quarta-feira, 30 de junho de 2010

Antichrist (2009)

Anticristo de Lars von Trier é um filme com apenas dois actores sendo eles Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg que pelo seu trabalho venceu o Prémio de Interpretação Feminina em Cannes e foi ainda nomeada ao Prémio de Cinema Europeu em 2009.
Após perderem o filho num acidente doméstico, um casal refugia-se na sua cabana de montanha para se isolarem do resto do mundo.
Ela sente-se culpada e amargurada pela morte da criança e vive, após um mês de internamento, uma constante espiral de culpabilização que culminam em auto-mutilação e agressão. Ele assume uma postura mais fria, inicialmente suspeitamos que será devido à sua profissão clínica que lhe permite ver o mundo e os seus problemas de uma forma mais distante.
No entanto, após esta análise inicial questionamo-nos se será mesmo isto ou se não será a sua postura "compreensiva" e reflexiva uma forma de a levar a culpabilizar-se ainda mais pela morte do seu filho.
A questão fundamental do filme prende-se exactamente com isto. A dualidade entre Homem e Mulher. Quem tem mais força. Quem tem mais poder. Especialmente quem tem mais poder sobre o outro. Algo que se confirmará no final, exactamente no final, deste filme.
Se pensarmos nos últimos títulos da filmografia de Lars von Trier, não será difícil imaginar quem é de facto o "Anticristo" deste filme. Von Trier tem tendencialmente o cuidado de criar uma personagem vítima que é normalmente a mulher. Tivemos Grace em Dogville, tivemos Selma em Dancer in the Dark e aqui repete-se a ideia.
Ela (Gainsbourg) é aqui a personagem chave do filme. A vítima. A que perdeu. A que quase enlouquece. A que desespera. A que sofre. A que se se violenta como forma de esquecer ou ultrapassar a dor. A que morre. A que é morta.
Poderoso em termos de imagem, especialmente nas que dizem respeito à violência física e mutilação pela qual passam as personagens do filme. Violento no que diz respeito à sexualidade e a como esta é utilizada como forma de poder e de subjugação.
Li algures nos inúmeros sites de cinema que leio, que ao longo deste filme, apesar de não haver terror propriamente dito, sentimos que através das suas imagens existe "algo". E é de facto verdade. Todo o filme é francamente incomodativo e a sua banda-sonora cria, através de algumas sonoridades alternativas, uma atmosfera francamente perturbadora que, aliada às imagens e ao brilhante trabalho de fotografia de Anthony Dod Mantle (vencedor do Prémio de Cinema Europeu na respectiva categoria) criam uma atmosfera densa e negra dando uma vida própria à floresta onde se encontram.
Li também que é o Homem o verdadeiro Anticristo pois martiriza, e sempre martirizou a Mulher. Temos isto também presente no filme através dos estudos para a tese que Ela tentou concluir sobre a bruxaria. As inúmeras Mulheres que foram torturadas e mortas devido a acusações de prática de bruxaria por Homens cujo único problema era terem receio que elas fossem tão boas como eles. A subjugação. Assim, a Natureza que favorece o Homem através sa sua força e da sua dominância, torna-o também no Anticristo ao vedar à Mulher o direito à sua igualdade.
Algo confuso e confesso que de difícil "digestão" em muitos momentos. Graficamente violento e incomodativo em tantos outros. Seria impossível ser de outra forma se considerarmos quem é o seu realizador. A ser diferente daquilo que é não seria com certeza uma obra de Von Trier.

7 / 10

terça-feira, 29 de junho de 2010

L'Enfant (2005)

A Criança de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne foi o grande vencedor da Palma de Ouro de Cannes da edição de 2005 que conta com a participação de Jérémie Renier e Déborah François (nomeada ao Cesar de Melhor Revelação Feminina do ano).
Aqui cruzamos a vida de Bruno e Sonia, um jovem casal que acaba de ter uma criança. Inadaptados para lidar com ela e com as suas necessidades e às escondidas de Sonia, Bruno tenta vender o seu filho de forma a ganhar algum dinheiro que facilmente pretende gastar.
Depois de alguns esquemas, de o tentar vender e recuar, de ser perseguido pela mafia local e de ser denunciado pela sua companheira, Bruno é preso.
Esta pequena história escassa em diálogos mas com desempenhos suficientemente fortes por parte do duo de actores, contém uma carga emotiva e reflexiva dos dias que vivemos muito forte.
Temos então neste filme o retrato de uma juventude sem grandes valores morais que apenas tenta passar um bom momento e chegar ao dia seguinte. Ter dinheiro para uns pequenos vícios que passam por alguma roupa da moda e sobreviver à medida que o tempo passa.
É o retrato de uma juventude perdida, sem objectivos, sem vontades e sem grandes ambições. Nem para si nem para aqueles que os rodeiam. A sociedade e tudo o que dela faz parte é apenas algo que existe não tendo, para eles, grande significado.
Numa sociedade onde não se encontram regras, valores, apoios ou sequer se preocupam em encontrar algo com que se identifiquem, a única forma de sobreviver vai sendo viver de pequenos golpes e esquemas que encontram para resistir.
É o retrato de uma juventude vazia e sem qualquer tipo de esperança pelo dia seguinte. Será então essa a importância de fazer um dia melhor para o recém-nascido de forma a que o futuro desse sim seja melhor?
Não sendo de início um filme fácil de digerir, acaba por o ser à medida que avança, desafiando a nossa atenção para si e acabando por facilmente a conquistar em muito pouco tempo.
Cenários vazios e simplistas que apenas confirmam a escassa ligação que as personagens têm para com o que quer que seja, mas que conquistam o espectador pela sua crescente ligação emocional à medida que as provações realmente se mostram, e acabando então por mostrar que acima de todas as liberdades e separação de qualquer tipo de valor, afinal existe um que dura e perdura para além da compreensão racional... o amor.



8 / 10

segunda-feira, 28 de junho de 2010

The Crazies (2010)

The Crazies - Desconfia dos teus Vizinhos de Breck Eisner é um remake do clássico de 1973 com o mesmo nome, realizador na altura pelo mestre do cinema de terror George Romero.
Esta versão datada deste ano tem como actores principais Timothy Olyphant e Radha Mitchell e a história resume-se essencialmente ao mesmo. Um virus fabricado pela mão humana alastra por uma pequena cidade onde causa perturbações mentais e violência nos seus cidadãos até à sua eventual morte.
Não tenho termo de comparação com a obra original de 1973 como tal não posso afirmar qual estará "melhor". Aquilo que posso dizer é que achei este francamente bem feito para o estilo que representa.
Os infectados, sim vou designá-los assim pois eles não são mortos vivos, apresentam uma característica interessante, ou seja, não estão totalmente limitados e continuam a manter noção daquilo que fazem o que me leva assim a perguntar... então afinal porque o fazem? Isto é... se a única coisa que o virus lhes provocou foi umas tantas quantidades de sangue a jorrarem do nariz e as veias do corpo todos francamente salientes... então... afinal... ainda mantêm a consciência daquilo que fazem? Porque afinal depois até falam e comentam... é sinal que não estão totalmente afectados.
Este é possivelmente o único aspecto que me deixou menos receptivo. De resto, o filme está bem construído e consegue criar não só um clima de tensão em inúmeras situações como uns quantos verdadeiros sustos. Sem revelar a situação específica, por momentos fiquei com um pavor imenso de máquinas de lavagem de carros. (lol)
De resto temos os inúmeros atributos que este género de filme consegue ter em termos de caracterização que variam entre o nojento e o muito nojento, que é como quem diz, muito bem feito mas agonia as entranhas de qualquer um.
Bom entretenimento e bem executado, só peca pelo final previsível que estes filmes acabam por ter mas que, ainda assim, não é suficiente para deixar de ter o seu interesse.

