quarta-feira, 30 de maio de 2012

Desavergonhadamente Real (2009)

Desavergonhadamente Real de Artur Serra Araújo é uma interessante e divertida curta-metragem que conta com a participação de Ivo Canelas e Marisa Morais e a narração de José Wallenstein, e que nos transporta para a gravação... da mesma.
A originalidade desta curta reside no próprio facto de acompanharmos actores/personagens numa linha paralela no decorrer das gravações que acaba por aglutinar os sentimentos de uns e outros num mesmo espaço, "confundindo" assim a realidade com a ficção.
Muito bem pensada e de uma originalidade bem recebida pelos espectadores, esta curta-metragem além de uma das vencedoras dos mais importantes troféus do Shortcutz Lisboa, valeu ainda o prémio de Melhor Actor a Ivo Canelas na edição de 2010 dos Caminhos do Cinema Português em Coimbra.
Para todos aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de ver esta curta... por onde ela "parar"... não a percam.
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7 / 10
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terça-feira, 29 de maio de 2012

Al Buio (2005)

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Na Escuridão de Fabio Mollo é uma curta-metragem italiana que retrata o desejo físico e sexual (in)confessável entre Antonio (Giuseppe Forli) e Marcello (Daniele Grassetti), dois rapazes que dividem o mesmo quarto.
Se Antonio revela um claro desejo por Marcello ao ponto de o seguir por todo o espaço onde ele anda, este último não parece partilhar o mesmo entusiasmo.
Será este desejo mútuo, ou estará Antonio com uma obsessão para com Marcello? Apenas a escuridão o irá revelar.
Interessante no ponto de vista das portas que abre mesmo no seu final, esta curta-metragem torna como seu principal objectivo retratar uma obsessão de uma pessoa por outra que, no entanto, a sociedade dita ser imprópria mas que, tal como o próprio título indica, na ausência de olhos que consigam compreender o que se passa na escuridão, estas relações incorrectas perpetuam-se.
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6 / 10
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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Píton (2011)

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Píton de André Guiomar é uma simpática curta-metragem documental sobre a boxer Juliana Rocha que através de pequenas entrevista com a própria, o pai e o treinador formam um olhar sobre o seu início desportivo e algumas das adversidades e glórias por que já passou, e que nos dá também um olhar e uma perspectiva sobre um desporto que em Portugal (tanto quanto tenho conhecimento) não é muito divulgado e que aqui tem a proeza de o fazer através daquela que é pelos vistos a melhor no país.
Com um interessante trabalho de fotografia da autoria do próprio André Guiomar que com o seu cru preto&branco nos faz focar em todos os elementos essenciais deste filme sem dispersar para o que pode ser considerado secundário, esta curta-metragem já tem uma extensa carreira em festivais de cinema, como por exemplo os Caminhos do Cinema Português, dos quais já saiu vencedora de diversos prémios.
Interessante trabalho que aqui fica disponibilizado na íntegra.
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6 / 10
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domingo, 27 de maio de 2012

Festival Internacional de Cinema de Cannes 2012: vencedores

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Palma de Ouro: Amour, de Michael Haneke
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Grande Prémio: Reality, de Matteo Garrone
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Melhor Actriz: Cristina Flutur e Cosmina Stratan em Beyond the Hills
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Melhor Actor: Mads Mikkelsen em The Hunt
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Melhor Realizador: Carlos Reygadas por Post Tenebras Lux
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Melhor Argumento: Beyond the Hills, de Cristian Mungiu
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Prémio do Júri: The Angels’ Share, de Ken Loach
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Caméra d'Or: Beasts of the Southern Wild, de Benh Zeitlin
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Palma de Ouro - Curta Metragem: Silence, de L. Rezan Yesilbas
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P (2005)

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P - A Semente do Mal de Paul Spurrier é uma longa-metragem de terror que nos conta a história de Dau, uma jovem orfã do interior da Tailândia que após passar uma infância ostracizada por todos e ter a sua avó doente e sem dinheiro para se tratar, é induzida para trabalhar na grande cidade onde, enganada, dá por si num bar de striptease onde invejada pela colegas e desejada pelos homens, passa da sua inocência à idade adulta num curto espaço de tempo.
Mas não é só isto que se pode dizer a respeito de Dau... esta jovem aparentemente inocente esconde muito mais do que aqui que os olhos dos outros conseguem alcançar...
Este filme que começa com a vida solitária de uma jovem que apesar de não procurar a aprovação de ninguém sempre desejou fazer parte de um meio que não a desprezasse, tão depressa é interessante como com igual rapidez começa a torna-se enfadonho e aborrecido. Se os momentos iniciais até à sua chegada à capital mostram um filme que se quer dramático e com algum "cheirinho" a vingança que secretamente qualquer espectador quer ver, depressa se torna numa história onde tudo está mais concentrado e preocupado com danças do ventre e nudez semi conseguida que não convencem ninguém.
A história de Dau, esta jovem inocente que apenas pretende encontrar uma forma de ajudar a sua debilitada avó, mostram que a compaixão pode existir dentro de qualquer um de nós. Mas também é uma verdade que esta compaixão pode ser rapidamente corrompida quando "valores" mais altos como o dinheiro se intrometem do bem-estar de qualquer um de nós. Se analisarmos o filme nesta perspectiva, que é como quem diz a primeira meia-hora da sua duração, temos aquilo que procuramos neste filme. Uma história dos nossos dias... real, dramática e com uma leve brisa de vingança que vai sendo "cozinhada" à medida que os minutos passam.
O problema começa quando, já na capital, Dau se transforma numa prostituta bem paga que já nem se lembra da avózinha que está doente e precisa da sua ajuda. Nunca mais, em momento algum, sabemos o que terá se passado com aquela mulher por quem Dau abandonou todo o seu confortável mundo. A partir daqui a única preocupação de Dau é vingar-se de todos aqueles que se mostrem uma ameaça à sua segurança ou... uma forma de saciar a sua fome.
Inicialmente interessante e promissor julgo que a meio caminho o filme se perde e de uma intenção de filme de suspense/terror se torna numa vontade extrema de demonstrar uma decadência ocidental que se aproveita da extrema miséria e carência que, no caso, o povo tailandês sente. Temos os ocidentais ricos com dinheiro, muito dinheiro, para gastar em jovens raparigas e uma delas que, da fama e do "prazer" de bruxa não se livra e lá vai ganhando o seu próprio "sustento".
Esta pobre transição de dois momentos deste filme é acompanhada pela igualmente pobre caracterização de Dau que a transforma numa rapariga normal num demónio mal pensado e concebido que não assusta ninguém, pelo menos não da forma como era pretendido mas sim pela sua falta de eficácia e coerência. Não basta, bem pelo contrário, pintar a cara de preta e colocar umas lentes amarelas para se imaginar que se está possuído por "algo".
Com um potencial dentro do género que se perde pelo caminho, este filme promete inicialmente muito mais do que aquilo em que se transforma acabado por se tornar maçador e repetitivo ao ponto de ser quase desgastante aguentá-lo até ao fim. Ainda assim, para os interessados e curiosos, nada melhor do que o verem para confirmarem.
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2 / 10
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sábado, 26 de maio de 2012

After Party (2011)

