quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Alice Drummond

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1928 - 2016
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Cahiers du Cinéma 2016 - Top do Ano

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Não é só de prémios que o final do ano se faz mas também das listas daqueles que mais se destacam pela sua qualidade. Hoje a mais reputada revista de cinema do mundo, o Cahiers de Cinéma, divulgou o seu Top Anual entre os quais figuram alguns dos candidatos a Oscar de Filme Estrangeiro e outros dos mais antecipados títulos do ano.
São eles:
  1. Toni Erdmann, de Maren Ade
  2. Elle, de Paul Verhoeven
  3. The Neon Demon, de Nicolas Winding Refn
  4. Aquarius, de Kleber Mendonça Filho
  5. Ma Loute, de Bruno Dumont
  6. Julieta, de Pedro Almodóvar
  7. Rester Vertical, de Alain Guiraudie
  8. La Loi de la Jungle, de Antonin Peretjakto
  9. Carol, de Todd Haynes
  10. Le Bois dont les Rêves sont Faits, de Claire Simon
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João "Joni" Martins

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1953 - 2016
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Tejo Mar (2013)

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Tejo Mar de Bernard Lessa é uma curta-metragem brasileira presente na Sessão #5 do Shortcutz Rio de Janeiro este mês de Novembro numa história que relata o encontro e inserção numa cultura distante que se aproxima pela língua e pelo mar.
João (Welket Bungué) está no Rio de Janeiro há cerca de dez meses. Persegue um sonho e apesar da cidade começar a ser-lhe familiar, sente-se distante das suas origens na Guiné-Bissau e de Portugal de onde saiu rumo a terras de Vera Cruz.
De um lado a esperança do um novo começo enquanto do outro o peso de um passado com raízes e elos de ligação. Poderá João resistir a este novo começo ou o seu passado tem um peso forte demais do qual não se conseguirá desligar?
O realizador e argumentista Bernard Lessa cria esta história onde se colidem dois mundos. Por um lado o realizador recorre a imagens do passado e cartões postais com histórias e lembranças de um passo já algo distante que tantos e tantos outros semelhantes ao protagonista desta história partilharam. A esperança de um novo futuro, com mais prosperidade económica e concretização de sonhos tidos está espelhado nessas fotografias e nessas palavras que não se perderam e que se tornam cada vez mais presentes num tempo em que a crise se acentua e em que os sonhos parecem dissipar-se no ar.
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"(...) mortais perdidos em fantasias oceânicas"... Assim começa esta curta-metragem que relembra e recorda histórias de um passado contínuo. O Atlântico que separa dois mundos que falam a mesma língua e que sempre foi o veículo de transporte que fez crescer e morrer tanto histórias como esses sonhos pretendidos. Em Tejo Mar - numa brilhante e simpático alegoria que caracteriza este grande oceano - encontramos então um desses sonhadores - "João" - que fala ao telefone com alguém que deixou nessa agora distante Lisboa. Sobre um amor interrompido e como pretende alcançar um sonho. Um jovem emigrante num novo país onde parece sentir-se familiar - mas talvez não tão integrado - e que luta por conseguir um novo futuro percebendo, no entanto, faltarem-lhe as bases para que o mesmo possa ser concretizado. Durante este percurso conhece "Marina", uma jovem brasileira de quem se aproxima e com quem estabelece uma relação de ocasião que, não o completando, o levam a querer mais desse seu passado.
Nesta que é uma história de separação, o nosso protagonista parece não conseguir estabelecer raízes ou elos de ligação por onde passa mantendo-se, no essencial, um navegador errante entre paragens distantes e, tal como o pensamento final de García Lorca "leva no sangue a água dos mares"... de porto em porto, sem destino ou origem, cruza fronteiras, ultrapassa barreiras e pisa várias terras sentindo-se um filho de todas sem uma paragem - e de certa forma sem uma origem - definitiva.
Os elos de ligação e o seu final, as origens, os destinos, a saudade e a incerteza da tal pertença são uma constante neste Tejo Mar que se demarca por uma presente nostalgia e uma inconstância quanto ao "amanhã" filmados pela atenta câmara de Bernard Lessa e abrilhantados pela direcção de fotografia do próprio em parceria com Denis Augusto.
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7 / 10
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iBhokhwe (2014)

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iBhokhwe de John Trengove é uma curta-metragem sul-africana exibida durante a Sessão #5 do Shortcutz Rio de Janeiro este mês de Novembro que conta a história de um jovem Xhosa que recupera de uma circuncisão numa cabana no topo de uma montanha.
Enquanto ali se encontra, este jovem aguarda pela chegada dos anciãos que o devem encaminhar para a sua nova etapa de vida mas que, no entanto, parecem nunca mais aparecer. Da paciente espera ao desespero, o jovem Xhosa parece estar sózinho no mundo.
Logo no início da curta-metragem de John Trengove, o espectador é informado sobre o significado do Ukwaluka, ritual de circuncisão masculina que marca a passagem do jovem rapaz para a idade adulta sendo ainda uma respeitada "cura" para a homossexualidade.
Perdido dentro de um espaço confinado, e no qual apenas pode esperar por aqueles que o vão lançar na sua nova etapa de vida, este jovem parece abandonado no seu próprio desespero apenas momentaneamente acompanhado por uma criança que ali vai saber da sua situação. Sem a companhia dos anciãos da vila, será Xolani (Nikosipendule Cengani) mais uma vítima de um preconceito social - e tribal - que ali está como que culpado de um qualquer "crime" e condenado a um esquecimento comunitário? Para esta questão poderá facilmente encontrada uma resposta quando - e se - o espectador se recordar de forma imediata da primeira explicação encontrada para a prática Ukwaluka, ou seja, a circuncisão masculina como fora de "cura" da (homo)sexualidade dos jovens. Desta forma, percebemos que este ritual de transição não será tanto pela "chegada" de um novo homem membro da tribo mas sim pela sua transformação naquilo que é - para eles - aceitável para a mesma expiando a sua condição e o seu ser no que consideram ser benéfico para um todo.
Moralmente duvidoso pelo seu contexto social mas compreensível - o pensamento e não o acto - pela comunidade que esta curta-metragem pretende retratar, iBhokhwe é assim o espelho de um abandono e de uma ostracização social de um jovem que pretendeu viver uma vida moralmente digna para com o seu ser mas que se viu preso às amarras de um conservadorismo - social e moral - alheio que o tornaram num elemento indesejado entre os seus. Este isolamento espelhado não só pelo abandono dos seus como também pelo socorro que pede e que não é respondido definem principalmente a sua comunidade que deseja um grupo forte e coeso mas que elimina pela diferença através de um conjunto de rituais iniciação (exclusivos) e que para lá de garantirem meios de sobrevivência em condições adversas - até que ponto pode esta homem outrora criança resistir num meio adverso -, o condenam a um esquecimento social privando-o de meios de subsistência, de auxílio e até da visita ou companhia dos seus (até então) entes mais próximos.
A cabra - o resistente final - normalmente associada a uma simbologia de liberdade e anseio de ruptura com as normas estabelecidas é então, a figura representativa de um jovem "Xolani" que resolveu fugir do seu casulo imposto e encontrar vida - ou falta dela - no mundo exterior que desconhece mas que terá de forçosamente abraçar pela indiferença dos seus. Quando alguém se lembrar - finalmente - da sua existência, apenas irá encontrar aquilo que dele ficou... a imposta auto-libertação.
Simbólica e metafórica iBhokhwe é uma curta-metragem que vive de símbolos, suposições e enigmas que mesclam a tradição e o conservadorismo como a capacidade de revelar uma mente criada no seu meio mas desejosa de conhecer - e viver - todo um mundo exterior onde pode expressar o seu "eu" e viver esse tal "perigoso" desconhecido.
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8 / 10
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Satellite Awards 2016: os nomeados

