Tejo Mar de Bernard Lessa é uma curta-metragem brasileira presente na Sessão #5 do Shortcutz Rio de Janeiro este mês de Novembro numa história que relata o encontro e inserção numa cultura distante que se aproxima pela língua e pelo mar.
João (Welket Bungué) está no Rio de Janeiro há cerca de dez meses. Persegue um sonho e apesar da cidade começar a ser-lhe familiar, sente-se distante das suas origens na Guiné-Bissau e de Portugal de onde saiu rumo a terras de Vera Cruz.
De um lado a esperança do um novo começo enquanto do outro o peso de um passado com raízes e elos de ligação. Poderá João resistir a este novo começo ou o seu passado tem um peso forte demais do qual não se conseguirá desligar?
O realizador e argumentista Bernard Lessa cria esta história onde se colidem dois mundos. Por um lado o realizador recorre a imagens do passado e cartões postais com histórias e lembranças de um passo já algo distante que tantos e tantos outros semelhantes ao protagonista desta história partilharam. A esperança de um novo futuro, com mais prosperidade económica e concretização de sonhos tidos está espelhado nessas fotografias e nessas palavras que não se perderam e que se tornam cada vez mais presentes num tempo em que a crise se acentua e em que os sonhos parecem dissipar-se no ar.
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"(...) mortais perdidos em fantasias oceânicas"... Assim começa esta curta-metragem que relembra e recorda histórias de um passado contínuo. O Atlântico que separa dois mundos que falam a mesma língua e que sempre foi o veículo de transporte que fez crescer e morrer tanto histórias como esses sonhos pretendidos. Em Tejo Mar - numa brilhante e simpático alegoria que caracteriza este grande oceano - encontramos então um desses sonhadores - "João" - que fala ao telefone com alguém que deixou nessa agora distante Lisboa. Sobre um amor interrompido e como pretende alcançar um sonho. Um jovem emigrante num novo país onde parece sentir-se familiar - mas talvez não tão integrado - e que luta por conseguir um novo futuro percebendo, no entanto, faltarem-lhe as bases para que o mesmo possa ser concretizado. Durante este percurso conhece "Marina", uma jovem brasileira de quem se aproxima e com quem estabelece uma relação de ocasião que, não o completando, o levam a querer mais desse seu passado.
Nesta que é uma história de separação, o nosso protagonista parece não conseguir estabelecer raízes ou elos de ligação por onde passa mantendo-se, no essencial, um navegador errante entre paragens distantes e, tal como o pensamento final de García Lorca "leva no sangue a água dos mares"... de porto em porto, sem destino ou origem, cruza fronteiras, ultrapassa barreiras e pisa várias terras sentindo-se um filho de todas sem uma paragem - e de certa forma sem uma origem - definitiva.
Os elos de ligação e o seu final, as origens, os destinos, a saudade e a incerteza da tal pertença são uma constante neste Tejo Mar que se demarca por uma presente nostalgia e uma inconstância quanto ao "amanhã" filmados pela atenta câmara de Bernard Lessa e abrilhantados pela direcção de fotografia do próprio em parceria com Denis Augusto.
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