segunda-feira, 30 de junho de 2014

Bob Hastings

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1925 - 2014
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Fest 2014 - Festival Novos Cineastas/Novo Cinema: os vencedores

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Lince de Ouro - Melhor Longa-Metragem de Ficção: Mother of George, de Andrew Dosunmu
Menção Honrosa - Longa-Metragem de Ficção: Risse im Beton, de Umut Dag e Male Stluczki, de Aleksandra Gowin e Ireneusz Grzyb
Lince de Ouro - Melhor Longa-Metragem Documentário: Habibi Bistanan and al Bahar, de Mais Darwazah
Melhor Curta-Metragem de Ficção: Matka, de Lukasz Ostalski
Melhor Curta-Metragem Documental: Alles Wordt nu Anders, de Josefien Hendriks
Menção Honrosa - Curta-Metragem Documental: Boy, de Julie Bezerra Madsen
Menção Honrosa - Curta-Metragem de Ficção: To Deipno, de Dimitris Argyriou e A Tenista, de Daniel Barosa
Melhor Curta-Metragem de Animação: Nyuszi és Öz, de Péter Vácz
Melhor Curta-Metragem Experimental: White Lies, de Felix Schaefer
Menção Honrosa - Curta-Metragem Experimental: Orpheus, de Alessandro Paratore e Sara Aretino
Prémio C7nema - Prémio da Crítica: Arabani, de Adi Adwan
Prémio do Público - Melhor Filme: Risse im Beton, de Umut Dag
Prémio do Público - Melhor Curta-Metragem: Matka, de Lukasz Ostalski
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sábado, 28 de junho de 2014

Thylacine (2013)

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Thylacine de Alex Lampsos é uma curta-metragem norte-americana de ficção que nos conta a história de Nick (Trevor LaPaglia) e Charlie (Peter Michael Biondolillo) que estão prestes a celebrar o seu nono mês de relação.
É, no entanto, quando a data está prestes a confirmar-se que Nick aceita almoçar com um dos seus inúmeros admiradores deixando Charlie com receio pelo seu futuro em comum.
Esta curta-metragem de Alex Lampsos distancia-se da tradicional corrente que este género cinematográfico tanto difunde e que nos relata uma juventude numa constante e sistemática procura de sexo casual e fortuito centrando-se, por sua vez e preferencialmente, numa relação onde os afectos se pretendem estabelecer e formar algo baseado no sentido e na cumplicidade.
Com a atenção centrada nas dificuldades de uma jovem relação (entre jovens) que (sobre)vive maioritariamente graças às inúmeras instabilidades e inseguranças que são inerentes à própria idade, Thylacine consegue, no entanto, captar uma estranha sensibilidade e harmonia entre os sentimentos de duas pessoas que parecem ter encontrado a tal "metade" que os completa.
Sensibilidade essa que se manifesta de forma diferente nas duas personagens protagonistas. Se por um lado temos um "Charlie", numa composição de Biondolillo, que se mostra receoso talvez pelos traumas que o seu próprio passado insiste em trazer de volta recriando as desconfianças numa total entrega ao seu parceiro, não é menos verdade que o "Nick" de LaPaglia também as manifesta, e aqui através da fama que o seu passado de "garanhão" para sempre lhe deixou.
Sem certezas sobre o futuro, e de certa forma ainda bem que assim Lampsos deciciu contar esta história, Thylacine apenas garante ao espectador que as suas duas personagens estão dispostas a arriscar e tentar um futuro que os complete. Sem promessas ou encantos que poderiam ser quebrados ficamos assim a saber que os dois estão dispostos a tentar algo que, até então, nunca lhes tinha sido possibilitado. Sem promessas o futuro tende apenas a ser tentado e experimentado... esperando o melhor.
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7 / 10
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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Bobby Womack

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1944 - 2014
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Santo the Obscene - primeiro trailer

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Depois da exposição Obscenity, de Bruce LaBruce, este está a preparar a longa-metragem com base na mesma sob a realização de Luizo Vega.
De seu nome Santo, the Obscene, que será interpretado por Vega, é uma longa-metragem que pretende "contar a história de um santo contemporâneo que vive no deserto mas decide regressar à cidade para vislumbrar os seus habitantes", tal como havia contado ao diário espanhol El País, já em 2011.
Com rodagem programada para Madrid e para a região de Almería, Santo the Obscene tem para além de Luizo Vega, a participação de Rossy de Palma, conhecida pelos vários títulos de Almodóvar que interpretou nos anos 80, Bimba Bosé, Maria Forqué, Maria Ivanenko e Alaska, sob um argumento no qual a religião será o motor base e que promete, tal como a referida exposição, levantar polémica.
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quinta-feira, 26 de junho de 2014

What's on Your Mind? (2014)

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What's on Your Mind? de Shaun Higton, também o argumentista, é uma curta-metragem norueguesa de ficção que nos leva a pensar sobre a vida de cada um de nós nas redes sociais.
No caso específico do Facebook, este pode ser por vezes depressivo quando aqueles que o utilizam vêem nas vidas dos demais algo excitante e alegre e consideram, como comparação, as suas próprias vidas desanimadoras e aborrecidas.
É, no entanto, quando tudo parece correr mal que se pode transformar toda essa negatividade em momentos descontraídos, positivos e de sucessos... afinal, quem irá confirmá-los quando tudo está à distância de um "click" que diz "gosto".
Ainda que direccionada para uma comédia What's on Your Mind? surpreendeu-me não pelo seu conteúdo bem disposto e francamente irónico, mas sim pelos instantes finais onde depois de tantas provações com resultados negativos que mostram a realidade por detrás de tantas mensagens "inspiradoras". "Scott" (Espen Alknes), o interveniente principal desta curta-metragem escreve aquilo que realmente sente ser a sua vida... O desabafo, com um sentido desespero por detrás do que diz, são sucedidos por um simbólico "bloquear" de mensagens feito por algum (alguns) daqueles que preferiam ver as mentiras alegres que escondiam o seu sofrimento. Afinal, quem está realmente interessado naquilo que se diz sincero e vindo do coração neste mundo onde tudo é tão fácil e está à distância de um simples "gosto"?
Quem está realmente interessado naquilo que de mais "real" os outros têm por dizer quando fotografias de férias paradisíacas, noites de diversão ou refeições inimagináveis preenchem o imaginário daqueles que nunca, ou pelo menos tão facilmente, as conseguirão fazer ou ter, e que estão agora ali ao dispôr e aos olhos de todos?
No fundo aquilo que What's on Your Mind? realmente transmite é... até que ponto está cada um de nós disposto a saber realmente sobre o "outro" que temos adicionado enquanto "amigo"? Melhor dito... até que ponto somos realmente amigos daqueles que povoam as redes sociais de cada um de nós?
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8 / 10
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Porto7 - Oporto International Short Film Festival 2014: os vencedores

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Curta-Metragem: Ephemeral, de Diego Modino
Ficção Nacional: O Mundo Cai aos Bocados (e Ainda Assim as Pessoas Apaixonam-se), de Henrique Pina
Documentário: Minerita, de Raul de la Fuente
Animação: Carrotrope, de Paulo D'Alva
Interpretação: Ana Rayo, Helsinki
Menção Honrosa do Júri: Through the Breaking Glass, de Iván Mena Tinoco
Menção Honrosa do Festival: Little Vulvah and Her Clitoral Awareness, de Sara Koppel
Menção Honrosa do Público: Moonshine, de Michal Poniedzielski
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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Shortcutz Xpress Viseu - vencedora do mês de Junho

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O Shortcutz Xpress Viseu anunciou a curta-metragem Perto, de José Retré como a vencedora do mês de Junho, numa competição em que se encontrava ainda a votação a curta-metragem No Sítio Onde as Raposas Dizem Boa Noite, de Rui Esperança.
Perto é assim a última curta-metragem vencedora da Melhor Curta do Mês antes da edição dos prémios anuais do Shortcutz Xpress Viseu, para os quais está pré-seleccionada, e cujos nomeados iremos conhecer no início do próximo mês de Julho.
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terça-feira, 24 de junho de 2014

Catarina e os Outros (2011)

