quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Follow Me Down (2010)

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Follow Me Down de Lee Whittle é uma interessante curta-metragem norte-americana com um argumento e uma premissa que nos deixa presos ao ecrã do princípio ao fim.
Ao acordar de um terrível pesadelo, Johnny (Eddie Mahalick) descobre que toda a vida humana à sua volta morreu. Desde conhecidos, vizinhos e até mesmo a mulher que ama morreram estranhamento. Não existem sinais de violência ou nenhum conflito... os seus corpos repousam no chão como se tivessem adormecido sem nunca mais acordar.
No entanto alguns desses corpos parecem mostrar sinais que parecem esconder sinais de uma estranha forma de vida para a qual ninguém está preparado... muito menos Johnny.
Esta curta-metragem consegue cativar-nos. Desde o início em que vemos aquelas tão estranhas mortes que queremos perceber o que se esconde por detrás delas e independentemente de alguma mais fraca qualidade no que diz respeito à fotografia e ao contraste entre luzes e sombras, este é um trabalho que facilmente conquista a nossa atenção.
A concretização dos dois mundos; o racional onde nos encontramos e o ficcionado onde Johnny revela viver a maior parte do tempo, está muito bem efectuada. Durante a maior parte desta curta pensamos de facto que algo de muito grave e traumatizante ocorreu algures no mundo que afectou toda a vida humana, no entanto a maior surpresa estava para ser revelada nos instantes finais.
E é nestes momento final que pensamos, e secretamente todos nós sabemos, que escondemos um estranho demónio que está a qualquer momentos prestes a mostrar a sua verdadeira essência. Uns conseguem dominá-lo... Outros não lhe resistem e expõem-no para a concretização dos seus mais maléficos e hediondos desejos.
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7 / 10
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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Economicamente Gay (2011)

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Economicamente Gay de Adriano Alves é uma curta-metragem documental brasileira feita no âmbito do programa Periferia em Movimento no qual são abordadas as zonas urbanísticas satélite das grandes metrópoles brasileiras e a sua vasta massa populacional que as compõem.
Se por um lado a temática deste documentário onde analisa a sua população homossexual desde a aceitação, a condição social, o poder económico e o seu comportamento para com a sociedade e aquilo que dela recebe em concreto, podendo assim ser interessante ao permitir uma melhor compreensão sobre como está caracterizada uma cidade sob a perspectiva de um grupo dos seus habitantes, também não deixa de ser verdade que mais uma vez, e à semelhança de outros trabalhos do género, apenas nos é transmitida na sua maioria uma quantidade de clichés que outros tantos trabalhos ficcionados já nos transmitiram.
As ideias existem, os objectivos também mas acabam por falhar na sua concretização e pela falta de objectividade (passo a redundância), com que os problemas são abordados ou explanados para o público que pretende assistir a este documentário.
Pode acabar por funcionar como um ponto de partida sobre esta temática, e que pode inclusivé ser aplicada a tantos outros grupos populacionais que compõem uma cidade mas precisa de ser profundamente explorado para não cair em lugares comuns que, na prática, pouco vão enriquecer o conhecimento sobre os espaços em que habitamos.
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4 / 10
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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Caminhos do Cinema Português 2012: selecção oficial

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Longas-metragens
Aristides de Sousa Mendes – O Cônsul de Bordéus | João Correa e Francisco Manso
A Moral Conjugal | Artur Serra Araújo
Assim, Assim | Sérgio Graciano
A Rapariga da Máquina de Filmar | André Vieira
A Vingança de uma Mulher | Rita Azevedo Gomes
A Teia de Gelo | Nicolau Breyner
Balas e Bolinhos – O Último Capítulo | Luís Ismael
Em Segunda Mão | Catarina Ruivo
Em Câmara Lenta | Fernando Lopes
Florbela | Vicente Alves do Ó
Morangos com Açúcar – O Filme | Hugo de Sousa
O Gebo e a Sombra | Manoel de Oliveira
O Que Há de Novo no Amor? | Rui Alexandre Santos, Mónica Santana Baptista, Hugo Martins, Hugo Alves, Patrícia Raposo, Tiago Nunes
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Curtas-metragens
4M | Nelson de Castro e Wilson Pereira
A Bruxa de Arroios | Manuel Pureza
A Casa Azul | Cláudia Clemente
A Cidade e o Sol | Leonor Noivo
Barba | Paulo Abreu
Cerro Negro | João Salaviza
Crónica Parisiense | Luís Miguel Correia
Do Not Stop | Bruno Carnide
El Despertar de Jaume | João Filipe Silva
Guardar Silêncio | Pedro Palma
Libhaketi | Ico Costa
Luz da Manhã | Cláudia Varejão
Não há Rosas sem Espinhos | Fernando Matos Silva
O Dia Mais Feliz da Tua Vida | Adriano Luz
O Nylon da Minha Aldeia | Possidónio Cachapa
O Reino | Paulo Castilho
O Que Arde Cura | João Rui Guerra da Mata
Playday | Victor Santos
Poesia de Segunda Categoria | Luís Santo Vaz
Posfácio nas Confecções Canhão | António Ferreira
Super Vodka | Leandro Silva
Sob | Nuno Prudêncio
Rafa | João Salaviza
Vazante | Pedro Flores
Zoo | Margarida Leitão
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Documentários
A Luz da Terra Antiga | Luís Oliveira Santos
A Nossa Forma de Vida | Pedro Filipe Marques
A Rua da Estrada | Graça Castanheira
A Última Vez que Vi Macau | João Rui Guerra da Mata e João Pedro Rodrigues
Bafatá FilmeClube | Silas Tiny
Complexo – Universo Paralelo | Mário Patrocínio
Johnson | Nuno Cibrão
Mazagão, a Água que Volta | Ricardo Leite
Nós na Rua | Luís Margalhau
Obrigação | João Canijo
Orquestra Geração | Filipa Reis e João Miller Guerra
Ó Marquês Anda Cá Abaixo Outra Vez! | João Viana
Pt.es | Pedro Sena Nunes
Tachos, Panelas e Outras Soluções | Miguel Marques
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Animações
A Can of Worms | Vitor Lopes
A Nau Caxineta | (Cord) Vasco Sá e David Doutel
Cavalinho, o Mundo Mágico | Cláudio Sá
Do Céu e da Terra | Isabel Aboim Inglez
My Music | Tiago Albuquerque e João Brás
Fado na Noite | Fernando Relvas e Humberto Santana
Fado do Homem Crescido | Pedro Brito
Kali, o Pequeno Vampiro | Regina Pessoa
Outro Homem Qualquer | Luís Soares
O Refugiado | Rui Cardoso
O Cágado | Luís da Matta Almeida e Pedro Lino
O Gigante | Júlio Vanzeler e Luís da Matta Almeida
O Dilúvio | André Ruivo
Sem Querer | João Fazenda
Lágrimas de um Palhaço | Cláudio Sá
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Cine Fiesta 2012 - 21 a 25 de Novembro

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A Mostra de Cinema Espanhol decorre pelo quinto ano em Lisboa entre os dias 21 e 25 de Novembro passando depois para a cidade do Porto.
Na Cine Fiesta será exibida uma mostra de cinema documental a decorrer na Cinemateca de Lisboa bem como alguns dos maiores sucessos do cinema espanhol como El Sexo de los Ángeles de Xavier Villaverde, Tengo Ganas de Ti de Fernando González Molina, Fin de Jorge Torregrossa ou Grupo 7 de Alberto Rodríguez, bem como alguns dos filmes nomeados e vencedores dos Goya da última edição como Mientras Duermes de Jaume Balagueró, La Chispa de la Vida de Álex de la Iglesia, Arrugas de Ignacio Ferreras e También la Lluvia de Icíar Bollaín ou o filme seleccionado para Filme Estrangeiros nos Oscars e que se antevê como um dos grandes vencedores da próxima cerimónia dos Goya, Blancanieves de Pablo Berger com a participação de Maribel Verdu numa das principais interpretações.
Uma interessante selecção de cinema espanhol do último ano que não deve ser perdido a decorrer em dois duas das mais emblemáticas salas de cinema da capital no Cinema São Jorge e na Cinemateca de Lisboa.
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No Soy Como Tú (2012)