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After Party de Evan Agee é uma fantástica curta-metragem de "terror". Perguntam-se porque terei colocado as aspas em terror... Bom... para desenvolver muito sobre esse aspecto poderia ter de revelar algum do conteúdo desta curta-metragem que, TEM obrigatoriamente de ser vista para poder ser apreciada.
A única coisa que posso revelar sabendo que não estou a divulgar o conteúdo da mesma é que esta curta-metragem foca, uma vez mais, a temática zombie. Mas... não é uma abordagem comum ao tema... é francamente original e bem pensada, com um argumento inovador e que provoca um excelente twist final que não pode ser perdido.
Este é de longe um dos trabalhos que merece ser visto e apreciado e que, para os fãs, não só tráz algo de novo como não desilude no final graças ao seu efeito surpresa. Sem dúvida muito boa e não deve deixar de ser vista.
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8 / 10
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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Milionária a Dias (2008)

Milionária a Dias de Carlos Neves foi um dos muitos telefilmes que a TVI produziu numa primeira vaga e que contou com a participação de alguns dos mais conhecidos actores portugueses, nomeadamente Ana Zanatti, Víctor de Sousa, Paula Lobo Antunes e Ana Moreira.
Quando Helena (Antunes) começa a trabalhar na casa de uma distinta família, São (Zanatti) e o seu marido Francisco (Víctor de Sousa) estariam longe de imaginar as suas reais intenções e aquilo que iriam literalmente passar às suas mãos. De empregada a patroa em muito pouco tempo, Helena há-de fazer pelos seus "patrões" aquilo que estes nunca esperariam, ou pensariam, que fosse possível.
Estará por detrás daquele aparente rosto inocente algo mais escondido ou serão as únicas inteções de Helena mostrar aos seus patrões que apesar de empregada deve ser tratada com o respeito que eles não lhe querem dar?!
Mais uma vez se confirma que esta primeira temporada de telefilmes produzida por este canal esteve longe de ser perfeito. As intenções e o argumento estão lá prontos para ser trabalhados e explorados por um conjunto de actores que consegue fazer inveja a qualquer produção cinematográfica, ou não falássemos de pessos pesados como Ana Zanatti e Víctor de Sousa, ou de uma actriz em constante ascenção como é o caso de Ana Moreira. O problema é que estas histórias apesar de se mostrarem receptivas a interessantes produções, perdem-se pelo caminho e nunca conseguem atingir o esplendor que as mesmas mostram poder ter.
É certo que existem alguns momentos que nos conseguem arrancar (tímidos) sorrisos, mas também é verdade que uma vez findo, este telefilme nos deixa com uma sensação de que "algo" não foi concretizado tendo apenas ficado por um conjunto de boas intenções não cumpridas.
Interessante até certo ponto, nunca chega a aquecer o suficiente para se tornar em algo minimamente memorável.
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4 / 10
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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Go Get Some Rosemary (2009)

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Vão-me Buscar Alecrim de Ben Safdie e Joshua Safdie vencedor do Grande Prémio Cidade de Lisboa numa das anteriores edições do IndieLisboa conta-nos a história de um pai divorciado que durante um conjunto de dias fica com os seus filhos na sua casa nova e ainda pouco "habitável".
Lenny (Ronald Bronstein) é um homem aparentemente mais velho do que a sua real idade e que se encontra dividido entre as suas responsabilidades e o seu eterno desejo de permanecer jovem e independente de qualquer obrigação. Durante o período em que fica com os seus filhos todo o tipo de ocorrências mais ou menos normais sucedem a um ritmo alucinante que demonstram o quão pouco preparado está para poder assumir qualquer compromisso que seja, independentemente da motivação ou vontade que tem de, por exemplo, poder estar com os seus filhos.
Por muito interessante que seja podermos assistir à dinâmica existente entre um pai solteiro e os seus jovens filhos, este filme acabou por fazer perder muita da concentração que nele poderia depositar graças à sua filmagem ao estilo de "câmara na mão". Ficamos desde o início com a leve impressão de que os realizadores pretendem estar em todo o lado ao mesmo tempo e como tal filmar tudo o que lhes aparece à frente quebrando assim muita da atenção que poderíamos ter em determinados momentos.
E o mesmo se poderá dizer com alguns dos momentos do filme que são e estão francamente desapropriados com a narrativa principal nomeadamente o mais flagrante quando após ter estado com os filhos no ginásio Lenny é alvo de uma tentativa de engate por parte de outro homem... descontextualizado e sem qualquer nexo (muito menos devido à duração e da exposição que tem aquele momento). Como este, outros momentos como a mudança de casa que não sabemos como irá ser concluída ou mesmo a relação entre pai e mãe que pouco se desenvolve, acabam por estar sempre muito presentes no filme, fazendo com que outros caminhos se abram na história sem que para a narrativa principal muito contribuam além de nos mostrarem caminhos que não se fecham mas também não lhes é dada continuidade.
Resumidamente é um filme com algum potencial e com interpretações às quais não se lhes pode apontar defeitos de maior mas que se perde(m) graças à própria filmagem que nos faz dispersar por vários momentos ao longo do filme. No essencial seguimos a vida daquela família... principalmente daquele pai, que demonstra um esforço enorme para poder passar aqueles escassos dias com os seus filhos, mas ao mesmo tempo que o acompanhamos estamos também muito "preocupados" com todo o meio envolvente que, na maior parte das situações, é completamente irrelevante para o que de central está a acontecer e, como tal, perdemos por várias ocasiões o rumo que a história poderia levar.
Interessante por momentos mas nunca estimulante ao ponto de se tornar num dos filmes que gostamos realmente de ver ou com que criemos um qualquer tipo de identificação.
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3 / 10
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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Gesto (2011)