6 / 10

domingo, 27 de junho de 2010

Luís Zagallo

1940 - 2010
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sábado, 26 de junho de 2010

Guerreros (2002)

Guerreiros de Daniel Calparsoro é um filme cuja história decorre durante o último conflito que assolou os Balcãs e conta a vivência de um grupo de militares espanhóis que aí se encontram destacados e as interpretações principais ficam a cargo de Eloy Azorín, Eduardo Noriega e Rubén Ochandiano.
Neste, como em tantos outros filmes de guerra, analisamos os comportamentos humanos. Temos sempre em consideração como actuam os soldados, preparados para conflitos armados e para situações mais agrestes e tensas. Prestamos atenção à bravura de uns e à loucura de outros.
Estamos então preparados para assistir a desempenhos frios e relativamente bem calculados que nos entreguem aquilo que esperamos... um perfil de soldado.
Dito isto, agrada-me ver um filme onde os actores se deixam levar não só pelo que é esperado como também por aquilo que de facto se deve passar no íntimo de quem passa por um conflito, esteja ele ou ela preparado ou não.
Uma guerra apela, e leva sempre, tanto o melhor como o pior de cada um. Apela a actos de bravura e de coragem ao mesmo tempo que retira de nós um instinto selvagem de sobrevivência para com o qual nos entregamos e agimos sem pensar duas vezes.
A guerra que transforma fracos em heróis é a mesma que transforma os bravos em racionais. É nesta primeira descrição que se enquadra o Soldado Vidal, interpretado por Eloy Azorín, um idealista humanitário que pretende com os seus conhecimentos ajudar um povo e um país a sair da guerra mas que, ao lá chegar, se vê transformado por ela para um indíviduo mais frio e calculista. Gostei do papel que este actor interpretou pois confirma aquele velho pensamento de que a guerra transforma de facto as pessoas para o seu oposto. Azorín tem aqui uma personagem bem trabalhada e realista que demonstra na perfeição um retrato do ser humano no seu estado puro.
Sou obrigado também a fazer um pequeno destaque ao imenso actor que é Eduardo Noriega. Este desvia-se um pouco dos papéis de vilão de serviço aos quais o ligo desde que o vi no Tese, e tem aqui o comportamento exactamente oposto de Azorín, ou seja, um Tenente que assume um comportamento mais recatado face às amarguras da guerra.
Não sendo um filme brilhante nem tão pouco maior dentro do cinema espanhol que tanto aprecio, não consigo deixar de simpatizar com este filme que de certa forma nos dá um retrato de um dos conflitos maiores que assolou o nosso continente nos últimos anos. Uma guerra tão destrutiva e cruel mas que passou tão desligada dos olhares do mundo.
Um filme cru mas ao mesmo tempo que não se consegue desligar da emoção, da loucura e das tormentas da guerra. Mas que acima de tudo transmite o essencial. Numa guerra não há vencedores. Há sempre vítimas. Os que morrem fisicamente e principalmente os que morrem psicologicamente.

8 / 10

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Taking Woodstock (2009)

Taking Woodstock é mais um filme de Ang Lee que reflete sobre a sociedade americana numa altura muito particular expoente de toda uma década que foi proclamada de paz e amor.
Centrado na localidade de Woodstock nas vésperas e durante o concerto que tornou mundialmente famosa a mesma localidade, retrata a vida de Elliot (Demetri Martin) que decide trazer para perto do hotel dos seus pais (Imelda Staunton e Henry Goodman), o festival de música como forma a poder pagar as dívidas que estes têm.
Por toda a sua odisseia para conseguir que o festival venha mesmo para as suas traseiras, Elliot passa por uma enorme transformação. De controlado passa a boémio. De seguidor de regras a libertino, Elliot vive uma experiência que o liberta dos valores e das algemas que tinha provocadas principalmente pela sua mãe mais conservadora.
Como sempre na sua extensa filmografia Ang Lee consegue uma vez mais fazer um fiel retrato na sociedade norte-americana em que demonstra a presença de valores conservadores espelhados ao mundo mas que ou são derrubados ou então na privacidade são ignorados.
Aqui Lee entrega-nos um relato de como a vida pode parecer enclausurada durante muito tempo mas que com o decorrer do maior acontecimento em celebração à paz, à liberdade e ao amor essas mesmas barreiras que toldam o nosso pensamento e comportamento caem de uma forma arrebatadora.
Nas três personagens da família temos distintas as etapas pelas quais passam. Uma mãe que representa um conservadorismo forte e quase inabalável. A sua presença é o reflexo do poder do dinheiro e do que ele pode fazer. O pai calmo... dividido entre o conservadorismo (o amor que tem pela sua mulher) e os novos tempos mais liberais presente nos bons momentos em que passa com os novos convidados ou em "libertar" o filho do fardo de passar todo o seu tempo num local onde não irá evoluir. Finalmente temos a presença do filho, Elliot que, em todos os momentos se mostra receptivo à mudança e à transformação. Em acolher um novo futuro que, apesar de não saber o que o espera está ao mesmo tempo desejoso que ele chegue.
No que diz respeito às interpretações destaco uma. Não é das principais mas considerando o actor em questão e a grande maioria dos seus papéis, é impossível não destacar Liev Schreiber como a grande surpresa deste filme. Um pequeno mas decisivo papel brilhantemente interpretado pelo actor que funciona algo como uma voz da consciência, o tal "grilo falante" que desperta a curiosidade para ir mais além.
Não sendo um filme mau, este Taking Woodstock não será certamente o melhor ou meu preferido filme de Ang Lee. A Tempestade do Gelo ou o Brokeback Mountain são filmes que em variados aspectos o conseguem superar, mas ainda assim é agradável ver que o realizador de Taiwan continua com uma perspicaz escolha de projectos em que reflete não só períodos exactos na História como acima disso reflete sobre os comportamentos humanos nesses dados momentos e especialmente sobre momentos que significam mudança, por vezes, da sociedade mas com certeza períodos que refletem essa mesma mudança a um nível pessoal e humano.

7 / 10

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Push (2009)

Push - Os Poderosos de Paul McGuigan é um filme que, depois de um trailer muito promissor, nos dá vontade de ver rapidamente.
Temos então a promessa de um bem ritmado filme de fantasia-acção-aventura com pelo menos dois actores que me têm impressionado pela qualidade de trabalhos que têm vindo a fazer e são eles a Dakota Fanning e o brilhante Djimon Hounsou.
Juntando então um trailer apelativo, um género de filme que até costuma interessar e actores de qualidade fica claro que vai haver interesse por este filme e quase a certeza de que ele vai ser bem ritmado, feito e aproveitado por mim espectador.
As cenas iniciais cativam e temos um Djimon Hounsou num papel fora do habitual. Aqui faz de vilão de serviço o que até acaba por ser interessante. No entanto, à medida que o filme se vai desenrolando e ficamos a conhecer um pouco mais da história percebemos que começa a ser maçador demais para ser verdade.
Um grupo de jovens, uns mais que outros, têm capacidades paranormais/psíquicas e vivem de certa forma à margem da sociedade. Uns por opção outros forçados a isso, como forma de não serem os "bobos da corte" de serviço. São controlados por outros como forma a existir uma manutenção da ordem e, sem que nenhum deles se desvie da dita, começam a ser perseguidos para ser investigados. Sentido? Não, absolutamente nenhum...
Assim aquilo que temos a partir daqui começa a ser mais enrolado do que propriamente claro com um argumento que, à medida que avança, se torna cada vez mais confuso e disperso acabando por não ter propriamente um sentido ou uma história que se perceba. Damos então por nós a pensar "mas que raio se passa aqui?".
Para ajudar ainda mais ao que por si só já é confuso temos personagens perfeitamente absurdas, referindo-me mais concretamente aos chineses que berram e rebentam com tudo. A ideia até poederia ter algum "sentido" não fossem aquelas caras perfeitamente idióticas que têm de cada vez que aparecem no filme.
Dito tudo isto o pouco que me resta acrescentar é que desperdiça totalmente bons actores e uma história que poderia ser cativante considerando o género do fantástico e que, para mal dos nossos pecados, teremos certamente muito em breve uma continuação desta história que se de início já é má, uma sua sequela será de bradar aos céus.
Apreciação final... com umas quantas premissas interessantes mas globalmente desinteressante e apagado.



4 / 10

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Carriers (2009)

Pandemia de Àlex Pastor e David Pastor reune um conjunto de jovens actores como Piper Perabo, Chris Pine ou Emily VanCamp bem como uma cara conhecida como é a de Christopher Meloni num filme que conta a história de quatro sobreviventes num mundo deserto após um virus assassino ter dizimado milhões e milhões de pessoas.

Aquilo que os une é o seu instinto de sobreviver ao virus e aos infectados que se encontram um pouco por todo o lado e conseguirem chegar à praia e hotel abandonado onde dois deles, irmãos, passavam férias quando eram crianças.

