terça-feira, 30 de novembro de 2010

Entre Tinieblas (1983)

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Negros Hábitos de Pedro Almodóvar é, como a grande maioria dos filmes do realizador espanhol, uma história de mulheres, de amor, de dor, de sentimentos e de muito humor.
Almodóvar leva-nos até ao interior de um convento onde as suas freiras, com alguns hábitos pouco ortodoxos, estão habituadas a salvar mulheres da rua e de vidas problemáticas. Estas freiras, que são um autêntico carrossel de experiência mais ou menos experiências fora do vulgar, nomeadamente uma viciada em ácidos, outra em cocaína e lésbica, uma que vive uma paixão secreta e não admitida com um padre, uma que escreve contos eróticos e ainda uma outra que criou e tomou conta de um tigre dentro do próprio convento constituem aquilo que é o único reduto de salvamento para essas mesmas mulheres mais despriviligiadas ou em apuros. Até os nomes pelos quais se tratam são pouco ortodoxos... A Esterco (Marisa Paredes), a Perdida (Carmen Maura), a Víbora (Lina Canalejas) e a Rata de Esgoto (Chus Lampreave)...
É a ele que vai parar Yolanda (Cristina Pascual), uma cantora de um clube nocturno após o seu namorado consumidor de cocaína morrer numa overdose. É neste convento que Yolanda conhece então estas freiras com quem desenvolve relações de amizade e apoio e é por ela que a Madre Superiora (Julieta Serrano) desenvolve uma paixão.
Nesta convento, e através das histórias de todas estas freiras que acima de tudo são mulheres, que tomamos conhecimento dos seus sonhos e sentimentos reprimidos por uma ou outra razão. Conhecemos essencialmente o seu coração. Os seus amores e os seus propósitos de vida. Percebemos ao longo do filme o porquê delas serem como são, o porquê de se auto-reprimirem ou de, apesar de serem freiras, levarem estilos de vida tão marginais e fora daquilo que é dito "normal". Vemos que elas são, acima de qualquer outra coisa, mulheres e seres que sentem.
Pedro Almodóvar tem, desde sempre verdade seja dita, uma capacidade imensa de ser um brilhante contador de histórias. E não são umas histórias quaisquer. São histórias com um profundo sentido humano. São as histórias dos sentimentos. Os que as suas personagens admitem sentir e especialmente aqueles que ficam por dizer mas que, com Almodóvar, são perceptíveis aos nossos olhos enquanto espectadores.
Além dos sentimentos, Almodóvar sempre foi um exímio crítico da sociedade e aos elementos que a compõem.  Desde a Igreja, como é aqui o caso à santidade do casamento ou das relações como o reflete na maioria das suas obras, bem como aos novos relacionamentos que na maioria das vezes se encontram escondidos e vividos no segredo.
O elenco do qual sempre se rodeou não poderia deixar de ser do melhor. Julietta Serrano, Marisa Paredes, Carmen Maura e uma muito jovem Cecilia Roth que está aliás praticamente irreconhecível, são alguns dos rostos que dão vida a estas fantásticas, e cheias de vida, personagens que compõem um excêntrico e brilhante filme.
Filme este que, apesar de já ter uns anitos e só agora o ter visto pela primeira vez, contribui para ficar com cada vez maior interesse para descobrir mais e mais desse grande génio que é Almodóvar. Um filme simplesmente imperdível.
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"Madre General: Nada mais parecido com a soberba do que o excesso de humildade."
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8 / 10
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Predators (2010)