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Catarina e os Outros de André Badalo é uma curta-metragem portuguesa de ficção que literalmente lançou a carreira de uma excelente jovem actriz como é Victória Guerra.
Catarina (Guerra) é uma jovem mulher cujos únicos encantos que nos são dados a conhecer se prendem directamente com a sua extrema beleza. Durante breves momentos do seu dia, Catarina é uma prisioneira auto-imposta do seu quarto onde, entre as quatro paredes, olha sem rumo para aquilo que a rodeia.
Alheada de tudo e todos e sem qualquer sinal daquilo que a atormenta, Catarina apenas sai do seu quarto para vaguear sem rumo por uma cidade onde procura parceiros sexuais... todos e qualquer um que lhe proporcione breves momentos de sexo desprotegido. Até ao dia em que a verdade é finalmente exposta...
André Badalo e Sara Esteves escreveram um guião no qual podemos testemunhar de muito perto a rota de auto-destruição de uma jovem. Poucos são os elementos que nos são inicialmente fornecidos mas percebemos que a sua falta de amor próprio não se deve a qualquer problema de aparência. Esta jovem é extremamente bela e teria com certeza todo um promissor futuro à sua frente. No entanto questionamo-nos... será ela apenas um rosto bonito que enveredou por um caminho que ruma claramente à sua própria morte? E se sim... porquê?!
Para a composição da sua personagem, Victória Guerra recorre a um quase total alheamento da realidade. Não a vemos preocupada com nada do que se passa à sua volta nem tão pouco com as escassas mensagens que escutamos vindas de uma mãe preocupada. O seu propósito, desde o instante em que acorda é apenas percorrer as ruas como uma predadora disposta a caçar a próxima vítima - esta que é, também ela, uma predadora à sua própria maneira - numa total despreocupação que chega a ser preocupante.
Pela noite e pelo dia percorre os mais variados locais... uma discoteca onde conhece o primeiro homem (Rui Porto Nunes) com quem se envolve no WC, o segundo (Cândido Ferreira) nas ruinas de uma qualquer urbanização, em terceiro lugar com um casal (Philippe Leroux e Maria João Bastos) enquanto os filhos destes esperam na sala e finalmente quando pede boleia e "serve" os três passageiros do carro (Tiago Aldeia, Pedro Carvalho e Luís Garcia), todos eles sempre com o mesmo alheamento e indiferença para aqui que acontece durante breves instantes.
Percebemos que "Catarina" deixou de se preocupar com a sua condição. Percebemos também que esta falta de segurança física, por aqueles que aborda nos mais distintos locais bem como pela forma desprotegida que com eles se relaciona, só se pode dever à sua própria condição breve de vida mas, no entanto, nada nos prepara enquanto espectadores para a surpresa final que, essa sim, poderá colocar em causa todos os anteriores acontecimentos.
É esta rota de auto-destruição que já referi que está presente durante todo este pequeno grande filme e os seus sinais e evidências são constantes. Desde a falta de comunicação que estabelece com aqueles que lhe são mais próximos, passando pelo seu objectivo diário em (sabemos a certo momento) infectar todos aqueles que na sua opinião são, também eles, sujeitos de risco. Desde os encontros ocasionais numa discoteca onde se entrega num WC imundo, passando por locais abandonados e também eles degradados ou mesmo o engate ocasional na rua onde qualquer um poderá aparecer sem esquecer o luxuoso lar em que se diverte com o casal enquanto os seus filhos esperam na sala ao lado, Catarina e os Outros denota um total desconforto do espectador que assiste a este percurso sem aparentes consequências que assinala a degradação psicológica desta jovem. Todos estes elementos são, de uma ou outra forma, o efeito de alguém que se deixou levar e entregou ao seu próprio final... sem equacionar as consequências ou a (ir)responsabilidade dos seus próprios actos. Tudo, para ela, terminou.
E de facto terminou... É graças ao último segmento desta curta-metragem que unindo a notícia que recebe à uma magnífica direcção de fotografia de Emanuel Magessi, José Pedroso e Patrícia Raposo que percebemos que aquele lugar em que se encontra é, para além do seu quarto, o espaço em que se refugia como se de um paraíso perdido se tratasse. Ali encontrou o fim (o seu), e irá consumi-lo de facto quando lhe perdemos o rasto. Apesar de não declarado, o seu fim pode ser imaginado pela sequência de imagens e de espaços por onde passa.
Catarina e os Outros e a magnífica direcção de André Badalo remetem-nos desde o primeiro instante para um daqueles filmes negros dos idos anos 70 onde uma improvável justiceira toma o controlo do seu destino, e o dos outros, através de uma longa marcha de vingança por uma sua própria fatalidade, entregando-se assim a um final trágico e potencialmene desolador do qual somos privados ou, a um mais recente The Brave One, de Neil Jordan onde uma mártir Jodie Foster elimina todos aqueles que considera tóxicos para uma sociedade, também ela, já perdida.
No final questionamo-nos... até que ponto é válida esta justiça pelas próprias mãos e que justiceira será esta que mais se assemelha a uma vítima perdida e vulnerável, sem armas e sem defesas contra os perigos que espreitam por todos os lados? Será a "vítima" mais mortal do que o próprio predador ou, por sua vez, não será este a verdadeira vítima?!
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8 / 10
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Eli Wallach

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1915 - 2014
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domingo, 22 de junho de 2014

Raúl Ramírez

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1927 - 2014
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Grace of Monaco (2014)

