sábado, 31 de dezembro de 2011

Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1 (2010)

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Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 1 de David Yates é, por assim dizer, o princípio do filme que termina a saga Harry Potter, na medida em que é a primeira parte de um filme dividido em dois.
Enquanto os anteriores filmes da saga Potter se iniciam com o próprio ano lectivo de Hogwarts, este parte do momento em que Dumbledore morre. Harry, Hermione e Ron partem em busca dos Horcruxes que contêm parte da memória e do ser de Voldemort para os poder destruir e assim eliminar mais facilmente o tão terrível mestre da magia negra.
Ao mesmo tempo Voldemort e os seus Devoradores da Morte ocupam-se não só do Ministério da Magia como também de Hogwarts espalhando assim a sua influência por toda a parte e lançando uma feroz e cerrada caça não só a Potter como a todos aqueles que ousem ajudá-lo.
Algo que já se vinha a sentir nos dois filmes anteriores e neste é por demais evidente é o amadurecimento não só das personagens que compõem a história mas também dos próprios jovens actores que lhes dão corpo e alma e que cresceram, claro está, com esta saga de filmes. O seu empenho nas personagens que interpretam nunca esteve em causa mas sentimos que eles agora sim estão plenamente "dentro" dos seus próprios pensamentos. E sentimos isto com o trio protagonista. Cada um deles sem qualquer excepção percebe-se estar de facto a viver e sentir aquilo que os seus personagens ditam. Eles estão de facto na história. Vivem-na e sentem-na.
Dito isto não deixa igualmente de ser verdade o facto destas histórias estarem também elas bem mais adultas, que é como quem diz, cada vez mais sérias e sombrias. Enquanto os primeiros filmes tinham quase como propósito fundamental o entretenimento para um público mais jovem, o que é certo é que agora eles já são feitos com outro tipo de requinte. Já se sente mais seriedade nos argumentos que dão continuidade à história (não que essa seriedade faltasse antes mas agora é simplesmente mais amadurecida).
Não só mais maduro como também cada vez mais negro e sombrio, é impossível falar deste filme sem destacar as brilhantes prestações de Ralph Fiennes e de Helena Bonham-Carter que compõem não só os vilões deste filme mas também o vilão perfeito para qualquer filme. Apesar das mais limitadas prestações que tiveram ao longo dos agora sete filmes, se pensarmos bem neles seria impossível ter outro grupo de actores a interpretarem estas personagens que, apesar de vilãs, acabam por assumir uma importância tão grande como o trio juvenil protagonista. E quem me disser que não delirou com os instantes em que Bellatrix "Bonham-Carter" Lestrange nos brinda no ecrã... só pode mentir. É daquelas personagens tipo que um actor ou actriz consegue uma vez na vida e que certamente os irão marcar indefinidamente.
Este filme tem, para o bem e para o mal, um grande "senão"... O facto de ter sido dividido em dois, não só para aguçar o apetite dos espectadores que o seguem como também para prolongar os lucros por um período de dois anos e a potencial multiplicação de prémios, tem momentos em que não joga a não favor. As personagens, se bem que completas, sentimos sempre que poderiam ter ido mais longe. E na prática vão, considerando que o segundo filme estava quase a aparecer mas no entanto factores existem que parecem não ter sido desenvolvidos.
A própria narratia da história por muito bem "terminada" no trágico e comovente momento em que foi, não deixa de nos dar igualmente a sensação de que se o filme continuasse por mais duas hora (sem qualquer exagero), ficaríamos com toda a certeza "plantados" frente ao ecrã a saborear cada segundo que passava. Sabemos que o que está feito está bem mas... não queremos que termine por ali. E este aspecto, quer queiramos quer não, tanto joga a favor do filme como contra ele.
Tecnicamente falando o filme não poderia estar melhor e à semelhança dos anteriores torna-o em muitos aspectos quase como um filme de época... quer em termos de um parcialmente clássico e fora do comum guarda-roupa, bem como a extraordinária direcção artística este filme é, poderei arriscar dizer, perfeito. E o mesmo se poderá dizer da fotografia de Eduardo Serra que transforma este filme de magia e feitiços numa perfeita alegoria à arte da magia negra com um ambiente sombrio bem à sua medida.
Durante todo o filme sentimos que a história está prestes a terminar... Começamos aos poucos a saborear aquele que será o desfecho deste filme e percebemos a real dimensão que esta longa saga cinematográfica atingiu junto de um vasto conjunto de fãs. No entanto também sabemos que ainda nos falta um filme para que tudo termine e esperamos ansiosamente que ele estreie e que nos revele qual o final para todas estas personagens que durante dez longos anos preencheram as fantasias de tantos espectadores.
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"Voldemort: I have seen your heart, and it is mine."
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8 / 10
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Cinema Português pré-seleccionado aos Goya 2012

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O cinema português está de parabéns. Agora que foi anunciada a lista dos filmes pré-seleccionados à edição de 2012 dos Goya que a Academia Espanhola de Cinema atribui anualmente, encontramos a presença de quatro filmes portugueses.
Entre os filmes pré-seleccionados temos duas co-producções com o país vizinho sendo eles, O Estranho Caso de Angélica de Manoel de Oliveira e com a participação da actriz espanhola Pilar López de Ayala e José e Pilar de Miguel Gonçalves Mendes filme igualmente pré-seleccionado para representar Portugal ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Os outros dois filmes são Mistérios de Lisboa de Raúl Ruiz, a longa-metragem portuguesa que está agora a fazer uma carreira bem sucedida internacionalmente e O Último Voo do Flamingo de João Ribeiro, totalizando assim 26 categorias pré-seleccionadas.
Os filmes referenciados estão pré-seleccionados nas seguintes categorias:
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O Estranho Caso de Angélica
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Filme, François D'Artemare, Luís Miñarro e Maria João Mayer (prods.)
Actor, Ricardo Trêpa
Actriz, Pilar López de Ayala
Actor Secundário, Felipe Vargas
Actriz Secundária, Leonor Silveira
Realizador, Manoel de Oliveira
Argumento Original, Manoel de Oliveira
Fotografia, Sabine Lancelin
Direcção de Produção, Valerie Loiseleux
Direcção Artística, Christian Martí
Guarda Roupa, Adelaide Maria Trêpa
Som, Henri Maïkoff e Joan Olivé
Caracterização, Ignasi Ruíz e Pilartxo Díez
Efeitos Especiais, Phillippe Szabo
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José e Pilar
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Filme, Miguel Gonçalves Mendes, Agustín Almodóval e Fernando Meirelles (prods.)
Documentário, Miguel Gonçalves Mendes, Agustín Almodóvar e Fernando Meirelles
Realizador, Miguel Gonçalves Mendes
Argumento Original, Miguel Gonçalves Mendes
Fotografia, Daniel Neves
Música Original, David Santos
Montagem, Cláudia Rita Oliveira
Som, Alessandro Laroca, Armando Torres e Olivier Blanc
Canção, Blecaute
Canção, Já Não Estar
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Mistérios de Lisboa
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Filme Europeu, Raúl Ruiz
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O Último Voo do Flamingo
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Filme Europeu, João Ribeiro
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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Black Swan (2010)