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No Soy Como Tú de Fernando Figueiras é uma curta-metragem espanhola que nos dá a conhecer dois homens. Percebemos pelos seus comportamentos que a relação que ambos têm não é só de amizade como é principalmente sexual.
Enquanto um vive um verdadeiro drama em que os seus sentimentos e sexualidade se encontram num perfeito conflito, o outro é claramente esclarecido ao demonstrar que apenas pretende alguns encontros sexuais ocasionais.
O que é claro é que nenhuma relação se mantém tal como se inicia. Podem durar anos, meses, semanas ou apenas dias ou horas (neste caso um dia dentro de uma vivenda enquanto aguardam pela resolução de um acidente que ali os "fechou"), mas o que é certo é que as vidas de cada um estão em constantes transformações que não só definem cada indivíduo como são também elas definidas pelos momentos ou situações pelas quais atravessam.
Se a história desta curta-metragem poderia ser interessante e com algum potencial para mostrar a dualidade de sentimentos, e de comportamentos, pela qual as pessoas podem passar, também não deixa de ser verdade que não se desenvolve o suficiente para ser coerente com aquilo que pretende. Nem tão pouco vai além daquilo que este tipo de filmes já nos mostrou vezes e vezes sem conta limitando-se apenas ao conjunto habitual de clichés que poderiam ter potencial se melhor explorados mas que assim apenas resultam para o pensamento de "mais uma curta".
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4 / 10
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domingo, 28 de outubro de 2012

Hair (2012)

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Hair de João Seiça é uma curta-metragem que reflecte sobre a ditadura dos padrões da beleza ditada como a "correcta".
Se esta curta até toca em certos aspectos que qualquer pessoa pode facilmente concordar como agadáveis para o olhar alheio, também é certo que nos deixa a pensar sobre essa mesma ditadura e os exageros a que pode ser levada em nome do um ideal instalado como sendo o "certo", ao ponto de serem cometidos certos sacrifícios fisícos que em nada abonam para o bem-estar de quem os pratica.
Ainda assim, e dito isto, é um trabalho que me dá vontade de ter um pouco mais e que a acção da mesma pudesse ter sido levado um pouco mais (apenas um pouco) mais longe.
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3 / 10
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sábado, 27 de outubro de 2012

Meio Metro de Pedra (2011)

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Meio Metro de Pedra de Eduardo Morais é um interessante documentário português sobre a contracultura do rock'n'roll nacional cujos primeiros "passos" foram dados ainda na década de 60 do século passado.
Através dos testemunhos de muitos daqueles que foram os intervenientes directos do género ao longo das décadas passadas, algo que me deixou francamente admirado com este documentário, foi perceber que este surgiu em algumas das mais conservadoras localidades do país (para a época), como é o caso de Sintra e de Braga.
Interessante do ponto de vista histórico, principalmente por ser uma temática ainda muito por explorar (que tenha conhecimento) e, como tal, pela informação que fornece, bem como pelo actual destaque ao género cultural que, como tantos outros em Portugal, cada vez mais carece de apoios e divulgação.
Para os apaixonados do género musical em questão (e não só) este documentário é uma obra que não deve passar sem ser notada e como tal, aqui fica disponibilizada na íntegra.
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"Henrique Amado: Em Portugal aproveitam-se dos artistas mas ninguém quer ser cúmplice do seu crescimento."
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7 / 10
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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Like Father, Like Daughter (2012)

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Like Father, Like Daughter de Dan Fry é uma curta-metragem de origem anglo-australiana que nos conta os pensamentos de um pai (Dan Fry) que vai conhecer a sua filha (Cara-Lee Wiese) pela primeira vez já tendo esta dezasseis anos de idade.
No entanto à pressão deste primeiro contacto juntam-se também os seus segredos que o levaram ao afastamento da família bem como um segredo que a filha também guarda e que os unirá de uma estranha forma.
O potencial desta curta-metragem é evidente pois dentro de um argumento pouco explorado e filmado, a trama é, claramente, o seu ponto forte e que poderia ter transformado este trabalho numa intensa história dramática e com uns leves toques de mistério que o adensariam através dos pensamentos da personagem principal que são uma presença constante do início ao fim. No entanto, a preocupação em os filmar convenientemente torna-se dispersa nunca centrando a atenção em nenhum deles e apenas dando leves indícios sobre o que serão os segredos que cada um esconde, uns mais outros menos óbvios.
Interessante do ponto de vista da sua premissa mas pobre na sua concretização final bem como nas interpretações que nunca chegam a entregar o potencial que as suas personagens "escondem".
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3 / 10
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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Help Me (2011)

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Help Me de Ludovic Baron é uma curta-metragem francesa de suspense e algum terror que se aproxima bastante de um gore não sendo, no entanto, totalmente confirmado devido a uma leve abordagem a esta corrente.
Quando um grupo de jovens se reune num bar para aproveitar a noite entre amigos e muito alcoól, duas jovens estavam longe de imaginar o destino que iriam ter de seguida. Dois dos organizadores da festa depois de terem drogado as bebidas tinham planos muito próprios para dar àquela trágica noite. Não só as suas intenções iniciais eram más como os resultados finais estavam longe de serem os esperados... para pior.
Esta curta-metragem não só tem um interessante e claustrofóbico ambiente como muito rapidamente percebemos que aquela noite retratada não vai terminar bem. Existe um conjunto de elementos que nos faz adivinhar que muito rapidamente algo está prestes a explodir... só não sabemos bem quando e através de quem. O desfecho é surpreendente e se por um lado esperamos, e sabemos, que todos os comportamentos estão longe de serem aceitáveis, o que é certo é que a maior tragédia chega de onde menos esperamos... e é forte.
Excelente e bem ritmada, esta curta é uma clara vencedora e pela qual facilmente conseguimos empatizar. Não pela sua trágica história mas sim pela qualidade do trabalho em si que apresenta uma fluência muito consistente e termina não da melhor forma para as suas personagens mas sim como tem de terminar para se apresentar como um bom trabalho do género... com muito sangue.
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8 / 10
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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Breath (2010)

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Breath de Michael Johnson é uma curta-metragem cuja acção decorre num mundo devastado. As ruas estão desertas, as pessoas não se vêem, o ar é pesado ao ponto de ser irrespirável e as cores desapareceram por detrás de um névoa que esconde a aparente morte de toda a vida.
Na vã esperança de encontrar um porto seguro através das suas incursões pelas ruas deparamos com um indivíduo cujo rosto nunca vemos por estar protegido por uma máscara que lhe permite salvaguardar-se de um ar mortal. No entanto os perigos estão sempre presentes quando todas as infraestruturas, por falta de manutenção, começam a ruir...
Apesar da temática ser já um pouco revisitada pelas inúmeras curtas-metragens que proliferam que encontramos um pouco por toda a net, algumas conseguem ainda surpreender por pequenos (grandes) factores que apresentam ou até mesmo pela originalidade com que são tratadas. Esta é um desses exemplos.
Se da história já conhecemos todos um pouco, os detalhes com que ela é feita conseguem surpreender, nomeadamente se analisarmos a própria filmagem desta curta quando é destacado o principal interveniente ao mesmo tempo que toda a imagem circundante se encontra turva. Este pequeno detalhes dá-nos a conhecer o quão irrespirável é o ar daqueles "tempos" e a urgente necessidade tanto de se proteger como de encontrar um local onde possa finalmente respirar em segurança.
Finalmente outro aspecto interessante é todo o tratamento final da história que cada um de nós espera que termine com aqueles momentos positivos, dentro do possível, onde a cor e a vida parecem finalmente estar de volta naquele que é talvez o último reduto da paraíso mas que, afinal, mostram que este paraíso é outro desfazendo assim as nossas próprias esperanças.
Interessante, bem filmada e com uma história repleta de pequenos e inovadores detalhes que conseguem distanciar esta curta de outras não tão bem conseguidas ou pensadas.
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7 / 10
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Anita Björk