Como toda a história em que um virus assassino assolou o planeta este também não foge à regra e, como é óbvio, nem tudo vai correr bem.


Temos então uma história que não varia muito, ou praticamente nada, em relação a tantas outras dentro do estilo.

Adianto no entanto que não se trata de um filme de terror, apesar de um ou outro momento mais tenso e onde podemos apanhar uns quantos sustos, mas na sua essência não se trata desse género. Aqui temos acima de tudo um filme que retrata um momento de crise global. De receios que assolam um pequeno grupo de pessoas que tenta desesperadamente sobreviver e manter-se unidos. Chegar a um porto de abrigo enquanto se escondem do mundo. Aqui são retratados os medos face ao incerto. Será que ficarão bem? Será que podem confiar em alguém? Será que existe mais alguém como eles? É acima de tudo um filme sobre o drama da sobrevivência e não um filme de terror onde são perseguidos por zombies assassinos.

Dono de alguns momentos tensos e de uma caracterização algo sugestiva este é um interessante filme de acção e entretenimento com uns quantos momentos reflexivos sobre o ser humano.






7 / 10

terça-feira, 22 de junho de 2010

Away We Go (2009)

Um Lugar para Viver de Sam Mendes fez sensação na última temporada de prémios por ser o filme preferido de muita gente mas, à última, acabou por ser nomeado a muito pouca coisa. Verdade seja dita, não é esse factor que fará o filme ser menos do que aquilo que é. Resumindo, além de uma divertida comédia é também um bonito drama sobre aqueles que procuram o lugar ideal para estar. O lugar ideal para viver.
Quando Verona (Maya Rudolph) e Burt (John Krasinski) descobrem que vão ser pais repensam a sua vida e sobre o local onde deveriam fixar-se para criar raízes. Durante todo o filme vamos assistir à sua passagem por vários locais onde visitam tanto amigos como familiares como forma a descobrir qual será o lucal mais indicado para ficar.
É também ao longo desta viagem que se questionam e sobre os seus objectivos de vida bem como se o que têm feito até então tem correspondido às escolhas mais acertadas ou se basicamente se tornaram em falhados.
Apesar das suas poucas posses e de levarem uma vida mais ou menos remediada, é através das suas viagens e visitas aos seus amigos que percebem que afinal não estão tão mal quanto isso. Deparam-se com alegrias aparentes e de vidas alternativas ou destroçadas fazendo perceber que afinal a sua, por muito simples que seja, consegue ser bem mais compensadora do que aquilo que poderiam esperar como exemplo vindo dos outros.
Depois de tanta gente (re)visitarem acabam por ir de volta à casa dos pais de Verona que haviam falecido ainda ela era estudante. Casa à qual não havia regressado desde então. É aí que encontram o local ideal para viver. Um sítio calmo. Um porto de abrigo. O local ideal para contituir família. O re-encontro com as origens que tanta falta fazia.
Temos então uma comédia-dramática ligeira mas com muito sentido e que dá que pensar em medida certa da autoria de Sam Mendes, que já nos havia entregue o Caminho de Perdição ou o Beleza Americana. Muito se diz que não é um filme tão forte como estes que mencionei, no entanto não se deverá fazer uma comparação entre eles. Este Um Lugar para Viver é um filme mais ligeiro mas de poderosa mensagem que reflete sobre qual será o local e a altura certa para encontrarmos aquilo que nos fará estabelecer no Mundo. O nosso lugar nele. As nossas raízes.
Aqui é transmitida a ideia de que todos temos um local que serve como o nosso porto de abrigo e que, por muito ausentes que estejamos dele, será sempre ali que encontraremos a noss paz e tranquilidade. Outros locais poderão entregar-nos estabilidade financeira ou social, mas é apenas num único local que encontraremos a nossa estabilidade emocional.
Tudo isto alcança uma dimensão francamente reconfortante através da fantástica e melodiosa banda-sonora da autoria de Alexi Murdoch que compõe um cenário quer pensativo quer reconfortante de que tudo irá correr bem.
Finalmente, se já referi as brilhantes interpretações de Maya Rudolph e de John Krasinski, seria injusto não referi que entre os secundários se encontram Catherine O'Hara, Jeff Daniels e Maggie Gyllenhall, e de destacar as prestações de uma Allison Janney completamente alternativa que nos consegue fazer saltar umas quantas gargalhadas e o sentido e dramático desempenho de Chris Messina que compõe, possivelmente, o momento mais emocionante de todo o filme.
Um Lugar para Viver é daqueles poucos filmes que pela sua enorme simplicidade conquistam qualquer um de nós e que alcançam um "posto" bem alto na categoria dos melhores. Sem qualquer sombra de dúvida é um daqueles filmes que se devem reter. Simplesmente emocionante.



"Tom Garnett: ...you have to be willing to make the family out of whatever you have."


8 / 10

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Milk Money (1994)

Lição de Anatomia de Richard Benjamin conta com as participações em papéis principais de Melanie Griffith e de Ed Harris e em papéis secundários com Malcolm McDowell, Anne Heche e Philip Bosco.
Melanie Griffith tem aqui, para mim, um dos melhores papéis que conseguiu alguma vez ter em cinema à parte do magnífico Uma Mulher de Sucesso. Tem aquele desempenho com o qual facilmente conseguimos simpatizar e que apesar de não ser alvo de atenções por parte dos prémios, não deixa de ser menos marcante por isso.
Aqui interpreta o papel de uma prostituta que depois de interagir com três jovens de uma pacata cidade pensa como seria bom mudar de vida e ter direito a uma segunda oportunidade. A questão é "será que a vai ter?".
Uma comédia ligeira com alguns momentos de drama sem nunca roçar o excessivamente sentimentalóide que poderia tornar o filme perigosamente lamechas e aí sim justificando a nomeação ao Razzie de Pior Argumento do Ano (exagerado), este é daqueles filmes que sem ter grandes pretensões consegue cativar o espectador pela sua simplicidade e boa disposição.
O par romântico, essencial nestas comédias dramáticas, compõe-se com a presença de Ed Harris que aqui tem, ao contrário daquilo a que já nos habituou, um papel mais sereno e tranquilo, totalmente oposto dos constantes desempenhos de duro e de personalidade muito forte. Aqui Harris transforma-se no pai viúvo que tenta educar o filho da melhor forma possível e que acaba por cair de amores por V. (Griffith).
Não sendo um filme transcendente, nem pretensões a isso apresenta, consegue ser agradável e bem disposto. Um filme arrisco-me a dizer "cool". De e para a família, e com a fundamental mensagem sobre as segundas oportunidades que todos devem de ter... e todos devem de dar.
Foi um filme da minha adolescência... daqueles que gostei, vi e revi vezes sem conta e que me deixou francamente bem disposto quando o encontrei à venda perdido no meio de tantos outros como se estivesse ali à minha espera.
Ao rever este filme agora penso como é uma imensa perda não poder ter uma Melanie Griffith a este nível e poder revê-la em grande forma num filme que seja digno da sua presença.
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8 / 10

domingo, 20 de junho de 2010

Precious: Based on the Novel Push by Sapphire (2009)

Precious de Lee Daniels foi um dos filmes sensação da temporada 2009-2010 primeiro porque foi um dos grandes vencedores antecipados em Sundance, em seguida pela sua promoção quase sistemática por parte de Oprah Winfrey (uma das produtoras do filme), e finalmente porque tem uma história cativante e muito emocionante que conquistou os públicos por todo o lado onde estreava.

A história que é bruta, crua e mostra o mais baixo nível da existência humana, centra-se na história da vida de Precious, que dá o nome ao próprio filme, uma rapariga vítima dos abusos sexuais do seu pai que a engravidou por duas vezes, e físicos por parte da mãe que vê nela a razão de todo o seu desgosto.

Ao longo deste filme temos toda uma espiral de decadência e degradação do ser humano. Não aquela a que "ele" se expõe, mas aquele de que é vítima em inúmeras circunstâncias e sob diversas formas.