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Grace do Mónaco de Olivier Dahan é a mais longa-metragem do realizador de La Vie en Rose, e a co-produção franco-americana que abriu o último Festival Internacional de Cinema de Cannes.
No início dos anos 60 o Mónaco era um país com uma nova princesa Grace Kelly (Nicole Kidman), uma mulher dividida entre o conto de fadas e uma identidade pessoal por encontrar., assim como por uma intensa disputa política e económica com a França de Charles de Gaulle.
No meio, o Principe Rainier (Tim Roth) encontra-se num perigoso dilema entre um casamento ainda pouco aceite por parte de quem o rodeia e um eminente conflito que poderá colocar um fim não só à sua condição enquanto chefe de Estado como ao próprio principado.
Muito se especulou sobre este Grace of Monaco antes da sua estreia e mais ainda sobre a capacidade interpretativa de Nicole Kidman em dar corpo e alma a um dos rostos mais icónicos não só da indústria cinematográfica como também do próprio século passado. No fundo, ainda que Grace of Monaco não é a mais recente obra-prima do realizador francês como o foi La Vie en Rose, este filme consegue ser competente na reconstituição histórica que é feita de um período conturbado e em que não só um Estado como os seus líderes se tiveram de impôr perante uma das nações mais forte do continente Europeu.
Centrado exclusivamente nesse período em que o Mónaco de Rainier e a França de De Gaulle estiveram à beira de um conflito, o argumento de Grace of Monaco da autoria de Arash Amel reflectr sobre a importância que a Princesa Grace Kelly teve para a consequente afirmação do Mónaco enquanto uma nação soberana e independente ao mesmo tempo que desenvolve toda a sua indecisão e crise de identidade - princesa vs. actriz - que a abalaram e fizeram sentir uma peça fora do tabuleiro de xadrez num jogo que havia assumido largos anos antes. No entanto é este mesmo argumento que se propõe a uma missão maior que não chega a cumprir - talvez pela escassa duração - remetendo para um plano assumidamente secundário todas as personagens que navegam em torno de "Grace Kelly". É certo que o filme é sobre a Princesa do Mónaco, sobre os seus dilemas e inseguranças enquanto antiga actriz tornada princesa, sobre o seu papel de mãe e principalmente de mulher e de indivíduo mas, ao mesmo tempo, teria sido importante desenvolver alguns daqueles demais intervenientes que contribuíam de forma tão importante para a sua afirmação enquanto Princesa, a mulher serena e que para além de mulher do chefe de Estado viria a servir como um símbolo identitária do próprio país; afinal, ao contrário de qualquer Presidente, um monarca está para além do indivíduo sendo ele próprio uma instituição do Estado.
Dito isto, e denotando que a falta de exploração desses secundários tão importantes, não é menos verdade que a própria interpretação de Nicole Kidman enquanto "Grace Kelly" vive também ela de momentos chave por explorar navegando por nuances e por alguns momentos supostamente de clímax que não passam de situações brandas e sem pontos altos. Única excepção feita ao discurso final de "Kelly" onde - aí sim - serenamente se assume ela própria como a chefe de Estado de um pequeno país que graças ao seu mediatismo se viria a afirmar como uma referência no mundo.
Kidman - que vai bem em praticamente todos os filmes que interpreta - precisava deste filme. No entanto precisava que ele vivesse quase ininterruptamente da sua presença no ecrã expressando a sua interacção com os demais; quais as suas motivações junto do marido, dos filhos, dos membros do governo, dos amigos (por poucos que eles fossem) e dos seus assistentes pessoais demonstrando dessa forma o quão magnânime poderia ser a sua presença e determinação - mesmo que escondendo a sua inexperiência e, de certa forma, a sua própria timidez. Ainda assim temos uma Kidman segura da sua interpretação, determinada na mensagem que pretende transmitir sobre a actriz/mulher/princesa que Kelly foi e principalmente no importante lugar que ocupou na História recente de um país não conseguindo brilhar mais apenas por um lado quase decorativo que todos os demais actores assumem neste filme.
Desde Tim Roth como "Rainier", Frank Langella como "Francis Tucker" ou mesmo Paz Vega como "Callas" - com quem se percebe "Kelly" ter estabelecido uma próxima amizade - todos eles não conseguem explorar a importância devida que tiveram na vida - pessoal e profissional - desta mulher deixando apenas breves nuances que acusam a mesma sem nunca serem uma verdadeira confissão. E se este aspecto pode ser quase imperceptível nas mais várias personagens, para o "Rainier" de Tim Roth é quase incompreensível o facto de não ter uma maior participação no ecrã com Kidman. Afinal, existiria a Princesa Grace sem o Principe Rainier?
Grace of Monaco é, no entanto, mais uma forte aposta do realizador francês na contextualização histórica destacando-se pela excelência técnica de um guarda-roupa de época da autoria de Gigi Lepage que oscila entre o discreto e o exuberante ou mesmo a direcção artística de Dan Weil que insere o espectador na opulência de uma vida palaciana de excessos mesmo quando o próprio país atravessava dias menos positivos do que aqueles que hoje lhes conhecemos. Todos estes elementos exponenciados graças a uma exímia direcção de fotografia de Eric Gautier que consegue tornar os intensos brilhos em cores quentes, reconfortantes e que nos fazem esquecer todos os pequenos grandes problemas originados pelas intrigas políticas - e algumas palacianas - que se fazem sentir como pano de fundo.
No final, e ainda que um filme interessante pela sua tentativa de reconstituição história, Grace of Monaco não chega a ser um portento como o fora La Vie en Rose - a obra digna de comparação - nem tão pouco Kidman, mesmo com a sua qualidade representativa, consegue atingir o mesmo nível de entrega que Cotillard conseguiu enquanto "Piaf". As promessas e as intenções estão lá e o material e contexto histórico são suficientemente bons para nos darem uma imagem - ainda que breve - sobre os dilemas e conflitos interiores de uma mulher que se tornou grande mas, no entanto, decorrida mais de hora e meia de filme o espectador fica com a ligeira impressão que poderia ter assistido a um filme grandioso que se limitou a ser politicamente correcto à "imagem" e às noções "socialmente aceites" de algumas figuras históricas que estão, de certa forma, ainda muito presentes no imaginário de todos nós.
Assim, e voltando à minha primeira observação sobre a especulação que este filme gerou antes da sua estreia, Grace of Monaco está longe de ser um filme mau que algumas línguas mais ou menos afiadas deliraram em destruir. No entanto, desde os aspectos técnicos às próprias interpretações - competentes - o espectador sente que estas poderiam ter ido mais longe e mostrado a real essência de cada um, as suas forças, os seus medos, as suas ânsias e principalmente as suas aspirações que, na prática, haveriam de ser concretizadas. O destino - a acreditar nele - está para todos traçado... talvez não da forma como por vezes o imaginamos mas sempre como é suposto que ele seja... foi esse o lema que Kelly teve - e bem - de aceitar e que Grace of Monaco poderia ter explorado de forma mais detalhada e pessoal mostrando toda a sua intensidade. É isso que esperamos daquilo que Kelly fora... e daquilo que queremos ver de Kidman.
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"Grace Kelly: I have no army, I wish ill on no one, I have no resistance to agression."
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7 / 10
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sábado, 21 de junho de 2014

Robert Gardner

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1925 - 2014
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7 Pecados Rurais (2013)

