Five Course Meal de James Cadden (Canadá) é uma das curtas-metragens presentes na selecção oficial da décima edição do Buried Alive Film Festival a decorrer em Atlanta até ao próximo Sábado dia 16 de Novembro.
Mark (Murray Farnell) e Jenny (Melissa Kwasek) preparam-se para uma experiência. Um mês numa sala onde são observados e onde são saciados da sua maior necessidade... Até um dia.
O realizador e Josh Saltzman assinam o argumento desta curta-metragem que explora num misto de terror e comédia grotesca, a forma como cada um podia sentir-se tentado a saciar a sua maior necessidade (ou dependência) explorando os limites da realidade voyeurista, da ciência (se aplicável) e, ao mesmo tempo, correspondendo as mesmas a uma satisfação física, psicológica e sobretudo monetária que os nossos dias tendem a colocar, cada vez mais, em primeiro lugar.
Fechados, por vontade própria, num espaço exíguo e onde, percebe o espectador, a sua dignidade irá ser muito limitada quer pelas condições quer pela exposição - mediática ou não - a que vão ser sujeitos, este casal entrega-se a uma convivência que irá ser assumidamente de saciar as suas perversões alimentares ao seu máximo onde a própria higiene aparenta ter tirado as suas férias.
É quando a fome - vontade ou necessidade?! - chega, que "Mark" e "Jenny" primeiro se alimentam como dois seres bem comportados e educados num ambiente social que, aparentemente, lhes foi favorável. Mas é quando terminam a refeição que o espectador compreende que estes comportamentos sociais rapidamente se desvanecem. Ao som de uma campaínha - qual experiência Pavloviana -, o casal é servido... primeiro como se se encontrassem num restaurante familiar, depois como num meio mais recatado e sucessivamente degradando as condições em que recebem alimento - não as do "restaurante" pois este é, desde o primeiro instante, um espaço degenerado e decadente ao estilo de uma prisão real - que, também o próprio, é cada vez mais salubre e de confecção duvidosa.
Os comportamentos do casal acompanham aquilo que lhes é fornecido. Primeiros educados e socialmente formatados para, de seguida, se tornarem não só mais ansiosos como também agressivos, defensivos e até mesmo selvagens lutando por todos os pequenos restos que lhes chegam ou são deixados da fornada anterior. Tudo parece começar a escassear... sobretudo a sua paciência para uma espera que, ainda que cada vez menor, parece aumentar a sua cadência.
As suas roupas começam a ser pequenas para aquilo que engordam e ainda que a alimentação fornecida se transforme de um belo repasto nos restos já digeridos de um qualquer animal, o casal parece não se importar com a agressividade que denotam um para com o outro encarando-se (através da sua fome, ou melhor, da sua gula) como inimigos e potenciais ameaças para aquilo que se adivinha... o seu próprio fim material.
Notável como uma experiência e teste ao comportamento humano, ainda que exagerado - ou talvez não - mas simbolicamente preciso, Five Course Meal transforma-se num relato assustador não pela experiência em si mas pela mensagem de controle psicológico que se desenvolve desde os instantes iniciais onde o espectador compreende a manipulação das personagens primeiro através da atribuição (deduzimos) de um qualquer benefício pela participação na experiência, depois pela compensação alimentar que os próprios pedem e, finalmente, pela permissão do controle sobre os impulsos como forma de obter essa compensação agora cada vez mais escassa obrigando à formatação de novos objectivos e fontes de sustento.
Engenhosa pelo seu argumento e pela direcção de arte que transforma uma pequena e salubre sala num labirinto claustrofóbico de emoções levadas a um limite máximo, esta curta-metragem canadiana é um exemplo de que as já idas e repudiadas experiências Pavlovianas são, afinal, possíveis de voltar a concretizar... e ter o seu "sucesso"... signifique este o que significar.
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7 / 10
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I really enjoyed this academic perspective on my short film.
ResponderEliminarThank you!
James Cadden
Hello James, thank you so much for reaching out and comment.
EliminarCongratulations on your film. Extremely interesting and well made.
Best
Paulo Peralta