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Predadores de Nimród Antal é mais um título de acção que continua a saga previamente conhecida e desta vez transfere a sua localização para outro planeta em vez da habitual Terra.
Planeta este que é uma espécie de reserva onde os respectivos Predadores lançam pessoas com um passado violento na Terra e que aqui servem de presas para os jogos que caça que os extraterrestres decidem efectuar com o fim de obterem os tão ambicionados troféus.
Os humanos em questão pertencem quer à Mafia japonesa como são membros de cartéis da droga, assassinos, violadores, mercenários ou membros de uma qualquer polícia especial e que aqui são nada mais do que presas para puro divertimento dos Predadores.
Entre eles temos Royce (Adrian Brody), Edwin (Topher Grace), Isabelle (Alice Braga) Cuchillo (Danny Trejo) e também a participação de Laurence Fishburne como o único sobrevivente de "caçadas" anteriores e que continua a resistir às investidas dos Predadores.
A história, como já referi, centra-se então na tentativa de resistir e fugir aos Predadores e claro, de tentar também escapar deste novo planeta que mais não é do que um parque de diversão para os mesmos. Como sempre nem tudo é o que parece, e mesmo entre as supostas "vítimas" existem pessoas bem mais perigosas do que aquilo que aparentam ser e nem só os Predadores são o principal perigo.
Não terá, como é óbvio, a carga de suspense que teve o primeiro Predador, mas ainda assim não deixa de ser um excelente filme do género. Recheado de bons momentos de acção, excelentes efeitos especiais e outros tantos de perseguição por parte de seres dos quais qualquer um queria era ter distância, mais não fosse pelo seu aspecto grotesco, este filme é um puro delírio de entretenimento para todos, e em especial para aqueles que sempre gostaram desta saga (Predador I e II e Alien vs. Predador I e II) que, como tal, não o devem perder.
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7 / 10
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domingo, 28 de novembro de 2010

Leslie Nielsen

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1926 - 2010
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My Stepmother Is an Alien (1988)

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A Minha Madrasta é um Extraterrestre de Richard Benjamin é uma extraordinária e divertida comédia com a participação no principal papel de Kim Basinger juntamente com Dan Aykroyd, Alyson Hannigan e Jon Lovitz e, num papel quase de figuração temos uma muito jovem Juliette Lewis.
Celeste (Basinger) é uma habitante de uma galáxia longínqua enviada à Terra com a missão de saber que experiência foi feita por Steven (Aykroyd), um cientista viúvo e pai de Jessie (Hannigan), que pôs em causa a existência de toda a sua galáxia e que a condenou à morte.
Acompanhada de uma terrível mala com um olho, com a voz de Ann Prentiss, que tudo faz para influenciar de forma negativa a simpatia que vai ganhando pela Terra, pelas suas pessoas e pelas próprias experiências por que vai passando, Celeste que tem como missão final destruir todo o planeta vai sentido e experimentando tudo aquilo que faz de nós Humanos...
Esta comédia que fez sucesso nos anos 80 é possivelmente dos trabalhos mais memoráveis de Kim Basinger como também é dos seus melhores. Há excepção de L.A. Confidential que lhe deu o seu primeiro e único Oscar, este filme é aquele que fazia dela uma referência na comédia, e onde consegue demonstrar um genuíno desempenho sem ter de recorrer ao corpo para demonstrar que está a trabalhar.
Kim Basinger mostra a sua graciosidade principalmente pelos cómicos de situação em que se mete e, ao mesmo tempo, pelas reacções que tem, enquanto uma extraterrestre, às mais básicas experiências que todos nós temos diariamente.
Todo o demais elenco está de parabéns pois com maior ou menor relevância fazem um conjunto completo sempre a rondar o humor e o sentimento. O exagero de Jon Lovitz, a impulsividade de Dan Aykroyd ou a inocência de Alyson Hannigan e até mesmo a terrível mala com a sua voz maléfica fazem deste filme uma simples, bonita e verdadeira experiência na comédia que hoje, passados que já estão vinte anos, ainda constitui um prazer por (re)ver.
De destacar como exemplos da mais divertida comédia estão a primeira ida de Celeste ao supermercado onde tomar conhecimento com todos aqueles novos produtos para comer em vez de tirar a bateria do carro para beber algum líquido, e como não poderia deixar de ser a sua primeira experiência sexual com Dan Aykroyd são, de longe, os momentos mais bem dispostos de todo o filme. Não, não esquecer Jon Lovitz que é delirante faça ele o que fizer.
Para os que não conhecem, já está na altura de o verem... Para os que já conhecem o filme... não tardem em revê-lo pois será sem dúvida um recordar de boas lembranças.
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7 / 10
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CinEuphoria Prémios 2011: votação a decorrer