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1923 - 2012
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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Mathéo (2009)

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Mathéo de Valentin Mahé é uma curta-metragem francesa que já resultou em alguma polémica quando uma marca de fast-food quase a copia na íntegra para publicitar a sua própria marca.
Polémicas àparte, esta curta-metragem reflecte sobre o assumir da sexualidade de um jovem adolescente que encontra num seu colega de escola o objecto da sua paixão que desconhece ser ou não retribuída.
Sem grande novidade àparte da polémica que dinamizou este trabalho a ter uma relevância para além daquela que normalmente teria, este trabalho é mais um que se insere numa muito específica temática e que nem trabalha as suas personagens para além do esperado, limitando o seu argumento a um conjunto de clichés mais absurdos do que a própria vulgaridade da linha que tenta segurar esta história.
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2 / 10
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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Nuestro Propio Cielo (2011)

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Nuestro Propio Cielo de Roberto Pérez Toledo que também assina o argumento, é uma curta-metragem espanhola que nos fala sobre o amor, ou melhor, a sua ausência que dá lugar à traição.
Ele (Alejandro Albarracín) tem o braço ligado... Ela (Sofía Valero) é a sua namorada e faz-lhe companhia. Ao olhar para as ligaduras vê um número de telefone e um nome.. Quem é Mara?
Sem nunca admitir nada Ele permanece calado, até que Ela lhe escreve uma mensagem junta ao telefone de Mara...
Curta simpática e com duas consistentes interpretações, das quais até não nos importaríamos de ter mais, que é bem desenvolvida com diálogos sentidos e uma mensagem bem transmitida. Simples e eficaz cuja temática apesar de já abordada em elaborados filmes consegue ser transmitida sem ser aborrecida.
Vale a pena ver.
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7 / 10
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domingo, 21 de outubro de 2012

Do Not Stop (2011)

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Do Not Stop de Bruno Carnide é uma curtíssima curta-metragem que em tom de comédia dá uma certa ambiguidade ao seu próprio título... Não Páres...
Pelo meio de uma serra um rapaz passeia de carro... até que uma inesperada travagem revela, ou deixa-nos imaginar, o que realmente se passa dentro daquela viatura.
Torna-se impossível não sorrirmos no final pois julgo que nenhum de nós espera o inesperado (passo a redundância) final e como menos positivo apenas aponto a duração desta curta que vence pelo desfecho em registo cómico e que nos dá vontade de ter um pouco mais pois o seu potencial poderia ter atingido... um clímax.
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6 / 10
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sábado, 20 de outubro de 2012

The End (2010)

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O Fim de Rowan Strang é uma curta-metragem neo-zelandesa cuja história se centra num mundo onde tanto a vida humana como vegetal se encontra num completo estado de decadência. Onde as poucas pessoas que existem estão a morrer e a vida vegetal que a poderia alimentar escasseia e insiste em não se desenvolver ou crescer, o mundo aparenta estar a dar os últimos sinais de vida e resistência.
Misteriosamente, e por entre recordações de um passado corrompido pelo poder económico que originou o caos, um dos últimos sobreviventes humanos consegue encontrar uma planta que indicia que o planeta está finalmente a regenerar-se. Mas, para que esta recuperação seja definitiva, ela terá de sacrificar algo que para ele pode já ter pouco significado, mas que para o que resta da Humanidade poderá ser um bem maior.
Com uma mensagem ecológica actual e uma económica bem presente nos dias que atravessamos, esta curta-metragem consegue trazer um fôlego novo para o género em que se insere através do seu original e bem pensado final que impressiona pelo altruísmo.
Esta curta contém ainda alguns planos bem interessantes, quase líricos, como o momento em que este homem idoso atravessa uma praia deserta onde se vê a profundidade de um mar imenso mas que graças a uma fotografia que não permite grande cor, numa alusão à falta de vida que se faz sentir, torna o ambiente pesado e sombrio.
Este é assim um interessante trabalho que, mesmo não sendo completamente original, não deixa de ser competente e bem elaborado.
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7 / 10
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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Diary of a Lonely Man (2010)

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Diary of a Lonely Man de Christopher Wright é uma curta-metragem pós-apocalíptica que poderia ter ido muito mais longe apesar de se tratar de um projecto universitário.
A premissa, tal como indica o seu título, de que um homem fica só num mundo onde todos misteriosamente desapareceram, não se chega a cumprir se considerarmos que tudo em seu redor não aparenta qualquer tipo de holocausto nuclear ou epidémico que desse origem ao desaparecimento de todos os habitantes do planeta. Eles simplesmente desapareceram e ao longo de toda a curta nada é explicado ou é sequer dado um indício do que se terá sucedido.
Assim, e à excepção de alguns planos da cidade onde outrora essa mesma imensa população encheu as ruas nas suas habituais rotinas bem como a tentativa de um homem que se encontra só a tentar (sobre)viver no aparente "nada", esta curta não nos entrega nada de novo e com o qual poderíamos pensar que existe algum tipo de mensagem ou de moral sobre o que será o futuro (a existir) deste homem.
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2 / 10
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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sylvia Kristel

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1952 - 2012
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Asfixia (2011)

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Asfixia de Jorge Yacoman é uma curta-metragem universitária chilena que nos revela uma noite de saída entre amigos que não termina bem.
Depois de se divertirem durante toda a noite numa discoteca para celebrarem as boas notícias que um deles tem, um grupo de amigos já bastante embriagado decide caminhar um pouco antes de regressarem a casa. Adormecem debaixo de uma árvore, apenas para acordarem e constatarem uma dura e triste realidade...
Se inicialmente esta curta-metragem até promete um desenvolvimento potencialmente interessante, também é certo que todo o segmento que nos transporta para a memória de um deles torna-se (naquele instante) desapropriado.
E desapropriado é também todo o segmento na discoteca que acaba por não avançar nada em relação ao final desta curta que, esse sim, nos pode fazer pensar sobre algum tipo de irresponsabilidade que termina com péssimas consequências. No entanto, numa última análise, o potencial desta curta nunca chega a ser devidamente aproveitado limitando-se a depositar a sua concentração em momentos que não só não têm importância como poderiam ter sido abordados (se necessários) em meros segundos de duração não lhes depositando assim a importância que acabam por ter.
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4 / 10
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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Kôji Wakamatsu

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1936 - 2012
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El Reloj (2008)

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O Relógio de Marco Berger é uma curta-metragem argentina que nos conta a história de Pablo que depois da sua habitual prática de desporto oferece a Javier boleia para sua casa onde sentimentos reprimidos serão finalmente despoletados.
Se inicialmente percebemos que a empatia entre estas duas personagens existe realmente, não deixa também de ser verdade que ela é camuflada com intenções que são, para ambos, ocultas. O desejo sentido tanto por Pablo como por Javier é mútuo e evidente para o espectador mas nunca concretizado ou assumido entre ambos, mantendo-se assim desconhecido e por concretizar aumentando a incerteza sobre o que poderia ter sido.
Os desencontros de olhares, de gestos ou de pequenos momentos de desejo não concretizado apenas culminam com um final onde se deseja que o tempo páre com um simbólico quebrar de um relógio.
Interessante e um bom exemplar sobre o desejo não concretizado e reprimido, esta curta-metragem foge ao habitual das curtas temáticas do género e consegue assim ser um filme que é sobre o desejo homossexual mas que poderia ser sobre qualquer outra temática mantendo sempre viva a mesma premissa do "e se...?", mantendo também fora o cliché da auto-descoberta e aceitação tão típica destes filmes.
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6 / 10
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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Princesa (2012)