Aqui Precious, a personagem que é brilhantemente interpretada por Gabourey Sidibe numa interpretação que lhe valeu inúmeras nomeações para os mais diversos prémios de cinema incluindo a nomeação ao Oscar de Melhor Actriz, mostra-nos de uma forma magistral o que é ser vítima de todo o tipo de abusos que vão desde humilhações físicas e sexuais a uma permanente e constante perseguição psicológica dentro daquele que deveria ser o lugar mais seguro para qualquer indivíduo... o lar. É nele que começaram cedo os abusos sexuais por parte do seu pai, que lhe provocou o nascimento de dois filhos e o contágio de doenças, e mais tarde por represália o abuso físico e psicológico da sua mãe. Uma vida sem respeito, sem um toque afectivo e especialmente sem qualquer acto de amor.

Não teve amor de mãe ou de pai. Não teve amor de amigos. Simplesmente não o teve. Passa pela vida ignorada. Em silêncio. A sua presença é uma total passagem silenciosa por tudo e por todos.

Já a sua mãe, interpretada de forma duro, bruta e intensa por Mo'Nique, que venceu a quase totalidade de prémios cinematográficos na categoria de Actriz Secundária incluindo o Oscar, Globo de Ouro e BAFTA, é uma pessoa amargurada pela vida que vê na filha o único e exclusivo motivo de todo o seu sofrimento. Ela encarna todas as frustrações e reflete toda a sua fúria, raiva e angústia na filha. Não por achar necessariamente que a sua filha é a razão pelos seus desgostos, mas por não encontrar em si os motivos que levaram o seu marido a afastar-se. Mary (Mo'Nique) encontra assim na filha uma "desculpa" e uma pessoa em quem materializar todos os seus problemas e frustrações.

A personagem por si interpretada não é necessariamente uma vilã mas sim uma pessoa amargurada e desesperada que se sente inútil e num poço sem fundo. Tudo aquilo que faz é apenas para materializar em alguém, que se encontra por perto, o mal que sente de si própria.

O amor que para Precious tardava a surgir era por si manifestado em desejos de alguém que a admirasse... Em sonhos que mantinha acordada para esquecer e ignorar o meio onde se encontrava. Eram o seu refúgio diário que a fazia continuar e seguir por mais um dia. Esse mesmo amor iria encontrá-lo possivelmente no local onde não o esperava. Numa escola. Uma escola diferente com pessoas que, tal como ela, eram também marginais à ordem natural da sociedade em que viviam e que assim poderiam compreender a sua dor. E uma professora. "A professora" (sentido e marcante papel de Paula Patton) que nos revela que, tal como ela, teve (tem) uma relação conflituosa com a sua própria mãe e que como tal percebe a sua dor.

Além das referidas actrizes que se apoderam do filme com um pulso bem pesado e forte, temos ainda participações especiais por parte de Lenny Kravitz e Mariah Carey (esta apesar de um interessante papel mais parece estar acordado graças a largas doses de medicamentos). Todos eles mantêm um filme coerente e bem conseguido a nível representativo e que, poderei afirmar, foi um dos mais fortes a este nível.

Além destes aspectos, o filme mantém ainda outros que estão francamente positivos nomeadamente o trabalho de fotografia pesado e carregado que dá uma atmosfera muitas vezes negativa e sombria, da autoria de Andrew Dunn que é acompanhado por uma profundamente emocionante banda-sonora composta por Mario Grigorov que em muito contribui para os momentos mais dramáticos do filme.

Não o irei considerar o melhor filme do ano mas, no entanto, acho justa a nomeação que teve para o Oscar como UM dos melhores. Poderoso e muito intenso, com interpretações fortes e marcantes, Precious é sem dúvida um filme que ficará presente pela sua mensagem de esperança.







"Miss Rain: Something you do right?


Precious: Nothing.


Miss Rain: Everybody is good at something.


Precious: Hmm hmm...


Miss Rain: Come on...


Precious: I can cook and... I never really talked in class before.


Miss Rain: How does that make you feel?


Precious: Here. Make me feel here."


8 / 10

sábado, 19 de junho de 2010

*batteries not included (1987)

O Milagre da Rua 8 de Matthew Robbins é um filme recheado de nomes sonantes, não só na interpretação como também na produção e argumento. Ora então vejamos. Produzido por Steven Spielberg com argumento de Brad Bird (já vencedor de dois Oscars na categoria de Filme de Animação com Os Incríveis e com Ratatouille) e na interpretação temos dois importantes nomes que fizeram parte da indústria cinematográfica durante décadas, ou seja, Jessica Tandy e Hume Cronyn.
Esta simples e simpática história reflete vários aspectos da vida. Desde a mudança dos tempos (do passado à presente época moderna) que se evidencia na mudança dos bairros americanos que há muitos anos eram familiares, para o presente onde predomina o individualismo de grandes arranha-céus onde ninguém conhece ninguém. Reflete sobre a perda, sobre a necessidade de união em tempos de dificuldade e crise. Sobre a forma como nos refugiamos no nosso mundo pessoal em detrimento do social para fazer esquecer os problemas que nos afectam mais intimamente.
Como seria de esperar de um filme em que Spielberg tivesse metido o dedo, pelo menos nesta altura, a componente extra-terrestre era mais do que certa. Aqui, mais uma vez, não falha.
Num dos últimos prédios ainda de pé num bairro em demolição, os poucos moradores que lá restam rezam por um milagre que os ajude a ultrapassar mais uma difícil etapa nas suas vidas de forma a conseguir resistir e fazer resistir o espaço onde habitam grande parte das suas vidas.
Esse milagre e essa ajuda vai aparecer. E aparece sob a forma de pequenas naves extra-terrestres que recuperam tudo aquilo que surja danificado e destruído. O que esperar daqui? De facto puro milagre de um agradável entretenimento. Um filme de família com qualidade 100% garantida. Um filme de esperança. De novas e de segundas oportunidades, tão explícito no momento em que uma das recém-nascidas naves extra-terrestres é reanimada para a vida. Um filme sobre valores e sobre a amizade.
Escusado será dizer que o famoso par cinematográfico (e não só) Jessica Tandy e Hume Cronyn têm aqui sentidas e brilhantes interpretações como um casal que tenta resistir no seu lar contra todas as adversidades. Tandy vive desgostosa e com a mente parada na altura em que perdeu o seu único filho e Cronyn como o marido algo desligado que tentar por tudo manter de pé não só a sua casa como aquilo que resta da sua família.
Mais que recuperar o seu prédio e alguns objectos destruídos, a pequena ajuda vinda do espaço vai sim tentar recuperar o que de bom têm as suas vidas.
Temos aqui um filme bonito, com valores, com uma bonita e agradável história cheia de bons momentos, alguma comédia e muita emoção e um refinado olhar sobre como a vida poderá ser daqui a uns anos onde desejamos ter algo onde nos sustentar e suportar.
O Milagre da Rua 8 é para mim um dos melhores filmes de entretenimento e fantasia dos últimos e largos anos que é impossível alguém ter perdido mas que, para o caso de ter acontecido, é urgente que o tentem (re)ver.

8 / 10

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Orphan (2009)