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Cinema
Melhor Filme
Captain Fantastic, de Matt Ross
Fences, de Denzel Washington
Hacksaw Ridge, de Mel Gibson
Hell or High Water, de David Mackenzie
Hidden Figures, de Theodore Melfi
Jackie, de Pablo Larraín
La La Land, de Damien Chazelle
Lion, de Garth Davis
Loving, de Jeff Nichols
Moonlight, de Barry Jenkins
Manchester by the Sea, de Kenneth Lonergan
Nocturnal Animals, de Tom Ford
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Melhor Documentário
13th, de Ava DuVernay
The Beatles: Eight Days a Week - The Touring Years, de Ron Howard
The Eagle Huntress, de Otto Bell
Fuocoammare, de Gianfranco Rosi
Gleason, de Clay Tweel
The Ivory Game, de Kief Davidson e Richard Ladkani
Life, Animated, de Roger Ross Williams
O.J.: Made in America, de Ezra Edelman
Tower, de Keith Maitland
Zero Days, de Alex Gibney
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Melhor Filme de Animação
Finding Dory, de Andrew Stanton e Angus MacLane
The Jungle Book, de Jon Favreau
Kimi No Na Wa., de Makoto Shinkai
Kubo and the Two Strings, de Travis Knight
Ma Vie de Courgette, de Claude Barras
Moana, de Ron Clements, John Musker, Don Hall e Chris Williams
Sarusuberi: Miss Hokusai, de Keiichi Hara
La Tortue Rouge, de Michael Dudok de Wit
Trolls, de Walt Dohrn e Mike Mitchell
Zootopia, de Byron Howard, Rich Moore e Jared Bush
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Melhor Filme Estrangeiro
Ah-ga.ssi, de Chan-wook Park (Coreia do Sul)
D'Ardennen, de Robin Pront (Bélgica)
Elle, de Paul Verhoeven (França)
En Man Som Heter Ove, de Hannes Holm (Suécia)
Forushande, de Asghar Farhadi (Irão)
Hymyilevä Mies, de Juho Kuosmanen (Finlândia)
Julieta, de Pedro Almodóvar (Espanha)
Ma' Rosa, de Brillante Mendonza (Filipinas)
Ray, de Andrey Konchalobskiy (Rússia)
Toni Erdmann, de Maren Ade (Alemanha)
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Melhor Actor
Casey Affleck, Manchester by the Sea
Joel Edgerton. Loving
Andrew Garfield, Hacksaw Ridge
Joseph Gordon-Levitt, Snowden
Ryan Gosling, La La Land
Tom Hanks, Sully
Viggo Mortensen, Captain Fantastic
Denzel Washington, Fences
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Melhor Actriz
Amy Adams, Nocturnal Animals
Annette Bening, 20th Century Woman
Ruth Negga, Loving
Taraji P. Henson, Hidden Figures
Isabelle Huppert, Elle
Natalie Portman, Jackie
Emma Stone, La La Land
Meryl Streep, Florence Foster Jenkins
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Melhor Actor Secundário
Mahershala Ali, Moonlight
Jeff Bridges, Hell or High Water
Hugh Grant, Florence Foster Jenkins
Lucas Hedges, Manchester by the Sea
Eddie Murphy, Mr. Church
Dev Patel, Lion
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Melhor Actriz Secundária
Viola Davis, Fences
Naomi Harris, Moonlight
Nicole Kidman, Lion
Helen Mirren, Eye in the Sky
Octavia Spencer, Hidden Figures
Michelle Williams, Manchester by the Sea
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Melhor Realizador
Denzel Washington, Fences
Mel Gibson, Hacksaw Ridge
Pablo Larrain, Jackie
Damien Chazelle, La La Land
Kenneth Lonergan, Manchester by the Sea
Barry Jenkins, Moonlight
Tom Ford, Nocturnal Animals
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Melhor Argumento Original

Matt Ross, Captain Fantastic
Taylor Sheridan, Hell or High Water
Damien Chazelle, La La Land
Yorgos Lanthimos e Efthymis Filippou, The Lobster
Kenneth Lonergan, Manchester by the Sea
Barry Jenkins, Moonlight
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Melhor Argumento Adaptado
Andrew Knight e Robert Schenkkan, Hacksaw Ridge
Allison Schroeder, Hidden Figures
Justin Marks, The Jungle Book
Luke Davis, Lion
Kieran Fitzgerald e Oliver Stone, Snowden
Todd Komarnicki, Sully
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Melhor Montagem
Tim Squyres, Billy Lynn’s Long Halftime Walk
Steven Rosenblum, The Birth of a Nation
John Gilbert, Hacksaw Ridge
Tom Cross, La La Land
Alexandre de Francheschi, Lion
Joi McMillon e Nat Sanders, Moonlight
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Melhor Fotografia
John Toll, Billy Lynn’s Long Halftime Walk
Simon Duggan, Hacksaw Ridge
Jani-Petteri Passi, Hymyilevä Mies
Bill Pope, The Jungle Book
Linus Sandgren, La La Land
James Laxton, Moonlight
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Melhor Música Original
John Williams, The BFG
Rupert Gregson Williams, Hacksaw Ridge
Hans Zimmer, Hidden Figures
John Debney, The Jungle Book
Justin Hurwitz, La La Land
Lesley Barber, Manchester by the Sea
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Melhor Canção Original
“Running”, Hidden Figures
“Audition”, La La Land
“City of Stars”, La La Land
“I’m Still Here”, Miss Sharon Jones
“Dancing with Your Shadow”, Po
“Can’t Stop the Feeling”, Trolls
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Melhor Direcção Artística/Design de Produção
Dan Hennah, Alice Through the Looking Glass
Gary Freeman, Allied
Barry Robinson, Hacksaw Ridge
Jean Rabasse, Jackie
Christophe Glass, The Jungle Book
David Wasco, La La Land
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Melhor Guarda-Roupa
Colleen Atwood, Alice Through the Looking Glass
Courtney Hoffman, Captain Fantastic
Alexandra Byrne, Doctor Strange
Madeline Fontaine, Jackie
Mary Zophres, La La Land
Eimer Ní Mhaoldomhnaigh, Love & Friendship
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Melhores Efeitos Visuais
The BFG
Billy Lynn’s Long Halftime Walk
Dead Pool
Doctor Strange
The Jungle Book
Sully

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Melhor Som
13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi
Allied
Billy Lynn's Long Halftime Walk
Hacksaw Ridge
The Jungle Book
La La Land
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Shortcutz Viseu - vencedor de Outubro

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Depois da cerimónia de terceiro aniversário em Setembro último que celebrou O Silêncio Entre Duas Canções, de Mónica Lima como Melhor Curta do Ano, o Shortcutz Viseu acaba de anunciar o vencedor do mês de Outubro.
Post-Mortem, de Belmiro Ribeiro - já presente em competição no MOTELx - foi a curta-metragem escolhida pelo júri do Shortcutz Viseu e o primeiro filme curto em competição para a Melhor Curta do Ano na quarta cerimónia a realizar na segunda metade de 2017.
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terça-feira, 29 de novembro de 2016