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7 Pecados Rurais de Nicolau Breyner é a sua mais recente longa-metragem atrás das câmaras depois dos muito falados e muito fracos Contrato (2009) e A Teia de Gelo (2012).
Quando Quim Roscas (João Paulo Rodrigues) e Zé Estacionâncio (Pedro Alves) vão ao encontro de duas primas afastadas vindas de Lisboa para reviver o Verão louco de dois anos antes, sofrem um acidente fatal no qual esbarram a sua frágil mota num rebanho de ovelhas.
É quando chegam ao Céu que Deus (Nicolau Breyner) lhes oferece a redenção através de uma segunda oportunidade, e o regresso a Curral de Moinas, condicionada ao facto de durante vinte e quatro horas renunciarem à prática de qualquer um dos sete pecados mortais ou, caso contrário, a morte será uma certeza.
Ainda que um actor maioritariamente de um registo cómico que sempre apreciei, é sempre com alguma suspeita e reserva que vejo um cartaz que contém o nome de Nicolau Breyner enquanto realizador, especialmente por no seu curriculum se encontrarem dois filmes falhados como o são Contrato e A Teia de Gelo. No entanto, e sempre na esperança que não se desça mais baixo do que aquilo que já foi muito mau e com uma igual dose dessa mesma esperança de que agora seja melhor, que me propus a uma aventura de hora e meia onde as "gargalhadas" eram uma promessa. Não poderia estar mais enganado... Primeiro porque estas não existiram e em segundo lugar por sim... é verdade... é possível descer ainda mais baixo e este 7 Pecados Rurais é disso uma prova viva que espero seja enterrada rapidamente.
Não há sítio melhor por onde começar do que o próprio início por isso... cá vou... Vamos em conjunto imaginar que o cio que afectava as duas personagens principais lhes tolhia a visão e que os ditos não reparavam num enorme rebanho de ovelhas no meio da estrada... Vamos até considerar que eles até encontravam a morte depois deste enorme "acidente"... Será o público assim tão pouco inteligente ao ponto de considerar que não se encontrava ninguém naquele local com as ovelhas e que estas desapareciam assim tão rapidamente quando eles "regressavam" à vida?!
Continuando... percebo uma certa tendência para um actor com o estatuto que tem Nicolau Breyner querer interpretar personagens que não sendo principais têm, no entanto, um certo carisma e relevância para a história em que participam. Como tal... será assim tão necessário nos seus discursos colocar eco para demonstrar uma maior imponência da mesma? É que enquanto espectador, não só se torna absurdo pois parece que o espectador tomou um banho de "ácidos" antes de ir ver este filme como também dificulta um pouco tentar perceber os diálogos quando os próprios são abafados pela dicção daquele que os profere. Desnecessário a roçar o absurdo, se alguém achou que a personagem de "Deus" saía beneficiada com este "efeito especial" não só se enganou como prejudicou um filme que já dava todos e mais alguns indícios de ser não mau... mas péssimo. E nem vou entrar naquela onda de falar sobre o interessante guarda-roupa de "Deus" a desfilar de toga...
Mas o mal não termina por aqui (a esta altura do campeonato... quem me dera)... Num plano em que "Zé" e "Quim" falam com "Deus" e tentam sair daquele espaço, incrédulos com a situação em que se encontram, os mesmos caminham numa sobreposição de planos (sai pela direita e entra pela esquerda) mas, no entanto, apesar do posicionamento dos actores ser diferente... as suas sombras encontram-se exactamente nos mesmos locais em que estavam antes. Se queremos efeitos especiais, ou algo que a isso se assemelhe, é preciso cuidado com aquilo a que se propõem.
É no decorrer desta conversa que acontecem ainda mais alguns dos momentos "sórdidos" deste filme onde ficamos a saber que afinal "Deus" se ginastica com um personal trainer e que até dá uma "perninha" na central telefónica quando necessário (por deus...), e nos quais sabemos que a dupla protagonista tem de sobreviver à provação das suas vidas ao não cometer nenhum dos sete pecados mortais (a saber... Ira, Luxúria, Soberba, Gula, Inveja, Avareza e Preguiça) mas atenção... sobreviver durante uma festa tradicional de Curral das Moinas que é como quem diz... sobreviver a todos estes pecados num meio muito peculiar onde a perdição parece estar mais à porta do que na 24 de Julho, em Lisboa pois ao fim de dez minutos já estão ambos a ser tentados no domínio da Luxúria...
As personagens, qual desfile de circo dos horrores para o qual o mais preparado dos espectadores treme quando com elas se cruza, são do mais básico e linear possível. Sem conteúdo e sem bases para ter uma história que as caracterize ou lhes dê personalidade (cruzes credo), desfilam como se se preparassem para caminhar rumo a um matadouro... Desde o "Eng. Castro Laboreiro", que é como quem diz o vigaro local, interpretado por José Raposo, passando pelas primas "Raquel" (Alda Gomes) e "Patrícia" (Melânia Gomes) cujo único objectivo é ajudar os protagonistas a cumprir o primeiro e já referido pecado, e isto sem esquecer os momentos assumidamente pimbalhocos aqui a cargo de Quim Barreiros e Paulo Futre (sim, o próprio) a interpretarem-se a si próprios.
É no exacto momento em que o filme bateu no fundo, literalmente falando, que uma inspirada Patrícia Tavares dá cor a uma "Célia Careca", possivelmente a única personagem com alguma graça pela sua simplicidade e alegria mas que, infelizmente, não só tem pouco tempo de antena como uma péssima caracterização que nos obriga a tentar perceber como foi feita do que propriamente a atentar na sua personagem.
Um pequeno destaque para a "Canção da Burra", de Sebastião Antunes que tão bem transposta para este filme a essência da ruralidade e da canção típica mas com toques de modernidade e que poderia ter sido muito melhor aproveitada por este filme mas que, infelizmente, não consegue safá-lo sob nenhuma perspectiva limitando-se a ser uma "boa ideia".
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No final de tudo isto o que temos? Pouco... muito pouco. Temos um argumento de Henrique Cardoso Dias e Frederico Pombares (inacreditável como este último se encontra por detrás do argumento de O Último a Sair), que reune segmentos maus de um episódio péssimo d'Os Malucos do Riso, Os Batanetes e O Prédio do Vasco (todos ao molho), os quais tentam recriar algum humor (sem graça) e que fazem nascer um conjunto de personagens ultra-estereótipadas sem conteúdo que parecem ter saído de uma qualquer jaula de um qualquer circo de horrores onde tinham sido escondidas dos olhares do público durante muitos e largos anos depois de um conjunto de experiências que, obviamente, correram mal.
Temos, no entanto, a certeza que Nicolau Breyner tentou recuperar o sucesso de "Quim" e "Zé" do Telerural e a onda de sucesso de um programa televisivo em que João Paulo Rodrigues havia participado meses antes para poder fazer o tal "sucesso cinematográfico" de final de ano que para além do muito dinheiro que tenha feito em bilheteira, jamais irá ficar na memória de alguém enquanto um bom exemplo do cinema português. Pelo contrário... para aqueles que estejam um pouco mais atentos 7 Pecados Rurais apenas funcionará como mais um exemplo daquilo que não deve ser feito... afinal, parece que temos um destes todos os anos, e Nicolau Breyner já conta com três no seu bolso.
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1 / 10
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Prémio João Torto 2014 - o vencedor

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A Empório, em Viseu, atribuiu o Prémio João Torto 2014 (que deve o seu nome ao português que naquela cidade subiu à torre da Sé com umas asas por si construídas e de lá saltou no ano de 1540), no Sector Cultural e Criativo ao Shortcutz Xpress Viseu na pessoa de Carlos Salvador e Luís Belo, os seus organizadores, por continuamente mostrarem dedicação e resiliência no sector e na dinamização do evento que se realiza na cidade a cada duas semanas.
Como membro do júri do SXV e um dos seus convidados em Dezembro passado, tenho o prazer de felicitar publicamente os dois organizadores pela distinção justa e merecida assim como pelo contínuo empenho em exibir na cidade o melhor cinema em formato curto que é feito no país bem como pelos muitos convidados internacionais que tem conseguido trazer para o evento.
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sexta-feira, 20 de junho de 2014

Hotel Anaidaug - teaser

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Foi hoje divulgado o teaser trailer da nova curta-metragem da produtora independente  Paradoxon Produções, de seu nome Hotel Anaidaug.
Com realização e argumento de Hernâni Duarte Maria adaptado de uma história original de Fernando Pessanha, Hotel Anaidaug é descrita na sua página oficial como "duas realidades... um veleiro... um tripulante... o hotel... uma visão noir....", e conta com as interpretações de Nuno Murta, Lourenço Seruya, Milai Miu, Bruno Rossi, Rogério Cão, Miguel Costa Lopes e do próprio autor da história, Fernando Pessanha.
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Lady Blue Shanghai (2010)

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Lady Blue Shanghai de David Lynch é uma curta-metragem realizada para a Dior e que não conta com a participação da actriz Marion Cotillard como é a primeira de um segmento com a mesma; depois de Lady Blue Shanghai, de Lynch seguiram-se Lady Rouge (2010), de Jonas Akerlund num vídeo musical com a participação de Franz Ferdinand, e Lady Grey London e L.A.dy Dior ambas de John Cameron Mitchell.
Em Lady Blue Shanghai, Lynch provoca-nos uma vez mais com o seu imaginário de mistério onde uma mulher sem nome (Cotillard), chega ao seu quarto de hotel para encontrar um estranho "presente" (uma mala) no centro do chão da sua sala.
Numa perspectiva quase hipnótica para o espectador que se confunde entre o próprio sonho vs. realidade que esta "mulher" sente, deparamo-nos com um conjunto de incertezas que povoam e invadem o nosso imaginário e que estão de igual forma representadas no ambiente onde tudo se desenrola. Aquele quarto tem uma atmosfera diferente, quase labiríntica nas suas quatro paredes, e sentimo-nos (sentimo-la) como que perdida num espaço de si amplo mas que muito se aproxima de uma prisão auto-imposta.
Assim, num constante recorrer à memória, sua prisão e liberdade, Lynch brinca com as recordações daquele mulher que graças a uma enigmática mala que nunca chegamos a saber quem lha ofereceu, são libertadas para uma auto-satisfação desconcertante... afinal, ela nunca chega a saber do que se recorda em concreto nem tão pouco deixa de sentir que o seu espaço foi, em certa medida, violado.
Alienados do exterior (personagem e espectadores), sente-se que estamos numa dimensão quase fantasmagórica onde a realidade se mescla com um passado já vivido mas do qual pouco se (nos) recorda.
Digna de uma atmosfera oriental, numa clara homenagem explícita no próprio título, Lady Blue Shanghai transmite um misto de tristeza e satisfação por identificar; se por um lado existe uma alegria esta, no entanto, não deixa de ser contida e reprimida que só um universo de personagens que por vezes não se reconhecem como aquele criado por Lynch poderia alguma vez fazer nascer.
Finalmente um último apontamento sobre a igualmente fantasmagórica música original de Dean Hurley e David Lynch que apenas agudizam toda a atmosfera etérea que se sente desde o primeiro instante em Lady Blue Shanghai.
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7 / 10
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Dancers (2014)