Orfã de Jaume Collet-Serra tem alguns atractivos que, à partida, me fazem poder ter interesse po rum filme. O primeiro deles é o facto de ser um filme de terror. Por muito que suspeite da categoria "terror", o que é certo é que estes filmes despertam sempre muito interesse para os poder ver. O segundo aspecto é o facto de ser um filme de terror que conta com um pequeno naipe de actores que têm provas "mais que provadas" da sua capacidade e potencial representativo. São eles Vera Farmiga, Peter Sarsgaard e numa participação especial CCH Pounder.
Se juntar a isto todos os avisos que já me tinham feito sobre como este filme era de facto assustador não por motivos de sobrenatural, tão comuns em filmes de terror, mas sim pela componente de demência presente na actriz principal do filme "Esther", brilhantemente interpretada por Isabello Furhman, então havia um intenso interesse para descobrir o que estava por detrás deste filme do qual todos me falavam.
Resumidamente posso afirmar que estava aqui uma pequena pérola do género de terror. O ar angélico, com que nos deparamos logo de início, da pequena Isabelle Fuhrman não enganam ninguém. Mesmo que não suspeitassemos ainda do que dali viria, aqueles olhos vidrados sem qualquer expressão e reflexo de alma, faziam de imediato adivinhar que "something's wrong with her". Bem dito, bem feito.
Após o galanteio inicial onde pretende obter um lugar de "respeito" dentro da sua nova família, Esther (Fuhrman) começa a mostrar aquilo de que é realmente feita. Demência dirão uns, ruindade ou maldade dirão outros. Para mim, a imagem que a pequena actriz transparece na perfeição é um misto de ambas dando assim lugar a um brilhante papel digno de figurar na galeria dos mais famosos psicopatas do cinema.
Dito isto, assustador será pensar o que daqui a uns anitos estará esta jovem actriz a fazer se, por alguma casualidade do destino, lhe entregarem papéis que adaptados à sua idade, poderão potencializar estas "qualidades".
Novamente tenho de afirmar aquilo que muitos já me ouviram, ou leram, dizer... Querem um bom filme de terror? Se a resposta for afirmativo, é apenas uma questão de verem quem é o realizador e, no caso de ser espanhol, terão aqui a garantia de que irão ter um muito bom resultado. Jaume Collet-Serra confirma aquilo que na sua ainda curta carreira já havia dado sinais. O de ser um muito bom realizador de cinema de terror e que se junta assim a nomes de seus compatriotas como Alex de la Iglésia, Paco Plaza e Jaume Balagueró.
Ainda a destacar o magnífico trabalho de fotografia deste filme da autoria de Jeff Cutter que através de tons neutros de cinza, azul e branco que se acentuam com excessos ou faltas de luz dá a este filme uma atmosfera calma mas francamente aterradora.
Finalmente, depois de tudo isto, só me resta acrescentar aquilo que penso já ser óbvio. Para duas horas de um ambiente tenso e enervante, é só alugar ou comprar este filme e sentarmo-nos calmamente (ou não) no sofá e aproveitarmos o desafio que é ver este filme, ou pelo menos tentar, sem nos enervarmos muito.

7 / 10

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Notes on a Scandal (2006)

Diário de um Escândalo de Richard Eyre é daqueles filmes que antes de o ver atrai qualquer um de nós. O porquê, aliás, os porquês, são os dois nomes que compõem brilhantemente o cartaz: Judi Dench e Cate Blanchett. É simplesmente impossível ficar indiferente a um filme que junta estas duas ENORMES actrizes.
Depois claro, ajudou ser um filme com quatro nomeações aos Oscar sendo que duas delas eram exactamente para as respectivas actrizes, Dench para Actriz e Blanchett para Secundária. Injustamente não escolhidas... talvez talvez... mas o que é certo é que com ou sem Oscar ninguém lhes retira o enorme poder com que brindaram estes dois belíssimos desempenhos.
Barbara (Judi Dench) é uma veterana professora numa escola onde ninguém a aprecia; nem alunos nem professores. Vive uma vida áspera e recatada onde não deixa ninguém penetrar.
À mesma escola chega Sheba (Cate Blanchett) uma jovem professora de arte que rapidamente fascina não só os alunos, como os professores seus colegas e num silêncio cortante ganha a imediata atenção de Barbara que não só quer a sua amizade como a cobiça a um nível que ultrapassa uma amizade platónica. Barbara deseja Sheba.
Após descobrir que Sheba mantém um romance com um dos seus alunos menores está aqui a oportunidade perfeita de Barbara obter toda a atenção de Sheba e tê-la à sua mercê.
Se a presença dos dois nomes no cartaz já não fosse por si só o suficiente para conquistar a atenção do público para visionar este filme, a sua história é também muito aliciante para que nos agarremos ao filme do princípio ao fim.
Tanto Barbara como Sheba revelam ser duas personagens que se sentem no seu íntimo sós. Desejam a atenção de alguém. Uma atenção inequívoca e sem rodeios. Barbara só a tem na escola devido ao seu comportamento rígido e austero. Por sua vez Sheba, casada com um homem mais velho, com uma filha independente e um filho com necessidades especiais não a tem como desejaria e como tal, obtém-na através do seu jovem aluno. O desejo. Aquilo que ambas procuram ter e que só alcançam através de jogos doentios quer de poder quer de corrupção. O poder de Barbara sobre Sheba, e a corrupção física desta para com o seu aluno.
Tudo isto apimentado ao longo do filme com os excelentes pensamentos de Barbara enquanto escreve no seu diário, ao som e ritmo de uma magnífica banda-sonora da autoria de Philip Glass que muito cedo nos revela um escalar e uma queda estrondosa das personagens que nos são apresentadas.
Um magnífico filme repleto de estrondosas interpretações onde figura também Bill Nighy no papel de marido de Blanchett, com uma banda-sonora intensa e poderosa e um argumento de Patrick Marber simplesmente genial, este é um filme que não se deve deixar passar.

"Barbara Covett: We want so much to believe that we've found our other. It takes courage to recognise the real as opposed to the convenient."

8 / 10

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Woman on Top (2000)

Mulher por Cima de Fina Torres despertou-me o interesse por ser um filme interpretado pela Penélope Cruz e do qual tomei conhecimento após ter visto o Não te Movas.
Considerando a presença da actriz espanhola bem como a de Murilo Benício que estamos habituados a ver via televisão nas telenovelas sem fim com que somos bombardeados, lá peguei no filme e fui ver de que se tratava.
Ao fim de muito pouco tempo tomamos logo a pinta do filme. Mulher vítima e um marido "garanhão" que a trai de toda a maneira e feitio até que a dita o abandona e resolva partir em direcção ao desconhecido e tentar a sua sorte não só noutra cidade como noutro país onde, curiosamente, já tem um amigo de infância que agora é... uma amiga.
Ciúmes, traição, confusão, vítimização e um sem fim de tentativas de piadolas que na sua generalidade acabam por não funcionar mais parecendo ter sido ou puxadas a ferros ou então fabricadas n oexacto momento sem se perceber o porquê juntam-se de uma forma muito pouco eficaz a um misto de crenças populares brasileiras, mães de santo e a Iemanjá.
Dito tudo isto qual o resultado? Fraco. Temos então um filme pouco consistente, e considerando que a personagem interpretada pela Penélope Cruz é uma exímia e prendada cozinheira, aqui o que temos é um filme muito pouco condimentado.
As personagens e os desempenhos dos actores pouco conteúdo têm chegando a existir momentos que parece que mais andam por ali a deambular de um lado para o outro muito ao sabor dos "ventos".
De resto, o filme não adianta em nada. A história já está mais que batida, e considerando que os desempenhos em nada ajudam, não se torna especial em nenhum aspecto.
A juntar a isto, existe algo que corta o meu interesse do filme (seja lá ele qual for) logo de início. O facto de termos uma actriz espanhola e alguns actores brasileiros a representarem num filme im inglês é algo que acho quase a roçar o absurdo. Porquê? Simples. Não é natural. E não o é na medida em que os sotaques são pobres, e se formos a pensar que estão ali dois actores supostamente brasileiros, a falar entre si em mau inglês... o filme ganha não uma dimensão de desinteressante mas sim de ridículo.
Já tem uns anitos é uma verdade, mas deveria ter sido um projecto do qual a Pé se deveria ter afastado mais depressa do que a rapidez que leva a pestanejar.

2 / 10

terça-feira, 15 de junho de 2010

Une Affaire de Femmes (1988)

