expressiva como ao mesmo tempo nos brinda com pequenos toques de uma comédia ternurenta que encantam qualquer um.
A interpretar Christy, a irmã mais velha temos, Sarah Bolger que é possivelmente o papel mais forte de todo o filme, e ela sim deveria ter conquistado uma nomeação ao Oscar de Melhor Actriz do ano. Não só é ela que funciona como uma narradora de toda a história que nos liga à situação actual da família como ao que a levou ao ponto onde se encontram como, além disso, é ela que funciona como o mais forte elo dramático entre todas as personagens.
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"Christy: Don't "little girl" me. I've been carrying this family on my back for one year, ever since Frankie died. He was my brother too. It's not my fault that he's dead. It's not my fault I'm still alive.
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Johnny: Ah, Christy.
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Christy: Mom was always crying because he was her son. But he was my brother too. I cried too... when no one was looking. I talked to him every night.
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Ariel: She did.
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Christy: I talked to him every night, until...
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Johnny: ... until when?
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Christy: Until I realized I was talking to myself."
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A compôr este maravilhoso elenco temos Djimon Housou (Matteo) que, uma vez mais, tem um fabuloso e gigante papel em cinema que lhe valeu a sua primeira nomeação a Oscar de Melhor Actor Secundário. É ele que funciona como o apoio que esta família vai ter para se aperceber o quão importante são uns para os outros e o quão estão lá uns para os outros. Está presente por um acaso (como todos os elos positivos estão sempre) e é ele que funciona como a alavanca para que a vida desta família se desenvolva de forma positiva. Novamente repito, não me espanta nada que este actor muito em breve tenha um Oscar nas suas mãos.
Com uma realização de luxo, um argumento forte e sensível e interpretações coerentes, consistentes e profundamente dramáticas, este filme assiste ainda a uma forte banda-sonora da autoria de Gavin Friday e Maurice Seezer que conquista qualquer um pelo forte teor dramático que apresenta.
Se todo o filme é bom, e de facto é pois não tem uma sequência que seja considerada desnecessária ou sem qualquer desenvolvimento, tendo tudo no sítio certo, é impossível negar o impacto que o segmento final tem em todo o filme à semelhança da anterior conversa tida entre Johnny e Christy.
Enquanto este segmento entre pai e filha mostra o profundo drama que assolou não só os pais como ambas filhas e relata como uma delas sente que é o únicoo suporte da família tendo para isso "abandonado" de forma obrigatória a idade jovem tornando-se numa adulta, o segmento final não só confirma este aspecto como é possivelmente o momento mais forte de um filme repleto de segmentos profundamente dramáticos e reflexivos.
Não só este Na América é um filme dramático com momentos pontuais de uma comédia muito ligeira que faz sorrir e não rir como é, e afirmo sem qualquer pudor, um dos filmes mais interessantes e bem dirigidos do decénio passado e que facilmente consegue conquistar qualquer um que esteja interessado numa excelente história interpretada por um elenco de luxo quer seja dos actores mais velhos como das duas jovens actrizes que parecem ter nascido de propósito para ali estarem.



"Christy: You should let somebody love you before it's too late."


10 / 10

sexta-feira, 16 de julho de 2010

26-001 (2007)

26-001 de Jackie Perez é, de longe (muito longe) um dos piores filmes que vi em toda a minha vida. A começar por uma história sem qualquer tipo de início onde se iniciam umas filmagens apenas "porque sim", até aos desempenhos absurdos dos dois actores passando, claro está, pelos pobres efeitos que qualquer criança de 2 anos de idade faz se lhe derem oportunidade.
Depois de descerem uma quantidade de escadas rumo a uma qualquer cave desconhecida, um casalito, dá por si a ser alvo da perseguição de uma qualquer "coisa" que nunca chegamos sequer a vislumbrar. Depois dele ser apanhado e literalmente dizimado (penso) é a vez dela fugir se quiser sobreviver. Grita muito, talvez porque vê os seus sapatinhos sujos de sangue e não necessariamente por se ver a braços com o perigo, lá desata numa correria sem fim a ver se escapa (é nesta altura que já farto de tanta correria e gritos eu desejo que ela seja mesmo apanhada.
Lá tenta abrir umas portas e tal.. entra no elevador que nunca mais fecha a porta até que, previsivelmente, é apanhada... Lá se fecha a porta do dito elevador e, espantemo-nos com a (má) qualidade da peça... quando vemos o reflexo de um braço a atirar algo semelhante a sangue para a respectiva porta. Mau... muito mau (para não chamar de péssimo).
Sou bem a favor dos trabalhos amadores em que tantos e bons realizadores investem o seu tempo e criatividade para nos deliciarem a nós espectadores com momentos de bom entretenimento mas isto é, sem qualquer sombra para dúvida um abuso.
Chamar a isto mau seria dar-lhe algum tipo de qualidade de referência, algo que não tem... Mas se duvidam do meu "juízo"... aqui fica esta curta para comprovarem.
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1 / 10
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Callous Sentiment (2002)

