sábado, 30 de novembro de 2019

Caminhos do Cinema Português 2019: os vencedores

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Terminou hoje no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra, a vigésima-quinta edição do Caminhos do Cinema Português por onde passaram algumas das obras mais emblemáticas do cinema nacional do último ano. Vitalina Varela, de Pedro Costa foi o grande vencedor da noite ao arrecadar não só o Grande Prémio como também os troféus para Melhor Actriz e Fotografia sendo que Variações, de João Maia foi o mais premiado da noite ao arrecadar cinco troféus incluindo os de Actor e Intérpretes Secundários.
São os vencedores:
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Selecção Oficial
Grande Prémio: Vitalina Varela, de Pedro Costa
Filme: Alva, de Ico Costa
Documentário: Fordlandia Malaise, de Susana de Sousa Dias
Curta-Metragem: Ruby, de Mariana Gaivão
Filme de Animação: O Peculiar Crime do Estranho Sr. Jacinto, de Bruno Caetano
Revelação: Maria Abreu, Tristeza e Alegria na Vida das Girafas
Realização: Pedro Filipe Marques, Viveiro
Actor: Sérgio Praia, Variações
Actriz: Vitalina Varela, Vitalina Varela
Actor Secundário: Filipe Duarte, Variações
Actriz Secundária: Teresa Madruga, Dia de Festa e Variações
Argumento Original: José Filipe Costa, Prazer, Camaradas!
Argumento Adaptado: Manuel Moreira e Bruno Caetano, O Peculiar Crime do Estranho Sr. Jacinto
Montagem: Francisco Moreira e Ana Godoy, Alva
Fotografia: Leonardo Simões, Vitalina Varela
Música Original: Normand Roger, Tio Tomás, A Contabilidade dos Dias
Som: David Badalo, Alva
Direcção Artística: Ana Bossa, Último Acto
Guarda-Roupa: Patrícia Dória, Variações
Caracterização: Magali Santana, Variações
Cartaz: Inês Bento, Ruby
Menção Especialíssima: Fernando Alle, Mutant Blast - Efeitos Especiais
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Júri Cineclubes
Prémio D. Quijote: Cerro dos Pios, de Miguel de Jesus
Menção Honrosa: Raposa, de Leonor Noivo
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Selecção Ensaios
Ensaio Nacional: Quem Me Dera em Vez de Uma Câmara Ter Uma Mosca, de Cláudia Craveiro Santos
Menção Honrosa: Ode à Infância, de Luís Vital e João Monteiro
Ensaio Internacional: Freigang, de Martin Winter
Menção Honrosa: La Llorona, de Rosana Cuellar
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Júri da Imprensa
Prémio da Imprensa: Fordlandia Malaise, de Susana de Sousa Dias
Menção Honrosa: Past Perfect, de Jorge Jácome
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Selecção "Outros Olhares"
Filme: Actos de Cinema, de Jorge Cramez
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Prémio do Público: Quero-te Tanto!, de Vicente Alves do Ó
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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Prémios Feroz 2020: os nomeados

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Foram anunciados há instantes os nomeados aos Premios Feroz entregues anualmente pela crítica especializada espanhola. Entre os nomeados encontram-se os títulos mais falados do cinema espanhol do último ano destacando-se, entre eles, Dolor y Gloria, de Pedro Almodóvar reunindo 10 nomeações incluindo a de Melhor Filme - Drama. A acompanhá-lo na disputa deste troféu encontram-se Els Dies que Vindran, de Carlos Marques-Marcet, El Hoyo, de Galder Gaztelu-Urrutia, Lo que Arde, de Óliver Laxe, Quien a Hierro Mata, de Paco Plaza e La Trinchera Infinita, de Jon Garaño, José Maria Goenaga e Aitor Arregi.
São os nomeados:
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Cinema
Melhor Filme - Drama
Els Dies que Vindran, de Carlos Marques-Marcet
Dolor y Gloria, de Pedro Almodóvar
El Hoyo, de Galder Gaztelu-Urrutia
Lo que Arde, de Óliver Laxe
Quien a Hierro Mata, de Paco Plaza
La Trinchera Infinita, de Jon Garaño, José Maria Goenaga e Aitor Arregi
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Melhor Filme - Comédia
Diecisiete, de Daniel Sánchez Arévalo
El Increíble Finde Menguante, de Jon Mikel Caballero
Litus, de Dani de la Orden
Lo Dejo Cuando Quiera, de Carlos Therón
Ventajas de Viajar en Tren, de Aritz Moreno
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Melhor Realização
Pedro Almodóvar, Dolor y Gloria
Galder Gaztelu-Urrutia, El Hoyo
Óliver Laxe, Lo que Arde
Jon Garaño, Jose Mari Goenaga e Aitor Arregi, La Trinchera Infinita
Aritz Moreno, Ventajas de Viajar en Tren
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Melhor Actor Protagonista
Antonio Banderas, Dolor y Gloria
Karra Elejalde, Mientras Dure la Guerra
Antonio de la Torre, La Trinchera Infinita
Luis Tosar, Quien a Hierro Mata
David Verdaguer, Els Dies que Vindran
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Melhor Actriz Protagonista
Pilar Castro, Ventajas de Viajar en Tren
Belén Cuesta, La Trinchera Infinita
Greta Fernández, La Hija de un Ladrón
Marta Nieto, Madre
María Rodriguez Soto, Els Dies que Vindran
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Melhor Actor Secundário
Enric Auquer, Quien a Hierro Mata
Asier Etxeandía, Dolor y Gloria
Eduard Fernández, Mientras Dure la Guerra
Quim Gutiérrez, Ventajas de Viajar en un Tren
Leonardo Sbaraglia, Dolor y Gloria
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Melhor Actriz Secundária
Penélope Cruz, Dolor y Gloria
Mona Martínez, Adiós
Laia Marull, La Inocencia
Antonia San Juan, El Hoyo
Julieta Serrano, Dolor y Gloria
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Melhor Argumento
Pedro Almodóvar, Dolor y Gloria
David Desola e Pedro Rivero, El Hoyo
Óliver Laxe e Santiago Fillol, Lo que Arde
Jose Mari Goenaga e Luiso Berdejo, La Trinchera Infinita
Javier Gullón, Ventajas de Viajar en Tren
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Melhor Música Original
Zeltia Montes, Adiós
Arturo Cardelús, Buñuel en el Laberinto de las Tortugas
Alberto Iglesias, Dolor y Gloria
Alejandro Amenábar, Mientras Dure la Guerra
Pascal Gaigne, La Trinchera Infinita
Cristóbal Tapia de Veer, Ventajas de Viajar en Tren
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Melhor Trailer
Miguel Angel Trudu, Adiós
Jorge Luengo, Dolor y Gloria
Raúl López, El Hoyo
Marcos Flórez, Lo que Arde
Rafa Martínez, Mientras Dure la Guerra
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Melhor Cartaz
Miguel Navia, El Crack Cero
Eduardo García, El Hoyo
Aitor Errazquin e Carlos Hidalgo, Lo que Arde
José Ángel Peña, Ventajas de Viajar en Tren
Laura Renau, La Virgen de Agosto
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Televisão
Melhor Série - Drama
La Casa de Papel (Netflix)
En el Corredor de la Muerte (Movistar +)
Foodie Love (HBO Europe)
Hierro (Movistar +)
La Peste (Movistar +)
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Melhor Série - Comédia
Paquita Salas (Netflix)
Vida Perfecta (Movistar +)
Vota Juan (TNT España)
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Melhor Actor Protagonista
Javier Cámara, Vota Juan
Brays Efe, Paquita Salas
Darío Grandinetti, Hierro
Álvaro Morte, La Casa de Papel
Miguel Ángel Silvestre, En el Corredor de la Muerte
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Melhor Actriz Protagonista
Toni Acosta, Señoras del (h)Ampa
Laia Costa, Foodie Love
Leticia Dolera, Vida Perfecta
Candela Peña, Hierro
Eva Ugarte, Mira lo que has Hecho
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Melhor Actor Secundário
Enric Auquer, Vida Perfecta
Jesús Carroza, La Peste
Oscar Casas, Instinto
Eduard Fernández, Criminal: España
Adam Jezierski, Vota Juan
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Melhor Actriz Secundária
Belén Cuesta, Paquita Salas
Alba Flores, La Casa de Papel
Celia Freijeiro, Vida Perfecta
Yolanda Ramos, Paquilta Salas
Aixa Villagrán, Vida Perfecta
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O Prémio Feroz Especial e o Feroz de Melhor Documentário serão conhecidos no próximo dia 11 de Dezembro enquanto que os vencedores das demais categorias serão conhecidos na cerimónia dos Premios Feroz a realizar no próximo dia 16 de Janeiro em Alcobendas.
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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Prémio Sophia Estudante 2019: os nomeados