The National Board of Review 2016: os vencedores

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Foram há momentos divulgados os vencedores do The National Board of Review para 2016 iniciando, desta forma, a temporada de prémios deste ano, tendo saído grande vencedora a mais recente obra de Kenneth Lonergan, Manchester by the Sea. São os vencedores:
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Filme: Manchester by the Sea, de Kenneth Lonergan
Documentário: O.J.: Made in America, de Ezra Edelman
Filme de Animação: Kubo and the Two Strings, de Travis Knight
Filme Estrangeiro: Forushande, de Asghar Farhadi (Irão)
Realizador: Barry Jenkins, Moonlight
Realizador Revelação: Trey Edward Shults, Krisha
Actor: Casey Affleck, Manchester by the Sea
Actriz: Amy Adams, Arrival
Actor Secundário: Jeff Bridges, Hell or High Water
Actriz Secundária: Naomie Harris, Moonlight
Intérprete Masculino Revelação: Lucas Hedges, Manchester by the Sea
Intérprete Feminina Revelação: Royalty Hightower, The Fits
Elenco: Hidden Figures
Argumento Original: Kenneth Lonergan, Manchester by the Sea
Argumento Adaptado: Jay Cocks e Martin Scorsese, Silence
Spotlight Award: Peter Berg e Mark Wahlberg (colaboração creativa)
NBR Freedom of Expression Award: Cameraperson, de Kirsten Johnson
Top do Ano: Arrival, de Denis Villeneuve, Hacksaw Ridge, de Mel Gibson, Hail, Caesar!, de Ethan Coen e Joel Coen, Hell or High Water, de David Mackenzie, Hidden Figures, de Theodore Melfi, La La Land, de Damien Chazelle, Moonlight, de Barry Jenkins, Patriot’s Day, de Peter Berg, Silence, de Martin Scorsese e Sully, de Clint Eastwood
Top de Filmes Estrangeiros: Ah-ga-ssi, de Chan-wook Park (Coreia do Sul), Elle, de Paul Verhoeven (França), Julieta, de Pedro Almodóvar (Espanha), Neruda, de Pablo Larraín (Chile) e Under Sandet, de Martin Zandvliet (Dinamarca)
Top Documentários: De Palma, de Noah Baumbach e Jake Paltrow, The Eagle Huntress, de Otto Bell, Gleason, de Clay Tweel, Life, Animated, de Roger Ross Williams e Miss Sharon Jones!, de Barbara Kopple
Top Filmes Independentes: 20th Century Women, de Mike Mills, Captain Fantastic, de Matt Ross, Creative Control, de Benjamin Dickinson, Eye in the Sky, de Gavin Hood, The Fits, de Anna Rose Holmer, Green Room, de Jeremy Saulnier, Hello, My Name is Doris, de Michael Showalter, Krisha, de Trey Edward Shults, Morris from America, de Chad Hartigan e Sing Street, de John Carney
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Gotham Independent Film Awards 2016: os vencedores

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Longa-Metragem: Moonlight, de Barry Jenkins (real.) Adele Romanski, Dede Gardner e Jeremy Kleiner (prods.) - (A24)
Documentário: O.J.: Made in America, de Ezra Edelman (real.) Caroline Waterlow, Ezra Edelman, Tamara Rosenberg, Nina Krstic, Deirdre Fenton e Erin Leyden (prods) - (ESPN Films)
Prémio Bingham Ray - Realizador Revelação: Trey Edward Shults, Krisha
Actor: Casey Affleck, Manchester by the Sea
Actriz: Isabelle Huppert, Elle
Actor/Actriz Revelação: Anya Taylor-Joy, The Witch
Argumento: Moonlight, Tarell Alvin McCraney e Barry Jenkins
Elenco: Moonlight, Mahershala Ali, Naomie Harris, Alex Hibbert, André Holland, Jharrel Jerome, Janelle Monáe, Jaden Piner, Trevante Rhodes, e Ashton Sanders
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Série Revelação - Longa Duração: Crazy Ex-Girlfriend, Rachel Bloom e Aline Brosh McKenna (creadores) Marc Webb, Rachel Bloom, Aline Brosh McKenna e Erin Ehrlich (prods. Exesc.) - (The CW)
Série Revelação - Curta Duração: Her Story, Jen Richards e Laura Zak (Creadores) - (herstoryshow.com)
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Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira 2016: Selecção Oficial

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Foi divulgada a Selecção Oficial da XXª edição do Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira que irá decorrer na cidade entre os próximos dias 4 e 11 de Dezembro no Auditório da Biblioteca Municipal.
Entre as longas-metragens apenas uma co-produção portuguesa estando o cinema brasileiro fortemente representado por alguns dos mais emblemáticos filmes da última temporada. É a selecção oficial:
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Longas-Metragens
Animal Político, de Tião (Brasil)
Borrasca, de Francisco Garcia (Brasil)
A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha (Portugal/Brasil)
Elis, de Hugo Prata (Brasil)
Mãe Só Há Uma, de Anna Muylaert (Brasil)
A Serpente, de Jura Capela  (Brasil)
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Curtas-Metragens
Antes da Encanteria, de Elena Meirelles, Gabriela Pessoa, Jorge Polo, Lívia de Paiva e Paulo Víctor Soares (Brasil)
António, Lindo António, de Ana Maria Gomes (Portugal)
The Beast, de Samantha Nell e Michael Wahrmann (Brasil/África do Sul)
Campo de Víboras, de Cristèle Alves Meira (Portugal/França)
Cosme, de Luciano Scherer (Brasil)
Ela, de Francisco Lobo (Portugal)
Heroísmo, de Helena Estrela Vasconcelos (Portugal)
À Noite Fazem-se Amigos, de Rita Barbosa (Portugal)
Penúmbria, de Eduardo Brito (Portugal)
Por Diabos, de Carlos Amaral (Portugal)
Quando os Dias eram Eternos, de Marcus Vinicius Vasconcelos (Brasil)
Sesmaria, de Gabriela Richter Lamas (Brasil)
Uma Breve História da Princesa X, de Gabriel Abrantes (Portugal)
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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Van Williams

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1934 - 2016
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domingo, 27 de novembro de 2016

Carlos Santos

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1937 - 2016
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sábado, 26 de novembro de 2016

Caminhos do Cinema Português 2016: os vencedores

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Terminou hoje a XXII edição do Caminhos do Cinema Português que decorreu em Coimbra e, pela primeira vez, com uma extensão a Leiria. A Selecção Oficial teve como júris eu próprio, os actores Rita Salema, Luís Gaspar e Teresa Tavares, o argumentista João Tordo e a realizadora Margarida Leitão tendo em conjunto decidido os seguintes prémios:
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Selecção Oficial
Grande Prémio: Chatear-me-ia Morrer tão Joveeeeeeem…, de Filipe Abranches
Longa-Metragem: Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira
Documentário: Eldorado, de Rui Eduardo Abreu, Thierry Besseling e Loïc Tanson
Curta-Metragem: Campo de Víboras, de Cristèle Alves Meira
Menção Honrosa: Menina, de Simão Cayatte
Animação: Estilhaços, de José Miguel Ribeiro
Realizador: Rita Azevedo Gomes, Correspondências
Actor: Sinde Filipe, Zeus
Actriz: Ana Padrão, Campo de Víboras
Actor Secundário: Miguel Cunha, Zeus
Actriz Secundária: Elizabete Piecho, O Pecado de Quem Nos Ama
Revelação: Leonor Teles, Balada de um Batráquio
Argumento Original: João Nicolau e Mariana Ricardo, John From
Argumento Adaptado: Ivo M. Ferreira e Edgar Medina, Cartas da Guerra
Montagem: Sandro Aguilar, Cartas da Guerra
Fotografia: João Ribeiro, Cartas da Guerra
Música Original: Filipe Raposo, Refrigerantes e Canções de Amor
Som: Ricardo Leal e Tiago Matos, Cartas da Guerra
Guarda-Roupa: Sílvia Grabowski, Zeus
Direcção Artística: Artur Pinheiro, Refrigerantes e Canções de Amor
Caracterização: Sara Menitra, Zeus
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Prémio do Público: Refrigerantes e Canções de Amor, de Luís Galvão Teles
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Selecção Ensaios
Ensaio Internacional: Emily Must Wait, de Christian Wittmoser
Ensaio Nacional: Pronto, Era Assim, de Patrícia Rodrigues e Joana Nogueira
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Prémios da Imprensa
Filme: Eldorado, de Rui Eduardo Abreu, Thierry Besseling e Loïc Tanson
Menção Honrosa: A Um Mar de Distância, de Pedro Magano
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Prémio dos Cineclubes
Filme: Eldorado, de Rui Eduardo Abreu, Thierry Besseling e Loïc Tanson
Menção Honrosa: Landing, de Filipe Martins
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Fritz Weaver

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1926 - 2016
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Ron Glass

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1945 - 2016
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Retratos a Preto e Branco (2016)