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Callous Sentiment de Vincent Grashaw é uma curta-metragem de suspense onde um jovem rapaz se torna voyeur de um conjunto de situações em que a violência predomina.
Este rapaz que inicialmente assiste àqueles actos com espanto não acreditando no que vê, torna-se aos poucos num assíduo e fiel espectador que quer mais e melhor entretenimento.
As mensagens que aqui podemos encontrar são simples. A primeira é o facto da violência se poder encontrar em qualquer local mesmo naqueles que menos esperamos. A segunda, e talvez a mais importante de todas, prende-se com o facto de dentro de nós existir um lado selvagem que aprecia e gosta de ver a humilhação perpetrada sobre terceiros. Uns reprimem esse lado selvagem... outros têm gosto em despertá-lo. Finalmente, a terceira e última mensagem que podemos retirar desta curta é ainda mais simples e está intimamente ligada com a nossa própria moral... Calamo-nos à violência, à opressão e à injustiça ou, por outro lado, lutamos contra ela denunciando-a?
Muito boa curta com questões bem importantes para toda a sociedade que devemos ver e retirar conclusões próprias. Para tal deixo-a aqui neste post, tendo uma resolução mais fraca, e também aqui onde a podem ver em melhores condições.
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8 / 10
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quinta-feira, 15 de julho de 2010

12:12 (2007)

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12:12 de Jeremy Cathey é uma curta-metragem amadora com uma premissa que sempre fascinou o género do terror e do fantástico. O que acontecerá nos momentos em que as horas ou as datas atingem números curiosos? O 06 do mês 06.... e demais exemplos atingem aqui as 12:12 que dão o nome à própria curta.
Amadora, como o próprio realizador que há altura tinha 17 anos, faz questão de referir na sua apresentação, mas apesar disso não apresente grande explicação para o porquê de aparecer um tipo com uma máscara lá por casa.
Àparte do fascínio que as capícuas e afins transportar para o imaginário do fantástico, pouco mais adianta do que a boa vontade de fazer algo que se quer diferente.
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2 / 10
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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Joy Ride (2001)

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Não Brinques com Estranhos de John Dahl é um intenso filme de suspense que tem nas interpretações principais Steve Zahn, Paul Walker e Leelee Sobieski.
Quando Fuller (Zahn) e Lewis (Walter) falam com um camionista pelo rádio que têm no carro nunca imaginariam que ele fosse um psicopata assassino que iria tornar as suas vidas num perfeito inferno. Com a chegada de Venna (Sobieski) ao grupo, este assassino que se sente humilhado pelos dois irmãos, resolve que agora é a sua vez de se "divertir" com os três jovens naquela que se iria tornar a sua pior aventura.
Este filme, ao estilo de um road movie, foi para mim uma agradável surpresa. Não só é do estilo filme pipoca que todas as pessoas acabam por ver e apreciar como também consegue provocar uns bons momentos de agradável suspense sem que para isso tenha de recorrer a clichés desastrosos e desinteressantes que o tornam mais numa comédia rasca do que num suspense bem conseguido. Aqui o suspense existe e sim, ele é real.
A ausência "física" de um vilão que atormente os protagonistas também é um aspecto bem conseguido. Na teoria esse vilão está sempre presente e sabemos que ele persegue de perto todos os principais intervenientes mas na prática ele nunca aparece com grande destaque ou percepção em nenhuma das cenas em que supostamente deveria. O medo pela ausência do principal interveniente funciona e muito bem acabando por ser um dos principais elementos de suspense de todo o filme.
Os actores protagonistas também evidenciam a química que sentem uns pelos outros. Steve Zahn como o "bobo da corte" de serviço acaba por ser igual a si próprio que é o mesmo que dizer que utiliza a sua veia cómica para aqui ser o "descompressor" de todo o suspense. Paul Walker como o irmão mais reservado, mas sem se descolar da imagem de menino bonito, torna-se um dos elementos ditos "românticos" do filme com a protagonista Leelee Sobieski. E esta sim, foi para mim, a grande surpresa de todo o filme. E porquê? O único trabalho de Sobieski que tinha visto à altura havia sido a encarnar Joana D'Arc e aí mostrou ser uma perfeita actriz para um desempenho histórico com a qual facilmente a identifiquei. Ao ver que participava num filme deste género desconfiei de imediato e esperei o pior. Felizmente enganei-me. Sobieski revela que consegue não só encarnar importantes figuras históricas como também filmes ditos "blockbusters" (sem que este seja disso grande exemplo mas é o que mais próximo está dentro da sua filmografia).
Sem grandes dotes interpretativos é, no entanto, um filme bastante interessante considerando o género até porque normalmente este tipo de filmes resvale sempre (ou quase) para obras fracas, desinteressantes e pouco apelativas. Aqui o humor é pouco mas competente e o suspense muito e bem concretizado e faz este filme valer a pena do princípio ao fim provocando no espectador uma tensão a todo o vapor.
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8 / 10
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terça-feira, 13 de julho de 2010