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Cisne Negro de Darren Aronofsky foi, de longe, um dos melhores e mais ousados filmes que este ano cinematográfico viu estrear e que contou com um elenco de topo onde se destacam Natalie Portman, Vincent Cassel, Mila Kunis, Barbara Hershey e Winona Ryder.
Nina (Portman) é uma bailarina obcecada em se tornar perfeita... Perfeita na execução de todos os movimentos e passos que dá nos seus ensaios que têm como objectivo torná-la na nova estrela da companhia e do bailado o Lado dos Cisnes.
No entanto nem tudo corre bem a Nina que executa realmente a perfeição do Cisne Branco mas é incapaz de ser ousada, arrojada e sensual na sua interpretação do Cisne Negro afastando assim os olhares do seu director que tudo tenta, inclusivé a sedução, para a levar aos seus próprios limites e assim obter a escolha perfeita para encarnar tão distinta personagem.
Este filme está longe se ser sobre bailado ou dança. Muito longe. Toda a história deste filme é centrada em sentimentos e formas de vida bem fortes e levadas ao extremo... a obsessão pela busca da perfeição e atingir o inatingível é o que domina toda esta história centrada quase na totalidade em Nina.
A dar corpo, e sejamos francos muita alma, a esta personagem temos uma sempre brilhante Natalie Portman, que aqui venceu tudo o que era prémio desde o Oscar ao BAFTA, o SAG e o Globo de Ouro Drama entre inúmeros outros atribuídos pelas várias críticas nacionais norte-americanas, e que foi sua dona e senhora personificando, também ela na perfeição, um conjunto de emoções todas elas levadas ao extremo. Acompanhamo-la enquanto luta como uma bailarina, entre muitas, que ambiciona chegar um pouco mais longe e ver todo o seu esforço e trabalho recompensados. Aquilo que nós só vamos percebendo aos poucos é que este trabalho não vem sózinho. Atrás dele vem um conjunto de situações assumidas como indispensáveis para poder chegar ao tão ambicionado objectivo... Anorexia, bulímia, demência, alucinações e fanatismo são as consequências de um trabalho não feito por paixão mas sim por um qualquer sentido de dever também ele assumido como sendo o ideal. Por si e pela sua mãe, num desempenho intenso de Barbara Hershey, que abdicou de uma carreira para poder ser mãe e transferiu para Nina os sonhos da sua juventude.
A demência, intimamente ligada às alucinações que só mais tarde percebemos quais serem e em que momento se manifestaram, determinariam o destino de Nina naquele que considero ser um dos desfechos mais originais e inesperados que vi neste último ano num filme. Não quero revelar nada pois considero que este filme é bom demais para apenas ser "avaliado" por um comentário, mas ainda assim não sou capaz de referir que os últimos dez minutos do filme são fortes e impressionantes demais para não fazerem valer todo um filme que, de si, já é uma das mais originais obras não só deste como, arrisco dizer, dos últimos anos.
A compôr o restante elenco do filme temos um Vincent Cassel que está rapidamente a tornar-se no actor fetiche para encarnar personagens que levam os demais ao limite. Assim o temos aqui como o sedutor e algo maléfico director da companhia como também em Um Método Perigoso onde curiosamente, ou talvez não, interpreta também aqui o "motor" do desejo das personagens principais.
E finalmente há que referir Lily, num igualmente muito bom desempenho de Mila Kunis, que se torna através da sua sensualidade inata, o objecto de um desejo sexual reprimido de Nina. Kunis era, até à data, uma actriz praticamente desconhecida para mim, mas o que é certo é que com esta interpretação ganhou um enorme protagonismo para outras tantas produções tornando-a na actriz sensação do momento para este estilo muito tipificado de interpretações.
Finalmente há que referir neste filme o renascer de uma "velha" estrela de Hollywood de seu nome Winona Ryder. Já há muito desaparecida de um protagonismo que alcançou no final da década de 80 e durante todos os anos 90, Ryder regressa aqui como, e passo a redundância, a "velha" estrela da companhia que não aceita a substituíção pela nova estrela em ascenção e que, também ela, a encara com um repulsa tão obsessiva como aquela que Nina sente em busca da perfeição absoluta.
Se todo o filme está bom, e disso não me restam quaisquer dúvidas, graças a um argumento original e exemplar da autoria de Andres Heinz, Mark Heyman e John J. McLaughlin, não deixa de ser igualmente verdade que toda a filmagem e direcção de actores se deve a um olhar muito particular de um enorme realizador como é o caso de Darren Aronofsky. Este realizador, que esteve muito em voga a dois anos atrás com o seu The Wrestler, já me havia impressionado há uns anos largos com o seu Requiem for a Dream. Aí sim, Aronofsky retirava das suas personagens o máximo da loucura e da decadência, só comparáveis novamente com este Cisne Negro. Se por um lado sentimos uma certa repulsa por estas personagens que vivem claramente num qualquer limite entre a sanidade e a loucura, ao mesmo tempo também não deixa de ser verdade que sentimos por elas uma certa empatia. É um sentimento estranho e francamente fora do normal, mas não será verdade que sentimos que gostaríamos de ter uma qualquer paixão por uma profissão ou arte que nos fizesse querer dar o máximo por ela?!
Como disse mais atrás, se todo o filme está excelente, os últimos dez minutos são no mínimo transcendentes. Realmente existiu perfeição. Ela sente-se e respira-se e toda a execução de Portman é... perfeita. A sua transformação, tida quase como impossível, no tão desejado Cisne Negro é física e psicológica. Todos os movimentos e a pose de Portman são realmente a encarnação do Cisne que, para a sua Nina, são até ao nível físico, dando assim a imagem da sua própria demência, imagem que é brutalmente acentuada com a exuberante caracterização da autoria de Geordie Sheffer e Marjorie Durand.
Finalmente, e igualmente perfeita (palavra perigosa considerando a história deste filme) é a banda-sonora da autoria de Clint Mansell que transforma o mais inocente momento de Portman num conjunto de sensações e situações eróticas muito acentuadas que trabalham no seu conjunto para aquele tão trágico, mas brilhante, final.
Filmes existem em que por muito bons que sejam conseguimos encontrar-lhes momentos menos conseguidos ou mais frágeis... Aqui não... Aronofsky conseguiu criar o filme perfeito do ano. Simplesmente imperdível.
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"Nina: I just want to be perfect."
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10 / 10
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Drink! (2011)

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Drink! de Tiago Inácio é uma curta-metragem de ficção que nos apresenta duas mulheres... Uma com um claro receio de água e que vive atormentada no terraço da sua casa a olhar o mar vivendo repetidamente a sua própria sensação de sufoco. A outra vive na tentativa de a fazer ver que o seu medo é irracional e que o tem de ultrapassar.
Esta curta-metragem sobre as fobias, neste caso concreto a respeito da água, demonstra que sejam elas de que origem forem, podem realmente limitar a vida daqueles que as têm. Pior ainda será quando com elas têm de conviver diariamente.
Esta curta, com um tema e argumento, também da autoria de Tiago Inácio, bastante interessante e ainda pouco explorado na cinematografia portuguesa, acaba por nos deixar com vontade de ver mais e, como tal, os seus pouco mais de dez minutos não serem suficientes para satisfazer a nossa curiosidade não só sobre a fobia retratada mas também com o próprio desenvolvimento das personagens que lhe dão vida.
Destaco ainda o trabalho de Iládio Amado na composição de uma banda-sonora bem estruturada e equilibrada.
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6 / 10
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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Casa do Medo (2011)

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Casa do Medo de João Ricardo Pinto é uma curta-metragem de terror com algumas claras referências a muito do cinema de terror a que já tanto estamos habituados.
Um grupo de amigos decide ir para uma casa onde há algum tempo atrás havia ocorrido um assassinato e suicídio decorrente de um qualquer ritual. Aquilo para o qual o grupo de amigos não estavam preparados é que o mal não desapareceu daquela casa e está pronto para recolher umas quantas mais vidas.
As referências tanto a filmes como a elementos básicos do terror e do suspense estão por todo o lado. Em primeiro lugar a própria decisão ao estilo de "volta da fogueira", em que contam a história sobre o que se terá passado... a chegada à casa, onde todos parecem estar receosos de entrar também ela muito típica, precede o baptismo de sangue de um dos amigos antes mesmo de entrar na casa.
Finalmente temos ainda a filmagem ao estilo [REC] com o óbvio arrastar de alguém e deixar cair a câmara (muito flagrante neste caso), e isto já para não falar que há uma qualquer tendência no cinema de terror em ter sempre um espírito dentro do WC.
Muitas referências, é um facto, mas ainda assim esta curta consegue cumprir aquilo a que se propõe e provocar uns quantos sustos numa acção que decorre num espaço claustrofóbico, muito provocado pela filmagem de câmara na mão.
Algo que seria de evitar são os excessivos momentos em que essa mesma câmara filma ou o chão ou a t-shirt de alguém, pois aí sim começamos a perceber que não está decorrente da narrativa mas sim da clara necessidade em expôr a filmagem como sendo "natural".
A iniciativa de fazer cinema de terror, a história em si (apesar de já vista), e os sustos globalmente bem conseguidos estão de parabéns no entanto, quase "fatal" é a ausência de créditos... amador ou profissional todo o trabalho deve tê-los.
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6 / 10
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Motel (2010)

