sábado, 16 de novembro de 2019

Astray (2019)

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Astray de Kyle Sharpe (Canadá) é uma das curtas-metragens de animação presentes na selecção oficial da décima edição do Buried Alive Film Festival a decorrer em Atlanta.
A curiosidade de uma mulher sobre uma casa abandonada leva-a a embarcar numa viagem pela desconhecido e pelos horrores que se escondem por detrás das sombras. Irá ela descobrir o que habita naquele espaço?
Numa perspectiva de terror gótico e considerando que esta curta-metragem tinha todo um potencial por explorar sobre os verdadeiros horrores de uma casa que esconde uma versão perfeita do "mal" enquanto uma entidade, Astray é uma potente curta-metragem de género que tem tudo para se assumir como uma referência do género. Nada do que aqui temos é colocado ao acaso. Tão pouco está sub-explorada deixando, no entanto, uma porta aberta - sem ironia para com o próprio começo desta história - para que a mesma se possa (ou deva) explorar enquanto um conto mais longo onde se conhecem os verdadeiros detalhes do que todos os recantos daquela casa dos horrores escondem.
Se é um facto que acompanhamos as tímidas investidas desta jovem que se deixa embrenhar pelos corredores obscuras daquela velha mansão, não deixa de ser uma realidade que, para o espectador, interessam mais os pequenos detalhes e inuendos apresentados (pensamos) pela mesma para que a jovem se deixe levar, num misto de curiosidade e incapacidade de fugir, por aqueles corredores que parecem colocá-la face a um labirinto onde o único caminho possível é seguir em frente e deparar-se com aquilo que, deduzimos, a espera. Da borboleta que invade a casa como o símbolo da pureza que deve seguir às portas que se abrem para dar rosto a um novo caminho, Astray faz sempre ressaltar a sua componente mórbida e gótica que põem em evidência um destino que poderá ser tão ou mais escuro quanto os recantos por onde a jovem passa. E é quando pensamos que se a tal pureza escapa, também ela - a jovem - pode encontrar o seu final feliz, que deparamos com o inesperado e compreendemos que ela mais não é do que uma boneca nas mãos de um poder maior que a controla, aos seus passos e sobretudo ao seu final revelando-a como, não mais, do que uma peça de um jogo maior.
Executada com rigor e precisão, a curta-metragem Astray é o símbolo de um filme maior em construção - ou pelo menos um que se poderia criar -, e a revelação de que o horror e a animação podem andar de mãos dadas e ser tão ou mais eficazes do que muitas obras de ficção habituadas ao mesmo estereótipo que (re)cria sucessivas obras com o mesmo final. Aqui o realizador Kyle Sharpe cria a atmosfera perfeita... para que o terror reine e para que o espectador se deixe cativar e mantenha toda a sua atenção aos pequenos detalhes que parecem, também eles, ganhar a sua própria vida e "alma".
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7 / 10
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