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Foram hoje anunciados os nomeados aos Sophia Estudante, prémios entregues anualmente pela Academia Portuguesa de Cinema aos melhores trabalhos de cariz académico do último ano. Os nomeados nas cinco categorias são:
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Melhor Curta-Metragem de Ficção
Banho Santo, de Bruno Saraiva - ULHT
Cringe, de Dinis Leal Machado - ESMAD
Da Capo, de Mário de Oliveira - UBI
Estranha Forma de Vida, de Jorge Almeida - ESAD
Loop, de Ricardo M. Leite - ESMAD
Obduto, de Henrique Rocha - UCPorto
Ouro Sobre Azul, de Andreia Pereira da Silva - ULHT
Tragédia, de Célia Fraga - ESAP
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Melhor Documentário - Curta-Metragem
Direito à Memória, de Rúben Sevivas e Mariana Teixeira - UBI
E o Tempo Passou, de Maria Duarte - ESTA
Há Alguém na Terra, de Francisca Magalhães, Joana Tato Borges e Maria Canela - UCPorto
Jamaika Onto New Paths, de Alexander Sussmann - ULHT
A Rua é uma Selva, de Ricardo Mussa - World Academy
Sombra, de Diogo Lourenço, Duarte Gaivão e Francisco Moura - ULHT
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Melhor Curta-Metragem de Animação
Grow Up, de Thomas Coutinho - Soares dos Reis
Hotaru, de Marta Ribeiro - Soares dos Reis
Ode à Infância, de João Monteiro e Luís Vital - ESTG - IPPortalegre
One Minute Show Time, de Maria Clara Norbachs e Marisa Alves Pedro - UBI
O Presidente Veste Nada, de Clara Borges e Diana Agar - UBI

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Melhor Curta-Metragem Experimental

José, de João Monteiro - ESAP
Juliette, de Gabriela Ferreira e Mário Almeida - U. Minho
Lázaro, de Concha Silveira, Alba Dominguez e David Cruces - ULHT
Somewhere in Outer Space This Might Be Happenin Somehow, de Paulo Malafaya - Soares dos Reis
A Viagem, de Henrique Lopes - ETIC Algarve
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Melhor Cartaz
Atrás de Tempo, Tempo Vem, de Patrícia Azevedo - ESMAD
Paisagem Submersa, de Edmundo Correia - ESMAD
A Poison Tree as Written by William Blake, de Tiago Nunes - ETIC
Ouro Sobre Azul, de Marta Féria de Sá - ULHT
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Os vencedores serão conhecidos numa cerimónia a realizar no próximo dia 12 de Dezembro no Museu da Farmácia, em Lisboa.
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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Godfrey Gao

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1984 - 2019
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Prémio LUX 2019: o vencedor

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Foi hoje revelado pelo Parlamento Europeu o vencedor do Prémio LUX atribuído anualmente pela instituição à obra cinematográfica europeia que melhor representa o espírito do cinema contemporâneo do continente.
Gospod Postoi, Imeto I'e Petrunija, de Teona Strugar Mitevska (Macedónia do Norte/Bélgica/França/Croácia/Eslovénia) foi o grande vencedor deste ano - já tendo passado por diversos festivais de cinema e tendo ganho inclusive o troféu de Melhor Actriz no Festival de Cinema Europeu de Sevilha -, disputando o troféu com El Reino, de Rodrigo Sorogoyen (Espanha/França) e Cold Case Hammarskjöld, de Mads Brügger (Dinamarca/Noruega/Suécia/Bélgica).
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O Prémio Lux foi entregue hoje no Parlamento Europeu depois da votação pelos deputados eleitos ao mesmo, e após ter sido exibido em diversas cidades europeias ao longo das últimas semanas.
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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Alien: Ore (2019)

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Alien: Ore de Kailey Spear e Sam Spear (Canadá) faz parte de um conjunto de curtas-metragens dirigidas no âmbito do quadragésimo aniversário da longa-metragem Alien (1979), de Ridley Scott e que aqui nos transporta uma vez mais para o imaginário que encontrámos nas primeiras entregas desta saga.
Lorraine (Mikela Jay) anseia por uma vida melhor para a sua família. Quando no início do seu turno nas minas é encontrado o corpo de um colega, ela vê-se forçada a optar por fugir de um inimigo desconhecido ou ficar naquele lugar garantindo, dessa forma, a segurança da sua família.
São breves os instantes desta curta-metragem, que ultrapassa em muito pouco os dez minutos de duração, mas que, no entanto, consegue captar nos mesmos toda a dinâmica de claustro e de medo que foram conferidos há quarenta anos a esta saga. Temos, como tem sido recorrente desde Aliens (1986), de James Cameron, a dinâmica familiar onde valores mais altos que o da segurança própria se impõem para a defesa da continuidade da espécie (humana) que a tudo se sujeita para que o já nosso conhecido alien não ultrapasse as fronteiras que os protagonistas se colocam como aquelas que são intransponíveis. Aqui é a protagonista interpretada por uma destemida Mikela Jay secundada pelos seus parceiros da mina que se impõe como a última barreira entre o alien e as suas famílias que esperam "lá em cima" fora de uma mina e num espaço habitacional bem mais simpático. Ao recusar seguir caminho para uma atmosfera mais respirável e ir ao encontro da sua família por quem, na prática, luta por uma vida melhor, a sua "Lorraine" opta por enfrentar o perigo e tentar barrar-lhe o caminho permitindo que a sua prole sobreviva pelo menos mais um dia.
Juntamente a esta dinâmica familiar que acabamos por encontrar em várias das obras da saga bem como nas suas "irmãs" tidas como menos populares a cargo da dupla Alien vs. Predator (2004 e 2007 respectivamente), é aqui também de notar a vertente da empresa tutelar das malfadadas minas que tem a sua própria agenda para os intrigantes alien - a indústria de armamento sempre à espreita -, reforçando a ideia de que sim, os bónus existem, mas apenas e só se os seus funcionários estiverem dispostos a olhar para o outro lado no que diz respeito a tão perigoso e ainda "anónimo" assassino que espreita na escuridão... já dizia em 1986 a "Tenente Ripley" interpretada pela tão desejada Sigourney Weaver "You don't see them fucking each other over a goddamn percentage"... já a espécie humana...
Inteligente e muito bem recreada está a típica atmosfera pretendida para esta saga... ambientes fechados que recriam o sentimento de claustro primeiro com o elevador sobrelotado e finalmente através dos cenários fechados subterrâneos das minas onde todos tentam ganhar pela sua sobrevivência mas dos quais a certo ponto se compreende que ninguém irá abandonar... pelo menos não vivo, e que são enriquecidos por uma direcção de fotografia de Graham Talbot e Nelson Talbot que os transforma para lá de espaços pequenos onde todos se sentem presos em locais que parecem já de si ter poucos corredores e caminhos que lhes permitam a fuga.
Finalmente, mas não menos importante, é de destacar também como estes filmes que com mais ou menos orçamento surgem com uma execução bem delineada e pensada e sempre com a presença dos nossos já "estimados" aliens que surgem vindos do nada... escondidos na escuridão que a direcção de fotografia permite dando crédito à já debatida ideia de que mete mais medo o perigo que não se vê pela sugestão do que pode vir do que propriamente aquele que estando à nossa frente pode criar hipóteses de defesa que julgamos não ter. Num jogo de gato e do rato tão típico nestas obras, é aquele que foge, mais do que aquele que caça, que tem de pensar mais além das suas próprias possibilidades bastando apenas a este último esperar pelo primeiro momento de distração para fazer vingar o seu golpe fatal.
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8 / 10
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domingo, 24 de novembro de 2019