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Princesa de Fábio Gonçalves, que também assina o argumento, é uma simpática e muito interessante curta-metragem que começa com um homem que foge (aparentemente) das autoridades após o que pensamos ser mais um dos seus actos criminosos.
Mas nem tudo o que aparenta... é.
Além da execução deste trabalho estar simples e muito eficaz pois consegue transmitir a sua mensagem através de um pequeno "twist" final que não esperavamos, é agradável perceber que as grandes histórias são também por vezes contadas num formato temportal mais reduzido como aqui temos.
A junção de dois temas aparentemente tão distantes como a acção e o drama resultam aqui na perfeição. Nos primeiros instantes desta curta-metragem somos levados a pensar que aquele homem não passa de um qualquer fora-da-lei que acabou de realizar o seu mais recente esquema. No entanto, com o avançar da acção percebemos que afinal os seus propósitos são bem mais dignos do que aqueles que inicialmente somos levados a pensar, naquilo que resulta num simpático e comovente final que acaba por fazer valer toda a curta que, já por si, se revelou desde o início bastante interessante.
Do realizador apenas posso avançar que tem mostrado um constante nível qualitativo nos seus trabalhos que parecem amadurecer saudavelmente à medida que o tempo passa, e do qual apenas podemos esperar (pelo que aqui temos recebido) mais e cada vez mais consistentes trabalhos.
Se há curtas que devem ser "coroadas", esta Princesa já tem com toda a certeza o seu lugar no trono.
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7 / 10
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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

De Rouille et d'Os (2012)

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Ferrugem e Osso de Jacques Audiard tornou-se no filme que mais desejei ver este ano e que tive oportunidade graças ao magnífico evento que foi a Festa do Cinema Francês de Lisboa que teve uma bem forte selecção de filmes que na sua maioria refletem um tempo e uma sociedade.
Ali (Matthias Schoenaerts) ficou recentemente encarregado de cuidar do seu filho. Sem qualquer tipo de responsabilidades, desempregado e emocionalmente liberto de qualquer relação com os outros, deixa a sua Bélgica natal rumo a França onde vive a sua irmã com quem não tem qualquer contacto há largos anos e esperar por um início de relação e constituição de família.
Stéphanie (Marion Cotillard) é treinadora de orcas num parque temático. Um espírito livre que se encontra presa numa relação onde parece estar controlada e que não a satisfaz conhece Ali. Quando sofre um acidente de trabalho que a deixa sem pernas, Stéphanie reencontra Ali com quem inicia aquela que inicialmente é uma relação de amizade mas que rapidamente se transforma em física e sexual.
A filmografia de Jacques Audiard é exemplar em dar um retrato de um conjunto de pessoas que, de uma ou outra forma, se encontram à margem da sociedade. Podemos constatá-lo em Nos Meus Lábios, De Tanto Bater o Meu Coração Parou ou em O Profeta independentemente da forma como se manifestam cada uma das personagens nas suas respectivas histórias. Quer seja por serem inadaptados à própria sociedade, marginais às suas leis, aos seus costumes ou até mesmo por serem caracterizados por um desconforto em relação ao afecto e à convivência com o mundo que os rodeia. Aqui voltamos a encontrar este desconforto que começa por ser em relação às demais pessoas mas que cedo se manifesta como uma quase repulsa pela sociedade na qual Stéphanie e Ali vivem.
O brilhante argumento elaborado por Audiard em parceria com Thomas Bidegain não poderia ser mais actual. Não só pela sua abordagem dada àqueles que vivem à margem da sociedade como também pela própria decadência em que esta se encontra. A crise e as suas consequências que passam pelo desemprego, a fome ou a perseguição patronal e os despedimentos colectivos que, de certa forma, acabam por contribuir para a manutenção de uma sociedade com as suas margens sempre explosivas e que separa o "eu" dos "outros". Aliás, uma recorrente mensagem que esta Festa do Cinema Francês trouxe em vários dos magníficos filmes que foram apresentados.
A composição das personagens não poderia ter sido melhor. Comecemos pela dupla de actores que não só dão alma às suas personagens como já é claro que são fortes talentos do cinema Europeu e mundial. Marion Cotillard é "Stéphanie", uma mulher forte e aparentemente independente que, por um trágico acaso do destino, se vê amputada das suas pernas. Seria de esperar que esta mulher se tornasse dependente dos outros e resistente à mudança que tragicamente se apoderou da sua vida, no entanto, aquilo que temos é uma mulher consciente da sua situação mas indiferente às aparentes limitações que esta lhe poderia colocar. É uma mulher que comunica, que expresa verbalmente a condição em que se encontra e que se faz dessa forma notar perante um mundo que facilmente a colocaria de lado. Cotillard tem assim uma forte interpretação que fez furor em Cannes tendo chegado a ser mencionada como a preferida para o prémio de interpretação e que já dá que falar para uma segunda nomeação ao Oscar (que infelizmente duvido que se concretize na segunda estatueta), e será uma clara vencedora do Cesar pela Academia Francesa.
E se Cotillard é o espírito, as palavras e a comunicabilidade, temos a seu lado um Matthias Schoenaerts que depois de Cabeça de Boi, se assume como um dos mais fortes talentos do momento. O seu "Ali" é um homem que se relaciona com o mundo através do seu corpo e de uma aparência rude e bruta. Schoenaerts compõe uma personagem habituada a trabalhos onde a força física é determinante e cuja relação que estabelece com o mundo seja apenas e só através dela, favorecendo assim uma incomunicabilidade verbal com um mundo no qual não se insere. A relação com os outros, mesmo os que mais perto se encontram, é quase nula. Com a irmã com quem há anos não falava, com um filho que quase encara como um irmão mais novo, com os ocasionais colegas de trabalho que nem encara ou com as mulheres que cruzam a sua vida apenas para esporádicos encontros sexuais, ou mesmo através dos combates de boxe ilegal que organiza e que se assumem como a única forma que ele encontra de se enquadrar num mundo que voluntariamente ignora. Todas estas estranhas e ocasionais relações que estabelece são formadas, de uma ou outra forma, através da violência seja ela verbal, física ou simplesmente por ignorar quem se encontra do outro lado.
Se estas duas personagens não podem parecem mais diferentes, não deixa igualmente de ser verdade que elas conseguem ser o complemento uma da outra. Por um lado temos Stéphanie que se vê impedida no que a mobilidade física diz respeito, por outro temos Ali que está longe de ser perfeito no trato com os demais. Se Stéphanie é a alma, Ali é o corpo. Ambos precisam um do outro, pois cada um à sua maneira e devido à solidão em que se encontram, representam dois corpos que sofrem quer de uma dor física ou de uma dor  psicológica, e aceitam-se, um complementando o outro, numa relação errática que tem tanto de frágil como de hesitante, mas conscientes das necessidades de cada um.
E é esta mesma consciência que acaba por defini-los. Ambos sabem que não podem confiar na aparência um do outro. As pernas amputadas de Stéphanie não definem a sua vontade de viver e de sentir o mundo. Ela possui um fogo e uma vontade maiores do que a aparente limitação que o seu corpo apresenta pode definir. E o mesmo a respeito de Ali que dá uma imagem de ser rude e desinteressado pelos outros devido ao seu corpo possante mas que na eminência de perder o filho ou a estabilidade que Stéphanie lhe dá, mostra uma sensibilidade interior que há muito se encontrava reprimida. É esta estabilidade que representam um para o outro que lhes dá uma força de renascer, de enfrentar as suas limitações e de continuar, características com as quais nos poderemos facilmente identificar.
Tecnicamente este filme é igualmente uma pérola. A beleza crua das imagens consegue recriar um ambiente natural, livre de artifícios e de embelezamentos quase irreais e por outro lado, dar um ar poético a determinados momentos que de tão sensíveis se tornam emocionantes nomeadamente as três fases de Stéphanie... a inicial onde exerce a sua "dança" com as orcas antes de sofrer o seu acidente, a segunda quando na sua casa recria esses mesmos movimentos e finalmente a terceira e última quando já com as suas novas pernas se dirige ao tanque onde sofreu o acidente e abraça a sua nova situação chamamdo para perto de si a orca que lhe "deu" a sua nova condição física.
Igualmente brilhante é a banda-sonora de Alexandre Desplat que em nada me surpreenderia que obtivesse uma nomeação para o Oscar, e que transforma todos os momentos mais íntimos em verdadeiras imagens de uma sensibilidade que poucos ousam admitir. Simplesmente emotiva e mais um dos fortes elementos deste filme.
Independentemente dos prémios, que já afirmei noutros comentários não definirem a grandeza de um filme (mas pelos quais anseio que cheguem rapidamente), mas este será provavelmente um dos filmes desta época, não só pela sensibilidade das interpretações dos seus brilhantes actores como pela actualidade dos seus temas que abrangem não só a condição do ser humano como as suas limitações e o mundo ou sociedade em que se encontra como também a capacidade que tem de as ultrapassar e adaptar-se a um novo mundo ou a uma nova condição.
Forte e poético. Duro e corrosivo. Sensível e emotivo sem que estas duas características façam dele, ou das suas personagens, menos fortes, este é um dos filmes do ano e que encerrou brilhantemente em Lisboa, a Festa do Cinema Francês.
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Festa do Cinema Francês: Prémio do Público 2012