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Motel de William Peters é uma curta-metragem de comédia muito bem disposta e que em diversos momentos nos consegue realmente fazer rir.
O que aconteceria quando ao desespero por uma noite descansada, todos os móteis disponíveis parecem ser geridos pela mesma pessoa que muda de preço à medida que as perguntas são feitas?
O destaque... esse vai mesmo para Ben Watts que aqui interpreta o sempre calmo e paciente empregado do motel que leva ao total desespero aquele grupo de amigos que não irá conseguir ter descanso.
Básica em argumento e com humor bem conseguido esta curta-metragem vence pela sua enorme simplicidade e vale a pena ver por isso mesmo.
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7 / 10
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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sangue do Meu Sangue (2011)

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Sangue do Meu Sangue de João Canijo é um dos filmes mais aguardados do ano deste realizador, que também assina o argumento, e que já nos deu grandes obras cinematográficas como Noite Escura, Mal Nascida ou Ganhar a Vida.
Neste brilhante filme acompanhamos a vida de uma família de um bairro dos arredores de Lisboa. Márcia (Rita Blanco) a matriarca da família, vive com a sua irmã Ivete (Anabela Moreira), e com os dois filhos, Joca (Rafael Morais) e Cláudia (Cleia Almeida).
Por entre as dificuldades da vida que esta família enfrenta, a sua união e o lugar que cada um desempenha no seio da família é além de fundamental, essencial. Todos têm o seu próprio lugar e uma coisa torna-se certa... o seu lugar à mesa onde todos se enteiram das suas próprias vidas é assegurado diariamente.
Mas esta aparente tranquilidade familiar está prestes a ser abalada quando Cláudia se envolve com um homem casado e quando Joca está em dívida de um negócio de droga com Telmo (Nuno Lopes), e os sacrifícios que todos irão cometer serão também aqueles que irão marcar a sua própria essência e, acima de tudo, demonstrar o amor que a todos une, independentemente da forma como, entre si, é expresso.
Sangue do Meu Sangue, à semelhança da grande maioria das obras de João Canijo, tem uma particularidade que a meu ver o caracteriza. O retrato que é feito sobre as pessoas que, de uma ou outra forma, são grandes demais para os pequenos espaços (ou pequenas vidas) onde se encontram. Podemos confirmá-lo em filmes como Sapatos Pretos, Ganhar a Vida, Noite Escura ou Mal Nascida, onde as personagens representadas, sempre maravilhosamente que se acrescente, revelam almas que não só estão desenquadradas no espaço em que se encontram como, acima de tudo, representam pessoas que têm dentro da sua simplicidade uma alma grande, tão grande, que noutras circunstâncias poderiam ter tido vidas mais felizes longe dos constantes sacrifícios.
Personagens estas que também à semelhança das outras obras de Canijo, são sempre interpretadas e executadas com uma alma imensa por parte dos actores que lhes dão vida. Não serão precisos prémios (se bem que podem aparecer pois são completamente merecedoras), para atestar a qualidade de interpretações como as que aqui temos. Rita Blanco, que aqui venceu recntemente o prémio de melhor actriz nos Caminhos do Cinema Português e que não me espantaria em nada que fosse a vencedora dos Sophia, e uma habitual presença no cinema de Canijo, tem aqui uma das suas mais fortes, intensas e sentidas interpretações como uma mãe disposta a sacrificar o seu próprio bem-estar pelo da filha que se encontra numa situação pesada demais para a poder suportar. Através de uma alma e coração que poderiam a qualquer momento vacilar, esta mãe tudo faz para garantir a segurança e o bem-estar de uma filha que se encontra numa situação frágil. É isso que Rita Blanco é... uma alma. O espírito que de uma e outra forma todos une. A matriarca disposta aos maiores sacrifícios pelo seu sangue... pelo seu próprio sangue num dos sentidos que poderemos atribuir ao título deste filme, e aguentar todas as dores para garantir que a união e a estabilidade emocional de todos esteja garantida.
A par de Blanco temos uma igualmente vibrante, mas aparentemente (apenas aparentemente) mais discreta Anabela Moreira. A sua "Ivete", a tia "sem" família própria que assume um papel mais maternal junto de "Joca" e que também por ele abdica da sua própria condição de mulher, de ser humano, para o livrar da maior provação para a sua própria segurança. Moreira, como a intérprete que passa pelo "silêncio" do filme, assume provavelmente aquele que é o papel mais sonoro... Aquele que implica um maior sacrifício da sua personagem. Aquele que abdica da sua dignidade em nome de um sobrinho que, na falta de família própria, ela assume como o seu próprio filho.
A secundar esta dupla de luxo, mas que acabam por assumir os motivos para o desenvolvimento de toda a trama, temos Rafael Morais e Cleia Almeida. O primeiro como "Joca", o filho problemático em risco físico e a segunda como a filha exemplo que se envolve com um homem casado e que mais tarde descobrimos poder comprometer toda a sua existência psicológica.
A compôr aqueles que são os elementos de risco destas quatro personagens temos o "Telmo" interpretado por Nuno Lopes, um perigoso traficante que tudo irá fazer para punir Joca pelo roubo e engano que lhe fez, e o "Professor Vieira" (Urgeghe), um rosto do passado de Márcia e que mantém uma relação sexual e sentimental com Cláudia que muito a poderá, e irá, prejudicar.
Um filme que é, como já referi, sobre pessoas grandes demais para o local onde estão, e que se completa com as igualmente perfeitas composições de Francisco Tavares, Fernando Luís, Teresa Madruga, Teresa Tavares e Beatriz Batarda. Todos, sem qualquer excepção, complementam-se e têm o seu próprio lugar no desenrolar deste filme que Canijo dirige brilhantemente.
Este que se pode chamar um verdadeiro filme de actores, não só pela sua composição como também pela participação que tiveram na escrita do argumento e das suas respectivas personagens em colaboração com o próprio realizador, é acima de tudo uma representação de vidas que de uma ou outra forma poderiam ser reais e encontrar-se em qualquer lugar. Uma representação de dramas pessoais e fantasmas do passado que a qualquer momento poderiam assombrar não só a estabilidade física como emocional daqueles que seriam afectados por assuntos não finalizados.
É esta história sobre pessoas, sobre vidas, sobre sentimentos e sobretudo sobre escolhas que aqui, mais do que nunca, caracterizam o cinema de Canijo. A vontade de sair do meio em que se encontra tão presente em Sapatos Pretos, ou de saldar dívidas com um passado de Mal Nascida, de enfrentar uma comunidade que prefere não falar nem lidar com a dor de Ganhar a Vida, encontra em Sangue do Meu Sangue uma "reunião" perfeita de todas as premissas passadas. São estas personagens com vidas que, não querendo dizer alternativas, mas "reais" encontrando-se num meio que ele sim, nos é alternativo, consegue criar momentos, situações e referências com as quais facilmente nos podeemos conseguir identificar.
João Canijo consegue uma vez mais criar uma obra marcante do cinema português que facilmente poderá encontrar pontos de semelhança em qualquer outra parte do mundo independentemente dos seus preciosismos culturais pois acima deles estarão sempre os sentimentos que cada um tem, como os encara perante os outros e principalmente perante o mundo e afirma-se também ele uma vez mais como um dos grandes realizadores e contadores de histórias que a cada filme que faz sabe não só conquistar o público como a crítica. Ninguém lhe fica indiferente e sempre pela positiva.
Se ao cinema de Canijo normalmente chamo de brilhante... aqui tenho de acrescentar um simplesmente... Simplesmente brilhante. Um filme que passo ante passo consegue garantir não só um extraordinário argumento como também brilhantes interpretações que irão marcar a carreira de qualquer um dos seus actores e também uma garantida empatia com a crítica e com o público que, arrisco pensar, não lhe ficará indiferente e o guardará como um dos melhores filmes dos últimos tempos e que poderá ser nos próximos tempos um dos mais fortes representantes de Portugal por tudo o que seja certame internacional de cinema, sendo um filme altamente recomendável para todos.
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10 / 10
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Mind the Strip (2011)