Te Doy Mis Ojos (2003)

Dou-te os Meus Olhos de Iciar Bollain conta com a interpretação nos papéis principais de Laia Marull e aquele que é para mim um dos maiores actores espanhóis da actualidade, o grande Luis Tosar.

A história deste filme gira em torno de um drama escondido nas sociedades, ou seja, o da violência doméstica. O seu início centra-se naquilo que pensamos ser uma situação extrema de medo onde Pilar (Laia Marull) uma mulher de Toledo tenta rapidamente juntar poucos dos seus pertences e fugir com o seu filho para casa da irmã.

Mais tarde ficamos a saber que foge de Antonio (Luis Tosar) o seu marido que abusa física e psicologicamente dela. Pilar vive uma vida de quase clausura não podendo estar ausente durante muito tempo e não conviver com outras pessoas. Não trabalha, não sai de casa, vivendo única e exclusivamente para estar presente para Antonio.

Ao longo do filme percebemos que os ciúmes de Antonio passam mais pelo facto de Pilar se relacionar com outras mulheres no emprego que entretanto arranjou e pelo facto de agora ganhar interesse em outros assuntos e outras vivências que até então lhe haviam sido desconhecidas, tais como o conhecimento e a valorização que daí lhe advém. Conhecimento é poder, e nestas relações não podem existir dois elementos com igual quantidade de poder.
Dito isto é claro que para dar corpo a estas interpretações só poderiam estar bons actores. Confesso que o conhecimento que tinha de Laia Marull era nulo. Só conhecia a actriz pelo nome e mesmo assim não a associava a nenhum trabalho em concreto. No entanto esta actriz que aqui venceu o Goya de Actriz Principal tem de facto uma forte interpretação que espelha na perfeição o medo tanto de violência física como psicológica que sente por parte de um marido abusador e que a qualquer momento pode explodir num acto de raiva.
Quando ao actor principal, e tal como referi logo na primeira linha deste comentário, Luis Tosar é simplesmente perfeito. Não só é um dos melhores actores espanhóis da actualidade como tem uma presença suficientemente forte para nos deixar arrebatados com a magnitude do seu empenho. Basta o seu olhar ora vazio ou cheio de fúria para nos convencer que o que está a fazer é bom e carregado de força. Tosar é de facto brilhante e extremamente convincente neste desempenho ao ponto de nos deixar a pensar que não seria muito agradável estar por perto quando a situação "aquece". Também ele recebeu o Goya de Melhor Actor da Academia Espanhola de Cinema e verdade seja dita que seria impossível ignorá-lo.
Luis Tosar retrata então um homem que tem como única forma de se impôr a alguém a violência doméstica para com a sua mulher. Ignorado pelo pai, humilhado pelo irmão sente-se pequeno. É esta pequenez que de forma incorrecta e injusta o faz exercer o seu poder sobre a mulher. Sobre aquela que face a ele é um elo mais fraco.
Óptimos desempenhos por parte de todo o elenco que ainda foi premiado com o Goya de Melhor Actriz Secundária para Candela Peña que interpreta o papel de Ana, a irmã de Pilar.
Justo foi também o Goya atribuído ao Melhor Filme do Ano como à realizadora Iciar Bollaín, uma das poucas mulheres que até à data já venceram este importante galardão que premeia o cinema espanhol.
A história não nos tráz nada de novo. Todos sabemos que a violência doméstica é infelizmente um flagelo que continua a assolar inúmeros lares por toda a parte. No entanto, pelo realismo com que é filmado este argumento da autoria da própria realizadora e de Alicia Luna, também ele vencedor de um Goya na sua categoria, consegue convencer-nos enquanto espectadores e criar um filme actual. Testemunha disso são por exemplo as sessões de acompanhamento aos abusadores e das situações que, entre eles, são recriadas. Francamente assustador de tão real que é.
Assim aqui temos mais um magnífico filme que prova que "ali ao lado" se faz cada vez mais e melhor cinema além Almodóvar (com o respectivo respeito e admiração) e que não só são bons em cinema de terror como em intensos e soberbos dramas. Um fantástico filme a não perder.