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Paulette, de Jérôme Enrico com a interpretação principal de Bernadette Lafont e que teve na edição deste ano da Festa do Cinema Francês a sua antestreia mundial, foi o filme vencedor do Prémio do Público, no valor de 2500€.
A história deste filme gira em torno de Paulette, uma mulher solitária que vive num bairro social com os seus parcos recursos até ao dia em que descobre que no seu prédio circulam estranhos negócios, e se torna ela própria vendedora de haxixe, recorrendo para isso aos seus dotes de pasteleira.
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domingo, 14 de outubro de 2012

Poulet aux Prunes (2011)

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Galinha com Ameixas de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud e anteriormente nomeado ao Leão de Ouro em Veneza, foi o mais recente filme que vi na Festa do Cinema Francês no Cinema São Jorge em Lisboa e, até ao momento, um dos mais emotivos e emocionantes.
Nasser-Ali Khan (Mathieu Amalric) é um mediano violinista a quem o seu mestre alerta da necessidade que tem em encontrar a sua "alma". E essa alma irá surgir quando conhece Irâne (Golshifteh Farahani), a filha de um abastado relojoeiro por quem Nasser se apaixona, e à custa de quem a sua música começa a fluir harmoniosamente para preencher os corações de quem o escuta. Mas nem tudo seria perfeito e o amor entre ambos seria repudiado pelo pai de Irâne que a prometera em casamento a um oficial do exército, provocando assim uma separação entre estas duas almas bem como ao consequente casamento de Nasser com Faringuisse (Maria de Medeiros), com quem constitui uma família sem amor ou dedicação, tendo apenas um propósito na vida... a música que, através do violino oferecido pelo seu mentor, serviria como forma de expressar a sua paixão.
No entanto, enquanto a sua vida como músico florescia ao mesmo ritmo que a sua paixão por Irâne não esmorecia, a sua vida familiar e casamento com Faringuisse degradavam-se de dia para dia ao ponto desta última destruir o seu tão precioso violino. Este acto levaria Nasser a tentar diversas formas de suicídio (sem sucesso) e consequentemente ao seu isolamento no quarto enquanto espera a morte. É neste período de espera que em flashbacks ou momentos de delirio acompanhamos a sua viagem pelo mundo... De jovem a mais velho... de solteiro a casado mas sempre com um único amor na mente... Irâne.
Vários são os momentos ao longo deste filme que me conseguem fascinar. Se começar logo por falar na intepretação de Amalric a única palavra que tenho para a caracterizar é "extraordinária". O seu "Nasser" é o rosto perfeito de um homem desiludido e desencantado com a vida mas que, no entanto, consegue exprimir todas as emoções através da sua música. Se por um lado vive uma vida familiar cinzenta e seca onde não consegue demonstrar pela sua mulher a dedicação que esta lhe entregou toda a sua vida juntos ou mesmo encontrar nos seus filhos o fruto do seu amor (que na prática nunca o foram), tudo se deve ao simples facto de nada na sua vida ter resultado como ele esperava. Viveu uma grande paixão, e correspondida, mas que não se pode consumar e manter ao longo dos anos fazendo com que a sua "chama" nunca se completasse. Viveu assim uma vida opaca, sem sabor e sem qualquer grande emoção ou prazer, e mesmo estes só os expressava através da sua música pois era ali que, do início ao fim, fazia ecoar todos os seus sentimentos e emotividade apenas com uma pessoa no pensamento.
Pode, à partida, parecer uma interpretação apagada e não reflectir a verdadeira dor da perda e de um amor não consumado mas é exactamente por parecer muito "doce" que esta consegue espelhar a desilusão, o desespero silencioso e onde até a própria morte consegue tornar mais interessante, graças aos devaneios finais entre Nasser e Azrael.
A viagem de Nasser é acima de tudo um conto sobre o desespero e a desilusão. Sobre uma vida desfeita que se limita a passar pelo mundo e pelo tempo, sem objectivos, planos, ideias ou momentos positivos. A vida parou exactamente no dia em que perdeu a sua amada e com ela todo o sentido que poderia dar à sua própria existência, apenas apaguizada pelo que sentia poder transmitir através do seu violino e da sua inspirada música, que tanto tinha de arrojada como de sentimental e emotiva.
Música esta que não só dá uma cor especial ao filme como já referi, mas que também ela é assumidamente uma das "personagens" deste filme e que pelas mãos de Olivier Bernet, o seu autor, consegue quase contar a história de cada uma destas personagens amarguradas pelos seus próprios destinos sem que para isso fossem necessárias grandes palavras para o fazer. Ao assistir a este filme lembrei de imediato de um outro título brilhante, O Violino Vermelho de François Girard pela semelhança não só de diversos aspectos da sua história como por fazer da música (e de um violino) o elemento condutor dos destinos de todas as suas personagens.
E nos demais aspectos técnicos este filme é igualmente um sucesso... no seu guarda-roupa, nas animações utilizadas que servem também para contar pequenos segmentos mais secundários (mas não menos importantes) da história de Nasser, a contextualização numa sociedade muito específica como a persa, bem como a caracterização dos actores que facilmente os transforma de pessoas jovens e cheias de esperança a alguém apagado pelas marcas do tempo que passou.
Finalmente destaco ainda um dos segmentos finais do filme em que o encontro entre Nasser e Azrael se confirma e que de nostálgico ou triste nada tem. Bem pelo contrário, aqui o que temos é um dos mais animados, psicadélicos e bem dispostos segmentos de todo o filme e que ele próprio poderia dar um filme separado deste.
Os dois realizadores, que também assinam o argumento, estão de parabéns. Conseguiram escrever e dirigir uma história que a todos consegue emocionar, divertir através dos inúmeros segmentos "diários" em que a história é contada ao longo de oito dias até Nasser conseguir finalmente encontrar a morte que tanto desejou. Uma história sobre amores desencontrados e não correspondidos, sobre a morte e a desilusão mas que, no entanto, não é contada de uma forma a que possamos ter pena do desfecho de cada um dos seus intervenientes mas sim perceber que as suas vidas estavam marcadas por um destino que talvez não pudessem alterar, e que como tal os marcou definitivamente.
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10 / 10
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sábado, 13 de outubro de 2012