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Dancers de António da Silva é uma curta-metragem portuguesa e um dos mais recentes trabalhos deste realizador português que desafia o próprio espectador a tornar-se um voyeur enquanto assiste aos seus filmes.
Aqui, António da Silva transporta o espectador para o interior de uma casa. Não uma em concreto mas sim aquela(s) em que o(s) interveniente(s) se encontra(m). Nos mais variados cenários e ao som de música, estes vários intervenientes, todos eles homens, tiram a roupa de forma mais ou menos sensual e insinuam-se para a câmara... para o espectador.
Numa metáfora que se aplica às artes, à dança e de certa forma ao próprio país, estes bailarinos/actores demonstram a real situação do país... afastado das artes, da cultura, da educação e de todo o tipo de intervenção cultural, os mesmos são obrigados a subsistir de forma agreste tirando a sua roupa exercendo um cada vez maior sentido voyeurista no espectador para quem "dedicam" uma última dança. Dança esta que tem tanto de artístico como pode ter de sensual, provocatório e até mesmo exibicionista.
Com a participação de um variado conjunto de artistas entre os quais se destacam duas caras mais conhecidas do público português nomeadamente Nuno Gil e Pedro Cunha - recentemente falecido - Dancers conta ainda com a presença de Ângelo Neto, António Onio, Bráulio Bandeira, Bruno Alexandre Uka, Celso Jumpe, Cláudio Filipe Vieira, Daniel Pinheiro, Dário Pacheco, ‎Flávio Rodrigues, Filipe Baracho, Filipe Viegas, Gonçalo Beira, Ivo Serra, Luiz Antunes, Luis Guerra, Luka Mpasi, Martim Pedroso, Miguel Bonneville, Miguel Flor, Miguel Pereira, Nuno Labau, Nuno Silva, Paulo Guerreiro, Pedro Nunez, Pedro Santiago Cal, Rafael Alvarez, Renato Pires, Sergio Diogo Matias, Tiago Fonseca, Tiago Marques, Victor Hugo Pontes e Vitor Viegas numa dança erótica desde o primeiro instante que transmite ao espectador a sensação de se encontrar numa qualquer cabine de peep show sem que, no entanto, o espectáculo a que assiste se possa considerar gratuito ou degradante.
Provocador no seu cinema, quase sempre de uma natureza explícita e voyeurista, António da Silva brinca com uma corrosiva tagline esta sua mais recente curta-metragem "After all, the penis also can dance!". Afinal, num país onde as artes performativas e de certa forma a própria cultura e educação são relegadas para um segundo dispensável e desinteressante plano, Da Silva deixa ao espectador uma interessante questão e reflexão: estaremos assim tão longe do momento em que aqueles que desta área vivem precisarem de recorrer a shows exibicionistas a troco de um pequeno pagamento para poderem sobreviver?
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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Shortcutz Xpress Viseu - Sessão #29

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Mais uma sexta-feira e mais uma sessão do Shortcutz Xpress Viseu, a 29ª, com o habitual segmento de Curtas em Competição onde estarão presentes O Vazio Entre Nós, de Miguel Pinho e O Sítio Onde as Raposas Dizem Boa Noite, de Rui Esperança.
Rui Esperança, que estará presente na Sessão #29, tráz ainda para o segmento da Curta Convidada o seu filme Brinca com o Fogo.
Finalmente no segmento Projecto Convidado as honras cabem nesta sessão ao Caminhos do Cinema Português, representado pelo seu produtor executivo Tiago Santos e que apresenta ainda a curta-metragem Esperança, de Pedro Branco.
Assim, a partir das 22 horas desta sexta-feira o lugar onde estar é na Só Sabão, no Largo de São Teotónio nº30, em Viseu, para mais uma boa sessão de cinema em formato curto.
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quarta-feira, 18 de junho de 2014

The Fault in Our Stars (2014)

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A Culpa é das Estrelas de Josh Boone com estreia agendada em Portugal para amanhã, conta-nos a história de Hazel (Shailene Woodley) e Gus (Ansel Elgort), dois adolescentes que se encontram num grupo de apoio a jovens vítimas de cancro. Enquanto Gus não tem uma perna devido à sua doença, Hazel vive na companhia de uma bilha de oxigénio sem a qual não conseguiria sobreviver. A empatia e atracção de ambos é imediata e a paixão desenvolve-se entre ambos ainda que saibam que a qualquer momento pode terminar pela ausência de um.
Aquilo que se questionam é então simples... Irão aproveitar o tempo que podem ter juntos independentemente da sua duração ou limitar-se a negar os seus sentimentos e a importância que podem ter na sua auto-preservação e memória?
Com base no romance de John Green, Scott Neustadter e Michael H. Weber escrevem este argumento que apesar de se centrar num conjunto de personagens adolescentes consegue, ainda assim, distanciar-se na tradicionar história teen graças ao seu conteúdo mais sério tendo a doença e a fatalidade como pano de fundo. Numa idade em que estes intervenientes deveriam estar a aproveitar para se descobrir, assim como ao mundo que os espera, "Hazel" e "Gus" concentram-se sim em conhecê-lo não como uma descoberta que apaziguará as suas ambições pessoais mas sim como forma de poder reter e "consumir" o máximo deste mundo que, a seu breve tempo, poderá cancelar-lhes o bilhete de estadia.
É desta forma que ambos se completam... Até se conheceram só haviam testemunhado a doença, a perda e, de certa forma, a morte que lhes está inerente sabendo que mais cedo ou mais tarde o mesmo lhes iria acontecer. No entanto é esta cumplicidade que se lhes apresenta como natural que lhes confere o verdadeiro gosto pela vida, pelo contacto, pela paixão e pela entrega que, como consequência, sentem poder fazer mutuamente mas que ao mesmo tempo os assusta por se apresentar como sendo de uma potencial curta duração. A morte, essa que se apresenta como certa (a eles e a todos os outros) é encarada de diversas formas... uns tentam ignorá-la como forma de pensar que nunca chegará enquanto outros a têm como certa e como tal algo com o qual não se devem preocupar... só assim conseguirão viver descontraídamente sabendo que tudo o que fazem é para ser vivido e aproveitado... sentido.
The Fault in Our Stars faz também aqui uma certa referência, ainda que pouco explorada, sobre aqueles que lhes sobrevivem... a família... os amigos... aqueles com quem privaram e que precisam de um conforto que os deixe mais tranquilos e que os permita acompanhar esta última etapa como forma de se sentirem ainda presentes e a disfrutar de todos os momentos mais ou menos importantes da vida daqueles que irão eventualmente perder... Momentos esses que por mais irrelevantes que se apresentem irão ganhar proporções, sentidos e significados maiores aquando da sua falta. Tal como a personagem de Shailene Woodley diz a certa altura, "pior do que ter cancro é ter um filho que está a morrer de cancro" pois a acontecer deixá-los-à numa condição sem nome.
Este filme e a sua linha condutora perdem um pouco o rumo com a inesperada visita a Amsterdão que o casal "Hazel" e "Gus" anseiam. Ainda que com o propósito da descoberta de respostas que podem nunca chegar e que expliquem o momento seguinte à sua partida, a sua dinâmica pouco explorada e com o único propósito de apresentar a um Willem Dafoe dispensável nesta trama, é apenas minimamente justificada no segmento final em que "Hazel" lê as palavras que lhe foram deixadas para a sua eventual partida feitas por um amor então desaparecido. É nesta mesma viagem que apesar de conter o momento romântico do jovem casal e também aquele em que percebem que o seu tempo poderá estar "contado", que ocorre o segmento mais absurdo (e sim, esta é a palavra adequada para um filme que tinha tudo a ganhar com a sua abordagem quer séria quer descontraída sobre a morte) ao visitarem a Casa-Museu Anne Frank e onde após um beijo apaixonado se observam os demais turistas a aplaudir... Ora... se por um lado nos temos a sentir aqueles dois seres que  podem abandonar a vida a qualquer momento, não nos podemos igualmente esquecer que o local per si não é o melhor para uma ronda de aplausos...
Momento este rapidamente esquecido (foi mau demais), é no regresso à realidade que esta realmente se faz sentir... Desde os momentos que se percebem não poder ser repetidos sem esquecer que a saúde vai, aos poucos, denotando os seus filmes de desgaste e fadiga que são o espelho de um sonho que está a chegar ao fim... de um desejo que ainda que sentido se sabe estar a extinguir-se... de uma vontade cada vez maior de viver mas que funciona exactamente na direcção oposta e apenas suportável por saber que algures nas suas curtas "vidas" alguém os amou... os percebeu... os viu.
Shailene Woodley tem aqui mais uma interessante interpretação que comprova ser a jovem promessa pra o futuro. Depois de The Descendants, The Spectacular Now e de Divergent (no qual participa também Ansel Elgort), Woodley comprova estar a criar o seu próprio espaço no cinema com filmes não só direccionados para um público mais jovem como também mais abrangentes e capazes de cativar outras camadas etárias que tanto têm de sério como de entretenimento sem, no entanto, se deixar levar pelo tradicional "filme pipoca" que poderia funcionar de forma nociva na sua carreira. Não que este filme a leva aos prémios ditos "sérios" da indústria mas, no entanto, não me deixará espantado que num futuro próximo a estejamos a ver como recipiente dos mesmos.
O já referido Dafoe como o escritor cuja obra suscita a curiosidade de "Hazel", assim como Laura Dern ou Sam Trammell que interpretam os seus sofridos (mas contidos) progenitores, ocupam aqui interpretações quase simbólicas... estão lá apenas porque o espectador deduz que esta jovem não é orfã (seria tragédia a mais) nem tão pouco vive sózinha (qual seria a sua forma de subsistência?), sendo que a sua dor enquanto pais não é suficientemente explorada e, talvez até pior, é levada como uma certa ligeireza que por vezes nem parece natural.
Elgort, enquanto outro protagonista, também desempenha uma interpretação interessante e espontânea que deixa uma certa curiosidade sobre os próximos filmes em que irá participar, principalmente a continuação do trabalho que irá efectuar com Woodley em Insurgent. Aqui com uma interpretação segura e também ela sentida quase sempre em gesto de despedida, deixa também ao espectador uma sensação de que este será apenas um dos primeiros desempenhos mais sérios onde poderá melhor explorar o seu potencial dramático.
Ainda que com as suas falhas e lugares comuns que não o deveriam ser, The Fault in Our Stars consegue ter os seus momentos de comoção e claro mais sentimentais que nos fazem questionar a brevidade e a rapidez do tempo que por "cá" passamos e como realmente o ocupamos a pensar em assuntos que são, por vezes, tão irrelevantes esquecendo aqueles pelos quais deveríamos realmente lutar e atentar e que marcassem realmente a nossa importância não só perante o mundo como também perante aqueles que conhecemos.
Foi graças a outro filme que guardei o melhor pensamento que se poderia aplicar a esta história... "quando a morte te sorrir... sorri de volta"... tal é a sua inevitabilidade e certeza... portanto porquê preocupar com algo para com o qual nada se pode fazer, limitando assim todas as demais experiências positivas que se podem viver?!
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"Hazel: Depression is a side effect of dying."
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8 / 10
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Jameson Notodo FilmFest 2014: os vencedores

