sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Ferry (2019)

Ferry de Tyler Hatch (EUA) é uma das curtas-metragens de animação presentes na selecção oficial do Buried Alive Film Festival a decorrer em Atlanta e um dos mais intrigantes e curiosos filmes curtos da competição até ao momento.
Uma viagem de ferry. Uma tentativa de chegar ao outro lado. Alguém que adormece e a imagem de "outro lado" ganha toda uma nova dimensão.
Num breve minuto o realizador Tyler Hatch consegue criar uma das histórias mais enigmáticas e interessantes da competição até ao momento. Tudo aquilo que parece ser uma aparente e banal viagem para a margem oposto em que uns se dirigem para os locais de trabalho e outros para casa ganha novos contornos quando a mesma, sem grandes e aparentes explicações, se vê interrompido por aquilo que o espectador sabe posteriormente ter sido um acidente que vitimou todos os seus passageiros.
A revelação chega, para o espectador, quando o único suposto sobrevivente (?) desta viagem desperta do seu sono para encontrar o barco vazio. Nenhum passageiro, nenhum tripulante e o barco à deriva pelo rio até chegar a uma cidade que está, também ela, deserta. Os vestígios de humanidade mantêm-se presente na medida em que observamos aquilo que parece o que restou de alguém que saiu rapidamente daquele espaço. Mas, no entanto, ao contrário de um qualquer vírus, é então que o espectador compreende que aquele barco sofreu um desastre e que não há sobreviventes... há excepção daquele único homem que apenas tem como companhia o espectador desesperado por saber mais dos trágicos acontecimentos.
Do purgatório anunciado a um Inferno materializado, as ruas daquela cidade e as águas daquele rio que viu o final de tantas e tantas almas, todos os recantos deste brevíssimo filme conseguem cativar pela sua mórbida exuberância bem como por toda uma história que revela o essencial daquilo que uma alma desperta consegue reter mas não tudo aquilo que quem está deste lado do ecrã pretende saber, ver e testemunhar.
Ferry é o exemplar perfeito de como uma (não tão) simples curta-metragem de um minuto poderia ser, por todo o seu potencial, uma extensa e intensa longa-metragem de terror que certamente se iria firmar como uma das mais esperadas do género... e uma à qual não dou uma pontuação mais alta por tudo aquilo que poderia ser ainda contado... Do acidente às vítimas... do purgatório às almas penadas... Nada, mesmo nada, é deixado ao acaso.
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7 / 10
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