Eater of the Sun (2010)

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Eater of the Sun de Thor T. Schneider e Sindri Gretarsson é mais uma da enorme quantidade de curtas-metragens de temática pós-apocalíptica onde um jovem num mundo devastado (mas curiosamente com muito bom aspecto) tenta procurar uma cura para a doença que vitimou a sua jovem irmã e da qual também ele se encontra infectado.
Como disse, o aspecto visual da curta, especialmente o contraste de luzes e da nitidez das cores, é francamente muito vivo e forte, o que contraste claramente com a maioria dos trabalhos com esta linha condutora,não mostrando necessariamente um mundo que já ruiu mas sim algo que transborda de vida principalmente natural.
Se este aspecto é positivo, tudo o demais acaba por cair nos "erros" de muitos destes trabalhos quando não é avançada nenhuma explicação, mais ou menos coerente, para que o mundo tenha entrado num colapso do qual poucos sobreviveram.
E como se isto já não bastasse para tornar este pequeno filme bastante "tremido", não deixa igualmente de ser verdade que o facto da voz da personagem principal ser no mínimo "medonha" o torna mais apalhaçado do que credível. Tem potencial, como todas as histórias que se relacionam com o fim da Humanidade acabam por ter mas, falha em várias das principais frentes.
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2 / 10
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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

L'Exercice de l'État (2011)

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L'Exercice de l'État de Pierre Schöller foi mais um dos filmes presentes na Festa do Cinema Francês de Lisboa este ano e que, à semelhança do que já se havia passado por exemplo com De Bon Matin ou Présumé Coupable, deixa-nos com um certo amargo de boca pelo seu trágico, mas verídico, retrato da sociedade tal como a conhecemos e também por abordar os bastidores dos meandros políticos que tanto nos fascinam não por aquilo que sabemos deles mas mais concretamente por aquilo que nunca chegamos a conhecer.
Bertrand Saint-Jean (Olivier Gourmet), Ministro dos Transportes, é acordado durante a noite pelo seu chefe de gabinete que lhe dá conta da ocorrência de um violento acidente para cuja localização ele se deve deslocar.
É a partir deste trágico acontecimento que acompanhamos o dia-a-dia de um ministro que se encontra numa constante luta de poderes onde todos, ou quase, devem ceder repetidas vezes para o "bom" funcionamento do Estado. Nos bastidores e nos meandros mais ou menos obscuros da política e dos cortes orçamentais a que todos estão sujeitos, uma pergunta acaba por ficar pendente no final... quem serve quem?!
Este filme de Pierre Schöller, que também assina o seu argumento, e que foi nomeado pela Academia Francesa de Cinema para onze César este ano tendo vencido nas categorias de Argumento Original, Som e Actor Secundário para Michel Blanc, tem tanto de cómico como de trágico e dramático.
Se por um lado assistimos a um conjunto de momentos de "bastidores" da política que apenas confirmam todas as nossas suspeitas sobre o que realmente acontece "às portas fechadas", mas interpretados com uma ligeireza e despreocupação tal que nos retratam o quão fácil é sair por cima prejudicando voluntariamente os demais, em momentos que quase parecem surreais e impossíveis de acontecer, não deixa também de ser verdade que existem situações neste filme que nos alertam para a realidade do desemprego, das dificuldades e carências económicas e da tal crise e austeridade que imperam e começam a assolar todo este nosso velho continente nos tempos que vivemos.
Se é verdade que a situação do cidadão comum não passa anónima neste filme, mostrando os problemas pelos quais atravessa de uma forma crua, aqui o ponto essencial, e que é tantas vezes esquecido nos filmes do género, é o lado do político. Não está banalizado com preciosismos políticos que acabariam por apenas fazer sentido a meia dúzia, mas centra-se no entanto no político enquanto homem que tenta, ele próprio, sobreviver no meio dos seus pares. Este filme vai aliás, um pouco mais longe. Podemos mesmo encontrar quatro distintas fases pelas quais o "homem político" atravessa. Uma primeira, e com a qual se inicia o próprio filme com o tão enigmático segmento-sonho de "Bertrand" da mulher nua prestes a ser devorada pelo crocodilo, não passa de um reflexo do seu sonho pelo poder... a sua ambição em ser alguém dentro de um elenco governativo. A segunda fase está directamente ligada à primeira pois surge como a excitação que este sonho lhe dá, explícito aliás no momento antes do próprio acordar e o qual não vou revelar pois é, digamos, óbvio. Uma terceira fase prende-se com aquilo que é já óbvio... a concretização das suas ambições onde passo a passo, de negociação em negociação vai obtendo todos os seus desejos e objectivos... aliás, prende-se com esta situação um dos momentos mais caricatos do filme quando "Bertrand" é informado do seu novo cargo ministerial... na sanita, após um brutal, cru, explícito e muito emocionante acidente que a sua comitiva sofre e que lhe deu o protagonismo que sempre ambicionara.
Finalmente uma terceira e última fase onde depois do sonho, da excitação e da consequente concretização de todos os seus planos (voluntaria ou involuntariamente), se confirma que no final todos são devorados pelo próprio sistema em que se inseriram... são devorados literalmente pelo poder, ao não conseguirem manter intactos, e principalmente integros, todos os seus planos iniciais de vida onde ainda mantinham algum tipo de valores ou de ideais. No final, para o alcançar, todos tiveram de ceder e principalmente nos elementos que de certa forma os caracterizavam enquanto indivíduos.
Tanto Olivier Gourmet como Michel Blanc são perfeitos nas suas interpretações enquanto Ministro e chefe de gabinete. Aquele que dá o rosto e aquele que esquematiza todas as situações chave onde o primeiro se deve "situar". Gourmet foi nomeado ao César enquanto Actor e Blanc venceu na categoria de Secundário. Perfeitos e no fundo são ambos as almas do filme... cada um à sua maneira e respeitando aquilo que de certa forma esperamos deles. O primeiro que se deixa levar pelos meandros da política e o segundo que o ajudou a lá chegar tentando sempre manter uma postura não direi neutra mas de não directamente envolvido na real política, quase como se de um observador se tratasse.
Como curiosidade, achei uma certa graça ao Ministro das Finanças, interpretado por François Vincentelli, que dá pelo nome de Peralta, e que discretamente se assume como a mente do "crime" por detrás de toda a crise e austeridade, como no fundo é a própria realidade.
Finalmente, e apenas a título de curiosidade para todos os interessados neste género de filme, reparo nas semelhanças existentes entre este e o filme Il Divo de Paolo Sorrentino que com igual sentido mordaz (bom... um pouco mais apurado) nos dá um olhar bem corrosivo sobre a política e os seus intervenientes a um ritmo de devaneios quase alucinatórios. Aos que tiverem coragem de ver os dois filmes e que repararem com atenção às festas e celebrações "internas" que são feitas pelos respectivos "palacetes do poder", irão sentir que as semelhanças estão todas, sem excepção, por lá.
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8 / 10
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Bruno Simões

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1971 - 2012
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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Présumé Coupable (2011)

