Ferine de Andrea Corsini (Itália) presente na décima edição do Buried Alive Film Festival a decorrer em Atlanta, é uma das curtas-metragens que passou inclusive do Festival Internacional de Cinema de Veneza aqui numa história que mescla o sobrenatural com o terror urbano.
Uma mulher (Anna Della Rosa) parece guiada por um conjunto de impulsos mecânicos e violentos. Num parque de estacionamento persegue um homem (Alessandro Mor) para um destino desconhecido mas maior do que se parece anunciar. A floresta por detrás da sua casa assume um propósito que tudo irá desvendar.
Corsini assina também o argumento desta curta-metragem que durante todo um segmento inicial apresenta ao espectador uma mulher cujos métodos e comportamentos em tudo se aproximam a um estado selvagem. Desconhecemos quais os seus fins ou mesmo os propósitos de se entregar a uma existência que está para lá da socialmente aceite. No entanto, ao entendê-la naquilo que seria o seu meio natural, fora da floresta e agora dentro de uma casa com aquilo que se pensa a vida esperada por todos, percebemos que em tempos aquele fora o seu espaço mas que por qualquer circunstância a vida a encaminhou para um comportamento anti-social e assumidamente anti-natura deixando-a (agora) quase esquecida e incapaz sobre como executar as mais simples tarefas.
Com um propósito claro seguimo-la àquele que deduzimos ser o seu espaço predatorial. Se o comum dos mortais se dirige a uma floresta para a caça à sua presa, esta "mulher" dirige-se ao outro lado da realidade onde, naquele que poderia ser o seu habitat natural (um parque de estacionamento), encontrar a vítima da saciar os seus desejos. É neste espaço que um qualquer "homem" cruza o seu caminho, que ela persegue observando todos os seus comportamentos e rituais socialmente aceites como fumar um cigarro ou comer algo, e do qual ela lentamente se aproxima para conseguir finalmente capturar. Primeiro por um jogo de sedução típico de um comportamento mais animalesco e depois pelo sexo criado pela ilusão de posse - uma forma de satisfazer as suas necessidades mais básicas -, este "homem" é transportado para uma realidade mais adversa ou incompreensível quando o espectador já comprovou que esta "mulher felina" teve, em tempos, a mesma vivência que qualquer um de nós. No entanto, a floresta chama-a para a sua rede.
Como qualquer predador, também ela não eliminou a sua presa deixando-a apenas susceptível de uma maior fragilidade naquele que não só não será o seu ambiente como também é aquele em que ela domina pela excelência da habituação... e quando pensamos que finalmente presa escapa a predador é quando as ilusões terminam e se confirmam as certezas de que a floresta tem mais vida do que aquela que se revela inicialmente... porque todos os predadores têm a sua prole... e todos, sem excepção, precisam ser alimentados para a manutenção do ecossistema... assuma-se esta de que forma fôr na presente realidade daquela mulher. É então que, desprovidos de qualquer sensibilidade ela outra vida, se confirma apenas a necessidade de sobrevivência, subsistência e manutenção do ciclo da vida... tal como ele é na realidade.
Intenso pela abordagem dada pelo realizador à forma como, muito rapidamente, a figura humana se priva de sensibilidade ou empatia, independentemente de quais sejam os motivos que o levaram até lá bem como pela sua componente de intrínseca sobrevivência que se sobrepõe a qualquer forma dessa referida humanidade e que prima - a curta-metragem - pela soberba interpretação de Della Rosa cuja linguagem corporal não só se assume sedutora como também instintivamente mecânica como que constantemente a definir o seu território.
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7 / 10
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