Shortcutz Viseu - Sessão #136

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Mais uma semana... mais uma sessão do Shortcutz Viseu. A Sessão #136 irá decorrer no próximo dia 29 de Novembro a partir das 22 horas na Incubadora do Centro Histórico com mais uma noites de filmes curtos presentes no segmento Curtas em Competição.
Assim, nesta noite, serão exibidos os filmes curtos Flumen, de Frederico Ferreira, José, de João Monteiro, Moscatro, de Patrícia Maciel e California, de Nuno Baltazar. Todos os realizadores estarão presentes na sessão para a apresentação dos seus filmes enquanto a realizadora marcará presença através de um vídeo onde dirigirá algumas palavras ao público.
O cinema curto volta a marcar presença em Viseu numa sessão que será, mais uma vez, de entrada gratuita para o público.
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Alien: Night Shift (2019)

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Alien: Night Shift de Aiden Brezonick (EUA) é mais uma das curtas-metragens que celebra o quadragésimo aniversário da obra de Ridley Scott levando o espectador a cenários que lhe são de certa forma familiares e aqui continuados graças à imaginação e dedicação de novos realizadores.
Encontramo-nos na Colónia Mineira de High Lonesome em LV-422. Welles (Terrance Keith Richardson) chama por Harper (Tanner Rittenhouse), um colega de trabalho estranhamente isolado dos demais e adormecido numa pequena viela. Mas o que Welles não sabe é que Harper esteve na presença de uma inesperada companhia...
Desenvolvendo de forma cativante e inspirada o imaginário da saga Alien (ainda que com alguns aceitáveis lugares comuns típicos de quem pretende a devida homenagem), esta curta-metragem - a semelhança das demais já aqui apresentadas -, recria um pouco da atmosfera apresentada já há algumas décadas, a premissa de que estas personagens estão na presença de uma estranha companhia que não só não sabem identificar como tão pouco estão preparados para lidar com os efeitos destruidores da sua passagem.
Todos os elementos são inicialmente entregues ao espectador mais atento que compreende que os dois amigos mais não são do que o embrião inicial de toda uma história que está por ser desenvolvida. E é aqui que esta curta-metragem não só apresenta o seu maior trunfo como, ao mesmo tempo, peca pela curta (extremamente curta) duração que interrompe o espectador em tudo aquilo que o mesmo queria ver. No fundo, e por outras palavras, tudo aquilo que observamos neste Alien: Night Shift mais não é do que o óbvio e esperado de uma história centrada neste universo... dois amigos que vão a um bar depois de um deles ter sido encontrado em estranhas circunstâncias... reúnem-se com um outro grupo de colonos do já mencionado planeta para aí darem início a todo um jogo de gato e rato sendo, também este, interrompido pelos verdadeiros acontecimentos "lá fora" que começam a ocorrer um pouco por todo o colonato. O invasor está às portas... e ninguém deu pela sua chegada. Que comece a caçada...
O potencial desta curta-metragem, que no seu argumento base limita-se a uma breve (mas sentida) homenagem ao género e à saga em concreto, reside naquilo que o espectador acaba por não ver... o que ocorre no centro daquele bar já o vimos na obra original de Scott ou até mesmo nas demais sequelas aquando das primeiras manifestações do Xenomorfo. No entanto, e para lá dessa manifestação ou breve jogo de gato versus rato, é aquela confirmação de tumulto fora de portas que o espectador acaba por considerar interessante... a possibilidade de observar o derrube do colonato e a confirmação de que este "Alien" é, afinal, o verdadeiro senhor de um território para o qual nenhum humano estava preparado seduz por todas as possibilidades que são aqui equacionadas não propriamente em Alien: Night Shift mas sim nas portas que este abre para a potencial obra maior que poderia ser construída a partir daqui revelando quão depressa caiu um dos eventuais primeiros colonatos.
Caprichos de um espectador - eu - à parte, esta curta-metragem assume-se facilmente como mais uma digna representante do universo Alien deixando o comum mortal - novamente tal como eu - expectante para uma potencial nova entrega desta saga que tarda em chegar. A grande opus está porvir - assim o desejo -, e todos estes filmes curtos que abrem portas para esse futuro - ainda que aqui pareçam ser claros testemunhos do passado -, são magníficos exemplares de todo um imaginário colectivo inter-geracional e fiéis testemunhos de uma das maiores sagas de ficção científica das últimas décadas.
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6 / 10
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LEFFEST - Lisbon & Sintra Film Festival 2019: os vencedores

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Termina hoje a décima-terceira edição do LEFFEST - Lisbon & Sintra Film Festival que teve como principais sedes, desde o passado dia 15 de Novembro, o Cinema Nimas (Lisboa) e no Centro Cultural Olga de Cadaval (Sintra), com o anúncio dos vencedores deste ano.
O júri composto por Victória Guerra, Yasmine Hamdan, Wagner Moura e Maria João Pires decidiu pelos seguintes vencedores:
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Filme: Balloon, de Pema Tseden
Grande Prémio do Júri - João Bénard da Costa: Tommaso, de Abel Ferrara
Prémio Especial do Júri: Viktoria Miroshnichenko e Vasilisa Perelygina, Dylda e Grear Patterson, Giants Being Lonely
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sábado, 23 de novembro de 2019

Alien: Alone (2019)

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Alien: Alone de Noah Miller (EUA) é uma das curtas-metragens que celebram os quarenta anos de Alien (1979), de Ridley Scott numa história que nos apresenta Hope (Taylor Lyons), o único membro sobrevivente da nave Otranto, que ao longo de um ano mantém a estrutura e funcionamento da mesma com vista à chega a uma fronteira espacial onde possa ser salva. Solitária nesta sua expedição, Hope encontra e forma uma estranha amizade que poderá redefinir todos os seus objectivos de voltar a encontrar vida humana.
Com uma clara influência na obra que deu origem a toda esta saga Alien - a de Scott em 1979 -, este Alien: Alone de Noah Miller - seu argumentista e realizador - exibe desde cedo diversos elementos que remontam o espectador para essa memória. Da foto polaroid da tripulação aos pequenos comunicadores que nos levam a esses claustrofóbicos corredores da Nostromo, esta curta-metragem mais do que o espírito da saga tenta sim celebrar a memória e, de certa forma, as origens de todo o "movimento" Alien.
Se são os pequenos detalhes visuais que dão o mote para este revivalismo, não deixa também de ser um facto aqui verificado que é o sentimento de solidão que ganha forma quando a protagonista "Hope" manifesta todo um desesperado sentimento de abandono e perda - não sabemos em que condições - de uma tripulação agora ausente e de uma nave cujos sinais de degradação são por demais evidentes... um pouco como a sua alma. Esta ausência de vida e de alguém com quem compartilhar tão intensa e longa viagem cujo fim é incerto não só pelo distanciamento da tal fronteira do espaço profundo versus "territórios habitados" mas também pelo facto de não saber identificar qual será o ponto de ruptura absoluta da nave em que viaja, será colmatada com aquilo que se encontra por detrás de uma misteriosa porta e que poderá dar origem a uma amizade com "Hope".
O dilema aqui levantado em que Humano e Xenomorfo estabelecem essa improvável relação de cumplicidade é, no fundo, o elemento de maior destaque nesta curta-metragem sendo que, no entanto, já fora observado em Alien Ressurection (1997), de Jean-Pierre Jeunet. Relação essa estabelecida através de uma forma primária de maternidade que a obra do realizador francês decidiu explorar e que aqui é formada a partir de um desespero de isolamento sentido pela protagonista que decide "sobreviver" para chegar a território humano na companhia do xenomorfo e não tanto pela sua necessidade de lá chegar impedindo a propagação daquilo que será, no fundo, a contaminação desse mesmo espaço. Mas terá "Hope" os seus próprios planos para essa Humanidade à qual se dirige que podem, na realidade, estabelecer uma ideia daquilo que terá acontecido à sua tripulação?! Estará ela a esconder algo mais do que a sua própria sobrevivência?
Se Noah Miller cria esta curta-metragem com o recurso a diversos elementos de obras passadas - o espírito de isolamento, elementos de decoração de cenário e guarda-roupa ou mesmo a já mencionada relação entre a protagonista e o xenomorfo -, a realidade é que a esta curta-metragem falta, no entanto, toda a força e dinamismo recriadas até nas obras mais recentes - Prometheus (2012) e Covenant (2017) - consideradas as mais frágeis da saga, mas que conseguem enquadrar todo um sentimento claustrofóbico, labiríntico e de verdadeiro terror no espaço do qual ninguém poderá escapar ileso que aqui se limita a uma abordagem quase empática ou mesmo "espiritual" que colocam Homem e Xenoformo em patamares semelhantes de sobrevivência face ao mundo exterior (ainda que este seja inexistente)... até descobrirmos quem é, na realidade, esta sobrevivente "Hope".
Fiel ao género - ainda que francamente frágil na sua construção - Alien: Alone explora essa vertente do isolamento e da solidão pervertendo ambos e conferindo-lhes "alma" pela forma como esta - mesmo que inexistente - quando corrompida pode realmente enveredar por aquele lugar escuro e sinistro apenas comparável com a imensidão desse tal universo por onde a Otranto, a Nostromo, a Prometheus ou a Covenant viajaram e da qual trouxeram as suas próprias "memórias".
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6 / 10
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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Alien: Specimen (2019)