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Retratos a Preto e Branco de Rui Simões é um documentário em formato de curta-metragem presente na XX edição do Caminhos do Cinema Português, a decorrer em Coimbra e no qual tenho o prazer de ser um dos seus júris oficiais.
O realizador transporta o espectador para dentro do bairro da Cova da Moura, na Amadora onde um conjunto dos seus residentes oriundos das antigas colónias portuguesas em África se deixam retratar por uma pintora enquanto falam de si, das suas vidas e das suas experiências enquanto moradores do mesmo.
Íntimo e pessoal, Retratos a Preto e Branco aproxima o espectador de pessoas como Eunice, cozinheira que vive no bairro desde a década de 70, Teodoro, um reformado da construção civil, Silvino de 32 anos e auxiliar de educação ou Patrícia, de 34 anos de idade e monitora da associação Moinho da Juventude, levando-o a escutar desabafos sobre a vida passada, relatos de como famílias ali foram constituídas e até de como alguns dos seus habitantes mais jovens já ali nascidos, tentam agora revitalizar o espaço quebrando tabus e introduzindo-o a uma população desconfiada das suas gentes graças a histórias e notícias de criminalidade que, em tempos, o tinham como pano de fundo.
Do espírito de comunidade à queda de preconceitos, da violência às histórias de entre-ajuda, Retratos a Preto e Branco não esquece a solidariedade e sentimento de vizinhança ali criados características que são, aliás, indicadas como das mais fortes e conciliadoras da comunidade enquanto se desenham e retratam rostos marcados e marcantes de um bairro que se tenta regenerar - a si e à sua imagem - apresentando-se como um elemento fundamental da cidade e das suas gentes. Da desmistificação de um passado conturbado à apresentação e conhecimento de toda uma nova população afastada dos caminhos que deram má fama à comunidade, Rui Simões apresenta um documentário simples mas cheio de alma e com muitas histórias iniciadas mas que tanto têm ainda por contar.
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7 / 10
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Sendas (2016)

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Sendas de Raquel Felgueiras é uma curta-metragem portuguesa de animação e uma das que fez parte da Selecção Oficial da XXIIª edição dos Caminhos do Cinema Português que hoje termina em Coimbra.
Como sobreviver a um acontecimento traumático? Como sobreviver-lhe quando vivido por duas pessoas simultaneamente? E, no final, como encará-lo num futuro próximo distanciando ambas vivências e delimitando um caminho alternativo?
Num registo de animação - tão rica que é no panorama cinematográfico português -, a realizadora Raquel Felgueiras apresenta uma história que, pela sua simplicidade, chega ao espectador com a importante mensagem sobre a forma como elementos com um mesmo passado e um percurso de vida semelhante - dentro das suas diferenças - consegue expiar um passado traumático libertando-se, ou não, das pesadas consequências e que o(s) marcaram e que, de uma ou outra forma, os moldaram a uma vida porvir.
Em breves minutos, o espectador acompanha percursos distintos, modelados pela dita "estrada da vida" que danificou e ajudou a superar um momento transformador e a forma como o mesmo marcou vidas distintas. Numa narrativa que não julga ou condena, a realizadora apresenta sim um relato sobre como o destino pode estar marcado, mas o percurso "lá" chegar pode sempre ser o resultado de um conjunto de escolhas e oportunidades que ou são provocadas, acontecem... ou são proporcionadas.
Interessante, inteligente e sobretudo simples na sua pretensão em fazer chegar uma mensagem, Sendas afirma-se para lá da obra cinematográfica que é mas sim num estudo exímio sobre a recuperação (da alma) que apenas peca pela sua curtíssima duração.
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6 / 10
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O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu (2016)

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O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu de João Botelho é uma longa-metragem portuguesa subdividida em dois segmentos específicos. Num primeiro momento o espectador depara com um documentário sobre a vida e obra do realizador Manoel de Oliveira, sobre a influência que este exerceu sobre Botelho seguido por um segundo segmento ficcionado no qual é dado corpo a uma história que Oliveira pretendia realizar, Prostituta ou a Mulher que Passa mas que ficou a cargo de Botelho com o título A Rapariga de Luvas.
Num registo que percorre uma boa parte da obra ficcional de Manoel de Oliveira, esta longa-metragem de João Botelho reflecte sobre a mesma e sobre a genialidade do realizador português ao preceder vários estilos como o construtivismo que apresenta a cidade do Porto como uma cidade onde se encontra um rebuliço pouco natural numa cidade portuguesa da época - recordo que o momento escolhido é retirado do filme Douro, Faina Fluvial (1931) - ou o realismo poético de Aniki Bóbó (1942) que aproxima o espectador de uma realidade pouco provável para a década em questão.
Da vida à morte, da realidade à imaginação romântica de uma realidade perdida, O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu revisita ainda obras como Acto da Primavera (1963), A Caça (1964) sobre a crueldade dos animais em paralelo àquela dos homens, Amor de Perdição (1978), Francisca (1981), Le Soulier de Satin (1985), Os Canibais (1988), 'Non' ou a Vã Glória de Mandar (1990), Vale Abraão (1993), Viagem ao Princípio do Mundo (1997), Belle Toujours (2006), O Estranho Caso de Angélica (2010) e ainda Gebo et l'Ombre (2012) sempre tendo em mente uma premissa que fez história... "se não há dinheiro para filmar uma carruagem que se filme e bem a sua roda".
Da inspiração do mestre ao mise en scène de um dos seus sonhos, Botelho parte à descoberta da história que fascinou Oliveira e que abre o segundo momento deste filme - agora ficcionado - no qual dá corpo a Prostituta ou A Mulher que Passa (de Oliveira) aqui baptizado como A Rapariga de Luvas... a história de uma jovem mulher (Mariana Dias) maltratada pela violência de um pai abusivo e que se vê forçada a fugir de casa encontrando lugar, como único refúgio, num bordel onde é obrigado a vender o corpo aos homens abastados da cidade.
Objecto de desejo dos mesmos, esta jovem esconde apenas as suas mãos, marcadas pelas queimaduras infligidas pelo pai até que conhece um jovem (Miguel Nunes) que se apaixona perdidamente por ela e tenta retirá-la de uma vida de desgraça. Mas, como esta nunca termina solteira, os infortúnios voltam a bater-lhe à porta e colher a sua saúde até uma morte prematura.
Num registo que recupera o cinema mudo, este A Rapariga de Luvas é assumidamente o ponto forte de todo o filme - e aquele no qual baseio toda a minha pontuação ao mesmo - conferindo-lhe a essência de eras passadas, a "cor" de uma cidade onde prevalecem costumes sombrios e autoritários mas que consegue abrilhantar a verve de um humanismo improvável nas suas personagens mostrando-lhes, e também através delas, que a esperança consegue persistir e resistir no seu mais profundo e íntimo ser.
Com uma direcção de fotografia exemplar e que facilmente se consegue atribuir a um exímio João Ribeiro como que levando o espectador a apreciar um quadro em movimento - aliás, muito prolífero o trabalho do director de fotografia neste último ano com filmes como Gelo, Treblinka, Cartas da Guerra, A Toca do Lobo, Ascensão e o ainda por estrear Zeus - e uma sentida interpretação de Mariana Dias com todo o potencial para poder ter sido protagonista de uma longa-metragem, O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu é uma obra original e diferente - na sua concepção - que oscila entre dois momentos distintos onde prevalece a ficção com todo o potencial para se poder ter assumido como uma obra irreverente e avassaladora.
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7 / 10
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sexta-feira, 25 de novembro de 2016

David Hamilton

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1933 - 2016
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Gideon Bachmann

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1927 - 2016
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Confidente (2016)

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Confidente de Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes é uma curta-metragem experimental portuguesa presente na competição oficial da XXª edição do Caminhos do Cinema Português, em Coimbra.
Da topologia geográfica do espaço e como este se organiza numa cidade dividida em bairros, prédios, vivendas e demais constituintes ou da relação desta para com o seu meio envolvente... desta à montanha e ao mar e a criação de uma identidade específica de espaço.
Com argumento da autoria da dupla de realizadores esta curta-metragem dispersa entre a noção de espaço e como este contribui para a formação de uma identidade específica. Como primeiro o espaço geográfico cria essa identidade (ou personalidade?) transformando-se, de seguida, todos os seus pequenos espaços - de bairros, blocos de prédios e, dentro destes, os apartamentos - criam as suas próprias especificidades dando-lhes uma vida própria e característica que as identificam.
De difícil receptividade e eventualmente criada para um circuito de festivais onde a dinâmica e tema estejam directamente direccionados para um conceito de identidade versus urbanização, Confidente dispersa por uma relação pensada entre Homem e o espaço que, nem sempre, consegue chegar a um espectador interessado ainda que esteja subjacente na sua mensagem, esta constante busca de uma caracterização do meio que nos (o) rodeia.
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1 / 10
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Sophia Estudante 2016: os nomeados