Uma Questão de Mulheres do realizador francês Claude Chabrol é um soberbo filme cuja acção decorre durante a Segunda Guerra Mundial em França com as interpretações de Isabelle Huppert que venceu a Coppa Volpi em Veneza para Melhor Actriz, François Cluzet e Marie Trintignant nos papéis principais.
Esta é a história de Marie, mãe de dois filhos que, na França Ocupada pelos Nazis, vive uma vida onde predominam as dificuldades e a escassez normal de um país e de um tempo em guerra.
Desinteressada em tudo o que diz respeito ao marido e com um novo amante influente no regime, Marie conhece Lulu uma prostitua à qual começa a alugar quarto para receber os seus clientes ao mesmo tempo que vai recebendo mulheres em casa para as ajudar a abortar. Encontrou aqui uma forma de fazer dinheiro e de evoluir na sua vida e obter aquilo que antes lhe estava vedado.
Com a pressão normal de um regime ditatorial onde a ideia de moral era defendida acima de tudo e todos, as práticas de Marie eram consideradas um atentado não só a essa mesma moral como ao próprio Estado. Estava em causa o facto dela eliminar vidas. Vidas dos futuros franceses. Os mesmos que iriam dar continuidade ao próprio Estado.
Aqui entra então uma das grandes premissas do filme. Qual a moral do próprio Estado, ou de quem o dirige, que a condena por praticar o aborto mas que ao mesmo tempo envia ele próprio crianças judias para os campos de concentração alemães onde elas seriam certamente executadas?! Não estará este Estado a condenar ele o seu próprio futuro?
Sobrevivência. É este aspecto que está em causa tanto para ela como para o Estado. Para ela na medida em que precisava de ter dinheiro para subsistir num mundo caótico onde tudo falta. Para o Estado na medida em que a sua condenação era uma forma de não se olhar para o genocídio gratuito a que estavam a condenar os seus próprios cidadãos por serem de uma religião diferente.
Marie (Isabelle Huppert) mostra um retrato de uma geração que vivia indiferente a tudo e todos. Apenas com uma vontade. A de sobreviver, e fazê-lo nas melhores condições. Não sendo totalmente indiferente aos problemas de outros, mas ao mesmo tempo não se preocupando em demasia com eles mas apenas com o seu próprio bem-estar. Por ele se faz, por ele se sacrifica. Por ele, tudo o resto é indiferente. Aquilo que não se vê, é como não estando lá.
Por sua vez Paul (François Cluzet), o marido desprezado, ignorado e traído representa aqui a imagem do próprio povo francês nestes três aspectos que referi. Desprezado e ignorado, abandonado à sua sorte durante aquele período conturbado da História Mundial, e traído não só pelas próprias autoridades como especialmente pelo própria traição que comete ao denunciar a sua mulher.
Foi isto que se sentiu durante aqueles anos de guerra. A constante traição. O medo de se ser denunciado por algo. O medo de falhar aos olhos dos outros. O medo. A insegurança. A fragilidade face ao que não se poderia controlar. Paul é assim, mais que Marie, a imagem de França.
Não só é um retrato de um país numa época concreta, mas sim um retrato sobre o próprio ser e os seus actos para sobreviver, mas também um relato sobre a moral e como esta pode ser dúbia e ter muitas ramificações. Como para uma mesma situação existem duas sentenças, e especialmente como para se esconderem os próprios actos se tornam os dos outros como um exemplo para toda uma sociedade tendo como fim manter uma ordem.
Não fosse por si só uma história já bastante interessante de se ver, torna-se ainda mais considerando que se trata de um relato verídico sobre a história da última mulher condenada à morte em França. Um filme francamente poderoso.
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8 / 10

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Double Whammy (2001)

Remédio Santo de Tom DiCillo conta a história do detective Raymond Pluto (Denis Leary) que vive uma autêntica maré de azar. A ele já lhe aconteceu de tudo. Peder a mulher e a filha num acidente. Não tem uma imagem famosa no departamento de polícia. Tem horríveis dores nas costas. No fundo, tudo lhe acontece.
A acompanhá-lo neste filme encontramos Steve Buscemi no papel de um seu colega e amigo polícia. Um Luís Guzman como seu vizinho e uma Elizabeth Hurley como a média que o vai ajudar a ultrapassar as tão debilitantes dores nas costas e por quem vai acabar por se apaixonar.
Todos eles com personagens francamente apagados e de pouco conteúdo e que nos fazem perceber muito cedo no filme que apenas se limitam a deambular por ali como se tivessem que fazer tempo para picar o ponto, e damos por nós a pensar que se calhar até era bom que um dos psicopatas de serviço entrasse de facto pelo set a dentro para eliminar as personagens tão aborrecidas que o argumento deste filme criou.
Pobre de argumento, pobre em interpretações. Ainda mais pobre na tentativa de comédia que tenta dar o que faz com que se torne mais deprimente do que propriamente engraçado e é daqueles que, para mim, ao final de dez minutos de ter começado já estou desesperadamente à espera do momento em que vou ver os créditos finais.
Perfeitamente dispensável a todos os níveis possíveis e imaginários, e apenas serve para encher o saco, já muito grande, de filmes-lixo. Não há assim nada digno de um registo que se possa dizer positivo ou pelo menos que seja aproveitável.

2 / 10

domingo, 13 de junho de 2010

Festróia 2010: vencedores


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Filme: Uma Espécie de Cavalheiro, de Hans Petter Moland (Noruega)
Prémio Especial do Júri: O Bater do Coração, de Saara Cantell (Finlândia)
Realizador: Hans Petter Moland, Uma Espécie de Cavalheiro (Noruega)
Actriz: Sylvia Hoeks, em A Tempestade (Holanda/Bélgica)
Actor: Stellan Skarsgard, em Uma Espécie de Cavalheiro (Noruega)
Argumento: Kim Fupz Aakeson, em Uma Espécie de Cavalheiro (Noruega)
Fotografia: Jakob Ihre, em Uma Família, de Pernille Fischer Christensen (Dinamarca)
Prémio do Público: Submarino, de Thomas Vinterberg (Dinamarca/Suécia)
Prémio Homem e a Natureza: Cartas ao Padre Jacobischer, de Klaus Haro (Finlândia)
Menção Especial: Respeita-me, de Pekka Karjalainen (Finlândia) e A Lua em Ti, de Diana Fabianóvá (Espanha/Eslováquia/França)
Prémio Câmara Municipal de Setúbal: Produtora Elephant Eyes (Estados Unidos)
Prémio Primeiras Obras: Sebbe, de Babak Najafi (Suécia/Finlândia)
Prémio FIPRESCI: Tudo o que Amo, de Jacek Borcuch (Polónia)
Prémio SIGNIS: Uma Família, de Pernille Fischer Christensen (Dinamarca)
Menção Especial: X=X+1, de Juraj Krasnohorsky (Eslováquia)
Prémio CICAE: Tudo o que Amo, de Jacek Borcuch (Polónia)
Prémio Mário Ventura: João Azevedo, Luís Lobo e Joana Cunha, pelo argumento de Sobre Vivência (Portugal) e Zvonimir Juric, pelo argumento de Lua Amarela (Croácia)
Golfinho de Ouro Carreira: Rogério Samora
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sábado, 12 de junho de 2010

Mulheres, bah! (2008)

Mulheres, bah! de João Costa Menezes que podem visionar aqui, é uma curta-metragem sobre o crescimento de uma criança que anseia pelo nascimento de um irmão mas que lhe sai uma irmã na rifa.
Após os problemas iniciais que todas as crianças aparentam ter os irmãos lá se reconciliam e levam uma vida de união e cumplicidade.
Quanto à curta-metragem em si, tem uma música simpática e agradável a acompanhá-la mas os actores revelam ter interpretações contidas e quase sempre refugiadas numa segurança que não lhes permite ir mais além.
Achei no entanto graça ao seu título que relacionando com o argumento dá para pensarmos naquilo que muitas crianças acham e pensam do sexo oposto... "bahhhh!!!".
Dito isto, as intenções são boas e há que dar mérito a isso mas, é daquelas curtas que sinto poderem ter ido ainda mais longe pela agradabilidade que a sua história tem.
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5 / 10
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sexta-feira, 11 de junho de 2010

The Magdalene Sisters (2002)

As Irmãs de Maria Madalena de Peter Mullan que estamos mais habituados a ver à frente da câmara do que atrás dela, é um poderoso filme baseado numa história verdadeira que se centra na vida de três jovens mulheres que se viram forçadas a enclausurar-se na Ordem de Maria Madalena e aí sofrer vários abusos de ordem física e psicológica por parte das freiras que o governavam.

A maioria para ali enviada pelos pais que as renegavam na maior parte das vezes por serem mães adolescentes e fora do casamento. Bebés estes que, uma vez nascidos, eram entregues a famílias adoptivas às escondidas destas raparigas e que, uma vez na Ordem, eram forçadas a trabalhar "para além da sua própria existência" em lavandarias onde segundo as mesmas freiras, "lavavam os seus pecados".