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Presumível Culpado de Vincent Garenq, presente na selecção da Festa de Cinema Francês de Lisboa e um dos filmes nomeados aos Cesar na passada edição nas categorias de Actor e Argumento Adaptado, foi mais uma das muito agradáveis surpresas cinematográficas que o certame trouxe até à capital.
Este filme começa por nos dar uma abordagem ao quotidiano de Alain Marécaux (Philippe Torreton), como um aparentemente normal oficial de justiça, marido e pai de família. Acompanhamos alguma da sua rotina no seu local de trabalho até ao dia em que, enquanto toda a família dormia, são abordados pela polícia para a sua detenção, bem como a da sua mulher, sob acusações de envolvimento em abuso sexual de menores e numa rede de pedofilia.
Não fosse esta temática já por si só suficientemente complicada, quando sabemos que é também uma história verídica e bem recente na memória dos seus intervenientes mais directos visto que se passou na primeira década deste século, torna-se algo de assustador se pensarmos na profissão de Alain. No entanto, esta história verídica assume contornos francamente macabros quando somos realmente confrontados com a realidade... Alain Marécaux estava desde o início... inocente.
Enquanto estamos a assistir a este filme começamos a sentir um natural desconforto pelas imagens que presenciamos. Não, não existe nada que possa remeter para algum tipo de violência sexual mas, no entanto, os acontecimentos são francamente macabros para podermos sequer começar a pensar nessa parte da história. A violência aqui existe sim, mas através dos que operam no sistema judicial sobre aqueles que nessa mesma rede são involuntariamente apanhados e dela não conseguem escapar. A violência aqui parte daqueles com quem nos cruzámos diariamente no local de trabalho, dos familiares, dos agentes da autoridade ou dos agentes judiciais que sem qualquer vontade de investigação e fazer prova sentenciam a uma das maiores barbaridades possíveis um conjunto de indivíduos que são acusados de um crime que nunca haviam cometido e por esse motivo todos os seus limites de resistência física e psicológica são ultrapassados.
Do argumento, escrito por Garenq com base nas memórias autobiográficas de Marécaux sobre aquele período, pouco poderei dizer face à brutalidade dos próprios acontecimentos e de toda a provação pela qual este homem passou. Não basta o facto de ter sido acusado de um crime que não cometeu mas principalmente todas as consequências que daí chegaram começando pela separação da sua família e as alterações de comportamento que isso fez reflectir na educação e formação dos seus filhos, bem como à separação da sua mulher e a perda de toda a dignidade que provocou na sua imagem enquanto cidadão. As provações pelas quais passou, que só o próprio saberá, são aqui retratadas com uma fidelidade que nos fazem criar um nó no estômago de tão incomodativas serem. A revolta interior que nos cria é presente do início ao final e Philippe Torreton consegue recriá-la na perfeição com uma interpretação forte, humana, desprendida de clichés que, apesar de quase sempre silenciosa e emotiva, não deixa de nos transmitir uma profunda dor e sentimento de revolta a injustiça que esperamos poder terminar a qualquer momento.
E se há filmes com uma alma, pelo menos aqueles que acabam por ser significativos na nossa formação enquanto seres cinéfilos, este é um deles. Não só pelo seu retrato das injustiças sociais, judiciais e de certa forma também políticas, mas principalmente pelo magnífico trabalho interpretativo de Torreton, actor que assumo era um desconhecido para mim, mas que dota o seu Alain Marécaux de uma humanidade transcendente. Através da sua genial interpretação um homem que está encurralado. Sem família, acusado de um crime hediondo por uma denúncia infundada, pressionado pelos agentes policiais e judiciários a confessar algo que sabe nunca ter cometido e a assistir em primeira mão à morte de familiares, e principalmente à sua própria degradação enquanto ser humano... tudo por uma difamação não comprovada e que ninguém sequer quer investigar.
Philippe Torreton nao venceu o Cesar e possivelmente este filme passe um pouco despercebido num ano repleto de interpretações dotadas de uma grande humanidade e coração mas não deixa de ser verdade que este é uma daquelas que qualquer um guardará eternamente pela sua composição extrema e magistral.
Não me canso de o dizer, até porque se torna quase repetitivo nas observações que já fiz sobre outros filmes mas é justo continuar a referir que esta edição da Festa do Cinema Francês de Lisboa trouxe um conjunto bem interessante de filmes que não só são belíssimos dramas como são acima de tudo fiéis retratos de uma sociedade que se encontra muitas vezes sem valores e, como tal, sem qualquer rumo ou direcção e que nos deveriam fazer reflectir sobre o lugar que ocupamos nela. Correndo assim o risco de me repetir uma vez mais... imperdível.
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9 / 10
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Florbela aos Goya 2013

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Florbela, a extraordinária segunda longa-metragem de Vicente Alves do Ó sobre a poetisa portuguesa, com a participação de Dalila Carmos, Ivo Canelas e Albano Jerónimo nas interpretações principais, é o filme seleccionado pela Academia Portuguesa de Cinema para a próxima edição dos prémios Goya em Espanha para a categoria de Filme Ibero-Americano.
Os Goya são anualmente atribuídos em Janeiro pelo que os nomeados nas diversas categorias deverão ser anunciados durante o mês de Dezembro.
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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Cowboy (2008)

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Cowboy de Till Kleinert é uma surpreendente curta-metragem alemã que consegue impressionar pela positiva os seus espectadores.
Desconhecia a sua existência até há bem pouco tempo e quando a comecei a visionar pensei que seria mais uma curta temática que se iria inserir apenas num estilo (o seu argumento assim fazia pensar), mas que consegue e bem transformar-se em algo mais do que um trabalho para um público alvo muito específico.
Christian (Olivier Scherz) é um agente imobiliário que percorre o campo em busca de oportunidades para bons negócios e transformar antigas e abandonadas propriedades em pequenos paraísos para ricos investidores.
Ao chegar a uma grande e aparentemente isolada propriedade que não só parece abandonada como decadente encontra um jovem funcionário (Pit Bukowski) por quem ganha uma estranha empatia e obsessão desejando-o secretamente.
Quando o flirt e a desilusão estão também elas estranhamente ligadas, Christian e aquele jovem envolvem-se numa relação sexual, e de certa forma sentimental, que irá definir para sempre as suas vidas que acabam por se tornar cúmplices e dependentes no meio daquilo que pode ser para um, e foi para o outro, o maior terror das suas jovens vidas.
Inicialmente esta curta-metragem pode causar uma ideia errada sobre aquilo que ela realmente é, e deixar os mais cépticos a pensar "mais uma curta gay", onde as histórias acabam por estar mais do que repetidas em tantos outros trabalhos que já foram vistos vezes sem conta. No entanto, para aqueles que se deixam levar pela história em busca de algo diferente, certamente no seu final não irão estar arrependidos por ter investido um pouco do seu tempo a ver este trabalho que num misto de sexo, drama e terror consegue ter um final não só surpreendente como explosivo e que nos dá vontade de ter muito mais da história de terror que aqui é desenhada.
Uma curta diferente, original e bem filmada que de início estranhamos um pouco mas que já bem perto do final esperamos que não termine para breve.
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7 / 10
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terça-feira, 9 de outubro de 2012

The Woman Who Wasn't There (2012)