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A Academia Portuguesa de Cinema divulgou os nomeados nas quatro categorias - Ficção, Documentário, Animação e Experimental - aos Prémios Sophia Estudante. São eles:
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Ficção
Crime Perfeito, de Joana Alves, Sérgio Bernardo Costa e Susana Semedo (RESTART)
Estadistas, de Vasco Reis Ruivo (ULHT)
A Instalação do Medo, de Ricardo Leite (ESMAE)
Intromissão, de Miguel Pinto e Francisco Morais (UBI)
Post-Mortem, de Belmiro Ribeiro (ESMAE)
O Regresso, de Pedro Branco (Escola das Artes - Católica)
Sou Puta, de Inês S. Pinto, Pedro Pimentel, Rafael Neto e Tiago Machado (UTAD)
A Terceira Metade, de Virgílio Pinto (ULHT)
Twisted (ETIC)
Vermelho, de Gonçalo Domingues, Fábio Sequeira, Malitsa Francisco e Tiago Rodrigues (RESTART)
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Documentário
Até à Próxima (ULHT)
O Filho da Arte (ETIC Algarve)
Hompesch Chez Moi (ESMAE)
Mulheres D'Ouro (UTAD)
Nha Storia, de Inês Carrola (U.Minho)
O Vôo da Águia, de João Chambel (ETIC)
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Animação
Chambi, de Gonçalo Encarnação, João Machado, Nuno Coelho e Yue Wang (ULHT)
#Lingo, de Vicente Niro (IPCA)
Marvin's Island, de António Vieira, Filipa Burmester e Pedro Oliveira (ESMAE)
Patrioska, de Tiago Araújo (IPCA)
Pronto, Era Assim, de Joana Nogueira e Patrícia Rodrigues (IPCA)
Sweet Bite, de Miguel Bettencourt (Escola das Artes - Católica)
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Experimental
Hocus Pocus, de André Amaral (Soares dos Reis)
Incrediblue, de Roberto Santos (UBI)
Monte Zuma FM (ESMAE)
Moving Like Waves, de Mariana Borges Rodrigues (UBI)
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Os vencedores, em cada uma das categorias, serão conhecidos numa cerimónia a realizar no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no próximo dia 7 de Dezembro sendo, ao mesmo tempo, os quatro nomeados na categoria de Sophia de Estudante dos prémios Sophia da Academia Portuguesa de Cinema que se realizará em Março de 2017.
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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Florence Henderson

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1934 - 2016
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Por Diabos (2016)

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Por Diabos de Carlos Amaral é uma curta-metragem portuguesa de ficção que imita o estilo mockumentary, presente na Selecção Oficial - Em Competição da XXIIª edição dos Caminhos do Cinema Português que decorre até ao próximo dia 26 de Novembro no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra.
Rosa Maria Azevedo desapareceu nos anos 70. Saída da sua casa durante a noite, foi vista a caminhar em direcção a um monte para dele nunca mais regressar. Esta é a história da busca do seu marido pelo seu paradeiro.
Num registo semelhante ao documental onde são fornecidos ao espectador pequenos elementos da vida conhecida desta mulher, Por Diabos teoria sobre tradições, mitos e costumes populares de uma região que remontam ao período da ocupação Sueva da Península Ibérica. Com testemunhos populares e algumas suposições que a investigação histórica fez compreender, esta curta-metragem alude ao despertar de um mal adormecido que ocupa a região deste tempos distantes.
O mal, esse factor distanciado e nunca realmente identificado no imaginário popular para lá dos costumes celebrados que atentam contra a "norma" instituída pelo conservadorismo da região, é o mote principal deste pequeno e intrigante filme que sem o recurso a imagens ficcionadas consegue instalar um clima de dúvida, suspeita e superstição popular capaz de dominar a atenção do espectador para o tal "desconhecido" que se esconde nas sombras de uma aldeia remota perdida no interior profundo de um país mergulhado numa ditadura ultra-conservadora.
Explicar o inexplicável no seio de um acontecimento raro e do qual ninguém tem, de facto, provas concretas, domina neste filme que tem uma ambiência muito própria recriada por uma intensa e original banda-sonora da autoria de Miguel Santos, capaz de criar esse tal indecifrável "mal" sem que o espectador alguma vez o observe e confirme a sua existência. Desta forma, e tal como os populares que nunca se chegam, também eles, a observar, o espectador fica preso numa teia de insinuações, crenças mistificadas pela perpetuação de um regime que sobreviveu à sua custa e do fanatismo religioso que implementava a culpa sem que, na realidade, nem personagens nem espectador alguma vez possam afirmar que - de facto - Rosa Maria Azevedo tenha sido uma vítima desse tal mal não identificado mas que a superstição e a crença popular alimentam como uma realidade.
Engenhoso, imaginativo e directo aos mitos que abundam no interior profundo de um país enraízado na crença e superstição católica, Por Diabos é um daqueles filmes curtos que o espectador adora pelas incertezas expostas e que desejaria ter mais... principalmente se esse "mal" ganhasse forma e corpo.
Depois de Justino (2010) e do nomeado ao Sophia Longe do Éden (2013), Por Diabos confirma a vertente criativa de um realizador que aposta e oscila no género real versus ficção para dar alma a um conjunto de histórias sobre personagens atípicas e até mesmo... inexistentes pela sua não confirmação "terrena" como aqui temos exposto. Por Diabos é assim uma franca, genial e bem sucedida aposta num género que, quando bem feito, tem sempre pernas para andar.
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8 / 10
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Il Suo Nome (2015)

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Il Suo Nome de Pedro Lino é um documentário em formato de curta-metragem presente na Selecção Oficial - Em Competição da XXIIª edição dos Caminhos do Cinema Português que decorre até ao próximo sábado dia 26 de Novembro, em Coimbra.
Gesuino é um homem de 88 anos que dedicou toda a sua vida à pastorícia. Sózinho e solitário, nunca formou família e nunca teve filhos. A sua família desaparece lentamente e ele, isolado, recorda um passado distante.
Este simpático e por vezes até terno documentário de Pedro Lino é a reflexão de uma viagem pelo passado de um homem, as suas recordações e um nome.... aquele que já não recordando... ainda o marca. As épocas festivas passam, os Natais são celebrados como todos os demais onde a comida e o descanso fazem parte do dia mas... sempre numa solidão profunda apenas com a companhia de alguns animais que ainda mantém.
Este estudo sobre a solidão - ainda que voluntária - é, no entanto, a óbvia conclusão de uma vida que não respondeu ao seu propósito máximo... É o isolamento voluntário após um desgosto amoroso do passado provocado pela influências de uma família ultra-conservadora que via na espontaneidade dos outros uma "modernidade" potencialmente pecadora.
Como todas as histórias, também esta - real -, tem os seus momentos alegres, reveladores, que testemunham - até certo ponto - a vida de um indivíduo que se recolheu na distância da sociedade para experimentar uma vida diferente... Alguém que voluntariamente se afastou pelo desgosto de um coração partido e que encontra conforto - se é que algum... - nos animais aos quais dedicou toda a sua vida.
Terno quanto baste e um verdadeiro testemunho sobre a existência, Il Suo Nome é o mais recente trabalho deste realizador que denota uma invulgar humanidade resultado de um afastamento do mundo e que, ainda assim, consegue também reflectir sobre a memória e a sua perda, factores elementares da mesma.
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7 / 10
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Tom (2016)