Já a decorrer a segunda edição dos CinEuphoria Prémios referentes aos filmes estreados em Portugal durante o ano de 2010, está aberta a votação para os prémios do público.
Entre os filmes seleccionados na coluna à direita sob a designação de CinEuphoria Prémios 2011 pede-se aos frequentadores do blog que escolham UM nome para cada uma das seguintes categorias: Filme, Actor, Actriz, Actor Secundário e Actriz Secundária, nomes estes a enviar por mensagem/comentário no link disponível por baixo de cada texto colocado no blog.
A votação está disponível até dia 31 de Dezembro e os resultados serão divulgados juntamente com os prémios oficiais do blog no dia 13 de Janeiro de 2011.
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Boa votação e agradeço a todos os que já participarem.
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sábado, 27 de novembro de 2010

The Brown Bunny (2003)

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The Brown Bunny de Vicent Gallo é, tal como o próprio cartaz indica, um filme produzido, realizado, interpretado, editado e que tem como técnico de fotografia... o próprio Vincent Gallo. A seu lado, e com uma curta e muito explícita participação, temos Chloë Sevigny.
O filme começa logo mal, para mim pelo menos, quando temos cerca de três minutos e meio de uma corrida de motos que parece nunca mais terminar. E depois disto temos um sem número de minutos em que vemos a viagem de Bud Clay (Gallo) de uma ponta à outra dos Estados Unidos para... mais uma corrida de motos. E quando aqui me refiro a acompanhar a viagem dele, não é propriamente vermos paisagens idílicas e de comtemplação norte-americana... é mesmo vermos a viagem pelos olhos dele, que é como quem diz vermos estrada e mais estrada sem parar que quase dá enjoo como se fossemos nós a fazer a dita.
Pelo caminho vai encontrando mulheres com quem tenta compensar uma qualquer carência afectiva, e que nunca chega a ser saldada. As que aparecem lá se encosta... mas fica por ali.
Até que, chegado ao seu destino volta a encontrar Daisy (Sevigny) para aquilo que assistiremos ser o real desfecho desta história que é, digamos, no mínimo bizarra.
Dito isto, e exceptuando o facto de termos a história de um homem que procura o refúgio e o conforto de um lar e de uma companheira que em tempos perdeu (perceberão depois porquê aqueles que se arriscarem a ver este trágico, pelo mau sentido, filme), o ponto "alto" do filme é o seu final em que Vincent Gallo não se poupou a ter uma cena de sexo oral bem explícita como se isso fosse motivo suficiente para salvar aquilo que é uma miséria de filme.
Miséria por ser completamente enfadonho, chato, aborrecido, mau, sem sentido e que, depois de o ver, concluo que mais não foi do que um exercício de um actor que aqui assume múltiplas funções apenas para ver o seu nome (e não só) exposto vezes sem conta ao longo dos créditos iniciais e finais do mesmo.
Uma pobre, fraca e enfadonha experiência cinematográfica é a única coisa que acabamos por retirar disto a que se chama filme que o único ponto positivo que tem é pensarmos que poderia não ter sido feito.
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1 / 10
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Arn - Tempelriddaren (2007)