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Mind the Strip de Arnau Llaberia e Cristina Valentí é um documentário em curta-metragem que nos conta a história de um estudante da Faixa de Gaza que ruma a Espanha para frequentar o seu Mestrado em Estudos da Paz.
Neste curto documentário, que tinha o potencial perfeito para poder ser uma longa-metragem e explorar muitos mais aspectos sobre a vida deste jovem estudante, temos uma passagem muito breve através de imagens, pela vida da população na Palestina em comparação com aquela que ele pode ter em Espanha, ao mesmo tempo que o acompanhamos através dos seus pensamentos quando é um recém chegado ao país de nuestros hermanos.
Gostei de ver este documentário principalmente por ser feito em "primeira voz". Uma voz que normalmente não estamos habituados a ouvir e, ter assim algo semelhante a uma "segunda opinião", diferente do tradicional lado israelita sobre o eterno conflito no Médio Oriente.
Outro aspecto bem positivo é o poder ver que quando bem aplicadas as novas tecnologias poderem ser um veículo de transmissão de informação eficaz e muito competente, e no que diz respeito aos Direitos Humanos, assumindo eles qualquer forma tal como aqui o Direito à Educação, serem os perfeitos motores para alcançarem grandes grupos populacionais a terem, sobre eles, conhecimento.
O ponto fraco deste documentário, se é que assim lhe podemos chamar, é o facto de não ter uma maior duração e como tal não poder melhor explorar determinados aspectos que seriam fundamentais para uma ainda melhor compreensão.
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7 / 10
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O Que Há de Novo no Amor? - TRAILER

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9 de Fevereiro de 2012
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Além de Ti - TRAILER

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ALÉM DE TI, estreia em 2012
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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Nanjing! Nanjing! (2009)

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Cidade da Vida e Morte de Chuan Lu é de longe um dos grandes filmes de guerra dos últimos anos. Este filme chinês, totalmente centrado em acontecimentos reais dos dias do cerco japonês a Nanjing em 1937 e da sua consequente queda e ocupação retrata os acontecimentos e as vidas daqueles que de uma ou de outra forma estiveram presentes em tão duros dias.
Este brilhante, bruto e emocionante filme centra as suas atenções num grupo determinante de figuras. Por um lado temos dois militares das forças japonesas ocupantes... Kadokawa (Hideo Nakaizumi) que aparenta ser um homem com sonhos simples que se vê envolvido num conflito que irá para sempre modificar a sua forma de ver o mundo. Primeiro porque conhece na China ocupada a mulher que espera poder vir a ser a sua mulher. A primeira mulher que conheceu e com quem se iniciou e que mais tarde através de uma das mais brutas e desumanas consequências da guerra, irá perder. A seu lado temos quase sempre Ida (Ryu Kohata), militar em ascenção que tudo faz para tranquilamente demonstrar o seu poder sobre as vítimas de tão desumana guerra.
Mas nem só dos agressores é feito este filme. Ele é também feito com as histórias daqueles que resistiram da melhor forma que puderam. Miss Jiang (numa estrondosa interpretação da actriz Yuanyuan Gao), a mulher que junto a John Rabe (o representante alemão na cidade) conseguiu salvar muitos homens da morte e tomar algumas das decisões que iriam pôr a sua vida num risco constante.
E finalmente a seu lado temos Tang (Wei Fan), o auxiliar de Rabe que na tentativa de sobreviver ao conflito tem uma das maiores provações de toda a sua vida que iria ter um fim às mãos de Ida, não sem antes fazer saber que a sua vida estaria perpetuada no ventre da sua mulher.
Todas estas pessoas existiram na realidade. O seu fim, quase sempre trágico e para muitos desconhecido, não foi mais do que uma pequena parcela daquilo que acontecera àquela cidade chinesa num dos mais negros períodos da História.
De todas as interpretações deste filme destaco sem qualquer reserva a de Yuanyuan Gao e a de Hideo Nakaizumi. A primeira dá-nos uma forte interpretação enquanto uma mulher resistente que tudo faz para poder salvar algumas vidas de um conflito bárbaro e sem limites. Aos homens tenta salvar de uma morte certa às mãos do agressor enquanto que às mulheres tenta salvá-las de dias de tortura e violação às mãos dos soldados japoneses que apenas as procuravam para suas escravas sexuais. Na mente de Jiang (Gao) a única coisa que estava presente era uma forma de as salvar... e penoso foi o momento em que teve de pedir o sacrifício de cem mulheres para que os soldados não arrasassem o que restava da cidade. Mais ainda quando percebemos quantas dessas cem conseguiram regressar salvas... mas não sãs.
Finalmente temos Hideo Nakaizumi que interpreta o soldado que cheio de sonhos e esperanças para o seu próprio futuro, deixa o seu espírito morrer com tanta barbárie a que assistiu naqueles tão difíceis dias. O seu Kadokawa é o perfeito exemplo de homem que tinha sonhos... que esperava encontrar uma mulher e que não imaginava poder-se deixar abater por tudo aquilo que o rodeava... a morte. A cada passo que dava perdia tudo. A mulher de quem gostava, a sua inocência, os seus sonhos e até a sua própria vida que deixou de lhe fazer sentido quando nada à sua volta fazia.
Mas também a excelência técnica faz este filme. A tocante e emocionante banda-sonora da autoria de Tong Liu consegue ser um dos motores guias de toda a narrativa que nos momentos certos consegue elevar a emotividade do filme a um nível muito superior. O mesmo se poderá dizer da fotografia a preto e branco de Yu Cao que, à semelhança do que acontece com A Lista de Schindler, nos faz central toda a nossa atenção nos acontecimentos narrados sem que nos possamos distrair com aspectos secundários. Toda a nossa atenção está sempre focalizada naquilo que interessa. Na rudeza das imagens. Na dor das expressões. No vazio provocado pelo medo e principalmente na falta de esperança que os olhares nos transmitem.
A genialidade deste filme é o facto de se distanciar de um típico filme de guerra onde as batalhas, as explosões e a morte anónima pulverizam os nossos ecrãs. Aqui tudo isto existe... sim, também tudo isto existe, no entanto com o intuito de justificar o cenário em que "nos" encontramos. Aquilo que este filme consegue fazer e de uma forma brilhante, é pegar em alguns dos intervenientes deste brutal conflito e mostrar-nos a guerra através dos seus próprios olhos desolados e sem esperança.
Há de facto muitos e bons filmes de guerra cheios de efeitos especiais que aumentam o potencial interesse dos espectadores... aqui, aquilo que nos faz ter interesse por este filme, além da sua história claro está, é a possibilidade de vermos a guerra através dos olhos de pessoas que, tal como qualquer um de nós, era anónimo... até um dia.
Simplesmente um dos melhores filmes de guerra dos últimos anos que pode "perder" um pouco de protagonismo por não ser o típico filme de guerra americano... mas para aqueles que arrisquem vê-lo certamente irão ficar satisfeitos e também muito pensativos.
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"Kodokawa: To live is harder than to die."
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10 / 10
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Phoenix Film Critics Awards 2011: os vencedores

TOP TEN FILMS OF 2011
The Artist
The Descendants
Drive
The Help
Hugo
Midnight in Paris
Moneyball
My Week With Marilyn
Super 8
The Tree of Life
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BEST PICTURE: The Artist
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BEST DIRECTOR: Michel Hazanavicius, The Artist
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BEST ACTOR IN A LEADING ROLE: Jean Dujardin, The Artist
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BEST ACTRESS IN A LEADING ROLE: Elizabeth Olsen, Martha Marcy May Marlene
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BEST ACTOR IN A SUPPORTING ROLE: Albert Brooks, Drive
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BEST ACTRESS IN A SUPPORTING ROLE: Berenice Bejo, The Artist
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BEST ENSEMBLE ACTING: Super 8
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BEST SCREENPLAY – ORIGINAL: The Artist
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BEST SCREENPLAY – ADAPTATION: The Help
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BEST LIVE ACTION FAMILY FILM: The Muppets
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THE OVERLOOKED FILM OF THE YEAR: A Better Life
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BEST ANIMATED FILM: Rango
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BEST FOREIGN LANGUAGE FILM: The Skin I Live In (Spain)
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BEST DOCUMENTARY: Page One: Inside the New York Times
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BEST ORIGINAL SONG: Life’s a Happy Song, The Muppets
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BEST ORIGINAL SCORE: The Artist
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BEST CINEMATOGRAPHY: The Tree of Life
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BEST FILM EDITING: The Artist
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BEST PRODUCTION DESIGN: Hugo
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BEST COSTUME DESIGN: The Artist
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BEST VISUAL EFFECTS: Hugo
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BEST STUNTS: Drive
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BREAKTHROUGH PERFORMANCE ON CAMERA: Thomas Horn, Extremely Loud and Incredibly Close
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BREAKTROUGH PERFORMANCE BEHIND THE CAMERA: Michel Hazanavicius, The Artist
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BEST PERFORMANCE BY A YOUTH IN A LEAD OR SUPPORTING ROLE – MALE: Thomas Horn, Extremely Loud and Incredibly Close
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BEST PERFORMANCE BY A YOUTH IN A LEAD OR SUPPORTING ROLE – FEMALE: Saoirse Ronan, Hanna
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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Luzes, Câmara... Tortura! (2011)