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Gesto de António Borges Correia é um interessante filme que alia alguns factores originais em cerca de oitenta minutos.
O primeiro é o facto de ser um filme que é feito em duas línguas; a habitual, o português residindo a inovação no facto de ser também utilizada a língua gestual portuguesa durante uma boa parte da duração total deste filme.
O segundo aspecto a ter em consideração é o facto de Gesto ser, para lá da sua essência enquanto documental e basear-se na história do seu actor principal... António (interpretado por António Coelho), um jovem estudante surdo que ambiciona um dia ser realizador cinematográfico que cheguem a um público mais vasto... ouvintes e não.
António quer desesperadamente sair do país e estudar no estrangeiro mas, ao mesmo tempo que o deseja, vive também o seu primeiro amor por Irina Pereira, outra jovem surda. Auxiliado por Vanessa (Vanessa Teixeira), António decide efectuar um casting com alguns actores conhecidos... e é aqui que o espectador depara com algumas caras conhecidas como o são Alexandra Lencastre, Adriano Luz e José Raposo.
É neste ambiente que temos uma obra que une dois estilos. Por um lado o documental, que retrata as ansiedades de um jovem que encontra a sua paixão pelo cinema e a sua vontade de realizar filmes que tanto cheguem a um público ouvinte como a um público surdo, e para tal planeia e consegue "recrutar" três actores de reputada e bem estabelecida carreira. Os momentos de casting a estes actores são em primeiro lugar a prova de que a linguagem é por vezes uma barreira mas, por outro, também revela que quando há vontade de comunicar e de nos fazermos entender, tudo é possível... principalmente atravessar pontes que parecem, à partida, intransponíveis. A vontade de integração dos dois públicos é a sua necessidade e vocação, mas para isso sente que tem primeiro de se deslocar para outro local, conhecer novos "ares" e claro, estudar.
Por outro lado temos ainda a ficção onde a crescente paixoneta de António por Irina e os drama de uma relação que pode estar limitada pela vontade dele se deslocar para outro país tomam lugar, e é através dos gestos, das expressões e dos olhares que toda uma nova comunicação entre duas pessoas toma lugar. Comunicação esta que é - agora - essencialmente direccionada para um domínio sentimental e afectivo onde se revela o despertar de algo maior e onde os laços que se pretendem construir são os do "coração".
Rodrigo Almeida e Sousa e António Borges Correia assinam o argumento deste que é um filme assumidamente diferente e original, e que vence graças a uma perspectiva assumida desde o início de não se deixar limitar pelos eventuais entraves, e querer ser uma obra - a primeira - do género. Gesto não se quis esconder atrás de "algo que poderia ter sido", assumindo-se como um filme relativamente experimental que une dois estilos distintos - a ficção e o documental - mas que se complementam, e que ao mesmo tempo é interpretado em duas línguas também elas distintas mas que fazem parte de um mesmo povo, e que o espectador poderia também discutir sobre a sua relevância numa sociedade que se pretende inclusiva mas à qual nem todos têm acesso.
Poderia ainda dissertar sobre a necessidade de ser exibido a um nível escolar, mas seria uma dissertação que no final primaria pelo óbvio... é português e suporta uma nova abordagem e estilo diferente... estes dois argumentos resumem tudo o demais.
Temos então Gesto, um filme original que, apesar das diversas reportagens na imprensa televisiva e escrita bem como pelo facto de já ter passado na televisão, tem estado relativamente ao lado do grande público que, por reservas ainda grandes para com o seu cinema, ignora trabalhos que conquistam um lugar interessante no panorama cinematográfico nacional.
Não sei se de futuro outros projectos como este terão mais divulgação - estreia comercial por exemplo -, ou sequer se serão feitos - um bem haja à iniciativa de António Borges Correia -, mas este por ter dado o primeiro passo, terá com toda a certeza o seu lugar, não direi privilegiado mas sim de destaque, no cinema nacional.
E para aqueles que por uma ou outra circunstância se "cruzarem" com este filme, percam os preconceitos que ainda têm em relação ao cinema português ou mesmo em relação a um cinema onde a comunicação está para além de um conjunto de diálogos orais pois aqui toda uma comunicação é celebrada com o gesto, com a presença e com uma troca de olhares nem sempre explícita mas determinante para a interacção entre os diversos intervenientes... afinal se todos pensarmos nas origens do cinema... grandes mensagens chegaram ao espectador apenas com elementos de uma linguagem física e expressiva que continham todas as emoções do mundo.
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7 / 10
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Festival Ibérico de Cinema 2012: vencedores

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Primeiro Prémio: La boda, de Marina Seresesky
Segundo Prémio: Maquillaje, de Alex Montoya
Melhor Realizador: Alex Montoya, por Maquillaje
Melhor Argumento: Esteban Crespo, por Nadie Tiene la Culpa
Melhor Actriz: Yailene Sierra, por La Boda
Melhor Actor: Joaquín Sánchez, por El Chola
Melhor Banda Sonora: Daniel Cavalho, David Doutel e Vasco Sá, por O Sapateiro
Melhor Fotografía: Javi Agirre, por La Calma
Prémio do Público: Libre Directo, de Bernabé Rico
Prémio CEXECI do Jurado Joven: Voice Over, de Martín Rosete
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terça-feira, 22 de maio de 2012

Dark Shadows (2012)

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Sombras da Escuridão de Tim Burton é a mais recente colaboração do realizador com Johnny Depp que aqui volta a encabeçar um elenco de luxo onde se destacam ainda Michelle Pfeiffer, Eva Green, Helena Bonham-Carter, Johnny Lee Miller, Chloë Grace Moretz e Christopher Lee numa participação especial.
Esta adaptação cinematográfica de uma série televisiva que criou uma verdadeira legião de fãs (independentemente da sua qualidade enquanto programa), conta-nos a história da família Collins que em 1752 parte de Liverpool rumo às Américas e por lá funda Collinswood, uma pequena vila piscatória onde se tornam donos e senhores.
Quando Barnabas (Depp) se torna num jovem adulto, capta as atenções de uma jovem criada chamada Angelique (Green), que de angélica pouco tem, não sendo correspondida e dando assim vida a uma verdadeira vingança que não terá limite nem na crueldade nem no tempo, transformando-o para sempre num vampiro para a sua maldição eterna.
É esta inexistência de limites que irá então determinar um salto temporal para 1972 onde Barnabas está, acima de tudo, desenquadrado nos hábitos e costumes de uma América que não deixou mas que é, para ele, uma terra estranha.
O factor que logo à partida leva qualquer um de nós a ir ao cinema ver este filme começa pelo nome daquele que lhe dá vida... Tim Burton. O realizador que já deu uma quantidade infindável de personagens memoráveis, boa parte delas graças à sua colaboração com o próprio Johnny Depp, criou também ele uma legião de fãs graças a este tipo de histórias que se localizam sempre em locais muito específicos e com uma dinâmica e ambiente muito particulares.
De uma forma simpática qualquer um de nós pode dizer que o "universo" Burton é realmente muito "particular", conseguindo criar não só o ambiente específico onde todas as histórias se desenrolam como também as personagens que lhe dão vida são tudo menos "normais". Se ao dizer isto de um qualquer filme poderia ser considerado quase um insulto aqui, pelo contrário, reside o maior elogio que posso dar a esta ou a qualquer outra obra de Tim Burton. São estes dois mesmos factores, meio e personagens, que definem a originalidade e irreverência deste realizador que dá vida àqueles que facilmente poderiam ser considerados os rejeitados da sociedade. Personagens que dão corpo e alma a um conjunto de seres com personalidades firmes mas diferentes do socialmente aceite como "normal". Que vivem no limbo entre a sociedade e o seu mundo particular, mas que conseguem em qualquer um deles afirmar-se pela sua verve.
Remetendo-me apenas e só a este filme, podemos constatá-lo em Barnabas (Depp) que mesmo desenquadrado da época em séculos consegue inserir-se nela como se de lá nunca tivesse saído, em Angelique (Green) a bruxa que se adaptou ao passar dos anos mesmo que para isso tivesse de assumir várias identidades, em Elizabeth (Pfeiffer) a matriarca que tudo faz para defender o património da família, em Julia (Bonham-Carter) a psicóloga que tem mais problemas do que aqueles que é suposto estar a tratar ou nas crianças com os seus próprios segredos que os transformam em personagens principais e não em secundários quase decorativos, ou até mesmo o comum cidadão de uma vila que de comum pouco têm. Todos conseguem estar num filme e criar o seu próprio espaço sem atropelos e criar no espectador a vontade que cada uma delas tivesse o seu próprio filme para poderem ser explorados individualmente. É esta riqueza que as personagens de Burton, tenham ou não sido originalmente criadas por ele, conseguem criar... a vontade de ver mais, sempre muito mais. Sabemos que ali existe conteúdo suficientemente rico para nos fazer agarrar várias horas ao ecrã sempre a desejar mais.
E como todo o universo Burton é também criado graças ao próprio meio envolvente que consegue criar, este filme não é disso execpção. Tudo o que está à nossa volta é facilmente identificável como tendo o seu dedo por lá metido. As grandes mansões aparentemente vazias e desprovidas de vida, envoltas por um meio denso e quase impenetrável que nos leva rapidamente a pensar que algo tenebroso se esconde por detrás de árvores centenárias e assustadoras. A decoração deste filme a cargo de John Bush é excelentemente planeada e todo este look sombrio se pode agradecer ao jogo de luzes e de sombras que a maestria da fotografia de Bruno Delbonnel conseguem recriar. O mesmo se poderá também dizer do guarda-roupa da autoria de Colleen Atwood, uma eterna colaboradora de Burton já com três Oscars e um dos quais ganho em Alice in Wonderland (também de Burton), e que não me espantaria que visse este seu novo trabalho reconhecido no próximo ano pelo menos com uma nomeação.
E falando na obra de Burton é quase impossível não referir a duradoura e muito proveitosa colaboração com Johnny Depp que já rendeu muitas, se não mesmo todas, personagens que ficarão para sempre na História do cinema. Esta, talvez não tão mediática como a que interpretou em Eduardo Mãos de Tesoura (arrisco dizer a menina dos seus olhos... de ambos), mas ainda assim suficientemente divertida para percebermos que ainda haverá muitas mais que esta dupla poderá vir a entregar no futuro. Depp está, corro o risco com o cliché, igual a si mesmo. Diferente, exuberante, divertido, louco e arrojado são as palavras que podem facilmente definir este seu Barnabas Collins. Um homem educado num ambiente rico e também ele exuberante, traído por uma mulher com quem partilhou alguns momentos mais íntimos e que de repente se encontra preso durante séculos, retirado do seu espaço, do seu conforto e que anos depois se encontra numa época tão ou mais exuberante do que ele e sem saber o que dali retirar. Sem dúvida, aqui tal como no passado, Depp é a alma do "negócio".
Esta não será certamente a melhor obra de Tim Burton mas vamos gostar dela pelo que vemos... pelo regresso a mais uma colaboração da dupla já referida, e por ser uma das mais recentes aparições no cinema que Michelle Pfeiffer faz (e de quem todos nós também ainda não nos esquecemos) no entanto, tal como todas as outras, é icónica, marcante e divertida e durante muito tempo ainda nos iremos lembrar dela.
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7 / 10
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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Chamada por Engano (2008)