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Alien: Specimen de Kelsey Taylor (EUA) é uma das curtas-metragens que celebram o quadragésimo aniversário do início da saga Alien (1979), de Ridley Scott aqui no universo do LV-492, um planeta com um património botânico diverso e onde, numa estufa, Julie (Jolene Andersen) se vê encerrada depois de detectado pela sua cadela alguns resíduos estranhos. Mas, como seria de esperar, Julie não está sozinha...
Existe sempre alguma suspeita por parte do espectador quando um novo título surge na saga iniciada no final da década de '70. No entanto, é a curiosidade que fala mais alto e a esperança de que esse mesmo universo seja respeitado faz com que qualquer um de nós se deixe levar pela esperança de que "este" - independentemente de qual seja -, volte a deixar-nos colados ao ecrã em mais uma história onde a luta pela sobrevivência impera e comanda os destinos dos menos afortunados que se deparam com os resistentes xenoformos.
Cedo, ainda que com apenas uns curtos dez minutos de duração, percebe o espectador que Alien: Specimen tem merecidamente o seu lugar neste universo. O argumento de Federico Fracchia não só consegue ser fiel ao esperado espírito do género mantendo sempre o suspense e a incerteza a cada esquina como também surpreende com os inesperados twists que espreitam em pequenos e subtis detalhes nomeadamente no destino entre vítimas e predadores que "trocam de lugar" à medida que o tempo avança sem que o espectador nunca suspeite de quem é quem.
É neste ambiente de suspeita tensão que tudo acontece e a relação entre Humano, Animal e Xenoformo desenvolve-se numa dependência mútua transformando cada um destes protagonistas numa peça fundamental de uma história que, compreendemos no final, não acontece com os contornos que esperamos principalmente pela diferente dinâmica das mesmas em relação às longas-metragens que conhecemos e que foram brilhantemente protagonizadas por uma personificação de heroína que foi (É!!!) Sigourney Weaver. Estes três protagonistas têm assim uma relação diferente, ainda que cúmplice e mesmo dependente, mas nem tudo ocorre como tradicionalmente seria de esperar. Para tal inicial ilusão do espectador contribuem de forma determinante em primeiro lugar a perfeita direcção de fotografia de Adam Lee que o confunde fazendo ignorar pequenos elementos que apenas um segundo visionamento esclarecem e transformando todo aquele recinto num grande labirinto onde gato e rato se observam, avaliam e escondem esperando pelo momento certo para finalmente revelarem a sua presença. Interessante como a não tão subtil biodiversidade aqui ganha, também ela, o seu próprio lugar quase como que uma personagem silenciosa que contribui para uma camuflagem sempre necessária quando se (tenta) escapa de um perigo desconhecido ou, por sua vez, como este o utiliza para a construção da sua própria teia. A isto acresce todo um particular ambiente que os efeitos sonoros criam deixando toda a dinâmica num tempo suspenso e incerto que deixam o espectador desconhecedor do decorrer dos segundos.
Ainda que Jolene Andersen não seja a "Ripley" de Sigourney Weaver - nunca ninguém o será -, a actriz consegue firmar-se num daqueles desempenhos de heroína improvável que, já bem perto do final, se revela também ela como um inesperado predador que utiliza os meios ao seu redor para uma sobrevivência num espaço que, afinal, também não é seu. Perguntamos neste momento... quem será o verdadeiro predador... Humano ou Xenomorfo?! Ainda que, na realidade, todos nós tenhamos a nossa clara preferência que será sempre anti-xenomorfo... ou, pelo menos, compreender que todo o invasor, assuma ele que forma assumir, não passa disso... um invasor em território desconhecido e onde as suas vantagens são claramente menores.
Inteligentemente criado e digno emissor de uma homenagem a uma das maiores e mais intensas sagas do cinema de ficção científica, este Alien: Specimen é um dos mais bem estruturados e elaborados filmes curtos do género e um daqueles que irá, com toda a certeza, figurar nas mais sentidas homenagens à mesma deixando o espectador e, muito particularmente aquele que segue esta saga desde 1979 com a eterna questão... quando é que regressa a nova entrega... e quando é que a "Tenente Ripley" marca finalmente o seu regresso?!
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8 / 10
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Eduardo Nascimento

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1943 - 2019
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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Premio José Maria Forqué 2020: os nomeados

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Foram hoje anunciados os nomeados à vigésima-quinta edição dos Premios José Maria Forqué confirmando alguns dos títulos mais falados do cinema espanhol desta temporada. Dolor y Gloria, de Pedro Almodóvar, Mientras Dure la Guerra, de Alejandro Amenábar, O que Arde, de Oliver Laxe e La Trinchera Infinita, de Aitor Arregi, Jon Garaño e Jose Mari Goenaga são assim as obras que disputam o troféu de Melhor Filme do Ano.
São os nomeados:
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Melhor Filme
Dolor y Gloria, de Pedro Almodóvar
Mientras Dure la Guerra, de Alejandro Amenábar
O que Arde, de Oliver Laxe
La Trinchera Infinita, de Aitor Arregi, Jon Garaño e Jose Mari Goenaga
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Melhor Documentário
Ara Malikian. Una Vida Entre las Cuerdas, de Nata Moreno
Aute Retrato, de  Gaizka Urresti
El Cuadro, de Andrés Sanz
Historias de Nuestro Cine, de Ana Pérez-Lorente e Antonio Resines
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Premio al Cine y Educación en Valores
Abuelos, de Santiago Requejo
Diecisiete, de Daniel Sánchez Arévalo
Elsa y Marcela, de Isabel Coixet
Vivir dos Veces, de Maria Ripoll
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Melhor Filme Latino-Americano
Araña, de Andrés Wood (Chile)
La Camarista, de Lila Avilés (México)
La Odisea de los Giles, de Sebastián Boresztein (Argentina)
Monos, de Alejandro Landes (Colômbia)
Un Traductor, de Rodrigo Barriuso e Sebastián Barriuso (Cuba)
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Melhor Curta-Metragem
Maras, de Salvador Calvo
El Nadador, de Pablo Barce
Suc de Síndria, de Irene Moray
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Melhor Interpretação Masculina
Enric Auquer, Quién a Hierro Mata
Antonio Banderas, Dolor y Gloria
Antonio de la Torre, La Trinchera Infinita
Karra Elejalde, Mientras Dure la Guerra
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Melhor Interpretação Feminina
Pilar Castro, Ventajas de Viajar en Tren
Belén Cuesta, La Trinchera Infinita
Greta Fernández, La Hija de un Ladrón
Marta Nieto, Madre
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Os vencedores serão conhecidos numa gala a realizar em Madrid, no próximo dia 11 de Janeiro de 2020.
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Film Independent's Spirit Awards 2020: os nomeados