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Luzes, Câmara... Tortura! de Marco Barbosa e Ricardo Salgado é uma interessante curta-metragem de ficção que se prende com a premissa de quais os limites entre a ficção e a realidade.
Aquilo que assistimos inicialmente é, pensamos, uma situação onde um homem detido é espancado pois outros dois homens. O que percebemos depois é que tudo se passa durante filmagens de um filme... ou será que não?
Onde se prendem realmente os limites e até onde se está disposto a ir para alcançar um qualquer objectivo é aquilo que esta curta nos pretende transmitir.
Interessante argumento também da autoria desta dupla de realizadores e uma caracterização bastante eficaz da autoria de Catarina Santos e Cláudia Duarte, esta é uma daquelas curtas que tem potencial suficiente para ir bem mais além dos seus cinco minutos e meio e principalmente conseguir ultrapassá-los sempre com o mesmo nível de suspense e intriga.
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7 / 10
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domingo, 25 de dezembro de 2011

The Way Back (2010)

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Rumo à Liberdade de Peter Weir é um estrondoso filme deste realizador que já nos deu obras-primas como Clube dos Poetas Mortos, The Truman Show ou A Testemunha. Este ano o realizador australiano entrega-nos com este pérola cinematográfica que infelizmente passou muito ao lado dos olhares dos espectadores.
Esta estrondosa história baseada em relatos verídicos centra-se num grupo de homens que durante o regime comunista da União Soviética são detidos na maior e mais violenta prisão na região da Sibéria. Prisão esta quase sem grades ou vedações mas que fazia do meio ambiente rigoroso e cheio de extremos a sua principal defesa.
Sabendo que a sua permanência naquela prisão apenas os levaria lentamente à morte Janusz (Jim Sturgess), Valka (Colin Farrell), Smith (Ed Harris) e mais três detidos, a quem mais tarde se junta Irena (Saoirse Ronan), decidem escapar e não só atravessar o rigoroso clima invernoso da Sibéria como também atravessar vales, desertos e as montanhas onde a morte os estaria a espreitar constantemente e de muito perto.
Nesta luta pela sobrevivência a quem nem todos conseguirão escapar está, acima de tudo, a vontade que todos eles tiveram em escapar a um dos mais brutais regimes que todos tentou dominar pela força e pela repressão não só das suas liberdades como também, e principalmente, dos seus pensamentos.
Este é daqueles filmes do qual, graças do feedback existente do seu realizador, não estava à espera que me fosse desiludir. A filmografia de Peter Weir está repleta de bons exemplos de filmes com histórias com conteúdo. Quer passemos por A Testemunha, por The Truman Show ou esse eterno clássico O Clube dos Poetas Mortos, em todos eles há uma clara mensagem sobre o valor do indivíduo que, de uma ou outra forma, se encontra domado por uma qualquer força que lhe é exterior. Se para uns é a sociedade envolvente onde a comunidade amish é tida como um fenómeno àparte, para outro pode ser o mundo em que todos podemos ser alvo da curiosidade alheia que em muito tolda o nosso comportamento, ou noutros onde a predominância do poder paternal determina o percurso e a vida de um filho aqui, numa história verídica, o rumo do indivíduo e a liberdade que este detém (ou não), é ditada pela brutalidade do regime comunista da antiga União Soviética que não só proibia a liberdade de pensamento como acima de tudo o reprimia selvaticamente isolando no mais brutal dos locais todos aqueles que se lhe opunham.
Se a mensagem generalista mas tão importante não bastasse, este filme dedica especial atenção às vidas destas pessoas. De que forma?... Não temos um grande registo daquilo que se passava dentro da prisão em si, apesar de ficarmos com uma "ligeira" ideia, mas sim dos indivíduos mais concretamente. Acompanhos os primeiros contactos que estabelecem entre si, o rápido planear da sua fuga e principalmente todo o percurso e cumplicidade que conseguem criar uma vez que se encontram já fora da prisão. Aquilo que é inicialmente uma união pela sobrevivência num território tão agreste e que, aos poucos, se estabelece como uma união pela dignidade de cada um e especialmente pelo facto dessa mesma dignidade fazer com que o próprio se enalteça. Ajudando-se mutuamente fará, inconscientemente, deles pessoas melhores.
Tudo isto está presente no seu percurso... nos pequenos actos... na ajuda que prestam entre si... nos seus sacrifícios... nos pequenos momentos em que se ficavam a conhecer um pouco mais... e sobretudo na morte. Nessa morte que os acompanhará sempre e que fará com que percebam como aquela pessoa, inicialmente estranha, se tornou num dos mais importantes elos que têm à Humanidade que parecem ter perdido não voluntariamente mas pela força das circunstâncias em que se encontram.
Das interpretações não há absolutamente nada a apontar a não ser, claro está, a excelência. Jim Sturgess de quem tenho as melhores referências desde que o vi nesse sucesso chamado Across the Universe, comprova mais uma vez com este filme ser um actor brilhante e de quem iremos, espero, muito ouvir falar. O seu intenso e competente retrato de um homem separado e acusado involuntariamente pela sua própria mulher é dramático o suficiente para fazer uma boa história que culmina com um profundamente dramático final a quem ninguém consegue ficar indiferente. Sturgess é sem qualquer dúvida a força psicológica desta história que une todos os intervenientes.
Ed Harris e Colin Farrell são por sua vez, e cada um à sua maneira, as duas forças físicas deste filme. São eles que executam aquilo que os outros pensam. Digamos que são os dois braços de um corpo que é composto por todas aquelas pessoas, enquanto que Saoirse Ronan é aquela que os faz lembrarem-se a cada momento que por muito difícil que seja a situação em que se encontram não deixam de ser Homens (e Mulher) e, como tal, seres civilizados.
De destacar também a brilhante caracterização nomeada para um Oscar, aliás estranhamente a única nomeação que este filme conseguiu reunir, da autoria de Edouard F. Henriques, Greg Funk e Yolanda Toussieng e claro a igualmente estrondosa fotografia da autoria de Russell Boyd que consegue na perfeição dar uma "breve" imagem do ambiente bem hóstil pelo qual aquele conjunto de pessoas passou para conseguirem chegar à liberdade.
Se o período histórico no qual decorre a acção deste filme não é, à partida, o mais apelativo de todos (talvez também porque para muitos é ainda nos nossos dias algo oculto e pouco falado e debatido), não deixa igualmente de ser verdade que todos estes aspectos que referi durante esta apreciação são os suficientes para fazer com que qualquer cinéfilo pense em poder vê-lo. Toda a história vai aos poucos seduzindo que o vê e muito rapidamente chega aquele momento em que o consideramos um dos melhores filmes do ano. E não é em vão. Todos os momentos que o filme nos relata, todas as histórias dentro da história (e da História) pelo qual as pouco mais de duas horas de filme narram são, sem qualquer margem para dúvidas, puro deleite cinematográfico.
Além de uma qualquer história de fuga, este que é um dos melhores filmes do ano é, acima de tudo, um verdadeiro conto sobre a sobrevivência física, psicológica e emocional de um grupo de pessoas que resolveu resistir e agarrar com as suas mãos a própria liberdade. Nem que para isso fosse necessário morrer... ou não fosse no seu caso a própria morte uma forma de estarem livres.
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"Mr. Smith: Kindness. That can kill you here."
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10 / 10
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sábado, 24 de dezembro de 2011