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Gran Premio Jameson - Melhor Filme: El Alpinista, de Oriol Segarra García-Granados e Adrián Ramos Alba
Premio Jameson a la Mejor Pelicula de Triple Destilación: Saying, de David Pareja
Premio la Térmica al Mejor Proyecto de Serie Web: El Partido, de Alex Rodrigo
Premio Latinoamérica en Corto: Un Día Más, de Marcos Menéndez Hidalgo
Premio Tai - Melhor Realizador: Juanlu Ruiz Escribano e Toni Ruiz, Te Desconozco
Prémio Melhor Argumento: Una Cuestión de Etiqueta, Roger Villarroya, Mario Rico, Álvaro Cervantes e David Pareja
Actor: Rikar Gil, Impulso
Actriz: Teresa Mencía, Mi Momento
Premio IED - Melhor Direcção Artística: Miguel de Cruz, El Alpinista
Premio TVE Cámera Abierta 2.0 - Melhor Documentário: Un Día de Campo, de Carlos Caro Martín
Prémio Melhor Filme de Animação: Zepo, de Cesar Diaz Melendez
Prémio de Distribuição: Cerrajero del Amor, de Nicolás Maynetto Donoso e Juan Francisco Bernabeu, Regaliz, de Álvaro Aránguez, Una Cuestión de Etiqueta, de Roger Villarroya e Mario Rico e Zepo, de Cesar Diaz Melendez
Premio FILMIN: Un Día de Campo, de Carlos Caro Martín
Prémio do Público El País: A Monsterbox (Toc Toc), de Renato César Baltazar
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terça-feira, 17 de junho de 2014

Patsy Byrne

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1933 - 2014
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Tell Your Children (1936)

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Pura Loucura de Louis Gasnier é uma longa-metragem norte-americana que nos conta a história de um trio de marginais que através de convites para arrojadas festas de jazz induz muitos jovens ao consumo de marijuana que tem como consequência última a perda de sentidos e raciocínio e a sua respectiva vulnerabilidade.
Fruto de uma sociedade ultra-moralista, Tell Your Children, ou Reefer Madness como foi depois baptizado, conta através de um argumento escrito por Lawrence Meade, Arthur Hoerl e Paul Franklin uma história sobre os perigos das dependências de drogas alucinogéneas que privam aqueles que as consomem de um raciocínio correcto sobre as suas atitudes e acções.
É desta forma que toda a trama se desenvolve quando assistimos de forma quase mecânica a um grupo cujo único propósito é ludibriar jovens para os manter sobre a sua alçada e pelo meio de festas realizadas na sua casa e de uma aparente imagem de vida fácil, louca e sem limites "arrastá-los" para a tal dependência que não lhes permite ter total controlo, nem tão pouco memória, sobre o que fizeram. Assim, e com base nesta premissa, é depois de estranhos acontecimentos que se sucedem sem que ninguém aparente ter sobre eles controlo, nem tão pouco aqueles que os provocam, que um assassinato é cometido e alguém que de nada se lembra seja o real acusado de o ter cometido.
Com o recurso a uma linguagem claramente moralista, e moralizadora, Tell Your Children ultrapassa aquilo que se espera de um filme para ser assumidamente um "panfleto" de uma campanha que de outra forma jamais teria o mesmo impacto e que aqui graças ao cinema e às imagens em movimento se transforma numa poderosa arma de propaganda cujos propósitos são claramente fruto da sociedade de então.
Sem uma história coerente, pelo menos não para aquilo que se espera de um filme onde a narrativa tem um princípio, meio e fim que nos permita criar qualquer tipo de ligação com as personagens em questão, Tell You Children limita-se a um conjunto de banalidades da dita propaganda que, ainda que pertinente na sua mensagem falha na forma como a transmite fazendo daqueles dependentes como armas mecânicas e desprovidas de qualquer raciocínio ao ponto de chegar mesmo a estupidificá-las.
No entanto, é quando esperamos que nada possa ser pior quando na versão restaurada deste filme onde se deu lugar à colorização e na qual o fumo proveniente dos referidos cigarros ganha uma cor bizarra e vibrante que nos dá a ligeira impressão de nos encontrarmos numa explosão de cor a sair da boca dos actores a todos os segundos.
Fruto de uma época, referi e com razão, Tell Your Children apela à consciencialização através da histeria colectiva tornando-se num caso preocupante ao seu tempo, assustador com o passar dos anos e hilariante aos olhos das gerações presentes que o encaram não como um filme com uma história coerente e explorada mas sim como uma propaganda descarada que recorreu à Sétima Arte para fazer transmitir a sua mensagem.
Não me surpreendeu nem pelo seu conteúdo nem tão pouco pelas suas interpretações que oscilam entre o absurdo e o apalhaçado desprovendo qualquer uma das suas personagens de carácter e motivação fazendo de todos, sem excepção, meras peças numa história que tinha a sua agenda bem delineada desde o primeiro instante. Desde então muitos foram os filmes feitos sobre os perigos das dependências e qualquer um deles mais bem elaborado e subtilmente interpretado. Não queria utilizar a palavra "nódoa" mas, na falta de melhor...
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segunda-feira, 16 de junho de 2014

R.I.P (2013)

