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7 Pecados Rurais de Nicolau Breyner é a sua mais recente longa-metragem atrás das câmaras depois dos muito falados e muito fracos
Contrato (2009) e
A Teia de Gelo (2012).
Quando Quim Roscas (João Paulo Rodrigues) e Zé Estacionâncio (Pedro Alves) vão ao encontro de duas primas afastadas vindas de Lisboa para reviver o Verão louco de dois anos antes, sofrem um acidente fatal no qual esbarram a sua frágil mota num rebanho de ovelhas.
É quando chegam ao Céu que Deus (Nicolau Breyner) lhes oferece a redenção através de uma segunda oportunidade, e o regresso a Curral de Moinas, condicionada ao facto de durante vinte e quatro horas renunciarem à prática de qualquer um dos sete pecados mortais ou, caso contrário, a morte será uma certeza.
Ainda que um actor maioritariamente de um registo cómico que sempre apreciei, é sempre com alguma suspeita e reserva que vejo um cartaz que contém o nome de Nicolau Breyner enquanto realizador, especialmente por no seu curriculum se encontrarem dois filmes falhados como o são Contrato e A Teia de Gelo. No entanto, e sempre na esperança que não se desça mais baixo do que aquilo que já foi muito mau e com uma igual dose dessa mesma esperança de que agora seja melhor, que me propus a uma aventura de hora e meia onde as "gargalhadas" eram uma promessa. Não poderia estar mais enganado... Primeiro porque estas não existiram e em segundo lugar por sim... é verdade... é possível descer ainda mais baixo e este 7 Pecados Rurais é disso uma prova viva que espero seja enterrada rapidamente.
Não há sítio melhor por onde começar do que o próprio início por isso... cá vou... Vamos em conjunto imaginar que o cio que afectava as duas personagens principais lhes tolhia a visão e que os ditos não reparavam num enorme rebanho de ovelhas no meio da estrada... Vamos até considerar que eles até encontravam a morte depois deste enorme "acidente"... Será o público assim tão pouco inteligente ao ponto de considerar que não se encontrava ninguém naquele local com as ovelhas e que estas desapareciam assim tão rapidamente quando eles "regressavam" à vida?!
Continuando... percebo uma certa tendência para um actor com o estatuto que tem Nicolau Breyner querer interpretar personagens que não sendo principais têm, no entanto, um certo carisma e relevância para a história em que participam. Como tal... será assim tão necessário nos seus discursos colocar eco para demonstrar uma maior imponência da mesma? É que enquanto espectador, não só se torna absurdo pois parece que o espectador tomou um banho de "ácidos" antes de ir ver este filme como também dificulta um pouco tentar perceber os diálogos quando os próprios são abafados pela dicção daquele que os profere. Desnecessário a roçar o absurdo, se alguém achou que a personagem de "Deus" saía beneficiada com este "efeito especial" não só se enganou como prejudicou um filme que já dava todos e mais alguns indícios de ser não mau... mas péssimo. E nem vou entrar naquela onda de falar sobre o interessante guarda-roupa de "Deus" a desfilar de toga...
Mas o mal não termina por aqui (a esta altura do campeonato... quem me dera)... Num plano em que "Zé" e "Quim" falam com "Deus" e tentam sair daquele espaço, incrédulos com a situação em que se encontram, os mesmos caminham numa sobreposição de planos (sai pela direita e entra pela esquerda) mas, no entanto, apesar do posicionamento dos actores ser diferente... as suas sombras encontram-se exactamente nos mesmos locais em que estavam antes. Se queremos efeitos especiais, ou algo que a isso se assemelhe, é preciso cuidado com aquilo a que se propõem.
É no decorrer desta conversa que acontecem ainda mais alguns dos momentos "sórdidos" deste filme onde ficamos a saber que afinal "Deus" se ginastica com um personal trainer e que até dá uma "perninha" na central telefónica quando necessário (por deus...), e nos quais sabemos que a dupla protagonista tem de sobreviver à provação das suas vidas ao não cometer nenhum dos sete pecados mortais (a saber... Ira, Luxúria, Soberba, Gula, Inveja, Avareza e Preguiça) mas atenção... sobreviver durante uma festa tradicional de Curral das Moinas que é como quem diz... sobreviver a todos estes pecados num meio muito peculiar onde a perdição parece estar mais à porta do que na 24 de Julho, em Lisboa pois ao fim de dez minutos já estão ambos a ser tentados no domínio da Luxúria...
As personagens, qual desfile de circo dos horrores para o qual o mais preparado dos espectadores treme quando com elas se cruza, são do mais básico e linear possível. Sem conteúdo e sem bases para ter uma história que as caracterize ou lhes dê personalidade (cruzes credo), desfilam como se se preparassem para caminhar rumo a um matadouro... Desde o "Eng. Castro Laboreiro", que é como quem diz o vigaro local, interpretado por José Raposo, passando pelas primas "Raquel" (Alda Gomes) e "Patrícia" (Melânia Gomes) cujo único objectivo é ajudar os protagonistas a cumprir o primeiro e já referido pecado, e isto sem esquecer os momentos assumidamente pimbalhocos aqui a cargo de Quim Barreiros e Paulo Futre (sim, o próprio) a interpretarem-se a si próprios.
É no exacto momento em que o filme bateu no fundo, literalmente falando, que uma inspirada Patrícia Tavares dá cor a uma "Célia Careca", possivelmente a única personagem com alguma graça pela sua simplicidade e alegria mas que, infelizmente, não só tem pouco tempo de antena como uma péssima caracterização que nos obriga a tentar perceber como foi feita do que propriamente a atentar na sua personagem.
Um pequeno destaque para a "Canção da Burra", de Sebastião Antunes que tão bem transposta para este filme a essência da ruralidade e da canção típica mas com toques de modernidade e que poderia ter sido muito melhor aproveitada por este filme mas que, infelizmente, não consegue safá-lo sob nenhuma perspectiva limitando-se a ser uma "boa ideia".
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No final de tudo isto o que temos? Pouco... muito pouco. Temos um argumento de Henrique Cardoso Dias e Frederico Pombares (inacreditável como este último se encontra por detrás do argumento de O Último a Sair), que reune segmentos maus de um episódio péssimo d'Os Malucos do Riso, Os Batanetes e O Prédio do Vasco (todos ao molho), os quais tentam recriar algum humor (sem graça) e que fazem nascer um conjunto de personagens ultra-estereótipadas sem conteúdo que parecem ter saído de uma qualquer jaula de um qualquer circo de horrores onde tinham sido escondidas dos olhares do público durante muitos e largos anos depois de um conjunto de experiências que, obviamente, correram mal.
Temos, no entanto, a certeza que Nicolau Breyner tentou recuperar o sucesso de "Quim" e "Zé" do Telerural e a onda de sucesso de um programa televisivo em que João Paulo Rodrigues havia participado meses antes para poder fazer o tal "sucesso cinematográfico" de final de ano que para além do muito dinheiro que tenha feito em bilheteira, jamais irá ficar na memória de alguém enquanto um bom exemplo do cinema português. Pelo contrário... para aqueles que estejam um pouco mais atentos 7 Pecados Rurais apenas funcionará como mais um exemplo daquilo que não deve ser feito... afinal, parece que temos um destes todos os anos, e Nicolau Breyner já conta com três no seu bolso.
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