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Foram hoje revelados os nomeados aos Spirit Awards. Entre os nomeados encontram-se vários dos títulos mais falados para esta temporada de prémios e entre as longas-metragens que disputam o troféu para Melhor Filme são A Hidden Life, de Terence Mallick, Clemency, de Chinonye Chukwu, The Farewell, de Lulu Wang, Marriage Story, de Noah Baumbach e Uncut Gems, de Benny Safdie e Josh Safdie.
São os nomeados:
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Melhor Filme
A Hidden Life, de Terence Mallick
Clemency, de Chinonye Chukwu
The Farewell, de Lulu Wang
Marriage Story, de Noah Baumbach
Uncut Gems, de Benny Safdie e Josh Safdie
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Melhor Primeira Obra
Booksmart, de Olivia Wilde
The Climb, de Michael Angelo Covino
Diane, de Kent Jones
The Last Black Man in San Francisco, de Joe Talbot
The Mustang, de Laure de Clermont-Tonnerre
See You Yesterday, de Stefon Bristol
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Melhor Documentário
American Factory, de Steven Bognar e Julia Reichert
Apollo 11, de Todd Douglas Miller
For Sama, de Waad Al-Khateab e Edward Watts
Honeyland, de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov
Island of the Hungry Ghosts, de Gabrielle Brady
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Melhor Filme Internacional
Gisaengchung, de Bon Joon Ho (Coreia do Sul)
Les Misérables, de Ladj Ly (França)
Portrait de la Jeune Fille en Feu, de Céline Sciamma (França)
Retablo, de Alvaro Delgado Aparício (Perú)
The Souvenir, de Joanna Hogg (Reino Unido)
A Vida Invisível, de Karim Aïnouz (Brasil)
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Jon Cassavetes Award
Burning Cane
Colewell
Give Me Liberty
Premature
Wild Nights with Emily
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Truer Than Fiction Award
Davy Rothbart, 17 Blocks
Erick Stoll e Chase Whiteside, América
Khalik Allah, Black Mother
Nadia Shihab, Jaddoland
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Producers Award
Mollye Asher
Krista Parris
Ryan Zacarias
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Someone to Watch Award
Joe Talbot, The Last Black Man in San Francisco
Rashaad Ernesto Green, Premature
Ash Mayfair, The Third Wife
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Bonnie Award
Marielle Heller
Kelly Reichardt
Lulu Wang
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Melhor Realização
Alma Har'el, Honey Boy
Lorene Scafaria, Hustlers
Roberts Eggers, The Lighthouse
Julius Onah, Luce
Benny Safie e Josh Safdie, Uncut Gems
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Melhor Actor Protagonista
Chris Galust, Give Me Liberty
Kevin Harrison Jr., Luce
Robert Pattinson, The Lighthouse
Adam Sandler, Uncut Gems
Matthias Schoenaerts, The Mustang
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Melhor Actriz Protagonista
Karen Allen, Colewell
Hong Chau, Driveways
Elisabeth Moss, Her Smell
Mary Kay Place, Diane
Alfre Woodard, Clemency
Renée Zellweger, Judy
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Melhor Actor Secundário
Willem Dafoe, The Lighthouse
Noah Jupe, Honey Boy
Shia LaBeouf, Honey Boy
Jonathan Majors, The Last Black Man in San Francisco
Wendell Pierce, Burning Cane
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Melhor Actriz Secundária
Jennifer Lopez, Hustlers
Taylor Russell, Waves
Zhao Shuzhen, The Farewell
Lauren 'Lolo' Spencer, Give Me Liberty
Octavia Spencer, Luce
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Melhor Argumento
Clemency, Chinonye Chukwu
High Flying Bird, Tarell Alvin McCraney
Marriage Story, Noah Baumbach
To Dust, Jason Begue e Shawn Snyder
Uncut Gems, Ronald Bronstein, Benny Safdie e Josh Safdie
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Melhor Primeiro Argumento
Blow the Man Down, Danielle Krudy e Bridget Savage Cole
Driveways, Hannah Bos e Paul Thureen
Greener Grass, Jocelyn DeBoer e Dawn Luebbe
See You Yesterday, Fredrica Bailey e Stefon Bristol
The Vast of Night, James Montague e Craig W. Sanger
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Melhor Montagem
Give Me Liberty, Kirill Mikhanovsky
The Lighthouse, Louise Ford
Sword of Trust, Tyler L. Cook
The Third Wife, Julie Béziau
Uncut Gems, Ronald Bronstein e Benny Safdie
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Melhor Fotografia
Honey Boy, Natasha Braier
Hustlers, Todd Banhazi
The Lighthouse, Jarin Blaschke
Midsommar, Pawel Pogorzelski
The Third Wife, Chananun Chotrungroj
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Os vencedores serão conhecidos numa cerimónia a realizar no dia 8 de Fevereiro de 2020 em Santa Monica, na California.
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terça-feira, 19 de novembro de 2019

José Mário Branco

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1942 - 2019
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European Film Awards 2019: os primeiros vencedores

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A Academia Europeia de Cinema anunciou hoje os primeiros vencedores dos European Film Awards de 2019. O júri composto por Nadia Ben Rachid (França), Vanja Černjul (Croácia), Annette Focks (Alemanha), Gerda Koekoek (Holanda), Eimer Ní Mhaoldomhnaigh (Irlanda), Artur Pinheiro (Portugal), Gisle Tveito (Noruega) e István Vajda (Hungria) deciciu assim os seguintes vencedores:
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Montagem: Yorgos Mavropsaridis, The Favourite
Fotografia - Prémio Carlo Di Palma: Robbie Ryan, The Favourite
Música Original: John Gürtler, Systemsprenger
Som: Eduardo Esquide, Nacho Royo-Villanova e Laurent Chassaigne, La Noche de 12 Años
Design de Produção: Antxon Gómez, Dolor y Gloria
Guarda-Roupa: Sandy Powell, The Favourite
Caracterização: Nadia Stacey, The Favourite
Efeitos Visuais: Martin Ziebell, Sebastian Kaltmeyer, Néha Hirve, Jesper Brodersen e Torgeir Busch, Om det Oändliga
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Os demais vencedores serão conhecidos na cerimónia da trigésima-segunda edição dos European Film Awards a decorrer em Berlim, no próximo dia 7 de Dezembro.
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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Argentina Santos

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1924 - 2019
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domingo, 17 de novembro de 2019

Meat Wagon (2019)

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Meat Wagon de Josh Gould (EUA) é uma das estreias da décima edição do Buried Alive Film Festival em Atlanta e um dos mais curiosos filmes curtos da selecção na medida em que o seu potencial - por explorar - poderá criar um interessante conto de terror moderno.
Um homem que não consegue respirar. Dois paramédicos chamados para assistência. Uma casa e todo um conjunto de crenças religiosas que se misturam numa história onde o terror está porvir.
Num estilo muito próprio da série Z, esta magnífica curta-metragem de Josh Gould prima desde os seus primeiros instantes pela direcção de fotografia de Sidarth Kantamneni que confere a esta história a atmosfera assustadora dos filmes zombie que George Romero entregou há mais de trinta anos e que deixaram o grande público num suspenso sobre o que era mito ou realidade no espaço e no tempo da história a que assistiam. Mais, Meat Wagon consegue com os seus vários elementos escondidos por entre palavras enigmáticas e que deixam muito à sugestão do espectador, criar um conto que mescla essa incerteza do espaço com crenças religiosas, voodoo e ainda desavenças familiares que expõem o público a uma espécie de transe na medida em que este se concentra em todo um conjunto de subtis detalhes que chegam a um ritmo alucinante sem que, no entanto, nada na dinâmica desta história revele muito mais do que o início de "algo" que está por acontecer.
O espaço é, pensamos, familiar. Um sul profundo dos Estados Unidos... uma região ligada à crenças voodoo onde os feitiços e as conjuras são frequentes para que uma parte aparentemente vítima de uma comunidade possa garantir o (seu) controlo sobre a mesma. O espectador desconhece quais os seus fins. Nada, nesse aspecto, consegue ser suficientemente claro para que se delimite as acções daqueles que "nos" circulam mas, ainda assim, percebe que todos os acontecimentos que ali testemunhamos mais não são do que o início de uma qualquer revolução social que está por chegar... Serão zombies... será um qualquer feitiço de histeria colectiva... será uma simples dominação pelo subconsciente? Nada é certo. A única certeza conferida por esta história é que os acontecimentos, tal como se espera que eles se desenvolvam, ainda estão por chegar.
Ver a dinâmica desta história faz o espectador recordar um qualquer filme de Romero ou até mesmo destas recentes histórias de The Walking Dead. O espaço - físico - é familiar. Locais perdidos e voluntariamente isolados que são a génese de tudo o que está por acontecer... no fundo, o centro de uma qualquer "epidemia" que, por razões desconhecidas, irá tomar conta dos destinos da Humanidade - pelo menos daquele espaço em concreto -, e que a todos irá mudar sem qualquer piedade. Até mesmo os diálogos entre as diversas personagens fazem adivinhar essa mudança... Primeiro o paramédico que inicia esta dinâmica pela observação da sua tranquilidade por acabar, depois pela vítima que (talvez) não o será... O acusado que poderá ser o detentor de uma qualquer futura redenção mas agora injustamente acusado e finalmente as conversas teológicas e filosóficas que inundam os minutos finais desta curta-metragem... Algo está "presente" mesmo que, para o espectador, seja ainda incerto sobre que forma irá assumir.
Meat Wagon é a esperada introdução a uma história maior e que aqui ganha forma... Possivelmente essa forma acabará por ser a mesma que se espera do tal "perigo" que espreita sem se assumir como uma realidade (por enquanto), e que o realizador certamente irá desenvolver num próximo trabalho. Meat Wagon não se apresenta como um filme terminado mas sim como aqueles que lança os primeiros elementos de uma história maior... uma história onde as suas personagens não só nos lancem mais factos sobre as suas realidades mas também sobre aquela que (então) vivem. Um conto sobre um mundo em transformação onde as crenças antigas se misturam com novas realidades convivendo como num limbo e onde se conquistam seguidores que encontram nas mesmas as formas da sua própria sobrevivência.
Formalmente ambíguo - mesmo o seu título não se expõe àquilo que aparenta mas sim a uma forma multifacetada de ler o que nos pretende transmitir - pois não só não se assume como um tradicional filme de terror onde se expõem as realidades das personagens e do mundo tal como os conhecemos conseguindo, dessa forma, ser uma história sedutora e capaz de atrair o espectador para algo que se adivinha ter uma continuidade mas que, ao mesmo tempo, é capaz de estabelecer regras e limites sobre aquilo que pretende transmitir ao espectador. Aqui não existem inocentes mas sim personagens capazes de delinear o mundo à sua própria maneira... E para o espectador mantém-se a certeza de que assiste a um filme capaz de deixá-lo a pensar para lá da sua duração temporal.
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8 / 10
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Marighella (2019)