10 / 10

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Gladiator (2000)

Gladiador de Ridley Scott conta com a participação de Russell Crowe, Joaquin Phoenix, Connie Nielsen, Oliver Reed, Richard Harris, Derek Jacobi e Djimon Hounsou.

Um elenco de luxo para este épico histórico centrado na época dos gladiadores da Roma Antiga em que a intriga, a política e o excesso e abuso de poder controlam os destinos não só das pessoas como dos Estados.

Russell Crowe que com este filme conquistou a sua segunda nomeação a Oscar tendo desta vez levado o mais alto galardão da indústria cinematográfica, interpreta o papel de um general de Roma que por desafiar as ordens do novo Imperador (Joaquin Phoenix) cai na desgraça tornando-se primeiro escravo e depois gladiador de Roma adquirindo mais prestígio que o próprio Imperador.

Tendo perdido a sua casa, o seu bom nome, reputação e tendo assistido à morte da sua mulher e filho (Giorgio Cantarini, alguém ainda se lembra dele?) às mãos do Imperador Commudus, o seu único objectivo agora é a vingança e a libertação da grandiosa cidade de Roma das mãos do absolutismo.

Este absolutismo retratado na perfeição às mãos de Joaquin Phoenix que aqui dá corpo e alma a um jovem Imperador demente de poder e pelo que o seu abuso pode provocar, com sede de eliminar todos quantos os que lhe fazem frente ou desafiam a sua ordem, é de facto tão impressionante quanto a própria personagem de Crowe, o gladiador Maximus.

Todos os demais actores secundários estão à altura sendo que a única diferença é mesmo o facto dos seus desempenhos serem secundários e não principais. De resto tanto o dinamismo como o magnetismo estão lá bem presentes.

De todos há que destacar a Imperatriz Lucilla interpretada por Connie Nielsen que tem tão de dramático como de trágico, também ela vítima às mãos do seu irmão Commudus. Finalmente é impossível não destacar Juba, interpretado pelo magnífico Djimon Hounsou que mais uma vez entrega um imenso desempenho, aqui secundário, como um gladiador parceiro de Crowe. Escusado será dizer que em muito pouco tempo o veremos novamente nomeado a um Oscar, a sua terceira nomeação, e quem sabe também com um Oscar na mão, o que não seria nada despropositado... mark my words...
Além das interpretações este filme também venceu noutras frentes. Os efeitos especiais são uma delas. A equipa, que saiu vencedora do Oscar na categoria, (re)criou a Roma Antiga em toda a sua opulência, e decadência também, com as arenas e o Coliseu onde lutavam os gladiadores. Foi o verdadeiro renascer de toda uma imponente cidade.
Também imponente é a fantástica banda-sonora da autoria do compositor Hans Zimmer, também ela nomeada a Oscar mas que não saiu vencedora é, no entanto, profundamente comovente ao mesmo tempo que é ela testemunha dos momentos de maior acção de todo o filme. Arrisco dizer que é uma das maiores e melhores do ano com melodias que até hoje perduram e não nos saem da memória, como disse é exemplo a que a seguir deixo aqui.


Vencedor de ainda dos Oscars na categoria de Som e de Guarda-Roupa, Gladiador foi ainda nomeado para as categorias de Direcção Artística, Fotografia, Montagem, Argumento Original e Realizador para Ridley Scott que ainda não seria desta o vencedor da noite. Talvez uma das maiores derrotas na premiação que o filme assistiu, sendo que venceu duas importantes categorias, a de Actor e a de Filme.