Chamada por Engano de José Manuel Fernandes e Ricardo Inácio é mais um dos telefilmes produzidos pela TVI no segmento dos Casos da Vida, e que conta com alguns dos actores que têm trabalhado regularmente para aquele canal de televisão, nomeadamente Fernanda Serrano, Marcantonio Del Carlo, Sandra Cóias, Vera Alves e Almeno Gonçalves.
Laura (Serrano) conhece Paulo (Del Carlo), um homem que sabe estar separado da sua mulher. Quando Laura recebe uma chamada de uma mulher que diz que o seu marido a vai matar, as suspeitas sobre Paulo começam. Ao mesmo tempo Laura vive o seu próprio drama familiar quando a sua irmã Beatriz (Alves) é vítima de violência doméstica às mãos de Francisco (Gonçalves).
Com um argumento da autoria de Elisabete Moreira que contém alguns clichés já tipificados neste género, este telefilme não deixa de conter um certo carácter moralista no sentido da denúncia de casos de violência doméstica infelizmente tão comuns e escondidos nas quatro paredes de muitos lares, e também algumas interessantes interpretações como as de Fernanda Serrano (que já assumiu definitivamente um posto de actriz de primeira linha) e Vera Alves, ou um Marcantonio Del Carlo que assume aqui um vilão pouco habitual nas personagens a que dá vida.
Um dos poucos e interessantes telefilmes que a TVI conseguiu produzir nesta primeira vaga e que se destaca pela qualidade da sua execução em relação aos demais títulos que o acompanham.
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6 / 10
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domingo, 20 de maio de 2012

Robin Gibb

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1949 - 2012
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Globos de Ouro SIC/Caras 2012: Melhor Filme

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Pedro Borges (prod.)
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João Canijo (real.)
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Sangue do Meu Sangue
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Globos de Ouro SIC/Caras 2012: Melhor Actor

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Nuno Melo
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O Barão
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Globos de Ouro SIC/Caras 2012: Melhor Actriz

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Rita Blanco
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Sangue do Meu Sangue
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Zombies: A Living History (2011)

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Zombies: Uma História Real de David V. Nicholson é um interessante documentário do Canal História que analisa a origem do fenómeno dos mortos vivos ao longo dos tempos bem como a sua relação com alguns dos mais significativos acontecimentos da História.
Qual a veracidade de alguns dos filmes realizados ao longo dos anos, a que se deve o aparecimento sistemático destas histórias no cinema bem como algumas dicas de sobrevivência numa catástrofe (seja ela de que natureza fôr), são alguns dos temas abordados e estudados ao longo deste documentário que vai muito além da simples "praga zombie".
Além do factor entretenimento, este documentário que deixo na integra e que especialmente para os fãs do género deve constituir um interessante documento e que é, acima de tudo, uma interessante obra de conhecimento que nos ilustra a realidade um pouco mais além daquilo que o efeito divertimento nos provoca quando assistimos a um destes filmes.
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7 / 10
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Globos de Ouro SIC/Caras 2012: nomeados a Melhor Filme

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América, de João Nuno Pinto
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O Barão, de Edgar Pêra
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Sangue do Meu Sangue, de João Canijo
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Viagem a Portugal, de Sérgio Tréfaut
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Globos de Ouro SIC/Caras 2012: nomeados a Melhor Actor

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Fernando Luís, América
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Nuno Lopes, Sangue do Meu Sangue
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Nuno Melo, O Barão
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Rafael Morais, Sangue do Meu Sangue
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Globos de Ouro SIC/Caras 2012: nomeadas a Melhor Actriz

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Anabela Moreira, Sangue do Meu Sangue
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Beatriz Batarda, Cisne
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Maria de Medeiros, Viagem a Portugal
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Rita Blanco, Sangue do Meu Sangue
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sábado, 19 de maio de 2012

Gory Ridge (2011)

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Gory Ridge de Alek Gearhart é mais uma das imensas curtas-metragens de temática zombie que podemos encontrar online, feita ao estilo de documentário e reconstituíção de factos passados.
No entanto, aquilo que separa esta das demais é a sua história que se centra mais na luta de um conjunto de militares em levar ao fim a sua missão do que propriamente sobre a invasão dos mortos-vivos pela planeta. Sim, temos de facto um conjunto de relatos sobre o que deu origem a esta conflito que se iniciou no Panamá, e uns quantos relatos introdutórios sobre o estado do mundo na altura em que eclodiu e epidemia. No entanto este relato não só não é exaustivo como pouco nos é adiantado sobre a devastação que os zombies provocaram.
Aqui, apenas e só nos é dada a conhecer a história daquela companhia de onde apenas dois saíram vivos e daquele que conta como tudo se passou. É relatado o drama de um conjunto de homens e não de toda a Humanidade (apesar de percebermos o que lhe aconteceu).
Temos assim uma curta-metragem diferente, interessante porque aborda a história de um sobrevivente mas ao mesmo tempo "insuficiente" por nos deixar com vontade de saber e ver um pouco mais, ou seja, de termos um relato mais centrado no local e nos acontecimentos do que apenas nas histórias que provêm da memória de uma pessoa.
Mesmo que no final acabe por nos saber a pouco é, ainda assim, uma curta-metragem que vale a pena ver.
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5 / 10
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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Além de Ti (2012)