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R.I.P de Darren Council que assume também funções enquanto produtor, argumentista, actor e editor é uma curta-metragem de ficção norte-americana que se centra na viagem de cinco amigos a uma casa de campo onde estranhos acontecimentos se irão desenrolar.
Justin e a namorada Sam vão com o irmão dele Tim e os dois amigos Phil e Alex para um fim-de-semana numa casa de campo. É quando lá chegam que Justin vê um vulto numa das janelas minutos antes de estranhos acontecimentos começarem a suceder dentro daquelas quatro paredes.
Pelo meio de alguma tensão emocional que parece estar iminente entre vários dos amigos, perguntamo-nos se estarão eles sózinhos ou se mais alguém lhes faz companhia?
O argumento, que como referi é também da autoria de Darren Council, não é original. Não no sentido de ser plágio de outro mas por não conter nenhum elemento inovador para o género. Senão, pensemos... quantos filmes sobre um conjunto de amigos que viaja para um fim-de-semana de cumplicidade e onde todos acabam estranhamente mortos já nós vimos? Primeira resposta que nos vem à cabeça... dezenas...
Dezenas e uma boa parte deles melhor executados, contados e principalmente interpretados. R.I.P é uma curta-metragem que segue muitas das premissas de outros tantos filmes mas esse não é o seu principal erro. Os defeitos desta curta-metragem prendem-se no seu todo com a vontade de contar uma história que já se havia visto como se de uma cópia exacta se tratasse. Ou seja, o seu realizador e argumentista, que quis assumidamente ter o seu momento one man show, pegou nas fórmulas a que já havia assistido sem ter a pretensão de entregar uma obra diferente mesmo que para isso utilizasse todos aqueles registos que claramente já havia consumido.
Se a isto juntarmos um conjunto de interpretações mediocres que parecem estar a debitar o texto de um qualquer cartão que têm colocado à sua frente e uma direcção de câmara deficitária, então R.I.P mais não é do que um ensaio bastante amador que se mantém vivo apenas graças à boa vontade, e deduzo que alguma paixão, de todos os intervenientes que resolveram contar uma história com o intuito de se divertirem um bocado.
Amadora, no pior dos sentidos, esta curta-metragem não fascina nem tão pouco cativa e é daqueles filmes que demora um breve conjunto de segundos até ser totalmente esquecida. A certa altura, já nem dos lugares comuns e das banalidades nos recordaremos.
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domingo, 15 de junho de 2014

Big Game (2014)

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Big Game de Sarah Scrimgeour é uma curta-metragem de animação sul-africana que nos faz entrar no imaginário de um monstro que prepara a sua festa de aniversário.
De aspecto rude que a todos mete medo mas que é, no fundo, um bom coração, este monstro espera por visitas inesperadas que partilhem com ele o seu dia especial mas ignora que um homem se prepara para um conjunto de armadilhas que visam exterminá-lo.
No meio de uma perigosa, mas desconhecida, aventura... quem irá sobreviver a esta provação?
O argumento de Aarin Lehmkuhl e Miro Kolenic não só diverte o espectador com as inúmeras armadilhas que estão preparadas para este simpático monstro que passam desde a queda de "monstruosos" pianos a bombas, veneno e muita munição como também subtilmente envia uma simpática mensagem sobre o quão incorrectas podem ser as primeiras impressões e aparências que cada um de nós envia para os demais. No final, aquilo que Big Game pretende é obrigar o espectador a pensar sobre o quão solitária pode ser uma existência de alguém que habita um mundo onde é único e não tem nenhum semelhante com quem se identificar só lhe restando assim viver a sua própria existência liberta de parâmetros ditos "normais".
Divertida pelo conjunto segmentos cómicos que contém e pela sua surpreendente (mas algo esperada) finalização que nos faz questionar se afinal não será a diferença a única forma de cada um de nós se afirmar numa sociedade que parece não nos querer aceitar.
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FESTROIA - Festival Internacional de Cinema 2014: os vencedores

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Competição Oficial
Golfinho de Ouro - Melhor Filme: Svecenikova Djeca, de Vinko Bresan (Croácia/Sérvia)
Golfinho de Prata - Prémio Especial do Júri: Faro, de Fredrik Edfeldt (Suécia/Finlândia)
Golfinho de Prata - Melhor Realizador: Hans Petter Moland, Kraftidioten (Noruega)
Golfinho de Prata - Melhor Actor: Vytautas Kaniusonis, Losejas (Lituânia/Letónia)
Golfinho de Prata - Melhor Actriz: Birgitte Hjort Sorensen, Someone You Love (Dinamarca)
Golfinho de Prata - Melhor Argumento: Ignas Jonynas e Kristupas Sabolius, Losejas (Lituânia/Letónia)
Golfinho de Prata - Melhor Fotografia: Thomas W. Kiennast, Das Finstere Tal (Áustria/Alemanha)
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Prémios Especiais

Prémio do Público: Leijonasydän, de Dome Karukoski (Finlândia)
Prémio Homem e a Natureza: O Círculo, de Stephan Haupt (Suíça)

Menção Especial: Asier ETA Biok, de Amaia Merino e Aitor Merino (Espanha)
Prémio Primeiras Obras: Før Snøen Faller, de Hisham Zaman (Noruega)
Menção Especial: Post Partum, de Delphine Noels (Bélgica)

Prémio FIPRESCI: Leijonasydän, de Dome Karukoski (Finlândia)
Prémio SIGNIS: Leijonasydän, de Dome Karukoski (Finlândia)
Prémio CICAE: Someone You Love, de Pernille Fischer Christensen (Dinamarca)
Prémio Mário Ventura: O Meu Avô, de Tony Costa (Portugal)

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Casey Kasem

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1932 - 2014
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sábado, 14 de junho de 2014

The Wound (2013)

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The Wound de David Garrett é uma curta-metragem de ficção norte-americana que, apesar de timidamente, se insere perfeitamente numa corrente de terror gore.
O Xerife (Christopher Burns) de uma pequena localidade costeira surge com o rosto repleto de sangue. Em choque e apesar da abordagem que lhe é feita fica sem reacção às questões colocadas.
O espectador, levado no flashback deste homem traumatizado, recua várias horas nos acontecimentos para saber o que aconteceu na casa de Annie (Arianna Ortiz), uma mulher recentemente operada que mantém uma estranha e profunda ferida no seu estômago. Aquilo que ninguém sabia é que esta ferida iria trazer graves consequências...
Esta curta-metragem ntem todo um potencial gore que a certa altura desperta mas que, ao mesmo tempo, não se deixa explorar falhando assim na vontade de cativar o espectador. Se por um lado temos uma recuperação do género e da própria forma de apresentar a história que era tão comum nos idos anos 80 do século passado e que explora um imaginário grotesco ao estilo de "o assassino está em ti", não é menos verdade que The Wound perde-se com um conjunto de banalidades e segmentos dispensáveis em vez de se concentrar na exploração do "assassino" e das suas necessidades... "alimentares".
Assim, é apenas quando o espectador começa a inteirar-se da história e das suas nefastas coincidências que, subitamente, tudo acaba sem nos ser entregue nenhuma explicação ou tão pouco o tal banho de sangue que o filme realmente merece. No fundo, é quando tudo parece ter começado que lhe é entregue um pouco merecido final (ainda que cativante) que deixam o espectador com vontade de mais sabendo perfeitamente que não o irá ter.
Interessante pela premissa e execução daquilo que é apresentado The Wound é, no final, fraco no seu desenvolvimento transformando-o num daqueles filmes que "poderia ter sido".
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4 / 10
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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Cellar (2013)