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A Mulher que Não Esteve Lá de Angelo Guglielmo é um documentário que nos conta uma das mais impressionantes histórias de sobrevivência dos trágicos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001.
Este documentário conta-nos a história de Tania Head, uma das sobreviventes da torre norte do World Trade Center e que perdeu o seu noivo na torre sul. Após a sua longa recuperação Tania destacou-se como uma das mais activas sobreviventes que através da sua história que todos inspirava e conseguiu unir, se tornou também uma das figuras mais influentes e carismáticas ao ponto de se ter tornado na Presidente da Associação dos Sobreviventes do WTC, convivendo não só com os restantes sobreviventes como também com alguns dos políticos mais emblemáticos da cidade como é o caso de Rudolph Giuliani, antigo mayor da cidade.
No entanto algo estaria prestes a abalar não só as associações como principalmente as pessoas envolvidas e as estruturas políticas da cidade quando um artigo do New York Times em 2007 revela que é a verdadeira Tania Head, desmascarando toda a sua história como um dos maiores e mais trágicos contos do vigário, revelando que não só o noivo de Tania nunca havia existido como ela própria nunca tinha estado dentro do World Trade Center, tendo esta aproveitado as fragilidades alheias bem como o seu poder carismático e dom da palavra para todos ludibriar.
Depois deste escândalo Tania esteve escondida e ausente dos olhares públicos até 2011 quando misteriosamente é avistada nas ruas da cidade.
À semelhança do que acontece com muitos dos documentários que têm como base a Segunda Guerra Mundial e que fascinam as pessoas pela veracidade dos seus acontecimentos, esta fase da História recente do nosso mundo conseguem cativar a nossa atenção. Todos nós queremos saber um pouco mais (muito mais) sobre aquele tão trágico dia que mudou de forma radical as vidas de todos nós e, de certa forma, a sociedade que conhecemos. O que vemos, o que conhecemos, a forma como interagirmos e também como nos comportamos em sociedade transformaram-se radicalmente, e a noção de segurança que tinhamos até então desapareceu.
Este documentário é assim importante pois relata-nos a forma como ultrapassamos, ou tentamos ultrapassar, as tragédias pessoais que centenas, ou mesmo milhares de pessoas, sofreram naquele dia. Os que desapareceram... os que sobreviveram... aqueles que perderam amigos ou familiares e que aos poucos tentaram recuperar e ultrapassar as cicatrizes daquele dia e que, graças a uma pessoa dita miraculosa, pensaram estar assim também elas a recuperar. Este documentário mostra não só essa recuperação como principalmente a forma como aqueles que realmente foram vítimas do 11 de Setembro se sentiram, uma vez mais, vítimas de um dos maiores embustes a que as suas vidas assistiram.
Interessante, mas ao mesmo trágico e revoltante, este documentário mostra um outro lado daquele dia... O lado em que todas aquelas pessoas esperam recuperar e encontrar modelos e exemplos de sobrevivência mas que graças aos oportunismos de que, infelizmente, todas as tragédias são alvo, encontram um novo obstáculo para a sua recuperação e dignificação da memória daqueles que se perderam.
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6 / 10
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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

De Bon Matin (2011)

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De Bon Matin de Jean-Marc Moutout foi um dos filmes presentes na Festa do Cinema Francês de Lisboa, e um dos que mais impacto provocou na audiência. Pela primeira vez no certame, e honestamente em qualquer visionamento de filme em que tenha estado presente, uma sala cheia fez um silêncio absoluto quando o filme terminou. Explicações à parte... quem tiver oportunidade não pode perder este filme.
Paul (Jean-Pierre Darroussin) é um bancário com uma longa experiência profissional. Meticuloso e com anos de confiança para com a sua carteira de clientes chega numa segunda-feira pela manhã e dispara mortalmente contra dois dos seus colegas de trabalho. Depois desta acção dirige-se calmamente para o seu gabinete onde reflecte sobre os acontecimentos das últimas semanas que o encaminharam para este trágico desfecho.
Este filme começa imediatamente bem quando ao som da 7ª Sinfonia de Beethoven assistimos a uma breve e muito ligeira despedida de Paul aos rituais banais do dia-a-dia de um homem de família. Desde o acordar ao vestir, a despedida matinal da sua mulher até ao caminho para o trabalho. Poderia ser uma vida como tantas outras que com ele se cruzam neste percurso mas esta tem um propósito trágico e fatal. Nenhum dia voltará a ser como este que irá transformar determinantemente todos os demais... para Paul, para a sua família e para os seus colegas. Até para nós que, enquanto espectadores, inicialmente nos identificamos com aquele homem de aparência pacata mas que quando levado ao limite perde o total discernimento sobre as suas acções. Não enlouquecer mas, no desespero, percebe no seu íntimo que aquele é o único desfecho possível para por um final ao último grande suplício pelo qual a sua vida passaria.
Jean-Pierre Darroussin é o homem que dá corpo, e uma grande alma, a este homem "actual". E digo actual pois pode ser o retrato de tantos e tantos homens anónimos que todos os dias se debatem com uma nova sociedade que entrou sem bater à porta. A crise bancária e económica que tem vindo a afectar a sociedade tal como a temos conhecido, lançou para o mundo laboral dilemas e questões que até então não eram colocadas. O trabalho por objectivos e o consequente aumenta da pressão e do stress. A sua relação com as crises familiares que se desencadeiam a um ritmo igualmente alucinante e as pressões laborais onde um simples relatório sobre a transformação rentável de um departamento pode "incriminar" e significar o despedimento daqueles que connosco têm trabalhado pelo bom funcionamento de uma instituíção.
A sua interpretação consegue captar o melhor de todos os momentos. Por um lado temos o homem de família dedicado e preocupado com o bem-estar dos seus. Da sua mulher e do seu filho. Da sua condição enquanto marido e pai... o homem de família que sustenta um estilo de vida elevado, não esquecendo a sua igualmente importante condição perante a sociedade enquanto um homem solidário e que intervém em inúmeras causas sociais pelo bem-estar do próximo. Ao mesmo tempo é dado a conhecer a sua faceta enquanto profissional competente e de excelência que sempre zelou pelo bom funcionamento não só do seu departamento como de todos aqueles com quem colaborava. Reservado e austero mas sempre educado e cordial para com colegas e superiores.
Finalmente Darroussin entrega uma excelente interpretação que quase em modo automático nos demonstra a rápida queda de um homem que está entregue a si próprio num mundo cão do qual não parece conseguir sair. Todos os seus passos e acções são controladas ao minuto de forma a que tudo o que ele faça possa ser uma arma carregada pronta a disparar contra a sua própria cabeça. Foi mais fácil mostrar-lhe o fundo para onde se dirigia do que o topo para onde pretendia chegar e obter a recompensa profissional e financeira que sempre desejou. É esta viagem em espiral decrescente, e bem decadente, a loucura e a sua percepção, onde tenta literalmente remar contra uma maré em fúria que Darroussin nos mostra com excelência e maestria.
Todos à sua volta são meros apêndices que reagem à sua interpretação. Mais ou menos secundários mas todos eles "existem" graças à sua intensa personagem, da qual nós não nos conseguimos separar. Sentimos a sua intensa emoção e revolta que, tal como ele a entrega, está contida em olhares, expressões e tensões sentidas através de todos os seus gestos e comportamentos perante os outros... perante a sociedade que o rodeia. Se existem interpretações que levam todo um filme do início até ao final, a de Darroussin é sem qualquer reserva uma delas e que pode representar um qualquer indivíduo na sociedade moderna em que nos encontramos e que tanto poderia ser em França como em qualquer outra parte do mundo ocidental.
E se todo o filme consegue mexer com o nosso âmago, não deixa de ser menos verdade que nada nos preparava para aquele tão intenso e explícito final que consegue destronar qualquer um dos mais insensíveis onde Darroussin num último acto de revolta e separação dos valores que regem a actual sociedade toma todo o controle da situação nas suas próprias mãos mostrando que este não é o mundo pelo qual ele trabalhou, e o qual ele tentou transformar numa sociedade igualitária e justa onde as oportunidades estavam ao alcance daqueles que por elas lutavam.
Foi este mesmo momento que conseguiu impressionar todos. Por momentos escutaram-se alguns momentos de surpresa e de espanto pela sala do São Jorge que rapidamente deram lugar a uma sala cheia... e em silêncio. Ao sair dela todos estavam num absoluto pranto, tal o dramatismo e a violência das imagens para as quais, deduzo nenhum de nós estaria preparado. Este sim é um filme intenso e um dos melhores retratos sobre a actualidade que vi, até à data, através de um filme e que Darroussin como seu motor principal consegue fazer-nos ver e, especialmente, sentir.
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9 / 10
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