Cheetah

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1931 - 2011
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Tadpole (2000)

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Precocemente Apaixonado de Gary Winick é uma simpática comédia que conta com uma das grandes actrizes de Hollywood numa das principais interpretações... Sigourney Weaver.
Este filme conta-nos a história de Oscar (Aaron Stanford) um adolescente que se apaixona por Eve (Weaver), a mulher do seu pai. Enquanto não declara o seu amor a Eve, Oscar vai entretendo Diane (Bebe Neuwirth) uma das suas amigas e refletindo sobre como Eve estaria muito melhor com ele do que com o seu pai.
Será que ele terá finalmente a coragem de se declarar ou irá passar o resto do seu tempo apenas a imaginar como seria se...?
Este filme, pequeno em duração mas com alguns momentos bem hilariantes graças à genial interpretação de Bebe Neuwirth que uma vez mais através da sua ironia e sarcasmo consegue convencer e conquistar qualquer um.
Ainda assim confesso que tive de o ver duas vezes antes de me decidir finalmente sobre aquilo que achava dele. Da primeira vez não fiquei convencido pois achei que tinha potencial para ter chegado um pouco mais longe. Os momentos dramáticos essenciais para qualquer comédia deste tipo não me pareciam ter sido os suficientes para o afirmar como uma verdadeira comédia dramática. No entanto, foi durante a segunda vez que o vi que percebi que para além de uma comédia ou mais ainda de um drama, está um filme sobre o despertar de um adolescente para a sua prórpia sexualidade, através da paixoneta que desenvolve pela sua madrasta (a propósito Sigourney Weaver grande e brilhante como sempre e menos não se poderia esperar), e principalmente, talvez o mais importante de tudo... é um filme sobre o despertar dos desejos e dos sonhos que muitos de nós a uma dada altura da nossa vida percebemos ter deixado esquecidos num qualquer passado distante.
Foi durante esta segunda visualização que percebi que afinal este filme, por muito pequeno e esquecido que também ele esteja da maioria dos espectadores, consegue ter uma simples mas muito poderosa mensagem que felizmente não passou totalmente despercebida.
No final este filme assume-se como uma comédia agradável que nos deixa com uma simpática sensação de ter valido a pena "passar" por este filme e de termos também, de uma ou outra forma, simpatizado com este grupo de actores que interpretam personagens que poderiam ser pessoas que qualquer um de nós conhece, e é sempre uma simpática forma de revermos o saudoso John Ritter num dos seus últimos trabalhos cinematográficos e claro, para apreciarmos essa grande senhora Sigourney Weaver que aos poucos assume cada vez mais interpretações secundárias nos filmes em que participa.
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7 / 10
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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Part-Time Queen (2010)

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Part-Time Queen de Fábio Guerreiro e Ricardo Braga Silva é uma agradável surpresa que me chegou na forma de uma curta-metragem de ficção.
E digo agradável surpresa pois coloca como interprete principal o actor Joaquim Nicolau num desempenho que jamais esperaria da parte dele... Não só faz de "Chantel", um travesti (repito, jamais esperei vê-lo nesta interpretação), como se percebe que por uma desilusão de amor o lugar onde se encontra agora é na beira de uma qualquer estrada e na prostituição.
Um dia Júlio (Tomás Magalhães) um  miúdo a quem o pai insiste dizer que aquele lugar é um antro de perdição aproxima-se e conversa com Chantel acabando assim por descobrir o que afinal se passou na vida daquela pessoa que a fez chegar até ali.
Quando digo que jamais esperaria ver Joaquim Nicolau numa interpretação deste estilo digo-o com a maior das satisfações pois encaro-a como a melhor, sem qualquer reserva, na qual alguma vez o vi. Habituado a interpretar personagens mais conservadoras ou então nos eternos Malucos do Riso, vejo que aqui este actor teve a interpretação perfeita para poder brilhar e mostrar todo o seu talento. E acreditem, é muito.
Igual destaque dou ao jovem Tomás Magalhães numa sensível mas sentida interpretação, e também a Luís Candeias que consegue nos breves momentos em que aparece no ecrã, demonstrar uma sensibilidade e desilusão muito fortes.
O argumento, também da autoria dos dois realizadores, simples e com uma mensagem e sensibilidade bastante interessantes é igual um dos pontos fortes desta curta e, mais uma vez digo, é bastante agradável e positivo perceber que a criatividade e o saber fazer bom cinema em Portugal por realizadores ainda desconhecidos é um factor cada vez mais crescente.
A esta, e a outras curtas que tenho comentado ao longo deste ano, e que muito me impressionaram pela sua qualidade... para quando a edição em dvd?
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"Chantel: Deus não abandona sítios... abandona corações."
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8 / 10
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Crush (2000)

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Crush de Phillip J. Bartell é uma curta-metragem de ficção vencedora de vários prémios em festivais de cinema, que nos conta uma história de amizade e amor na adolescência numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos.
Robbie (Brett Chukerman) é um jovem adolescente que chega a uma pequena cidade com um enorme segredo. Tina (Ema Tuennerman) é também ela uma jovem que simpatiza de imediato com Robbie e que mais tarde descobre o seu segredo. Sem esquecer o amor crescente que sente por ele apresenta-lhe Tim (Weston Mueller) na certeza que os dois irão gostar um do outro.
Esta simpática curta sobre o amor, seja ele sentimental ou uma pura e simples amizade, e como por ele tudo vale a pena consegue ser credível pela simplicidade que apresenta. Não tem um argumento muito elaborado e àparte de umas quantas banalidades típicas de adolescentes e de pré-adolescentes pouco mais adianta. No entanto, é essa mesma simples mensagem sobre como o amor se torna mais importante que tudo o resto que faz dela bem sucedida.
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6 / 10
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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Efeitos Secundários (2008)