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Tom de Filipa Ruiz é uma curta-metragem experimental portuguesa presente na Selecção Oficial - Em Competição da XXIIª edição dos Caminhos do Cinema Português que decorrem até ao próximo dia 26 de Novembro, em Coimbra.
Num breve minuto esta curta-metragem apresenta um homem deitado numa cama enquanto escutamos um relato sobre a vontade de ter filhos, a esterilidade no casal que culmina com uma sucessão de abortos (espontâneos) à qual se sucede o afastamento do casal.
Ainda que com intenções nobres e com o intuito de reflectir sobre uma relação marital, Tom não consegue, no seu brevíssimo minuto de duração, apresentar uma história suficientemente coerente que desperte - no espectador - a vontade de a seguir com toda a sua atenção. É um facto que este breve minuto não retira, ao mesmo, nenhum "tempo" mas, na prática, conseguirá cativar a atenção para que o espectador possa afirmar que esteve - de facto - a assistir um filme?!
Facilmente poderá um realizar afirmar que dirigiu um filme "experimental" mas, na sua definição, este é um que transgride regras e ultrapassa fronteiras expondo - a esse mesmo espectador - uma nova forma ou concepção de apresentar e contar uma história. Tom, com toda a boa vontade da realizadora que por aqui não se duvida que tenha existido, apresenta uma história que poderia seguramente ter sido exposta com maior segurança - e até mesmo sentido - se a dramatização tivesse seguido o caminho da ficção e exposto um momento na vida de um casal que não se remetesse a uma banalidade de um portento tratamento de fertilidade - tal a banalização...
Desinteressante e muito pouco concretizado na sua essência, Tom mais se assemelha a uma história não composta por falta de meios do que propriamente por se querer assumir como um trabalho experimental onde os limites são ultrapassáveis ficando, por aqui, como um mero apontamento que nunca se concretizou... de facto.
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1 / 10
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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Andrew Sachs

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1930 - 2016
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Prémio Actores de Cinema da Fundação GDA 2016: os vencedores

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A Fundação GDA - Direitos dos Artistas anunciou os dois vencedores anuais do Prémio Actores de Cinema atribuido a Luísa Cruz como Melhor Actriz Protagonista pelo seu desempenho em As Mil e Uma Noites - Volume II: O Desolado, de Miguel Gomes e a José Pinto como Melhor Actor Secundário por Capitão Falcão, de João Leitão.
António Capelo, porta-voz do júri composto ainda por Miguel Guilherme e Rita Blanco, referiu que "os actores deveriam receber prémios, todos os dias; os actores são premiados pelos públicos, sempre que estes participam e partilham com eles as suas criações. A Luísa Cruz é, sempre foi, uma actriz intensa, sempre nos brindou com a sua qualidade e o seu olhar sobre as personagens que interpreta acrescenta inquietação ao que nos diz e mostra, acrescenta-nos ensinamento. O José Pinto é, sempre foi para mim, uma referência de atitude ética, e de profundo amor à nossa arte; vê-lo, com esta idade, a continuar a oferecer-nos o seu ansioso olhar é um bem para todos nós”.
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Luísa Cruz - Melhor Actriz Protagonista por As Mil e Uma Noites - Volume II: O Desolado, de Miguel Gomes - com uma extensa carreira nos palcos e também na televisão, iniciou a sua carreira cinematográfica com Ao Sul (1995), de Fernando Matos Silva, Ilhéu da Contenda (1996), de Leão Lopes, Os Mutantes (1998), de Teresa Villaverde, O Capacete Dourado (2007), de Jorge Cramez, Veneno Cura (2008), de Raquel Freire, A Vida Privada de Salazar (2009), de Jorge Queiroga, Filme do Desassossego (2010), de João Botelho, Je M'Appelle Bernadette (2011), de Jean Sagols, As Mil e Uma Noites - Volume 1:  O Inquieto (2015), de Miguel Gomes, John From (2015), de João Nicolau e Refrigerantes e Canções de Amor (2016), de Luís Galvão Teles tendo ainda por estrear O Grande Circo Místico (2017), de Carlos Diegues.
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José Pinto - Melhor Actor Secundário por Capitão Falcão, de João Leitão - participou em várias peças de teatro amador e televisão em interpretações secundárias tendo, desde 1980, iniciado a sua carreira cinematográfica com Bárbara, de Alfredo Tropa regressando com Terra Fria (1992), de António Campos, e iniciando em Vale Abraão (1993), uma longa colaboração com Manoel de Oliveira com quem voltaria a trabalhar em Viagem ao Princípio do Mundo (1997), Inquietude (1998), Palavra e Utopia (2000) e Cristóvão Colombo - O Enigma (2007). José Pinto viria ainda a participar em O Anjo da Guarda (1998) e Perdida Mente (2010), de Margarida Gil, A Sombra dos Abutres (1998), de Leonel Vieira, Tráfico (1998), Quem És Tu? (2001) e O Fatalista (2005), de João Botelho, Longe da Vista (1998), A Falha (2000) e Duas Mulheres (2009), de João Mário Grilo, Jaime (1999), de António-Pedro Vasconcelos, Mal (1999), de Alberto Seixas Santos, Peixe-Lua (2000), de José Álvaro Morais, La Plage Noire (2001), de Michel Piccoli, Aparelho Voador a Baixa Altitude (2002), de Solveig Nordlund, O Delfim (2002), de Fernando Lopes, A Mulher Polícia (2003), de Joaquim Sapinho, O Fascínio (2003), de José Fonseca e Costa, Coisa Ruim (2006), de Tiago Guedes e Frederico Serra, Atrás das Nuvens (2007) e A Vida Privada de Salazar (2009), de Jorge Queiroga, Até Amanhã, Camaradas (2013), de Joaquim Leitão estando Seara de Vento (2017), de Sérgio Tréfaut ainda por estrear.
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Criado em 2008 - ano em que premiou Ivo Canelas e José Eduardo como Melhor Actor Protagonista e Melhor Secundário respectivamente -, o Prémio de Actores de Cinema Fundação GDA tem como objectivo reconhecer o mérito artístico e a excelência do trabalho de interpretação de actores e actrizes nacionais pelos seus desempenhos em longas-metragens de ficção.
Pretende-se, portanto, promover e conferir notoriedade ao trabalho dos artistas intérpretes na execução da sua actividade profissional, contribuindo desta forma para a dignificação profissional através da criação de uma homenagem pública que simboliza o relevo, o significado e o impacto associados ao desempenho das mesma bem como do potencial que elas representam para o desenvolvimento cultural, social e humano da sociedade.
Todo o processo de votação é realizado exclusivamente pelos profissionais da área assumindo-se este prémio como o reconhecimento pelos pares. O Prémio Actores da Fundação GDA distinguiu em 2015 os actores Maria do Céu Guerra por Os Gatos Não têm Vertigens, de António-Pedro Vasconcelos como Actriz Protagonista e ainda  Pedro Inês em Os Maias - Cenas da Vida Romântica, de João Botelho como Actor Secundário.
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Zeus (2016)