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Marighella de Wagner Moura (Brasil) presente numa das Sessões Especiais desta décima-terceira edição do LEFFEST - Lisbon & Sintra Film Festival a decorrer até ao próximo dia 25 de Novembro e assumindo-se como um dos grandes filmes do ano e, seguramente, uma forte aposta do novo cinema brasileiro.
Finais da década de '60. O Brasil vive sob uma ditadura militar que depôs em 1964 o Presidente eleito João Goulart. A violenta ditadura militar instalada com grande apoio populacional mas com a oposição de Carlos Marighella classificado pelo regime - que duraria até 1985 - como o inimigo público número um do Brasil.
Oscilando entre dois momentos específicos na vida do revolucionário Carlos Marighella (1964 com o início do golpe e 1968 em que a luta dos revolucionários era já uma certeza), a longa-metragem de Wagner Moura assume-se desde os instantes iniciais como uma poderosa história de resistência, de resiliência, de perda mas sobretudo de uma forte componente humanista que expõe os homens e mulheres que se opuseram à brutalidade do regime, os seus sonhos de uma vida em liberdade e, sobretudo o seu desencanto por uma sociedade na qual a repressão e a perseguição se solidificava com o apoio de uma maioria que se mantinha silenciosa ou pactuante.
Com mais de duas horas e meia de duração, não há um instante em Marighella que seja ao acaso. Tudo tem uma continuidade lógica e cada momento é vividamente absorvido pelo espectador que ora se deixa encantar pelo homem por detrás do nome ora se emociona com a realidade dos acontecimentos que sabe de antemão. Marighella começa como, de certa forma, põe o fim a todo um relato da vida de quatro anos deste homem... uma história e um legado para o seu filho. Na beira da mudança de regime, "Carlos Marighella" (Seu Jorge) é um homem que vive na clandestinidade e num constante receio da perseguição dos agentes do novo governo vivendo, ainda assim, com uma certa exposição pública que o leva a visitar aquilo que tem de mais precioso... o seu filho.
Os sinais do regime são evidentes... os constantes desfiles militares pela cidade, o receio de falar mais do que o devido num sítio público onde poderá ser escutado por qualquer um e até mesmo a sentida necessidade de se esconder naqueles espaços que sempre foram seus mas que agora são do domínio de um poder autoritário. A oposição ao comunismo, ou àquela que era encarada como a sua ameaça, levava às prisões aleatórias a todos os recantos onde se pensasse que a sua doutrina estava a ser ensinada... do mais simples cidadão às universidades passando mesmo pela Igreja tantas vezes associada a um maior conservadorismo. Este é todo um contexto em que Marighella se enquadra. Mas será este filme apenas e só sobre essa realidade? Não... longe disso.
Wagner Moura concentrou-se, e bem considerando os tempos conturbados que cinquenta anos depois o Brasil volta a viver, em enquadrar o espectador no tempo no espaço e nos agentes nos quais esta parte da História se centra mas, ao mesmo tempo, tem o cuidado de respeitar o Homem para lá da sua militância e resistência ao regime. Marighella vê a luz através da próxima relação que o protagonista tem com o seu filho. Filho esse a quem dedica uma "carta" explicando a sua ausência. Mais... uma carta na qual lhe endereça o seu legado. Independentemente de o fim último ser ou não conseguido - não o seria uma vez que a ditadura militar só viria a terminar vinte e um anos depois em 1985 -, aquilo que ele enquanto homem desejava é que o filho pudesse viver num país melhor. Aliás, não só o seu filho mas os de todos... como um testamento anunciado para que o país saísse de um obscurantismo ultra-conservador que reprimia e assassinava todos aqueles que lhe fizessem frente. É esse legado, ou até mesmo essa opus maior que acaba por ser o denominador centrar de toda esta longa-metragem que não tem um único momento "morto". Moura, de câmara segura e fixa, obriga (mas de forma voluntária) o espectador a abraçar "Marighella" enquanto um lutador pela liberdade... Um lutador que depois do desencanto de ver o seu povo de costas voltadas para a sua causa - e que no fundo seria a de todos -, e também de um Partido Comunista tímido e reticente à luta, recorreu às armas e também a um outro tipo de violência paa se (a)firmar no terreno assumindo, dessa forma, que apenas pela força se pode combater a própria.
O legado de "Marighella" para o filho não foi, no entanto, esquecido. Para qualquer um dos resistentes aqui retratados - ou para tantos outros aos quais é dado também um rosto -, existe um drama associado... o distanciamento das famílias, o sofrimento causado pelo mesmo, as gerações perdidas e as pressões diárias que vivem quer pela ostracização social quer também pela constante vigilância que poderia resultar na prisão de mais um dos resistentes. Da vilanização dos resistentes como forma de destruição da sua moral e oposição da população de uma forma geral, existia uma necessidade por parte dos emissários deste novo regime para que "Marighella" e os seus apoiantes fossem condenados pela sociedade antes de serem detidos - ou eliminados - pelo mesmo numa clara alusão de que a "maçã" deve apodrecer primeiro por dentro para depois ser fortemente retirada da circulação. Mas se internamente "Marighella" sofria a perseguição do regime intimamente apoiado pelos Estados Unidos, era de França e de demais regimes de esquerda que surgia a sua rendição enquanto um homem que lutava pelos direitos da população. Mas a sua mensagem, ou legado, mantinha-se intacto... liberdade para o seu povo e generosidade, lealdade e honestidade para um filho em pleno desenvolvimento num momento em que todas estas características parecem dispensáveis quando o medo se apodera dos sentidos mais básicos de cada um.
Independentemente de conhecermos o final trágico deste momento da História, Wagner Moura prepara o espectador para aquilo que o mesmo sabe ser inevitável... o fim. O fim de "Marighella" enquanto um resistente... a sua compreensão de que o fim se aproximava a passos largos mas, ainda assim, a completa noção de que a obra iria, no futuro, resistir (tal como ele) e persistir para que a liberdade fosse, de facto, uma confirmação. É impossível assistir a esta longa-metragem e, concordando ou não com os actos de violência tomados por parte destes resistentes, ser incapaz de nos identificarmos com a sua extrema e justa necessidade de obter a liberdade que tanto desejam. A vontade de serem representados livremente e poderem manifestar-se ou conhecer o que quisessem sem que a mão conservadora do regime proibisse ou regulasse aquilo ao qual todos pudessem ter acesso. Sentir a liberdade da interferência estrangeira no país e a forma como esta delimitava os limites e as fronteiras daquilo que era "permitido" ter ou ser. "Marighella" - o homem - deixou sim um legado pago com a sua vida mas fortemente transcrito nas suas palavras que resistiram - resistem - ao tempo e a qualquer revanchismo absolutista que teime em se afirmar. A vontade de liberdade do Homem é maior do que a sua forçada prisão e ainda que esta se possa confirmar fisicamente, o pensamento irá perdurar para lá de qualquer grade que lhe seja imposta.
"Marighella" teve assim a sua justa adaptação cinematográfica tendo ganho corpo através de uma magistral interpretação de Seu Jorge que capta de forma distinta mas firme, não só a sua componente revolucionária como também uma perspectiva pessoal e mais emocional do homem para lá da luta. Dinâmico na sua intensa luta de resistência mas afectivo para com os amigos e com a família, Seu Jorge não receia a sua exposição e a sua perspectiva do "homem" para lá daquilo que a História dele reserva. Intenso, carismático e próximo da câmara - logo, do espectador -, Seu Jorge tem seguramente uma das interpretações mais marcantes deste último ano cinematográfico transformando o "Homem" como um seu expressivo alter ego difícil de ultrapassar. Mas como todos os heróis precisam do seu vilão de serviço, é Bruno Gagliasso com o seu "Inspector Lúcio" que se afirma como o lado negro da História. Corrosivo, agressivo e implacável, Gagliasso confere à sua personagem um conjunto de características que provocam o repúdio do espectador pela brutalidade das suas acções bem como pelos métodos utilizados para que a sua vontade "patriótica" vingasse num país que, para infortúnio dos demais, compreendia e sabia como fazer mover. Dois homens que funcionam como mútua antítese mas cujos actores que lhes dão corpo e alma conseguem dinamizar a sua energia para criar um pólo de atracção perfeito para que esta longa-metragem não tenha um único momento que seja considerado superficial.
Polémicas políticas à parte - aquelas que levam este filme a ser "proibido" aos olhares brasileiros -, Wagner Moura cria uma obra maior do cinema de terras de Vera Cruz. Um testemunho histórico do tempo, da sociedade, do Homem e dos homens... dos regimes, das vontades, dos sonhos e das suas privações que "apenas" tem um único propósito final... o desejo intenso de uma liberdade que tarda... que por vezes parece perdida... mas que um dia chega e se firma pedindo que nunca se deixe de por ela lutar... e resistir.
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"Memória de um tempo que lutar pelo seu direito é um defeito que mata."
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10 / 10
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Mark of the Beast: The Legacy of the Universal Werewolf (2019)