Aqui além dos trabalhos forçados, das humilhações constantes que poderiam ir da violência física à psicológica, onde era tentado de toda a forma que a beleza, a imagem e a vontade própria fossem para sempre banidas, e até vítimas dos abusos sexuais de alguns dos padres.
Acima de tudo este filme mostra-nos um retrato de gerações perdidas e de juventudes roubadas. Mostra-nos como os locais de moral para os quais estas raparigas eram enviadas, eram os mesmos locais que lhes mostravam pela primeira vez o quão corrompidas e maltratadas poderiam ser.
A dar corpo a estas raparigas temos as brilhantes Anne-Marie Duff, Nora-Jane Noone e Dorothy Duffy. Diferentes foram os motivos que levaram cada uma delas a entrar na Ordem como empregadas de lavandaria, totalmente alienadas da sociedade em seu redor, e que assim serviam os propósitos da Ordem.
No entanto, o grande papel deste filme é sem sombra de dúvidas o da Irmã Bridget, magistralmente interpretado por Geraldine McEwan que encarna uma personificação do mal que ora pela violência física ora pela violência psicológica quer estabelecer a ordem. A sua ordem. A sua violência. Violência e ordens estas que se fundamentam apenas na humilhação dos indivíduos e no interesse despótico que sente pelo dinheiro que acumula à custa do trabalho das suas "escravas". McEwan oferece-nos um digno papel de figurar ele também no conjunto dos vilões do cinema. Hannibal Lecter, acautela-te!
Brilhante este trabalho de Peter Mullan que nos habituou aos seus compostos e bem elaborados trabalhos de representação mas que aqui nos entrega um genial trabalho de realização, com uma pequena perninha como actor, pai de uma das raparigas abandonadas na Ordem, trabalho este com o qual venceu o Leão de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Veneza. Um filme simplesmente brilhante.



10 / 10

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ira & Abby (2006)

Ira & Abby de Robert Cary conta com as interpretações em papéis principais de Chris Messina e de Jennifer Westfeldt, que também assina o argumento, e em participações especiais conta com Jason Alexander, Judith Light e Frances Conroy.
A história que ronda a vida de Ira (Messina) e Abby (Jennifer) dois insadaptados e com sérios problemas sentimentais. Ira por não se conseguir desligar de uma vida académica por si também falhada, e Abby por já ter sido magoada no passado é amiga de todos e vive ao mesmo tempo uma vida de impulsos de momento.
Não, não é confuso, nem tão pouco consegue ter alguma qualidade ou interesse. É daqueles filmes que se vê, e dos quais ao final de 10 minutos já estamos desesperados a esperar pelo final.
Tenta ter muito conteúdo e ser um filme reflexivo sobre as relações sentimentais e amorosas dos dias de hoje, bem como o facto de se poder viver em perfeita solidão e alienado da vida em sociedade mas, com tanta vontade de falar sobre todas as histórias acaba por se espalhar ao comprido de tão ineficaz ser. Não pega em nenhuma história em concreto para a desenvolver e a tornar de facto a principal do filme.
Podia bem chamar-se Ira & Abby & Arlene & Henry &... &...&...&... É tanto pelo meio que além de contar tudo e não contar nada, é disperso, mal feito, com interpretações que tentam ser engraçadas e tornam-se é ainda mais absurdas do que aquilo que já são graças aos exageros e aos clichés que utiliza frequentemente.
Tanto para Chris Messina como Frances Conroy ou Judith Light esperava mais. Muito mais. E de preferência com alguma qualidade e substância que pudessem transformar este filme em algo de interesse e não em apenas "mais um" que foi feito para encher o saco.
Suspeito sempre deste género de filmes. Mas sempre mesmo. Depois de ver este acabo por compreender o porquê! Não atam nem desatam e acabar por cansar mais (ou dar sono) do que propriamente cativar o interesse e a atenção de nós, os espectadores.

2 / 10

quarta-feira, 9 de junho de 2010

87 Topaz (2004)

87 Topaz de Bill Kersey é uma curta-metragem documental que poderão, se interessados, visionar aqui e que relata a história de um homem que sucumbiu à doença de Alzheimer, contada pelo seu neto, através dos seus diários que guardou ao longe de uma vida e acompanhados por vídeo e fotos do mesmo.
Bem construída e editada, não deixa de ser curiosa graças à viagem pelo tempo que nos faz ter ao longo dos seus pouco mais de sete minutos de duração.
Não será uma pérola do cinema documental mas não deixa de ser no entanto curiosa de se ver mais que não fosse pela componente sentimental e de homenagem que um neto fez pelo seu avô.
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5 / 10

terça-feira, 8 de junho de 2010

Carry on Constable (1960)

Com Jeito Vai Sr. Guarda de Gerald Thomas é mais um título de extensa saga de filme do "pandilha" inglesa do costume, onde já brilha Sid James que teve uma das mais longas e significativas participações neste conjunto de filmes.
Voltamos a ter uma série de aventuras e trapalhadas do grupo habitual onde não só reina a confusão como algum romance pelo meio de uma epidemia de gripe que ajuda ainda mais à confusão.
Confesso que este não é dos meus filmes preferidos da extensa série. É no entanto um marco da mesma na medida em que foi um dos primeiros a denotar uma mudança. Mudança esta que consiste na separação entre uma primeira fase onde os filmes batiam muito na temática da amizade, respeito e lealdade para uma segunda fase onde não só o caos reinava como também um conjunto extensa de aventuras e desventuras sexuais reflexo da própria época e dos anos 60.
Ainda assim, e dentro daquilo que os filmes mais tardios da década viriam a mostrar, este é ainda um filme muito soft que consegue apenas despertar alguns pequenos sorrisos naqueles que, como eu, seguiram a exibição de todos os filmes pela RTP, na altura em que o Verão trazia alguma programação de qualidade ao contrário do que acontece nos dias de hoje.
Não é um filme fácil dentro do género, para quem o conhece repito, e talvez de todos os títulos seja um daqueles que só "suporta" quem conhece toda a série. Ainda assim, para os corajosos, recomendo que seja visto.
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6 / 10

segunda-feira, 7 de junho de 2010

3x3 (2009)

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3x3 de Nuno Rocha venceu o Prémio ZON Criatividade em Multimédia e, não conhecendo as outras curtas nomeadas posso afirmar com segurança que esta mereceu o prémio.
Com um ligeiro tom negro e uma comédia interessante assistimos num registo quase de surreal a um improvável excelente jogador de basket.
Original, divertida e bem executada que conta com duas divertidas e bem conseguidas personagens com quem facilmente criamos alguma empatia.
Parabéns ao realizador Nuno Rocha que conseguiu aqui acertar em cheio. Digno de se ver e de se apreciar.
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7 / 10

domingo, 6 de junho de 2010

Robin Hood: Prince of Thieves (1991)

Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões de Kevin Reynolds que além de ser um filme com um elenco de estrelas entre as quais figuram Kevin Costner, Morgan Freeman, Christian Slater, Maria Elizabeth Mastrantonio e Alan Rickman foi ainda um dos grandes sucessos dos anos 90 no cinema tendo sido, à altura, um dos filmes mais aguardados do ano e que continha uma invejável banda-sonora. Nesta mesma banda-sonora figurava uma das música símbolo da época da autoria de Brian Adams, Everything I Do (I Do it for You) e que haveria de ser nomeada para o Oscar de Melhor Canção Original.