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Além de Ti de João Marco é a primeira longa-metragem deste realizador e que esteve presente no FESTin que decorreu no Cinema São Jorge em Lisboa.
Este filme independente conta-nos a história de Tomás (Mário Spencer), um talentoso cartoonista de um jornal local (e também promissor artista) que devido à inveja de um colega se vê despedido e com os seus projectos de vida adiados. Tomás é casado com Sofia (numa dupla interpretação das actrizes Sofia Reis e Joana Costa), recepsionista de um hotel, que sempre demonstrou apoio e confiança no seu talento. No entanto, quando as emoções falam mais alto e começam a deturpar a percepção da realidade, Tomás não só duvida das suas capacidades como das que o rodeiam ao ponto de questionar os comportamentos da sua própria mulher.
O argumento, também ele da autoria de João Marco, tem vários interessantes aspectos que podem ser analisados. Em primeiro lugar, e talvez aquele que se torna mais presente nos dias que agora atravessamos, centra-se numa abordagem ao competitivo mundo do trabalho. Um mundo-cão onde todos tentam sobrevalorizar as suas competências não só como uma auto-valorização mas principalmente como uma forma de bloquear o talento de terceiros. Uma forma de "se eu não chego lá, tu também não irás conseguir", obtendo assim uma satisfação pessoal graças à desgraça alheia. É este aspecto que acabamos por testemunhar com a queda de um "Tomás" às mãos de um colega que, não competindo inicialmente com ele, consegue através das suas atitudes destruir uma brilhante carreira. Todos tentam sobreviver não pela qualidade do seu trabalho mas sim pela eliminação directa daqueles que pensam atravessar-se no seu caminho.
Por outro lado é esta mesma turbulência pelo caminho que poderia abrir portas àquela que é (foi) a grande paixão de "Tomás", a pintura à qual ele deveria dar uma nova "vida" libertando-se de alguns complexos sobre a qualidade do seu trabalho, deixando-se assim levar pela liberdade (ou libertação) que esta lhe transmite. Se analisarmos os dias e o actual estado da sociedade pelos quais passamos, esta mensagem é um claro sinal de que deveremos validar mais os nossos sonhos, paixões ou vocações em detrimento daquilo que nos transmite mais segurança mas, ao mesmo tempo, equacionarmos o quão válidos podem ser esses sonhos quando a estabilidade financeira, e desta forma também social, que estas nos transmitem. O gosto pela aventura ou pelo sonho em detrimento da estabilidade e manutenção da segurança financeira ou a hipótese, desejada, de uma harmonia entre ambos.
A dar vida a "Tomás" temos um praticamente desconhecido (assumo) Mário Spencer que consegue ser um bom retrato desta dualidade. Se por um lado conseguimos sentir a segurança que aquele trabalho num jornal lhe tráz, que independentemente dos seus cartoons serem de qualidade inquestionável é também certo que não lhe irão dar o valor que ele realmente tem enquanto artista, não deixa igualmente de ser verdade que Spencer consegue igualmente transmitir o desespero e o sufoco que tantos atravessam por verem desaparecer um trabalho que lhes garante a estabilidade e a segurança financeira que todos ambicionam. Com a ausência desta, Spencer através do argumento bem estruturado de João Marco, entra também num complicado, mas bem sucedido campo ao abordar as consequências e repercussões que esta crise laboral tem ao afectar (in)directamente as relações sentimentais e sociais para com aqueles que convivem de perto com o problema, nomeadamente a família, e como esta mesma crise afecta a vida famíliar.
É neste aspecto que entra a personagem de "Sofia" em cena, e um dos aspectos mais bem pensados do argumento do filme. "Sofia" é uma mulher apaixonada e que não vivendo directamente em função do que "Tomás" faz, não deixa de se sentir afectada pelos problemas profissionais do marido. Numa primeira fase temos "Sofia" (Sofia Reis) como uma mulher disponível e quase apagada em relação a "Tomás". Ela sente os seus problemas, vive-os e dedica-se à sua resolução com tanta força quanto aquela que sente em relação ao seu amor. Por não os conseguir resolver sente-se insegura, incerta e amedrontada em relação ao futuro, e a percepção que tem em relação a si é apagada sendo o seu único propósito o bem-estar da sua relação e, acima dela, de "Tomás".
Num segundo momento temos novamente "Sofia" (Joana Costa) como uma mulher mais consciente de si, com vontades próprias e um sentimento de que tem de ser valorizada num crescendo de auto-percepção do "eu" em detrimento do "nós". O que aconteceria se esta relação falhasse e ela tivesse de pensar unica e exclusivamente no seu "eu"... na sua estabilidade física e principalmente emocional não dependendo assim de nada nem de alguém? Será esta consciência de si própria um pequeno demónio que nasce dentro de si ou apenas a constatação de que ela existe para além da relação que tem com "Tomás"? Não existirá ela para além dele?
Ambos procuram um pelo outro no entanto, ambos também existem para além da relação que estabelecem entre si. Será egoísmo ou pura sobrevivência pensar no "eu"?
Enquanto Sofia Reis entrega uma interpretação sólida como uma mulher frágil e insegura de si que se sente de certa forma "viva" ao assegurar o bem-estar e o conforto do seu marido que, naquele momento, se encontra desempregado, não deixa também de ser verdade que a interpretação de Joana Costa se afirma pelo seu oposto. Da "Sofia" insegura dá lugar a uma mulher forte e que ganha consciência de si, do seu espaço e com o seu próprio mundo. Assustada e receosa do que vai encontrar, típica abordagem de uma auto-descoberta até então recalcada ou reprimida, mas desperta e consciente de que é aquilo que pretende e que quer perceber sobre si não pelo bem comum de dois indivíduos mas porque ela própria é um antes de viver em comunhão com outro.
Esta produção independente, filmada na cidade de Faro, e ainda sem distribuição comercial assegurada (esperemos que chegue para breve), dá-nos assim um pequeno grande olhar sobre a sociedade actual e as suas adversidades que podem não só modificar a relação do indivíduo como a sociedade mas também minar a relação do indivíduo para consigo próprio destruindo (ou construindo) sonhos, realidade, desejos e ambições e faz especialmente uma abordagem a como todos eles são, e formam, parte da própria formação do indivíduo enquanto tal... Talvez aquilo que, aos olhos da "actualidade" seja o mais complicado de pensar e especialmente de conceber.
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7 / 10
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Shortcutz Faro

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A 1 de Junho inicia-se mais uma edição do Shortcutz, desta vez em Faro com sessões regulares todas as sextas-feiras. É com muita honra e orgulho que anuncio ser um dos júris das curtas-metragens em competição.
Para mais informações sobre como participar neste evento, podem sempre consultar o regulamento no blog oficial que se encontra aqui bem como na coluna à direita sob na secção de parcerias do CinEuphoria.
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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Day 1000 (2010)