O Gladiador veio provar que os grandes épicos estão ainda de boa forma e que é possível juntar-se-lhes uma boa narrativa dramática com interpretações dignas de primeira linha não tornando o género apenas num filme de três horas repleto de efeitos especiais e interpretações ora cómicas ora de pancadaria e pouco mais. Com este filme renasce assim o espírito existente três ou quatro décadas antes onde aos grandes épicos era agregado um conjunto de actores capazes de efectuar belíssimos desempenhos carregados de emoção e emotividade dramática.
Excelente filme dramático. Excelente filme de acção. Excelente filme de efeitos especiais. Excelente filme a nível de argumento. Excelente. Excelente. Excelente...


"Maximus: I knew a man once who said "Death smiles at us all. All a man can do is smile back."


10 / 10

domingo, 11 de julho de 2010

The Pianist (2002)

O Pianista de Roman Polanski conta com a participação de Adrian Brody no papel de Wladyslaw Szpilman, um pianista judeu que sobreviveu na Polónia ocupada pelas tropas nazis, tendo perdido toda a sua família, e também com Thomas Kretschmann um oficial nazi que ao descobri-lo não o denunciou, evitando assim a sua morte.
Este brilhante filme nomeado para sete Oscars tendo saído vencedor do de Melhor Actor para Adrien Brody, o de Melhor Realizador para Roman Polanski e o de Melhor Argumento Adaptado para Ronald Harwood, é sem dúvida um dos grandes vencedores dos prémios cinematográficos em 2002 e 2003 e um justo merecedor dos mesmos.
Sem contar com grandes relatos de batalhas ou confrontos, O Pianista é um filme reflexivo sobre os horrores da guerra de uma forma crua, directa e que não esconde a realidade dos factos. É um relato sobre a capacidade humana de sobreviver à maior provação possível sem descer à degradação ou à decadência.
À semelhança de um A Lista de Schindler, este filme retrata um dos mais negros períodos da História do séxulo XX sem qualquer artefacto. Nem mesmo uma imponente banda-sonora que sensibilize ainda mais os momentos mais sombrios. Aqui tudo é contado com um sentido cronológico onde inicialmente tomamos conhecimento com a vida das pessoas retratadas e, com o tempo, a sua transformação psicológica e física até atingirem o limite que separa a sanidade e a dignidade da loucura e da degradação.
Aqui o mérito é, além de Polanski, do fantástico trabalho que Adrien Brody nos dá. Este actor que para fazer o filme se despojou de todos os seus bens e partiu rumo à Europa, tem de facto o trabalho da sua vida.
O Oscar (magnífico discurso de aceitação do prémio, um dos melhores dos últimos anos) e o Cesar entre outros prémios que venceu foram para Brody totalmente merecidos. O retrato fiel que nos dá do pianista polaco é não só real e bem elaborado como profundamente comovente e emocionante a cada segundo que assistimos aos horrores pelos quais passou. Assistimos à sua vida normal. À sua passagem pela Polónia ocupada e à repressão que a população judaica passou. As contagens. Os trabalhos forçados. Os medos. A separação da sua família. A vida passada em locais escondidos. O medo. As contagens. O contrabando. Tudo em nome de uma sobrevivência num mundo que mais parecia ter enlouquecido e onde ninguém se reconhecia. Onde ninguém reconhecia a humanidade da própria Humanidade.
Os secundários, nomeadamente Thomas Kretschmann no papel do oficial nazi que não denuncia Wladyslaw, são francamente bons. Os papéis são contidos não por falta de expressividade mas sim porque esta está a ser retratada de uma forma tão fiel que nos dá luz sobre a forma como as pessoas viviam durante aqueles duros anos.
Não sou conhecedor profundo de toda a obra de Polanski, no entanto já vi uns quantos filmes seus. Gostei de todos. São obras pesadas e sempre com algum tipo de reflexão sobre a sociedade ou sobre as pessoas.
De todos eles será impossível não afirmar que O Pianista é um filme grandioso. Muito grandioso. Um filme profundamente dramático sem recorrer a lágrimas fáceis, mas que nos deixa (ou deveria deixar) pensativos sobre os horrores da guerra e sobre a forma como o ser humano se degrada e consegue degradar os seus semelhantes em nome de ideias que não defendem ou protegem o próprio ser humano.
Um filme obrigatório de se ver como relato fiel da História. Seco, bruto, comovente que consegue deixar qualquer um pensativo.