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Zeus de Paulo Filipe Monteiro é uma longa-metragem luso-argelina presente na Secção Oficial - Em Competição da XXIIª edição dos Caminhos do Cinema Português que decorrem até ao próximo dia 26 em Coimbra e que relata um período na vida de Manuel Teixeira Gomes, antigo Presidente da República Portuguesa e escritor, paixão que, aliás, nunca perdeu.
Quando no início da década de 20 se sentiam em Portugal os ventos de uma revolta, o então Presidente Teixeira Gomes (Sinde Filipe) fazia denotar o seu descontentamento com as elites conservadoras predominantes no país e uma vontade cada vez maior de abraçar uma liberdade que - então - não sentia possuir.
Quando nos finais de 1925 decide demitir-se da sua posição e embarcar no paquete Zeus, Teixeira Gomes iria então viver na Argélia, então colónia francesa, onde ficaria até à sua morte libertando-se das amarras de um país que vivia agora uma ditadura.
Zeus de Paulo Filipe Monteiro é então a história de um homem dividida em dois distintos segmentos. O primeiro destaca o período português do homem então Presidente da República, da figura de Estado saturada de um país que parecia retroceder esquecendo as premissas libertárias e Republicanas que vivia há mais de uma década, aproximando-o - ao país - de destinos sombrios, ultra-conservadores e retrógrados que diminuíam o Homem e elevam uma tradição que se pretendia esquecida ou, melhor dizendo, ultrapassada. De homem boémio - aspecto do seu carácter que apenas é mencionado - a homem do poder, Teixeira Gomes revela-se como um homem saturado das intrigas palacianas a que o sujeitam, das ameaças de derrube político pelos inuendos e insinuações de que é alvo bem como por essa ameaça presente de que um regime mais sombrio poderá ser a única salvação de um país que se encontra à beira de uma ruptura. A salvação pelas "sombras" que tanto temia, parece ser a certeza máximo que adivinha para um país atormentado e instável.
Da sua auto-destituição do poder para a sua própria libertação dos labirintos governativos de um país que aparenta(va) não se querer governar, Teixeira Gomes ruma à Argélia dando assim origem ao segundo momento de Zeus. É aqui que depois de percorridas as dunas de um território colonial francês, Teixeira Gomes começa o seu rápido processo de adaptação ao espaço e ao povo com quem empatiza de imediato estabelecendo sólidas relações de amizade enquanto recorda o seu turbulento passado recente numa Lisboa sombria e, como contraste, os momentos de um "Ramiro" (Ivo Canelas) auto-biográfico no Algarve de 1900. Pelas memórias - afinal um dos elementos mais importantes de todo este filme - o espectador conhece o homem "Teixeira Gomes" com uma personalidade fundamentalmente melancólica e saudosista de um passado que abandonou quando seguira para a Presidência da República, e como omite daqueles com que convive, este passado que subtilmente considerada nefasto e virtualmente pobre no seu curriculum.
Do seu jovem "Ramiro" aos amigos e conhecidos passados como "João" (Miguel Cunha numa fortíssima e memorável interpretação) o empregado que teve nas suas férias de boémia na sua terra, passando pelos amigos, conhecidos e adversários com que se cruzou no seu percurso político e que não o deixaram esquecer o homem de espírito livre e honesto nas suas convicções, este período argelino seria manchado pelos primeiros movimentos independentistas que se faziam sentir na colónia francesa e os primeiros sinais de uma invasão da Itália do Mussolini que faziam anunciar a guerra que se aproximava. Da perseguição de Lisboa àquela de que é alvo em Bougie por ser um "estrangeiro", Teixeira Gomes é um homem que no essencial vive solitário apenas na presença de "Amokrane" (Idir Benebouiche), o argelino que o acompanha para todo o lado e a mais fiel companhia destes seus dias. De Portugal - das pessoas - pouco parece restar e em todo este tempo apenas conheceu a visita de um "Norbeto Lopes" (Carloto Cotta) que o pretende entrevistar e que, de certa forma, revela o seu passado político, e o desencanto para com o país que o viu nascer marca toda uma saudade de e para com o mesmo.
Entre a boémia que marcou toda a sua juventude, o desencanto com a falta de horizontes com que terminou o seu período português e o reencontro com os prazeres da vida numa Argélia "pronta" para também ela atravessar um duro período, "Texeira Gomes" - homem e Presidente - marcou um período pouco falado na História de Portugal, como o homem que renunciou ao poder, às intrigas, aos "beatos" que tão vincadamente se apoderavam dos destinos do país e, de certa forma, a toda uma posição social que vinha a ser minada pelos seus inimigos preferindo com toda a certeza viver a vida que sempre desejara ter... mesmo longe da terra que o viu nascer.
Sinde Filipe, naquela que será seguramente a sua melhor e mais representativa interpretação de toda uma carreira, dá corpo a um homem esquecido pela própria História, aos seus feitos - principalmente de espírito - e à sua presente vontade de fazer do - e ao - país o espaço moderno e liberto que dele pretendia... afinal, como dizia, a República isso pedia.
Da reconstituição histórica à caracterização - brilhante Sara Menitra - e ao guarda-roupa de uma perfeccionista Sílvia Grabowski, Zeus é uma magnífica aposta do realizador Paulo Filipe Monteiro em dirigir um filme português de cariz histórico - infelizmente tão pouco habitual no nosso cinema considerando a rica História que o país tem - o coroar de uma carreira como a de Sinde Filipe e sobretudo aproximar o já referido período histórico português ao seu público - tão pouco habituado a compreender as origens do fascismo - sem que este seja, no entanto, o centro de uma história que se ocupa sim das memórias de um passado vivido em liberdade e de um presente ocupado com a confirmação de uma amizade fiel.
Com estreia comercial marcada para o início do próximo ano, Zeus "abre" o ano cinematográfico português da melhor forma, elevando as expectativas e confirmado a certeza de que o cinema nacional tem pernas para andar desde que criadas as condições para se filmar o povo, a História bem como - principalmente - a sua memória.
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"Manuel Teixeira Gomes: (...) que sina triste ser lido pelos beatos."
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8 / 10
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terça-feira, 22 de novembro de 2016

Uma Vida à Espera (2016)