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Dia 1000 de Alex Calleros é uma curta-metragem de ficção que decorre numa cabana isolada nas montanhas onde há 1000 dias se encontra David (Dan Beckner), onde se refugiou após o aparecimento de uma qualquer epidemia que devastou as grandes cidades, completamente sózinho... até agora.
Neste dia 1000 David encontra Claire (Adele Watkin) dentro da sua casa e consegue finalmente estabelecer uma conversa com outra pessoa, algo que não acontecia desde que os seus pais saíram daquela cabana à procura de outros sobreviventes.
Interessante pelo clima de tensão e desespero que consegue recriar, principalmente nos minutos iniciais onde nos é apresentado David e o seu sentimento de isolamento e solidão que sente que culminam no exacto oposto quando percebe que iria ter uma companhia com quem dividir a casa.
A única falha maior que lhe posso apontar prende-se com o facto de não ser explorado mais o que originou a epidemia ou quais os efeitos reais que teve junto da população e não ter uma maior duração que relatasse as provações com que aquelas duas pessoas já teriam de ultrapassar. Exceptuando isto, esta curta funciona bem e consegue transmitir no essencial os sentimentos de desespero e solidão.
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7 / 10
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Donna Summer

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1948 - 2012
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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Time to Shine, Mr. Walter! (2012)

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Time to Shine, Mr. Walter de Johannes Sandreyo é uma curta-metragem que reflete sobre os amores perdidos e as memórias que deles ficam numa altura em que a vida deixa de fazer sentido e em que a solidão é uma presença constante.
Quando um homem resolve pôr um fim à sua solitária vida, recorda o único grande amor que teve, como o fazia sentir feliz e como desde então nada mais fez sentido. É quando desiste da ideia de suicídio que volta a ter notícias sobre esse grande amor que o faz voltar a ter vontade de aproveitar a vida e ser finalmente feliz.
Esta curta-metragem não só tem uma temática já bastante recorrente não devendo assim nada à originalidade, como também não consegue ser convincente na sua única interpretação de relevo, ao não conseguir criar qualquer tipo de empatia entre a mesma e nós enquanto público.
Tenta ser poético sem o ser à custa da recordação de algo do passado que torna vivo e presente o amor que se teve e perdeu, e sentimos que tudo está a ser filmado como se de um trabalho que tem de ser entregue com urgência se tratasse.
As intenções podem lá estar mas, em última análise, não passa de mais um trabalho com uma temática muito característica que se pretende apenas para um público alvo muito específico e, mesmo para esse, duvido que seja um trabalho que consiga reunir algum conjunto de fãs.
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2 / 10
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terça-feira, 15 de maio de 2012

Beowulf & Grendel (2005)

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Beowulf & Grendel - A Lenda dos Vikings de Sturla Gunnarsson tem dois argumentos de peso que nos fazem considerar vê-lo. Um deles é o facto de se basear nos contos mitológicos nórdicos que num misto de fantasia e de lenda são de imediato bons temas para dar em filme épico. O outro é a presença de um dos actores mais requisitados do momento como é o caso de Gerald Butler.
Depois de um ataque por puro medo e vontade de controlar um vasto território que correu mal, o jovem Grendel cresce separado do normal contacto com as outras pessoas e com o sentido desejo de vingança para com todos aqueles que mataram injustamente o seu pai.
É então chamado por Hrothgar (Stellan Skarsgard) chama para defesa do seu povo o mítico herói Beowulf (Gerald Butler) que irá assim travar uma batalha com um inimigo que não conhece e que não percebe os motivos que o levam a atacar tão pacífica comunidade.
Os segredos que envolvem todo aquele povo só irão, a seu tempo, ser descobertos à medida que Beowulf questiona a passividade de Grendel para consigo quando todos o apontam como o causador de tanta violência.
Se é verdade que este filme tem uma dupla de actores protagonistas que já dão cartas em qualquer filme em que são anunciados, aqui as expectativas não poderiam ser menores, afinal de contas estamos a falar de uma produção que envolve História e mitologia, batalhas, a sede de justiça e vingança e, acima de tudo, uma história onde a honra se sobrepõe a tudo e todos, não é no entanto menos verdade que muitas dessas nossas expectativas acabam por não ser satisfeitas com aquilo que este filme nos oferece na prática.
As interpretações do conjunto de actores não denotam qualquer química entre si. Cada um puxa para seu lado e no final temos vários actores, em vários momentos cada um deles quase que a interpretar um filme diferente dos outros, tornando inexistente uma potencial química entre eles.
Assim aquilo que acaba por se tornar positivo neste filme, ainda que não suficiente para o tornar algo francamente apelativo (mesmo para os apreciadores do género), são os vários aspectos técnicos nomeadamente a fotografia que transforma o local num sítio pouco convidativo e com um ambiente claramente sinistro e a caracterização dos actores que, essa sim, se afirma como um dos maiores trunfos do mesmo.
Não que desiluda na totalidade, seria aliás injusto dizê-lo, mas é certo que este filme não nos consegue cativar no seu todo mesmo com o extremo potencial épico que tem e que não é devidamente aproveitado. Durante algum tempo prende-nos ao ecrã e consegue fazer-nos esperar por mais, no entanto, por não desenvolver correctamente a história e as personagens acaba por se tornar extenso demais e sem aquele "fogo" que esperamos da sua execução.
Interessante mas não bom, com algum potencial mas longe de ser memorável, ainda não foi desta que a lenda de Beowulf saiu devidamente dignificada.
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5 / 10
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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Caçadores da Noite (2012)

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Caçadores da Noite de Zé Luís Rebel é uma curta-metragem de ficção que nos tenta confundir, e levantar a dúvida, sobre a próxima relação existente entre o mundo real e o mundo dos sonhos. Até onde é que um se distingue do outro e em que medida aquilo que sonhamos pode ser, ou não, um reflexo do passado ou um olhar sobre o futuro.
Enquanto uma rapariga fala com o seu psicólogo sobre os seus mais recentes e frequente pesadelos, assistimos a uma reconstituição que nos transporta para os mesmos dando-nos uma clara ideia sobre aquele que é o seu sufoco nocturno diário.
Num relato que se confunde facilmente com a realidade, tornando por vezes difícil perceber se se trata apenas de um sonho ou se realmente algo mais se passa com aquela rapariga (notemos no detalhe da chávena de chá tanto de uma estranha e muito suspeita estalajadeira como do psicólogo serem exactamente as mesmas), percebemos que o medo e o pânico se instalaram facilmente na sua vida, mais não fosse pelo facto dos seus eternos perseguidores procurarem algo que é uma trágica realidade como é o caso do tráfico de orgãos.
Além do seu interessante argumento que nos coloca num constante estado de suspense à espera de ver e perceber qual é de facto a "realidade" que atormenta aquela rapariga, e de uma bem executada trabalho de fotografia que nos priva de muita cor e luz tornando assim o meio envolvente tão frio como o ambiente atmosférico, algo que torna esta curta-metragem diferente é o facto de ser interpretada em linguagem gestual, abdicando assim da necessidade de ser sonorizada. Ao sermos confrontados com uma história onde estamos obrigatoriamente privados de um dos nossos sentidos, percebemos o quão difícil será poder identificar correctamente de que parte nos chega o perigo. Ele pode estar imediatamente atrás de nós que... nem damos por ele.
Interessante, tensa e que nos coloca num constante estado de incerteza esta é uma curta-metragem a não perder.
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7 / 10
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Nascimento de uma Garrafa (2011)