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Cellar de Richard Whittaker é uma curta-metragem britânica de suspense (ou pelo menos assim o tenta) que nos conta a história da jovem Louise que como forma de ter um rendimento extra aceita um trabalho de limpezas no velho pub The Louisiana que tem os seus próprios segredos.
Ninguém utiliza a cave do edifício para além de armazém de algumas inutilidades às quais ninguém dá importância. Cave essa que, décadas antes, era utilizada como local de detenção de prisioneiros enquanto esperavam pelo execução do seu endorcamento... No entanto, quando alguém imvade essa cave acontecimentos sinistros são postos em marcha.
Esta premissa de filme de suspense/terror onde um edifício com alguma história se revela ter os seus próprios segredos e uma vida para além daquela que na altura é contada está, assumidamente, gasta. A originalidade que se pretende dar a este tipo de histórias e de curtas-metragens é francamente complicada e tão raramente aparece uma obra digna de ser considerada de referência. Cellar está longe de ser uma dessas referências.
A premissa está à vista desde o primeiro instante em que nos é revelada em estilo narrativo tudo aquilo pelo qual o velho The Louisiana já havia "passado". Percebemos facilmente que o mesmo está repleto de história e de velhos fantasmas que muito provavelmente nunca foram exorcisados e, como tal, estão prontos para encontrar a próxima vítima sobre a qual exercer toda a sua carga negativa deixada pelo seu passado. E ainda que toda esta premissa seja já perceptível ao ponto de confirmarmos tudo quanto esperamos (sem excepção), não é menos verdade que o poderíamos esquecer se a sua execução fosse profissional e digna de uma verdadeira história de terror. No entanto aqui estamos longe de o conseguir.
A edição dos vários supostos segmentos que esta curta deveria ter aliada com a fraca qualidade técnica a nível de som e de fotografia deixam-nos pouca esperança na interpretação que, também ela, fica àquem daquilo que se espera para poder contribuir para um ambiente pesado que esta história pressupõe.
Como se o anterior não chegasse, os lugares comuns e frases ou momentos feitos prepositadamente para "criar ambiente" (nunca conseguido) revela-nos que para além das boas intenções dos envolvidos e alguma curiosidade na pesquisa destes mesmos elementos não chegou para tornar Cellar num filme fantástico e inovador como o foi, há altura, The Sixth Sense que certamente serviu como fonte de inspiração para a sua execução.
No entanto aquilo que na minha opinião arruina definitivamente Cellar é o seu final decalcado de tantos outros filmes do género que tentam criar um segmento de tensão que nos prepara para a revelação final do mal, ou da sua essência, mas que neste caso nunca chega. Bem pelo contrário, são abertos caminhos que o argumento não planeia explicar e um rumo que não será explorado pela curta duração de um filme que revelou todas as suas fragilidades desde o primeiro instante.
O espectador que se manteve atento passa de imediato para os créditos finais onde tudo fica em aberto (ou mal explicado) onde alguém chega ao espaço dirigindo-se de imeadito para o local mais óbvio e até então pouco penetrado assustando-se com o que vê, criando surpresa ao espectador mas não assumindo vontade de o concluir... fraco desde o primeiro ao último instante, Cellar percebe-se como um filme amador sem pretensões para além de entreter uma comunidade com os mitos urbanos em torno de um espaço que se percebe de referência local. Para além disso mais não é do que uma curta-metragem perfeitamente nula e dispensável.
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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Jimmy Scott

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1925 - 2014
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Shortcutz Xpress Viseu - curta-metragem vencedora de Maio

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Chico Malha, de Guilherme Gomes e Miguel Reis foi considerada a melhor curta-metragem do mês de Maio no Shortcutz Xpress Viseu.
"Um prodígio, um talento, uma revolução", esta é a curta-metragem que nos conta a "verdadeira história" do maior e mais influente jogador de malha de todos os tempos que, num estilo do mockumentary conta com as interpretações de Agostinho Magalhães, Valdemar Santos, Joana Pais de Brito e David Pinto como protagonista.
Em competição com Chico Malha estava a curta-metragem A Ceia, de Duarte Guedes.
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Globo di Oro - Italia 2014: os vencedores

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Filme: Il Capitale Umano, de Paolo Virzì
Grande Prémio: In Grazia di Dio, de Edoardo Winspeare
Comédia: Smetto Quando Voglio, de Sydney Sibilia
Primeira-Obra: Zoran, il Mio Nipote Scemo, de Matteo Oleotto
Actor: Antonio Albanese, L'Intrepido
Actriz: Sara Serraiocco, Salvo
Argumento: Pierfrancesco Diliberto, Michele Astori e Marco Martani, La Mafia Uccide Solo d'Estate
Fotografia: Stefano Falivene, Still Life
Música: Pivio e Aldo De Scalzi, Song'e Napule
Documentário: The Stone River, de Giovanni Donfrancesco
Curta-Metragem: Sassywood, de Antonio Andrisani e Vito Cea
Carreira: Claudia Cardinale
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The Last Game (2014)

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The Last Game é uma curta-metragem de animação produzida para a Nike Football e que nos conta como os grandes jogadores da actualidade, entre os quais se destacam Wayne Rooney, Cristiano Ronaldo ou Neymar Jr., são substituídos nos campos por clones que mecânicamente executam jogos sem falhas mas, ao mesmo tempo, sem espírito e sem garra.
Depois de se afastarem e ocuparem as mais variadas profissões alternativas quase numa paródia aos próprios jogadores com Ronaldo como um manequim de loja, Rooney como pescador nas docas ou David Luiz enquanto cabeleireiro, The Last Game centra-se no seu inesperado regresso e na vibração que as suas presenças em campo provocam nos milhares de fãs do desporto rei, graças ao resgate que o brasileiro Ronaldo faz destas figuras então "perdidas".
Longe de ser uma referência no género, The Last Game mostra um inesperado potencial pela possibilidade de desenvolvimento da respectiva história bem como um apurado sentido de humor que reserva para as vidas alternativas daqueles que são alguns dos mais craques mundial do futebol e que respondem em certa medida aos próprios pré-conceitos que temos a respeito dos mesmos. É este potencial que apesar de suficientemente desenvolvido para aquilo que se esperava desta curta-metragem não deixa de revelar uma certa insatisfação por parte do espectador que perceber ter aqui pernas para correr com uma história mais elaborada e com o respectivo desenvolvimento das personagens em questão.
Interessante, simpática e bem humorada, The Last Game está para além da publicidade exercida ao longo da mesma e assume-me como um interessante, e potencial, filme "oficial" deste mundial de futebol que ocupa terras brasileiras.
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7 / 10
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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Ruby Dee

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1924 - 2014
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Dirty Boots (2014)

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Dirty Boots de Adam Baran é uma curta-metragem composta para a apresentação da canção homónima da banda Holopaw e que nos apresenta um dia sexualmente intenso de um gang motard de Brooklyn.
Desde o acordar às pequenas tarefas diárias para se prepararem para mais uma investida num bar onde o sexo reina, este grupo de motards atravessa todo um conjunto de rituais que não só os identificam no seu meio como acabam por iniciar os membros mais novos no mesmo estilo de vida.
Quando os limites se tendem a ultrapassar e a amizade se funda na cumplicidade, até que ponto está este conjunto de amigos disposto a ir para satisfazer os seus desejos e caprichos que mais não são do que as marcas de pertença ao seu próprio meio natural?!
Tendo como pano de fundo todo um ambiente muito anos 70 do século passado, Dirty Boots assume-se como uma curta-metragem musical, ou videoclip, extremamente explícito e revelador do lado mais carnal, e animal, do Homem que encontra em pequenos rituais diários, e muitos dos quais nocturnos, os símbolos e sinais de pertença a uma própria "alcateia".
Temática de género àparte, Dirty Boots tem pequenos elementos a destacar pela sua positividade nomeadamente a direcção de fotografia de Sinisa Kukic que transforma todo o espaço onde o grupo de amigos se encontra num local familiar e de conforto como se da própria "toca" desta alcateia se tratasse, ao mesmo tempo que a variação de luzes e sombras amenas se transforma em cores intensas e quentes aquando da sua permanência no bar/clube de sexo onde satisfazem as suas mais variadas necessidades sexuais.
Não sendo necessariamente uma curta-metragem/videoclip fácil de agradar aos mais variados públicos pois dirige-se quase exclusivamente a um certo público, Dirty Boots consegue não só através da letra como da imagem transmitir uma mensagem de solidão e necessidade extrema de pertença que acaba por resultar na procura e descoberta de uma própria "família" que não sendo imposta é aquela que aquele grupo de homens escolheu.
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5 / 10
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