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Efeitos Secundários de Paulo Rebelo era um dos filmes portugueses dos quais já me perguntava porque motivo nunca mais estreava nas salas. E por "nas salas" quero dizer NA sala, considerando que o filme apenas estreou (tanto quanto sei) no Teatro do Bairro em Lisboa, por isso o convite que recebi para assistir a este filme foi bastante gratificante.
Este filme leva-nos a um pequeno bairro onde conhecemos duas mulheres. Laura (Maria João Luís), uma cabeleireira viúva que vive presa à memória do seu marido, a dois filhos que vê ocasionalmente e a uma vida recatada. A outra mulher é Carmo (Rita Martins), que vive dentro do carro fugida de uma vida que esconde algo.
A união entre ambas rapidamente se estabelece e Carmo faz renascer em Laura a mulher que há muito estava esquecida e adormecida. Renasce a paixão aqui encarnada por Rui (Nuno Lopes) e a vontade de viver uma vida liberta de complexos e protocolos que Laura há muito estava habituada. Mas também renasce essa vontade de amar em Carmo que ao conhecer Bruno (Nuno Gil) revela a vontade que ainda tem de ser amada... apesar do terrível segredo que de todos esconde.
Paulo Rebelo que aqui se estreia como realizador após participações como argumentista em filmes como O Fantasma ou Odete, dá-nos esta história que é, acima de tudo, um conto sobre a vida. Vejamos... Se nos concentrarmos apenas e só nas personagens principais verificamos que todas elas, sem excepção, vivem dramas com a sua forma de vida ou como a têm levado até então. Temos uma excelente interpretação de Maria João Luís, que dá corpo e alma a uma "Laura", mulher recatada e que faz por não dar vida ou alma aos seus sonhos e desejos, nem mesmo à sua própria vida sentimental refugiando-se na luz da imagem do marido que perdera há largos anos. Esta mesma "Laura" que ao conhecer a "Carmo" a que Rita Martins, brilhante como sempre, dá alma e com isso volta a divertir-se e a sentir as sensações que há muito reprimia.
Rita Martins que com esta interpretação venceu o Prémio de Melhor Actriz nos Caminhos do Cinema Português em Coimbra em 2010, tem aqui uma forte interpretação. Rebelde e cheia de vida está, no entanto, presa a uma condição que tudo faz por esconder. A mágoa que nos transmite é ao mesmo tempo sinal da vontade que tem de ser tocada, amada e acarinhada por alguém que veja para além da condição em que se encontra. Como já disse a respeito das suas interpretações noutros filmes, ela é uma forte e segura aposta para qualquer interpretação que tenha pois mostra-nos o quão fortes podes ser os seus olhares, expressões e a transmissão de emoções que pretende ter e dar ao espectador.
Nuno Lopes que aqui venceu o Prémio de Melhor Actor Secundário no festival anteriormente referido, tem também ele uma segura intepretação (como aliás todo o grupo de actores deste filme tem) e "serve" como o elemento desanuviador da tensão que se vai sentindo ao longo do filme com os seus apontamentos de comédia que apesar de serem muitos não são, todavia, todos.
Finalmente temos a completar o elenco principal do filme o actor Nuno Gil que aqui interpreta o alvo do amor e do desejo de afecto que "Carmo" lhe confere. Uma interpretação mais secundária entre o conjunto de actores mas que acaba por ser uma das mais determinantes para o desenvolvimento do seu conjunto na medida em que acaba por determinar o desfecho sentimental, e de certa forma o próprio resultado final deste filme.
É curioso reparar como os argumentos de Paulo Rebelo, que além dos dois referenciados mais acima também assina este da sua estreia como realizador, acabam por se focar maioritariamente nas relações humanas. Assim o tinhamos n'O Fantasma, onde o desejo era o mote principal que as unia, ou a obsessão sentida em Odete e como aqui acabam por se transformar em algo mais forte mas ao mesmo tempo tão mais sensível como o amor ou a necessidade de um ser se sentir amado. A necessidade do toque. Isto sim, foi o que o seu argumento me fez lembrar e recordar. A necessidade que nós temos de sentir o toque. O afecto em oposição à indiferença e à individualidade que o mundo actual tanto defende.
Outro dos aspectos positivos deste filme foi a sua extraordinária e bem mexida banda-sonora da autoria d'Os Tornados, a qual podemos ouvir uma pequena parte no trailer que se encontra no final deste comentário e que recupera uma certa sonoridade de décadas passadas que é aqui muito bem enquadrada.
Finalmente comento ainda a brilhante direcção artística de João Rui Guerra da Mata que consegue colocar todos os elementos no respectivo lugar e criar através dos espaços as referências perfeitas para cada um dos actores. Sabemos perfeitamente ao vê-los e aos seus espaços aquilo que tão bem os caracteriza.
Dá-me gosto perceber que o cinema português vai felizmente tendo a capacidade de contar vários tipos de histórias, várias histórias dentro da História ou mesmo várias histórias dentro das suas pessoas, fugindo assim aos poucos de uma certa intelectualidade que nós, o seu público, tanto lhe têm atribuído no passado. É com este contar de histórias que felizmente aumentam de dia para dia de qualidade, que se vão atraindo pessoas às salas de cinema nacionais. No entanto, e pegando naquilo com que iniciei este comentário, tenho pena não só que a publicidade dada ao cinema falado em português seja ainda tão pouca ou que as salas onde este mesmo cinema estreia sejam ou poucas ou durante pouco tempo.
Este filme será seguramente alvo de atenções nas próximas galas de prémios de cinema em Portugal, quer dos Globos de Ouro da SIC/Caras quer dos recentemente criados Sophia da Academia Portuguesa de Cinema. Face a um ano que considero ter bons filmes portugueses, não sei até que ponto este filme, que seguramente se afirma entre os bons, poderá sair vencedor de algum, mas estou certo que qualidade para isso ele tem. Estive numa sala de cinema onde o filme tanto fez sorrir como emocionou algumas pessoas levando-as a silenciosamente escutar, ver e sentir aquilo que as palavras e os olhares de tão bons actores nos queriam transmitir. E estou igualmente certo que aos poucos o público português irá finalmente reconciliar-se com o seu cinema e dar-lhe assim o seu devido valor.
Ao realizador Paulo Rebelo quero deixar os parabéns pela sua obra de estreia como realizador e que venham muitos mais que retratem, tal como ele, a união entre pessoas que podem à partida parecer tão diferentes e tão distantes mas que, lá no fundo, só procuram e precisam de alguém que as faça ver aquilo que elas sempre quiseram... o amor. O amor incondicional de alguém que não procure nada em especial a não ser saber que têm perto de si alguém disposto a dar um abraço, um beijo ou a mão.
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"Carmo: Tu não tens medo de mim?"
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8 / 10
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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Faminto (2011)

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Faminto de Hernâni Duarte Maria e Pedro Noel da Luz é uma curta-metragem portuguesa que tive a honra e o prazer de ver no Shortcutz Lisboa, a primeira vez que estive presente neste certame.
A acção desta curta-metragem decorre numa garagem quase deserta. Raquel (Sofia Reis) dirige-se para o seu carro quando é abordada por três homens mascarados que a querem molestar quando descobrem que afinal não estão apenas os quatro naquela sinistra garagem.
Além do argumento coeso que transforma esta curta-metragem num interessante thriller, e claro está da excelente realização desta dupla, aquilo que mais me impressionou foi a feliz junção de dois aspectos muito importantes num filme, ou seja, a banda-sonora e a fotografia. São quase sempre dois aspectos que funcionam de uma forma bem coesa quando são bons como aqui é o caso. A banda-sonora da autoria de Iládio Amado cria um ambiente bastante tenso e muito denso que apenas se agudiza com a fotografia de Pedro Noel da Luz transformando aquela ampla garagem num espaço bem claustrofóbico e que a certa altura mais parece uma pequena divisão onde tudo, ou melhor todos, estão "ali ao lado", criando a clara sensação de que é impossível escapar seja para que lado fôr.
O elenco, do qual destaco Philippe Leroux, Sofia Reis, Hugo Costa Ramos e um extremamente convincente Henrique Pereira que dá corpo e alma ao "Faminto" (nem revelo de quê...) que dá título à curta, transportam para nós espectadores a sensação quer de desespero quer de clausura que por ali se sente. E como se isso não bastasse, tenho a clara sensação de que aquele simples mas muito sinistro assobiar que se ouve a percorrer aquela garagem, quase parece ter uma vida própria que em muito, muito mesmo, contribui para o denso ambiente que se sente.
Recorro, uma vez mais, ao cliché que já vem sendo habitual quando comento uma curta-metragem portuguesa... Quem diz que o cinema nacional está a atravessar "águas turvas" deveria olhar mais para estes projectos que dariam perfeitas longas-metragens (apoios onde andam), e que sem medos atrairiam os espectadores a acorrer às salas de cinema.
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8 / 10
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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Confessions of a Dangerous Mind (2002)

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Confissões de uma Mente Perigosa de George Clooney conta com aquilo que se pode chamar de um elenco de luxo. Entre as interpretações principais temos Sam Rockwell, Drew Barrymore, o próprio George Clooney e Julia Roberts, secundados por Maggie Gyllenhaal e um Rutger Hauer já há muito desaparecido do protagonismo do grande ecrã e, como se tudo isto não bastasse, temos ainda Brad Pitt e Matt Damon em participações especiais.
Todo o filme gira em torno da vida de Chuck Barris (Rockwell) que de dia se assumia como um produtor de televisão de programas que fizeram história e que levava uma vida dupla, segundo o que ele afirma, enquanto assassino a soldo da CIA.
Acompanhamos não só a vida de boémia de Chuck Barris onde sexo e alcoól são o prato forte do dia, mas também os supostos momentos em que era agente duplo e se entretinha a ir até à Alemanha comunista para executar uns quantos "trabalhos", a sua formação enquanto assassino e as tramas entre espiões que contribuíram para a mesma.
A expectativa que tinha para com este filme era assumidamente muita. O conjunto de actores que compunham o elenco deste filme era por si só motivo suficiente para querer ver o que este filme me reservava. A isso, claro que ajudou o facto de ser realizado por George Clooney, e ser publicitado como o primeiro filme que este já bem conhecido actor de Hollywood estava a dirigir.
A história foi outro ponto forte. Quem não gosta de um filme de espionagem que atire a primeira pedra. Mais ou menos bem realizado, deste que tenha um bom argumento, acabamos sempre por dar alguma atenção a este tipo de filmes que, independentemente da época em que sejam feitos, acabam por estar sempre actuais e com um enredo que se pode, à partida, aplicar a qualquer época ou regime em que nos encontremos. Há temáticas de facto universais e esta é uma delas.
Mas, no entanto, a realidade acabou por ser algo diferente. Ao assistirmos a este filme não só achamos que os acontecimentos narrados são um tanto ou quanto "cópia e cola", sem um seguimento que seja lógico em muitos momentos, o que é certo é que por muito boa vontade que possamos ter a respeito do filme ele deixa, em muito, a desejar. Esperamos e aguentamos a sua continuidade porque pensamos que mais tarde ou mais cedo vamos sair satisfeitos do filme... Nada poderia ser mais incorrecto.
Os momentos de sexo, ou de ameaços do mesmo, na maior parte dos momentos totalmente desapropriados e sem qualquer fundamento àparte de percebermos que Chuck Barris era, de certa forma, um devasso, que se entrelaçam com as suas "missões" e o seu desespero por ter protagonismo televisivo que deixe a sua marca no meio são na maior parte das situações desconexos ao ponto de a meio do filme começarmos a evidenciar o nosso próprio aborrecimento.
Assim, e à excepção do argumento de Charlie Kaufman que como disse é apelativo visto que tem potencial para ser uma história que a todos agrada, mas há algo que na sua execução falha e torna todo o filme em algo quase interminável e impossível de aguentar.
Para mim, muito em concreto, estas Confissões... foram algo muito desinteressante e que poderiam ter ido mais longe na forma como são apresentadas mas, há algo na realização de Clooney que, de uma forma geral, não me consegue convencer. Tenta-se uma denúncia de casos específicos da História ou das instituições dos Estados Unidos mas, esta denúncia, é contada neste caso, quase que de uma forma onde a comédia e a ironia se misturam de uma forma pouco harmoniosa.
Desinteressante de uma forma geral e percebemos claramente que poderia ter sido muito mais e muito melhor.
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3 / 10
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"Sophia" é o nome