Nascimento de uma Garrafa de Pedro Horta e Filipa Gouveia é uma curta-metragem publicitária onde depois de uma semente cair de uma árvore e dar origem a uma nova... garrafa, assistimos ao seu percurso a partir desse nascimento até ao seu uso e consequente quebra, naquilo que podemos antever como sendo o ciclo natural da (sua) vida. Tão dignificada está esta sua vida como o próprio meio onde ela a passou num misto de requinte e de nobreza onde o seu trato é o mais cuidado possível.
Gostei particularmente dos efeitos de reconstrução pós-quebra da garrafa e também do pequeno detalhe de desenho do copo que depois quase que num passe de magia também ele nasce a partir do mesmo. Abundante em criatividade esta é uma curta publicitária imaginativa e com uma "pitada" de fantástico à mistura.
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6 / 10
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domingo, 13 de maio de 2012

Dead Rain (2010)

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Chuva de Morte de Tom Pykett é uma curta-metragem de terror que nos leva a um mundo pós-apocalíptico onde uma boa parte da população se tornou zombie graças à chuva (tal como podemos antever pelo próprio título).
Longe de ter uma história original, um sobrevivente trabalha sózinho para encontrar algo que faz falta à sua, e da Humanidade, sobrevivência, luta desesperadamente contra um cada vez maior número de mortos-vivos que aparece a cada esquina, enquanto lida com o seu próprio drama pessoal e familiar.
Dito isto, há que salientar o bom ritmo que a curta tem e que consegue dinamizar a nossa atenção com um ou outro susto já esperados, que provocam uma sensação de esperar algo mais.
Interessante e no ambiente perfeito, a sua falta de originalidade é compensada por um ritmo bem apetecível.
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6 / 10
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sábado, 12 de maio de 2012

Anquanto la Lhéngua fur Cantada (2012)

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Anquanto la Lhéngua fur Cantada de João Botelho é o primeiro filme português feito em mirandês, a segunda língua oficial do país e, só por isso, já é merecedor de atenção.
Este documentário, filmado em Miranda do Douro, mostra-nos um pouco não só da língua (uma vez que é falado na íntegra em mirandês), mas transporta-nos também para algumas tradições e hábitos culturais daquela localidade, através de uma curiosa particularidade... a música.
As canções presentes neste filme, cantadas pela actriz Catarina Wallenstein que percorre a região ao som do acordeão de Gabriel Gomes, ilustram-nos na prática esses mesmos hábitos que passam desde simples confraternizações entre os seus habitantes como também os costumes em determinados acontecimentos ou dos ritos diários que aquela população tem.
Ambos percorrem as paisagens, os locais, as populações, aquilo que eles fazem, pensam e dizem dos seus próprios costumes, e sempre na companhia de Atenor, um burro mirandês tão característico da localidade e um elemento indispensável de muitas das tarefas e actividades que caracterizam a própria região.
Àparte do conhecimento que este documentário nos transmite, aquilo em que acho ser um franco vencedor foi a capacidade que conseguiu alcançar em transmitir à população de Portugal, ou pelo menos àqueles que se dignaram a vê-lo, uma sua segunda língua que é na prática algo completamente desconhecido. À semelhança do que acontece em outros países, lembro-me agora concretamente do caso suíço, é uma pena que nas escolas esta língua não seja desde o início ensinada às crianças. Não só lhes fornece um novo conhecimento e instrumento de trabalho como também o dinamiza e, como consequência, impede a sua perda com o passar dos anos. Respeito esse pela língua que me fez não colocar o título em português logo no início deste comentário como é habitual em todos os filmes que aqui comento mas sim mantê-lo no original. Afinal, se o mirandês é uma língua de Portugal não está em detrimento ao português (ou pelo menos não deveria).
Não sendo uma obra máxima do cinema português não deixa no entanto de ser um interessante e original filme que só não irá abrir portas para uma continuidade no registo linguístico por nos encontrarmos em Portugal, país que continua a ter uma séria aversão a tudo o que é cultural. Ainda assim, deixo o forte aplauso ao realizador João Botelho por ter arriscado fazer um filme diferente do qual saiu claramente vencedor.
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7 / 10
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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Bernardo Sassetti

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1970 - 2012
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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Zombie Apocalypse (2011)

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Apocalipse Zombie de Nick Lyon é mais uma longa-metragem, neste caso feita para a televisão, sobre a já extensa temática de final do mundo como o conhecemos que dá lugar a um planeta infestado de zombies.
Numa história que se inicia com relatos dos tráficos acontecimentos que devastaram a Europa, rapidamente damos por nós nos Estados Unidos a acompanhar um grupo de sobreviventes que procura um refúgio seguro na California, onde poderão assim escapar dos perigosos zombies e reconstruir as suas vidas em paz e harmonia, mesmo sabendo que muitos daqueles que outrora conheceram já não se encontram com vida... ou pelo menos não com uma vida natural.
Muito semelhante à maioria dos demais filmes da temática zombie, este telefilme não apresenta grandes factores que o diferenciem ou que o tornem um marco na área, à excepção de conseguir reunir um actor mais mediático do que a maioria como é o caso de Ving Rhames.
Novidades, talvez não muito mas as mais significativas, prendem-se com o facto destes zombies conseguirem ser um pouco mais inteligentes do que o habitual, não se limitando apenas a deambular pelas ruas à procura do próximo naco de carne, e por pela primeira vez (tanto quanto me lembre), a epidemia ser transmitida também aos animais, se bem que depois na prática a execução destes como zombies não seja de todo a melhor.
A caracterização dos mortos-vivos apesar de ser um dos pontos fortes do filme não é, nem de longe, um dos melhores comparando com outros filmes do género, sendo que em diversas situações se nota claramente a presença de uma máscara que não está muito bem executada.
Interessante enquanto filme do género não é no entanto um dos melhores mas, ainda assim, consegue deixar por alguns momentos aquela sensação de tensão e provocar alguns sustos em boas doses.
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3 / 10
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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Moneyball (2011)