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Uma Vida à Espera de Sérgio Graciano é uma longa-metragem portuguesa e o mais recente trabalho do realizador de Assim Assim (2012) e Njinga, Raínha de Angola (2013) presente na competição oficial da XXª edição do Caminhos do Cinema Português onde, este ano, tenho o privilégio de estar presente enquanto membro do júri.
Ele (Miguel Borges) ao sair de casa retira a caixa do correio. Dirige-se a um jardim onde se senta num banco e organiza os seus poucos pertences. Escreve uma carta ao filho. Ali permanece sentado e espera uma resposta durante dias... meses... anos...
Poderá esta resposta chegar ou será este filho uma realidade imaginada? Alguém que ele nunca teve? Os dias passam... os anos chegam. Toda uma vida teve de ficar à espera.
No seio de uma grande cidade é a incomunicabilidade e a solidão que lhe está inerente que, em diversos momentos e situações, marcam ou guiam as relações entre os seus cidadãos. Não será de estranhar que com o crescimento acelerado dessa cidade - ou até de um bairro - que todos se tornem estranho entre si apesar de cruzarem os mesmos espaços diariamente. No entanto, o que acontece quando essa indiferença e ausência surgem dentro de um mesmo apartamento num qualquer bairro dessa mesma cidade? Frederico Pombares, argumentista deste Uma Vida à Espera tenta responder, ou pelo menos levantar algumas questões, sobre esta potencial dinâmica que é tantas vezes ignorada.
Desde os instantes iniciais que o espectador apenas se cruza com a presença de um homem (Borges) aparentemente bem sucedido e com uma vida estável e estabilizada. Dele nada conhecemos ou sabemos para lá de um misterioso comportamento que o leva a abandonar a sua casa apenas na posse de uma caixa de correio e uma pequena mala com aquilo que pensamos ser alguns parcos pertences. "Ele" instala num banco de jardim e espera. Escreve e estabelece pequenas conversas com os poucos vizinhos que, num mundo cada vez mais anónimo, ainda tiram algum do seu tempo para se aproximar daquele homem e questioná-lo. De anónimo passa a conhecido de um grupo de pessoas... De um rapaz (José Afonso Pimentel) que passa... de um sem-abrigo (José Martins) que com ele mete conversa e de uma mulher (Isabel Abreu) que apesar de uma vida aparentemente estabilizada parece sofrer de um mal comum... a solidão.
É no seio desta invulgar nova família que pouco se vai cruzando mas que parecem compreender-se e partilhar um mesmo trágico destino que "Ele" vai adoptando enquanto espera que o "Carteiro" (José Mata) passe e lhe deixe alguma correspondência. Lentamente percebemos que ele espera pela carta de um filho que ninguém conhece ou viu... por notícias de uma vida passada que parece - à altura - ter desprezado. Uma vida da e à qual parece ter sido alheado, desinteressado e indiferente esquecendo aqueles que nela também "habitavam". Atormentado com um passado que não é revelado na sua totalidade, este homem perde-se e degrada-se num espaço que apesar de lhe ser relativamente familiar nada lhe diz ou lhe interessa.
Da culpa sentida a uma nova cumplicidade com "Ela" (Isabel Abreu), "Ele" tem apenas como melhor amigo um cão que não o abandona tendo desligado todos os elos de ligação com uma vida na sociedade que resolveu e escolheu abandonar... Vive a sua penitência naquele jardim e no banco onde dorme e partilha com o seu fiel amigo... o único, e sofre de uma dor que é, em tudo, psicológica e a única forma de sentir "algo" é quando (re)vive uma qualquer dor quer seja ela provocado pela ideia de abandono - d'"Ela" ou do cão - ou quando fisicamente violentado às mãos dos marginais que percorrem o jardim pela noite. A proibição do sentir foi-lhe auto-imposta e a única coisa que deseja - um contacto do filho que desprezou - parece não chegar.
Num cruzamento de sentimentos de amor, solidão e sobretudo arrependimento, Frederico Pombares escreve uma história que poderia ser real ao retratar tantas e tantas pessoas que definham quer física quer psicologicamente por existirem individualmente em vidas solitárias. Indivíduos esses que passam pela vida centrados em pequenos afazeres ignorando os demais que circulam à sua volta e que um dia percebem que os mesmos os abandonaram de forma irreversível. É verdade que este argumento parece querer esconder algo mais a respeito deste afastamento entre pai e filho como que um segredo maior estivesse por detrás do desaparecimento do filho mas, na sua essência, é a invisibilidade que este sentira que o levou a sair do espaço partilhado por um pai que, estando sempre presente, nunca lá estava de facto.
Com um conjunto restrito de actores dos quais se destaca obviamente o grande Miguel Borges com uma - mais uma - intensa composição de um homem como tantos outros com os quais nos cruzamos diariamente na rua e que, tal como ele, o ignoramos por não fazer parte do tal círculo de proximidade (não é segredo para ninguém que estamos perante um dos mais fortes, inteligentes e dinâmicos actores portugueses) mas que, ao mesmo tempo, queremos saber quem ele é, o que o terá levado até àquele mesmo local, o que fez, quem "foi" pois, afinal, ninguém (?!) irá dedicar-se a esta vida de uma mendicidade voluntária se não esconder algo suficientemente grave no seu passado, temos ainda Isabel Abreu como uma mulher que não tendo abandonado a sua vida passada - também ela marcada pela desgraça - tenta desesperadamente encontrar um novo rumo e recomeçar, o "Dr. Ernesto" de José Martins, um sem-abrigo, também ele voluntário, que se aproxima do de Miguel Borges e dois enigmáticos anónimos em José Afonso Pimentel que com ele estabelece a primeira conversa e se torna presente na sua vida e o "Carteiro" de José Mata que todos os dias durante anos com ele se cruza sem nunca lhe dirigir uma palavra.
Depois das já referidas Assim Assim e Njinga, Raínha de Angola, Sérgio Graciano regressa com esta que é a sua terceira longa-metragem - ainda à espera de estreia comercial no país - revelando a sua já conhecida capacidade de dirigir histórias intensas, dramáticas, repletas de inuendos (não tão) banais como aparentam ser e rodeado de um conjunto de actores que de si fazem sair o melhor para dar vida a esse conjunto de vidas anónimas com as quais todos os dias nos cruzamos sem saber o que vivem, como sentem, como superam ou com e por elas se deixam definhar. Uma Vida à Espera leva o espectador a pensar sobre quantas poderão ser as histórias que existem em todas aquelas pessoas que diariamente observamos em silêncio, os seus dramas e razões de existir ou até mesmo os porquês de resistirem nesse tal mundo que insistem em ser rápido e anónimo.
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"Ela: A culpa é o contrário do melhor amigo... está sempre lá quando não é preciso."
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7 / 10 
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Independent Spirit Awards 2017: os nomeados

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Melhor Filme
American Honey, de Andrea Arnold
Chronic, de Michel Franco
Jackie, de Pablo Larraín
Manchester by the Sea, de Kenneth Lonergan
Moonlight, de Barry Jenkins
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Melhor Primeira-Obra
The Childhood of a Leader, de Brady Corbet
The Fits, de Anna Rose Holmer
Other People, de Chris Kelly
Swiss Army Man, de Dan Kwan e Daniel Scheinert
The Witch: A New-England Folktale, de Robert Eggers
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Melhor Documentário
13th, de Ava DuVernay
Cameraperson, de Kirsten Johnson
I Am Not Your Negro, de Raoul Peck
O.J.: Made in America, de Ezra Edelman
Sonita, de Rokhsareh Ghaemmaghami
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Melhor Filme Internacional
Aquarius, de Kleber Mendonça Filho (Brasil)
Chevalier, de Athina Rachel Tsangari (Grécia)
Toni Erdmann, de Maren Ade (Alemanha)
Trois Souvenirs de Ma Jeunesse, de Arnaud Desplechin (França)
Under the Shadow, de Babak Anvari (Irão)
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Melhor Realizador
Andrea Arnold, American Honey
Kelly Reichardt, Certain Women
Pablo Larraín, Jackie
Jeff Nichols, Loving
Barry Jenkins, Moonlight
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Melhor Actor Protagonista
Casey Affleck, Manchester by the Sea
David Harewood, Free in Deed
Viggo Mortensen, Captain Fantastic
Jesse Plemons, Other People
Tim Roth, Chronic
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Melhor Actriz Protagonista
Annette Bening, 20th Century Women
Isabelle Huppert, Elle
Sasha Lane, American Honey
Ruth Negga, Loving
Natalie Portman, Jackie
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Melhor Actor Secundário
Ralph Fiennes, A Bigger Splash
Ben Foster, Hell or High Water
Lucas Hedges, Manchester by the Sea
Shia LaBeouf, American Honey
Craig Robinson, Morris from America
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Melhor Actriz Secundária
Edwina Findley Dickerson, Free in Deed
Paulina García, Little Men
Lily Gladstone, Certain Women
Riley Keough, American Honey
Molly Shannon, Other People
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Melhor Argumento
20th Century Women, Mike Mills
Hell or High Water, Taylor Sheridan
Little Men, Ira Sachs e Mauricio Zacharias
Manchester by the Sea, Kenneth Lonergan
Moonlight, Barry Jenkins e Tarell McCraney
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Melhor Primeiro Argumento
Barry, Adam Mansbach
Christine, Craig Shilowich
Jean of the Joneses, Stella Meghie
Other People, Chris Kelly
The Witch: A New-England Folktale, Robert Eggers
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Melhor Montagem
Hell or High Water, Jake Roberts
Jackie, Sebastián Sepúlveda
Manchester by the Sea, Jennifer Lame
Moonlight, Joi McMillan e Nat Sanders
Swiss Army Man, Matthew Hannam
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Melhor Fotografia
American Honey, Robbie Ryan
The Childhood of a Leader, Lol Crawley
The Eyes of My Mother, Zach Kuperstein
Free in Deed, Ava Berkofsky
Moonlight, James Laxton
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John Cassavetes Award
Free in Deed, Jake Mahaffy, Michael Bowes, Mike S. Ryan e Brent Stiefel
Hunter Gatherer, Joshua Locy, Michael Angelo Covino, April Lamb, Sara Murphy e Isaiah Smallman
Lovesong, So Yong Kim, Bradley Rust Gray, Dave Hansen, Alex Lipschultz e Johnny Mac
Nakom, T.W. Pittman, Kelly Daniela Norris, Isaac Adakudugu e Giovanni Ximénez
Spa Night, Andrew Ahn, David Ariniello, Giulia Caruso, Ki Jin Kim e Kelly Thomas
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Truer Than Fiction Award
Hooligan Sparrow, Nanfu Wang
Kiki, Sara Jordenö
Solitary, Kristi Jacobson
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Someone to Watch Award
Claire Carré, Embers
Anna Rose Holmer, The Fits
Andrew Ahn, Spa Night
Ingrid Jungermann, Women Who Kill
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Producers Award
Lisa Kjerulff
Jordana Mollick
Melody C. Roscher
Craig Shilowich
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Robert Altman Award: Barry Jenkins, Yesi Ramirez, Mahershala Ali, Patrick Decile, Naomie Harris, Alex R. Hibbert, André Holland, Jharrel Jerome, Janelle Monáe, Jaden Piner, Trevante Rhodes e Ashton Sanders (vencedores)
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