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Reunida a Academia Portuguesa de Cinema (na qual eu tive a honra de estar presente) em Assembleia Geral para discutir os regulamentos e o nome do prémio que a Academia passará a atribuir anualmente para premiar o que de melhor se faz no cinema português, a deliberação sobre o nome do prémio recaiu sobre "Sophia".
Uma feliz escolha especialmente pela originalidade de, creio eu, ser um dos poucos, senão o primeiro nome de prémio de cinema no feminino.
Que se dignifique o cinema português nas suas diferentes vertentes e categorias, e que venham de lá os "Sophia".
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"Já Não Estar" de José e Pilar na corrida ao Oscar

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A canção "Já Não Estar" do filme José e Pilar de Miguel Gonçalves Mendes foi anunciada como uma das 39 pré-seleccionadas ao Oscar de Melhor Canção Original e aqui fica para poderem apreciar.
De recordar que o filme de Miguel Gonçalves Mendes foi a obra escolhida para representar Portugal ao Oscar de Filme Estrangeiro na cerimónia de 2012.
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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Prémios GDA 2011: vencedoras

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Foram hoje anunciados os Prémios GDA 2011, naquela que é a sua quarta edição, de onde saíram vencedoras Leonor Baldaque pelo filme de Eugène Green, A Religiosa Portuguesa (Melhor Actriz), e São José Correia pelo filme de José Farinha, O Inimigo Sem Rosto (Melhor Actriz Secundária).
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Mistérios de Lisboa vence o Satellite Award

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O filme português Mistérios de Lisboa realizado por Raúl Ruiz venceu no passado domingo o Satellite Award de Melhor Filme Estrangeiro.
A competir pelo mesmo galardão estavam filmes como Uma Separação, filme indicado pelo Irão para o Oscar de Filme Estrangeiro e um dos preferidos para o mesmo prémio bem como Le Havre que foi um dos nomeados à última cerimónia dos European Film Awards ou Faust vencedor do Leão de Ouro na última edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza.
Uma vez mais o cinema português está de parabéns com esta que é, à data, a longa-metragem nacional mais premiada de sempre.
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domingo, 18 de dezembro de 2011

Harry Potter and the Goblet of Fire (2005)

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Harry Potter e o Cálice de Fogo de Mike Newell é o quarto título desta saga que dominou as atenções de miúdos, e graúdos também há que admiti-lo, durante uma boa parte da primeira década deste novo milénio.
No ano em que a famosa escola de Hogwarts recebe um torneio de magia entre três importantes escolas, quatro nomes de alunos são escolhidos (ao contrário dos habituais três), e como já calculamos, o nome de Harry Potter é um dos seleccionados.
Quando todos pensam que Potter apenas procura protagonismo e se inscreveu indevidamente no torneio, iniciam-se as difíceis provas que não só põem à prova os conhecimentos deste jovem mágico, como também são uma forma de finalmente trazer de volta à vida a figura daquele que todos temem, Voldemort (Ralph Fiennes).
Já admiti anteriormente que só neste ano revi os três primeiros títulos desta famosíssima saga, e este vi pela primeira vez. Curiosamente, e ao contrário do esperado, mais jovem pouco ou nada liguei a este tipo de filmes e agora vejo e assumo-me como um fã deste tipo de histórias. Não só pelas histórias bem pensadas e pelos argumentos que não deixam pontas soltas por justificar, pelo menos não as óbvias que retiram interesse ao filme porque as outras que nos fazem aguardar pelo seguinte, essas sim, ficam todas em aberto como deve ser, mas também pelo facto de serem filmes que reunem um conjunto bem interessante e apelativo de jovens e não tão jovens talentos do cinema britânico que qualquer cinéfilo gosta de (re)ver nos mais diferentes registos, a fantasia inclusivé.
Dito isto, há que ser honesto e confessar que em termos visuais e técnicos este conjunto de filmes está francamente bem feito. A todos os níveis. Não só temos excelência no guarda-roupa da autoria de Jany Temime que dos momentos iniciais, os únicos aliás, em que temos um vestuário moderno passamos quase sem nos apercebermos para um estilo místico e de fantasia que quase nos faz lembrar um filme de época, e tudo feito de uma forma tão harmoniosa que, na prática, quase nem pensamos na alternância destes dois "mundos".
E não só de um excelente guarda-roupa é feito este filme. É certo que os efeitos especiais são magníficos, e basta para isso pensarmos nos segmentos subaquáticos ou da recriação dos dragões e que nos transportam, pelo menos aos fãs do género, para momentos de puro prazer e de acção, porque também dela está este filme cheio.
E finalmente há que falar nos actores, pois este filme também é um encontro de grandes interpretações por um vasto conjunto de actores que espelham estar no sítio certo. Temos para todos os gostos. Os eternos heróis de serviço como Emma Watson ou Rupert Grint e que encontram, mais uma vez, em Daniel Radcliffe o rosto de Harry Potter. Ou então nomes mais sonantes do cinema britânico, e não só, como Alan Rickman, Maggie Smith, Brendan Gleeson, Jason Isaacs, Robert Pattinson (então ainda um "alegre" desconhecido), Miranda Richardson, Gary Oldman, Julie Walters, Ralph Fiennes, Helena Bonham-Carter ou Michael Gambon... Resumindo, um perfeito desfile daquilo que de melhor as terras britânicas têm dado ao cinema mundial.
E de resto... simplesmente há que admitir a mais pura das realidades... Este filme, tal como os demais títulos da saga que muitos de nós temos vindo a acompanhar ao longo dos anos, ou mais recentemente como é o meu caso, estão repletos de puro entretenimento que aglutina tantos e diferentes estilos cinematográficos, colocando-o(s) assim no patamar perfeito para poder agradar a uma vasta audência, como na prática se verifica. Temos de tudo... Drama, suspense, acção, aventura e fantasia... A bem ver, não há ninguém que escape com um leque tão vasto de estilos concentrados num mesmo filme, e é isso que, em certa medida (se não mesmo toda), faz com que tenham a legião de fãs que estes filmes têm e, acima de tudo, seja uma saga que irá, com toda a certeza, marcar a cinematografia mundial. Eu, pelo menos, confesso ser já um fã. E é certo que quanto mais estes filmes desenvolvem, mais se espera pelo título seguinte e ver quais as aventuras e missões em que este grupo de jovens feiticeiros se envolvem... (ainda não vi os últimos dois títulos por isso...).
Assim, e resumindo tudo isto num comentário bem mais breve... é puro entretenimento para toda a família.
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8 / 10
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