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Moneyball - Jogada de Risco de Bennett Miller antecipava-se como o filme perfeito para os Oscars. Realizado pelo mesmo homem que já tinha dirigido o conhecido Capote, com a interpretação principal de Brad Pitt e com Philip Seymour Hoffman num desempenho secundário, com argumento de Aaron Sorkin e Steven Zaillian sobre uma história real que tem como pano de fundo o baseball, nada menos do que várias nomeações a Oscars se poderia esperar.
E confirmou-se, este filme sobre a história verdadeira de Billy Beane (Brad Pitt), o director geral de uma equipa de baseball que tenta reunir a equipa perfeita através de análises geradas por computador, foi o receptor de seis nomeações para as tão cobiçadas estatuetas douradas, entre as quais se encontrava a nomeação para melhor filme, actor para Brad Pitt e actor secundário para Jonah Hill.
No entanto, esta história que tem pouco de baseball e muito sobre a perseverança de um homem em alcançar os seus objectivos e um lugar próprio no meio em que "co-habita" não conseguiu recolher nenhuma das estatuetas para que está nomeado.
O argumento dos já Oscarizados Steven Zaillian e Aaron Sorkin é feliz na medida em que foge ao tradicional filme de baseball, em que uma velha glória do desporto afastado das luzes da ribalta, faz o seu glorioso regresso. Aqui, por sua vez, temos sim um homem que poderia ter sido, no seu tempo, o maior no desporto em questão mas que, por alguma falta de vocação, não atingiu a plenitude desapontando todas as expectativas que nele haviam sido depositadas.
Assim, em vez da grandeza de um desporto que move multidões e que enquanto dura une milhares, temos sim a história de um homem que se manteve sempre à margem do estrelato, do protagonismo e das grandes confusões que o desporto envolve, lançando-se nos seus bastidores e na aspiração de aí sim poder ser grande... sem, no entanto, o conseguir ser alguma vez (pelo menos até à realização deste filme que projectou o seu nome para todas as salas de cinema possíveis e imaginárias, muito também graças ao actor que o interpreta).
E eis que chegamos a Brad Pitt, no filme que lhe valeu duas nomeações ao Oscar. Uma enquanto produtor do filme e outra, a sua terceira, como intérprete. Muito longe de uma das suas melhores interpretações (lembro-me de repente de O Estranho Caso de Benjamin Button, Sete Pecados Mortais ou Conhece Joe Black?), Pitt consegue aqui ter uma sentida interpretação de um homem que perdeu ou nunca atingiu os seus sonhos. Desde o início, já antes de ver este filme e de esperar outra coisa dele, defendi que não seria aquele pelo qual iria finalmente vencer a estatueta dourada. Como fã que sou, prefiro que vença num filme realmente bom e não num daqueles filmes que apela sentimentalmente ao coração dos americanos. E estou certo que esse grande filme (mais um) irá chegar brevemente.
Nem Jonah Hill, também ele nomeado mas na categoria de secundário, nem tão pouco Philip Seymour Hoffman são detentores de grandes interpretações... o primeiro longe de uma graça que já teve e o segundo longe de um protagonismo que nunca conseguiu realmente alcançar, limitam-se neste filme a desfilar durante breves instantes pelo ecrã apenas e só para suportar alguns dos momentos tidos por Brad Pitt.
Extraordinária sim é a banda-sonora da autoria de Mychael Danna que tarda mas aparece em todo o seu esplendor. A sua composição aclara-nos as ideias que temos de Billy Beane... um homem a meio caminho de todo o seu potencial... um homem que com as intenções certas nunca chegou a cumprir os seus verdadeiros objectivos mantendo-se sempre num segundo plano e na penumbra.
Longe de ser um filme memorável ou um daqueles que ficará para sempre nas galerias da fama da sétima arte, este Moneyball consegue ser um filme interessante se considerarmos que nos dá uma perspectiva sobre os sonhos que não se cumprem mas que, ainda assim, fazem mover as vontades de um Homem.
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"Billy Beane: I hate losing more than I even wanna win."
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6 / 10
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terça-feira, 8 de maio de 2012

Albert Nobbs (2011)

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Albert Nobbs de Rodrigo García é aquele filme que podemos apelidar do coração para Glenn Close, a sua actriz principal que além do interpretar escreveu a adaptação, produziu e do qual detinha os direitos há já trinta anos.
Glenn Close, nesta interpretação que lhe valeu a sexta nomeação a um Oscar, dá corpo e alma a Albert Nobbs, numa Irlanda do século XIX onde as mulheres não são de forma alguma encorajadas a ter uma vida independente. Assim, Albert trabalha enquanto homem e mordomo num dos hóteis mais requisitados de Dublin garantindo assim a sua sobrevivência e subsistência mesmo que para isso tenha de ocultar de todos a sua verdadeira identidade.
Tudo muda para Albert quando chega ao hotel Hubert Page (Janet McTeer), um pintor com os seus próprios segredos e que lhe irá mostrar as alternativas que poderá ter para encarar a sua vida, e a sua própria existência, com outros olhos.
Este extraordinário filme assenta essencialmente na já referia interpretação de Glenn Close. Repleta de um humanismo extremo que assenta na vontade de sobrevivência e de uma dignidade que, apesar de escondida não está esquecida, sente-se perfeitamente que Glenn Close tem um fogo e um carisma inatos que fazem desta uma das suas mais fortes e dedicadas interpretações não dos últimos anos mas de toda uma carreira. A sua composição enquanto Albert Nobbs é profundamente sentida e genuína. Através do seu olhar sentimos uma clara convicção que todo aquele medo, esperança e determinação se encontram por detrás daquele olhar tão receptivo a um mundo novo ao qual sente não ter direito devido à sociedade em que se encontra, mas que anseia com ainda mais convicção. Esta sua interpretação que lhe valeu nomeações para todos os prémios da última temporada, inclusivé ao Oscar que não venceu, não deixa se ser não só uma das suas mais fortes como uma das mais firmes de todo o último ano. Glenn Close regressou ao cinema, e regressou em força (espero que para continuar).
O mesmo se pode dizer da comovente interpretação de Janet McTeer que não estava com tanto protagonismo desde o seu Tumbleweeds, e que enquanto Hubert Page nos revela uns revigorantes e profundamente dramáticos momentos cinematográficos também eles carregados de um profundo humanismo.
Close e McTeer formam sem qualquer margem para dúvidas uma dupla forte e resistente que nos conseguem cativar desde o primeiro instante em que as vemos, e prova disso são as diversas reacções que temos aos seus momentos, às suas descobertas e ao seu espanto perante o mundo em que vivem e à condição a que são remetidas para poderem sobreviver. Nós estamos ali, lado a lado, a esperar que tudo lhes corra pelo melhor.
Como todo o filme de época, este Albert Nobbs não foge a certas "regras" de excelência que este género tem como é por exemplo o caso da caracterização que fora inclusivamente nomeada para Oscar e que transformam literalmente Glenn Close num homem, ou do extraordinário e rigoroso guarda-roupa de Pierre-Yves Gayraud, ou ainda a magnífica fotografia da autoria de Michael McDonough, tão carregada como o próprio ambiente austero que se vivia na época como pela própria questão da ocultação de identidade.
Identidade esta que acaba por ser a grande questão do filme. Para além da homossexualidade feminina que esta história acaba por abordar, num país onde a mulher era considerada uma propriedade dos homens com quem casavam, é a luta pela própria identidade e a luta por uma valorização de Direitos pessoais dos quais nem sequer se arriscava falar, que este filme retrata. Uma luta que, no caso das mulheres, levou ainda largas e largas dezenas de anos a travar até à sua plena igualdade para com os homens. Luta esta que levava não só à sua independência como, acima de tudo, ao seu reconhecimento enquanto géneros iguais.
Se esta luta pudesse ter uma entre tantas histórias, essa poderia muito facilmente ser a de Albert Nobbs que, a certa ponto quando questionado (questionada) sobre o sua verdadeira identidade e nome... outro não tinha senão... Albert.
Bem-vinda de volta Glenn Close... e assim que fiques cá por muitos e bons anos.
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8 / 10
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