Começando pelos actores, foi com este filme que Kevin Costner conseguiu vencer um Razzie de Pior Actor do Ano. Posso ser suspeito para falar deste filme pois gostei de o ver e representa um marco para mim importante, no entanto não sou capaz deixar de dizer que é um filme emocionante e com uma bonita história de amor recheada de acção e aventura.
O desempenho de Costner, que pode não ser o mais brilhante da história do cinema (não o será realmente), mas não deixa de ser um bem elaborado e trabalhado papel que o actor agarra bem e não desilude. Daí que ache que o Razzie mais não é do que um puro golpe anti-Costner do que propriamente pelo seu trabalho neste filme.
Actor principal à parte, falta falar nos dois mais significativos actores secundários, e são eles Alan Rickman e Morgan Freeman. Aqui serei possivelmente ainda mais suspeito a falar pois são dois dos meus actores lista A, que é como quem diz... o melhor do melhor.
De Rickman a "única" coisa que posso dizer é que depois de o ver no Assalto ao Arranha-Céus fiquei com a certeza absoluta que, e aqui vou utilizar um cliché, "quando ele faz papel de bom... é BOM... quando faz de mau é ainda MELHOR". Perverso, mas com um toque de humor negro e sádico que o colocam num patamar elevado dos vilões do cinema. Justíssimo vencedor do BAFTA de Melhor Actor Secundário, e é impossível deixar escapar que transborda charme e personalidade neste filme.
Quanto a Morgan Freeman, esse GRANDE senhor do cinema, o qual não tenho qualquer complexo em assumir que é o meu actor preferido de sempre, foi com este papel que lhe comecei a prestar atenção. A partir daqui bastava ver o nome dele num qualquer trailer para saber que era um filme que eu simplesmente TINHA de ver. Ele irradia uma personalide imensa, postura, bom desempenho, valores morais, integridade e tanto, mas TANTO mais, que será impossível não gostar dele. Pegando numa frase já bem conhecida não do cinema mas da música... Simply the BEST!
Quanto ao restante filme, não se pode fazer um grande destaque ao argumento em si pois a história e eventualmente muitos dos diálogos já são conhecidos de todos nós, tal não é a quantidade de vezes que já foi transportada para o cinema. No entanto é seguro dizer que foi uma adaptação ambiciosa e que contou com um vasto leque de grandes estrelas do cinema o que lhe deu o devido destaque e como já referi, também o tornoou num dos filmes mais aguardados do ano com uma choruda receita de bilheteira.
Demais aspectos positivos a referir do filme, que para mim são quase todos, são por exemplo o magnífico trabalho de guarda-roupa da autoria de John Bloomfield que consegue captar na perfeição as diferenças entre classes da Idade Média, separando clero, nobres e povo e dando a cada um deles o seu respectivo traje mais ou menos elaborado.
Finalmente é de referir que este filme não cansa veja-se quantas vezes for possível. É emocionante de cada vez que o vimos e nunca consegue tornar-se aborrecido. Há sempre algo de novo que nos capta a atenção e, ao mesmo tempo, consegue ser um filme bem ritmado, com inúmeras situações emocionantes e repleto de acção e de aventura do princípio ao fim.
Pelo que vou lendo hoje a respeito deste filme, noto que é muito pouco apreciado nos meios ditos "especializados". Não entendo bem os ataques feitos a Kevin Costner ou para com a pouca "credibilidade" apresentada no filme, no entanto, que será o cinema além de nos emocionar e de nos dar longas batalhas e fazer-nos sonhar com as épocas para que nos transporta?
Para mim está um filme excepcionalmente bem conseguido e consegue ser dos melhores do género que vi até à data, pelo que o aconselho vivamente para aqueles que (shame on you!) ainda não o visionaram.
Falando de "fim", é impossível não referir o glorioso final que o filme tem com a participação especial de Sean Connery como Rei Ricardo. Ninguém melhor do que ele para dar corpo a um Rei.




9 / 10

(Pegando na piada que muitos já devem estar fartos de me ouvir dizer... Se alguém estiver interessado em escrever uma carta à Oprah Winfrey a explicar que o meu "wildest dream" é conhecer o Morgan Freeman por fazer não se travem... escrevam-lhe :P )

sábado, 5 de junho de 2010

Lemony Snicket's A Series of Unfortunate Events (2004)

Lemony Snicket - Uma Série de Desgraças de Brad Silberling transporta-nos para uma dimensão algo à parte apesar de conter uma história que contém elementos que podem ser comuns a qualquer um de nós. Basta para isso pensarmos nas constantes vigarices, esquemas, trapaças, mortes e mentiras que percorrem todo o filme.
Através de um ambiente muito ao estilo de Tim Burton com elementos qb parecidos com os filmes do Harry Potter conhecemos os trágicos momentos dos três irmãos Baudelaire que após a perda dos pais se veem alvo da cobiça do Conde Olaf (brilhantemente interpretado por Jim Carrey) que pretende acima de tudo receber a fortuna deles.
De lar em lar os irmãos Baudelaire vêem-se constantemente afastados dos seus tutores à medida que estes passam pelas mais diversas mortes todas elas provocadas por Olaf.
De todos os actores, e sim aparecem uns quantos já com as suas carreiras devidamente estabelecidas, contamos com dois pesos bem pesados da indústira como o caso so já referido Jim Carrey e também de Meryl Streep aqui num papel altamente hipocondríaco, pequeno mas como sempre muito bem desempenhado.
Temos também uns quantos papéis secundários quase participações especiais como é o caso de Dustin Hoffman, Jude Law, Jennifer Coolidge, Billy Connolly ou Catherine O'Hara que não deixam de, no entanto, ser determinantes para o desenrolar do filme. Pequenos mas fundamentais desempenhos destes actores que, poderemos dizer, já pertencerem a uma "velha-guarda".
Se os desempenhos são bons, magnífico é o efeito visual que este filme nos entrega em vários aspectos. O primeiro deles é o estrondoso trabalho de fotografia da autoria de Emmanuel Lubezki que através da sua variação de luzes e cores cria uma atmosfera de uma fantasia surreal como se assistissemos, em movimento, a um quadro de Dalì.
Em segundo lugar temos um também estrondoso trabalho de guarda-roupa criado pela já Oscarizada Colleen Atwood que aqui também foi nomeada pelo seu trabalho e que confere a um filme de fantasia um look de filme de época mas com algo que o torna moderno.
Temos ainda um terceiro aspecto que destaque neste filme que é a sua banda-sonora que tanto varia de emocionante para trágica. Daqui para cómica e, sem que o esperemos, ameaçadora. Por detrás dela está um nome forte das banda-sonoras cinematográficas, ou seja, Thomas Newman que foi por dez vezes nomeado a Oscar não tendo, ainda, ganho.
Finalmente o trabalho que aqui foi de facto Oscarizado, ou seja, a caracterização que torna o próprio Jim Carrey, já por si multifacetado, numa personagem totalmente irreconhecível e bizarra na maior parte do tempo, deve-se a Bill Corso e Valli O'Reilly.
Em tons de drama e comédia negra, por vezes negra demais, temos aqui um filme que nos faz pensar sobre muitos assuntos. Para mim, o principal, é como se adequa perfeitamente através da ironia e da fantasia a um mundo real que presenciamos e vivenciamos todos os dias.

7 / 10

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Water (2005)

Água de Deepa Mehta é um brilhante e emocionante filme passado na India onde à época, a mulher após enviuvar tinha três fins possíveis. O primeiro casar com o irmão mais novo do seu marido. O segundo imolar-se com o corpo do falecido. Finalmente, a terceira forma e aquela por onde muitas passaram, era em locais destinados às viúvas e onde se dedicavam a uma vida de miséria.

Aqui sofriam um destino pior do que a própria morte pois não só estavam privadas de toda a sua dignidade através do trabalho forçado e sujeitarem-se a pedir na rua para poder sobreviver, eram também consideradas um mal social que deveria ser colocado afastado dos olhos e dos caminhos de todos os outros.

Era com estas restrições que viviam diariamente, algumas durante décadas, e algumas bem jovens. O seu destino estava entregue ao abandono e à exclusão social simplesmente porque eram viúvas.
As humilhações no entanto, não vinham só do exterior. Também se faziam sentir entre o própiro grupo de mulheres. Algumas eram forçadas a prostituir-se aos grandes senhores da cidade, homens de respeito das castas mais altas, fazendo assim enriquecer as matriarcas que delas "tomavam conta". Uma vez desrespeitadas puniam as mais fracas da forma que achassem mais conveniente. Não só tinham de se conformar em ser marginalizadas pela sociedade em geral como também tinham assim de se preocupar com a marginalização dentro do próprio grupo.

No entanto, numa época em que pela India se sentiam ventos de mudança, também estes chegavam às mentes e às consciências das pessoas que se recusavam a negar e esconder os seus sentimentos e que queriam assim mudar os velhos costumes de um novo país que queria emergir.
Dono de um brilhante trabalho de fotografia da autoria de Giles Nuttgens que cruza harmoniosamente as cobres vibrantes e quentes de uma India rica e poderosa com uns tons cinza de tempos passados ficam, no entanto, presentes na memória daqueles que viveram décadas privados dos seus direitos e das suas liberdades individuais.
Não só do argumento, de boas interpretações em particular as de Lisa Ray e de John Abraham, e de um bom trabalho a nível fotográfico vive o filme. Considerando que a acção decorre num país tão vibrante como a India seria impensável não ter aqui presente uma riquíssima banda-sonora da autoria de Mychael Danna e do duplamente Oscarizado A. R. Rahman que confere ao filme a sensibilidade que em diversos momentos lhe falta não pelo filme em si mas pela história que ele mesmo conta.
Temos aqui um filme verdadeiramente magnífico.



8 / 10