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Mark of the Beast: The Legacy of the Universal Werewolf de Daniel Griffith (EUA) é uma das longas-metragens presentes na décima edição do Buried Alive Film Festival a decorrer em Atlanta.
O lobisomem. O primeiro dos "monstros" do cinema e as suas influências na Sétima Arte ao longo das décadas. Das origens no cinema aos títulos mais reconhecidos dos últimos anos, Mark of the Beast: The Legacy of the Universal Werewolf é um relato da lenda que se cruza com a história do cinema fantástico através do comentário de alguns dos seus principais intervenientes.
Através de uma introdução histórico-mitológica entregue por alguns nomes reconhecidos da Sétima Arte como John Landis, Peter Atkins ou Joe Dante, o realizador Daniel Griffith entrega ao espectador uma abordagem dos primórdios da marca, da simbologia e do folclore tradicionalmente ligados à imagem do lobo que remontam à mitologia grega na qual se assumem como capazes da transformação ou metamorfose de animal para homem. Da antiguidade grega - pela mutação animal evidenciada pela divindade Zeus - à Idade Média, o imaginário do lobo - e do homem-lobo -, povoou as mentes humanas como um perigo latente que espreitava nas sombras. Intimamente associado àqueles que sendo humanos evidenciavam comportamentos animalescos ou desviantes, é estabelecida uma teoria à evidente superstição que a sustenta, e registados inúmeros casos em França onde, à época, o imaginário colectivo condenou e torturou muitos cidadãos por serem associados a uma desumanidade (pela sua força e robustez) e, logo, padecentes ou vítimas da licantropia.
A licantropia passou assim a estar associada também à literatura que explorava o imaginário do lobo e da transformação deste na sua figura humana. A mais evidente referência literária é a de Drácula de Bram Stoker - adaptada ao cinema nos anos '90 por Francis Ford Coppola -, onde o cosmopolitanismo e sofisticação do vampiro contrasta com a robustez física do lobo que ataca e se manifesta nas noites de lua cheia dando relevo à figura do lobisomem agora na Sétima Arte. Mas as origens deste estaria já marcada no cinema décadas antes.
Foi no início dos anos '30 que se registou pelas mãos da Universal o cinema de género através de um terror assumidamente gótico e negro, o preferido de Carl Laemmle, fundador da companhia. De Boris Karloff a Bela Lugosi sem esquecer Lon Chaney Jr. que marcou de forma definitiva a personagem do lobisomem servindo, inclusive, de referência para todas as interpretações que se lhe seguiriam, com a sua interpretação em The Wolf Man (1941), de George Waggner. Da obra que estabeleceu as linhas condutoras para o cinema de género e como a caracterização assumia aqui um papel protagonista na forma como o homem lobo era visto pelo grande público, não só pela sobreposição de imagem com que se conseguiria criar toda uma imagem de referência da transformação - do homem em lobo - propriamente dita e à sua directa relação com a passagem do adolescente a adulto (ou criança a homem pelo corpo que se transforma e anuncia a puberdade do "ser"), à importância da direcção de fotografia para conseguir criar uma atmosfera de terror claustrofóbico que induzia o espectador a temer mais aquilo que não via do que aquilo que os seus olhos testemunhavam no grande ecrã.
Um dos elementos interessantes deste documentário é a forma como apresenta a figura do lobisomem. Se os demais monstros da Universal - Frankenstein... Drácula... Múmia... - são sobre a forma como todos tentam voltar à vida depois de uma morte confirmada, o Lobisomem enquanto figura com uma elevada carga maléfica, estabelece-se e afirma-se no cinema como uma cujo fim último é a morte. O Lobisomem não procura o seu lugar no mundo dos vivos mas sim terminar com o seu sofrimento e castigo "em vida" directamente relacionado com a morte dos demais, procurando a morte e cancelando assim esse suplício. Ao contrário dos demais o Lobisomem procura não o início de uma nova vida mas sim o auto-extermínio e, como tal, o fim que não se anuncia. A este imaginário foi a interpretação de Chaney Jr. que se lhe juntou e muito contribuiu para a estabelecer e contrariamente a todos os demais "monstros", foi o actor que se conseguiu manter sempre associado a esta marca interpretando-o em todas as demais entregas ao longo de décadas.
Interessante e importante documentário - e documento - não só sobre a História (mitológica) bem como sobre aquela da imagem em movimento e do cinema, Mark of the Beast: The Legacy of the Universal Werewolf é uma obra de referência que analisa a mitologia, a História, o cinema e os seus intervenientes e algumas das histórias caricatas que caracterizaram o género estabelecendo este "lobisomem" como um dos seus principais fundadores e um dos mais resistentes conseguindo entregar múltiplas entregas capazes de se afirmar no terreno dos "monstros cinematográficos" numa arte que, tal como o próprio, está sempre em perfeita e constante mutação.
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8 / 10
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sábado, 16 de novembro de 2019

Fred Mella

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1924 - 2019
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Astray (2019)