"Wladyslaw Szpilman: I don't know how to thank you.

Captain Wilm Hosenfeld: Thank God, not me. He wants us to survive. Well, that's what we have to believe."


10 / 10

sábado, 10 de julho de 2010

Life or Something Like It (2002)

Sete Dias e Uma Vida de Stephen Herek é para mim assumidamente um dos filmes mais bem conseguidos de Angelina Jolie. Aqui tem um "novo rosto" que a possibilita de fazer umas quantas comédias dramáticas e românticas desmistificando um pouco a ideia tradicional de que é uma "durona".
Ao seu lado contamos com Edward Burns com quem é estabelecida uma interessante colaboração como par amoroso de serviço e o que é certo é que resulta harmoniosamente bem.
Lanie Kerrigan (Angelina Jolie) é uma estrela em ascenção num canal de televisão local a quem tudo parece correr bem. A sua vida pessoal também não poderia correr melhor pois partilha-a com um craque de baseball.
Como forma de saber a opinião do público de Seattle faz reportagens de rua onde um dia entrevista Jack (Tony Shalhoub) um mendigo supostamente profeta que a avisa que além de não ir conseguir o trabalho na televisão nacional que tanto ambicionava também irá morrer no espaço de uma semana. Se de início isto parecia uma piada de mau gosto, rapidamente Lanie percebe que afinal até pode ter um fundo de verdade, dando início a uma série de situações quer hilariantes quer dramáticas. Uma delas é este brilhante segmento ao som de Satisfaction dos Rolling Stones.


Além de ser um filme que quer tem momentos de comédia como este que referi, tem também uns quantos onde Lanie pensa na sua vida passada e no quão isolada se sentia dela e do mundo que a rodeava.
Temos a respectiva família disfuncional com um pai ausente e uma irmã competitiva que a despreza. Tudo isto culmina numa pessoa que a dada altura percebe encontrar-se relativamente sózinha no mundo e que tudo o que "tem" se baseia apenas em acontecimentos e situações de circunstância não tendo assim qualquer tipo de bases sólidas.
É aqui que surge então a sua relação de amor/ódio com Pete (Edward Burns) que apesar dos conflitos, que percebemos serem já constantes, revela ser uma relação que tem ela sim, bases para poder ser algo de substancial na vida de ambos. Existe de facto uma química muito agradável entre os dois actores.
Não escondo que gosto francamente da Angelina Jolie e da generalidade dos filmes que fez até à data. Ao contrário do que muitos dizem acho sinceramente que ela tem capacidades e qualidades como actriz que se evidencial de filme para filme, e estou certo que muitos serão ainda os papéis de destaque que esta actriz ainda irá representar.
Além dos actores principais temos ainda duas simpáticas prestações de Tony Shalhoub (Jack, o Profeta) numa divertida e "amalucada" interpretação como já vem sendo hábito por parte deste actor e temos também Stockard Channing (Deborah Connors) que interpreta não direi a vilã da fita mas a personagem vincadamente forte por ser aquela que Lanie pretende realmente impressionar por ser o seu modelo.
No seu todo o elenco funciona de forma coesa e principais ou secundários todos acabam por se complementar. Não existem personagens em excesso ou "mal aproveitadas". Todos estão lá com a sua função.
Com um argumento simpático, actores à altura que nos oferecem desempenhos bem simpáticos e dinâmicos e uma simples mas emotiva e eficaz banda-sonora composta por David Newman, este filme que apenas peca pelo título em português, consegue ser ao mesmo tempo divertido e emotivo e apesar de ter sido considerado à altura um dos piores do ano é na minha opinião exactamente o oposto... Não só um dos melhores do ano como da anterior década. Exagero? Talvez... mas gosto deste tipo de filmes que sem grandes pretensões conseguem cativar o público e que por isso sim se tornam peças cinematográficas dignas de registo.
Registo esse que se torna ainda mais agradável com os segmentos finais do frente-a-frente entre Angelina Jolie e Stockard Channing e o tão brilhante momento em que Jolie canta Satisfaction. Sem dúvida um dos melhores momentos de cinema da década passada. E não. Não me importo nada que me achem pretencioso com este comentário. É um facto que adoro a Angelina Jolie. E mais certo é que fica irresistível de se ver num filme assim.



"Lanie: A minute just seems like a really long time to waste."

10 / 10