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Astray de Kyle Sharpe (Canadá) é uma das curtas-metragens de animação presentes na selecção oficial da décima edição do Buried Alive Film Festival a decorrer em Atlanta.
A curiosidade de uma mulher sobre uma casa abandonada leva-a a embarcar numa viagem pela desconhecido e pelos horrores que se escondem por detrás das sombras. Irá ela descobrir o que habita naquele espaço?
Numa perspectiva de terror gótico e considerando que esta curta-metragem tinha todo um potencial por explorar sobre os verdadeiros horrores de uma casa que esconde uma versão perfeita do "mal" enquanto uma entidade, Astray é uma potente curta-metragem de género que tem tudo para se assumir como uma referência do género. Nada do que aqui temos é colocado ao acaso. Tão pouco está sub-explorada deixando, no entanto, uma porta aberta - sem ironia para com o próprio começo desta história - para que a mesma se possa (ou deva) explorar enquanto um conto mais longo onde se conhecem os verdadeiros detalhes do que todos os recantos daquela casa dos horrores escondem.
Se é um facto que acompanhamos as tímidas investidas desta jovem que se deixa embrenhar pelos corredores obscuras daquela velha mansão, não deixa de ser uma realidade que, para o espectador, interessam mais os pequenos detalhes e inuendos apresentados (pensamos) pela mesma para que a jovem se deixe levar, num misto de curiosidade e incapacidade de fugir, por aqueles corredores que parecem colocá-la face a um labirinto onde o único caminho possível é seguir em frente e deparar-se com aquilo que, deduzimos, a espera. Da borboleta que invade a casa como o símbolo da pureza que deve seguir às portas que se abrem para dar rosto a um novo caminho, Astray faz sempre ressaltar a sua componente mórbida e gótica que põem em evidência um destino que poderá ser tão ou mais escuro quanto os recantos por onde a jovem passa. E é quando pensamos que se a tal pureza escapa, também ela - a jovem - pode encontrar o seu final feliz, que deparamos com o inesperado e compreendemos que ela mais não é do que uma boneca nas mãos de um poder maior que a controla, aos seus passos e sobretudo ao seu final revelando-a como, não mais, do que uma peça de um jogo maior.
Executada com rigor e precisão, a curta-metragem Astray é o símbolo de um filme maior em construção - ou pelo menos um que se poderia criar -, e a revelação de que o horror e a animação podem andar de mãos dadas e ser tão ou mais eficazes do que muitas obras de ficção habituadas ao mesmo estereótipo que (re)cria sucessivas obras com o mesmo final. Aqui o realizador Kyle Sharpe cria a atmosfera perfeita... para que o terror reine e para que o espectador se deixe cativar e mantenha toda a sua atenção aos pequenos detalhes que parecem, também eles, ganhar a sua própria vida e "alma".
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7 / 10
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Toothache (2019)

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Toothache de Stacey Palmer (EUA) é mais uma das curtas-metragens presentes na décima edição do Buried Alive Film Festival a decorrer em Atlanta, numa história que remete o espectador para um drama familiar onde, no seio de um casal, algo invulgar está prestes a ocorrer.
Uma mulher chega a casa enquanto outra a espera para mais uma noite familiar. Quando uma desenvolve uma súbita e inesperada dor de dentes, o impensável estava prestas a acontecer abalando definitivamente a vida deste casal.
Aquilo que poderia ser um drama familiar ou mesmo uma história de terror sobrenatural pela impossibilidade dos acontecimentos, cedo se revela como uma história filmada com uma sentida despreocupação pela perfeição dos detalhes que poderiam enriquecer a mesma. O conto é banal... um casal em que as duas mulheres falam de um conjunto de banalidades sobre o seu dia-a-dia para, sem qualquer aviso para lá da óbvia menção presente através do título da mesma, uma das mulheres manifestar uma preocupante - e eventualmente lacerante - dor de dentes que incomoda a esperada noite pacífica. Dor essa que se repete para uma eventual noite mais ou menos grotesca onde o dente - ou dentes - manifestam a sua presença da forma mais inesperada. Diz o ditado popular que sonhar com dentes é sinal de morte... aqui, vê-los a ganhar vida própria é sinal de que esse fim se anuncia e não da melhor forma.
O terror grotesco tem a sua justificação e marca pessoal no cinema destacando-se com inúmeros títulos e obras que ainda hoje são referência no género. No entanto, Toothache vibra com a tentativa de se assumir como uma história de terror moderno capaz de provocar o factor "susto" através de lugares comuns e momentos já conhecidos daquele género que ganha forma através da convivência e ambiente familiar. No entanto, para lá de uns breves minutos de banalidades que em nada contribuem para o género - o dito terror só chega mesmo no final -, aquilo que separa esta história de um banal conto matrimonial é, de facto, muito pouco.
Nem mesmo ganhando pontos com a sua execução que oscila entre o primário e o francamente amador, esta curta-metragem assume-se como aquela mais frágil em toda a selecção e possivelmente a que menos terror (ou a ver com ele) teve. Talvez como ensaio estudantil ou para aqueles que se querem iniciar no género - ainda que não da melhor forma - Toothache é mais uma dor de cabeça do que propriamente de dentes...
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1 / 10
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Toe (2019)

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Toe de Chad Thurman e Neal O'Bryan (EUA) é uma das curtas-metragens de animação presentes na décima edição do Buried Alive Film Festival a decorrer em Atlanta.
Um jovem rapaz habita um meio pobre e decadente. Onde nada floresce nada se consegue comer. Até que num passeio pela propriedade encontra um dedo que leva para casa.
Toda a atmosfera desta curta-metragem poderia, muito facilmente, inserir-se num universo sobrenatural gótico não só pela sua temática como principalmente pela brilhante direcção de arte de Truc Nguyen que transforma aquilo que seria um espaço (supostamente) verdejante e onde brotaria vida, num espaço macabro, grandiosamente assustador e negro pela falta de vida à qual, obviamente, o espectador junta a excelente direcção de fotografia de Neal O'Bryan que com os seus jogos de (ausência) de luz faz das sombras e da escuridão que se move em torno do protagonista, o centro de toda a dramatização de uma história que humaniza o sofrimento da fome e da miséria social.
Mas centrar Toe como uma história sobrenatural era por demais redutor. Thurman e O'Bryan criam um conto gótico onde é a miséria a principal "personagem". Um conto onde um jovem, abandonado pelo que o espectador compreende, tenta sobreviver num espaço agreste, numa casa rudimentar e numa propriedade onde tudo morre lentamente. As plantas não florescem, os animais desaparecera - à excepção de uma ou outra ave que tenta, também ela, encontrar algo com que subsistir -, e este jovem proprietário mais não é do que uma sombra de um eventual passado que já não tem. Até um específico momento em que encontra aquilo que pode ser a sua salvação.
Se inicialmente o espectador cria uma certa empatia imediata com esta personagem sobrevivente, aos poucos vibra com o seu sofrimento ao não conseguir encontrar algo que o faça sobreviver um dia mais. É quando este seu desespero o leva a um acto impensável caso o seu estado mental estivesse em plenas condições, que finalmente compreendemos com maior discernimento o quão selvagem pode ser a condição humana quando levada e testada ao seu limite. A fome extrema, à qual ele obviamente tentava resistir à muito, fê-lo encontrar os restos mortais de alguém que, possivelmente em tempos, habitou o mesmo espaço que ele. Alguém que cruzou os mesmos espaços, que viveu naquela mesma casa e que certamente tentou cultivar as terras onde agora está enterrado. Alguém que, tal como ele, também foi um sobrevivente independentemente das suas condições específicas. Um dedo... um único dedo ali desprotegido como que indiciando que poderia ser a tal escapatória para a sua fome... mas, a que preço?!
Todo o segmento seguinte de Toe dedica-se ao tal esperado elemento sobrenatural onde todas as provações têm, um dia, de ser devidamente pagas. E este jovem, indefeso na sua condição mas esperançoso por poder ver um novo dia... tem a sua prova final na mesma noite em que cometeu o acto impensável de um canibalismo necrófilo não "processado" enquanto tal. É quando o "proprietário" do dedo vem finalmente reclamar aquilo que lhe foi retirado que se compreende que o perigo espreita a todos os recantos. É nesse momento que a sua casa parece ganhar, também ela, uma alma desesperada... as janelas assemelham-se a olhos sinistros que espreitam, as frestas entre as tábuas como portas de entrada para quem chega e a música da autoria de Flora Cheng muito ao estilo de um The Shining animado, conferem a esta história uma ambiência paranormal que apenas adivinha um único final. E este não será animado para um dos seus protagonistas...
Engenhoso e mordaz, com um humor negro e satírico que parodia sem qualquer comédia, Toe é uma brilhante forma de condenar a miséria não a vitimizando e garantir que todas as provações se pagam... nem que sejam cobradas depois da própria morte.
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8 / 10
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