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O Cavaleiro Templário de Peter Flinth é uma co-produção entre a Suécia, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Alemanha e Reino Unido que foi nomeado ao Prémio do Público como Melhor Filme pela Academia de Cinema Europeu numa história que atravessa a época dos grandes conflitos entre famílias reinantes dos países Escandinavos até às Cruzadas feitas para a Terra Santa e as respectivas lutas entre Cristãos e Muçulmanos.
A história passa-se há cerca de 800 anos quando as fronteiras dos países nórdicos ainda não eram estáveis e onde as lutas de poder entre os diversos povos eram constantes.
Arn Magnusson (Joakim Nätterqvist) foi em criança entregue a um mosteiro como promessa dos seus pais por Deus lhe ter salvo a vida quando havia estado doente. Os monges que aí se encontravam acharam que deveriam fazer dele antes um exímio lutador do que propriamente um servo de Deus e, às mãos de Guilbert (Vincent Perez), um antigo templário agora convertido em monge, Arn torna-se de facto um excelente lutador com capacidades de ser cruzado.
Quando volta a casa apaixona-se por Cecilia (Sofia Helin) prometida a um clã rival e com quem tem um filho. Descobertos, Cecilia é enviada para um convento onde é maltratada pela madre superiora e Arn para as Cruzadas durante um período de vinte anos.
Com este filme temos aqui vários aspectos que fazem parte da História Europeia que, para apreciadores do género, se tornam interessantes, nomeadamente o facto das disputas entre os povos nórdicos terem sido inúmeras e intensas, causando queda de um clã em favor de outro a um ritmo alucinante, o que levou a constantes mutações de fronteiras e domínio de uns povos sobre os outros durante várias décadas.
Outro aspecto curioso de se verificar são as respectivas Cruzadas e muitos dos motivos que levavam jovens de toda a Europa a serem para elas encaminhados. Era quase como um desterro forçado para aqueles que eram, de certa forma, incómodos para as sociedades puritanas em que viviam.
Finalmente é igualmente curioso de assistir a uma história dramática de amor sobre aquele que, como o próprio final do filme indica, ter sido o motor impulsionador da estabilidade das fronteiras da actual Suécia, e como toda a sua vida foi modificada devido a apenas um acto de ciúme e de inveja.
Com a presença de Joakin Nätterqvist, Vincent Perez, Michael Nyqvist, Bibi Andersson e Stellan Skarsgard todos eles com presenças estáveis, regulares e por vezes até arrisco dizer sólidas (mais uns do que outros), o filme "peca" apenas por um pequeno aspecto que se sente em diversos momentos da sua narrativa, ou seja, momentos existe em que ao assistirmos à sua história quase parec feita ao estilo documental de um programa da canal História em que temos uma acção a decorrer e esperamos a qualquer momento ouvir a voz do narrador a contar o que se passa.
Não digo que isto estrague aquilo que temos do filme, pois para o género consegue realmente ser equilibrado mas, cria um certo impasse ou indecisão na fluência da própria narrativa. Fora isto, o filme tem, como disse, interpretações ao nível do que é exigido, um guarda-roupa bem elaborado e inúmeros segmentos de acção que conseguem ser credíveis e entusiasmantes.
Bem dirigido e bem interpretado foi, surpreendentemente, uma agradável experiência ver este filme que, assumo completamente, era um do qual suspeitava que fosse de interesse. E suspeitava principalmente por ser feito quase na íntegra numa língua que consegue ser um pouco difícil de escutar durante um período tão grande... Suécia.. nada contra... mas por vezes torna-se complicado! Bom filme na sua globalidade e um bom investimento para assistir.
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7 / 10
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Deadly Skies (2005)

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Colisão Destruidora de Sam Irvin é daqueles filmes que me faz por um lado pensar no porquê de ficar até tarde a ver este tipo de filme manhoso ao mesmo tempo que penso em "que bom é poder ver disto para distrair".
Dualidades pessoais à parte, este filme conta com aquele que já é para mim o rei dos filmes pimba, Antonio Sabato Jr. e com Rae Dawn Chong (lembram-se dela no Comando?), numa história mais que repetida em que é descoberto um asteroide escondido por detrás de um outro ameaça colidir com a Terra e destruir toda a vidinha que por cá existe.
Madison Tyler (Chong) incrédula contacta com as autoridades competentes para que tomem algum tipo de acção que o evite mas como ninguém acredita nela contacta o renegado da Força Aérea Richard Donovan (Sabato), que este envolvido na construção de um laser capaz de o destruir.
Aqui começam as incansáveis lutas de poder, descobertas de dinheiro escondido que deveria ter servido para acabar o laser, esquemas político-militares e claro tiros... muitos tiros que acompanhados com a vã convicção de que representaram bem neste filme, apenas o torna mais numa comédia trágica e barata do que propriamente em algo digno de se ver que só alguns aguentam... *sigh*
E na verdade além disto não temos muito mais a ver... ou mesmo dizer... Os clichés estão lá todos bem como as cenas repetidas vezes e vezes sem conta em filmes deste estilo onde se tentam fazer piadolas que não têm graça nenhuma, onde se representa mal, onde se aguarda pela destruição do planeta até ao último segundo onde milagrosamente tudo se salva e já está... um filme feito mal e porcamente mas... está feito!
Como tantos outros que passam na TVI (este por acaso não foi), não passa de mais um puro desperdício de tempo e dinheiro que apenas é salvo por aqueles que gostam de ver filmes manhosos para se distraírem e passarem tempo.
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2 / 10
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

The Hurt Locker (2008)

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Estado de Guerra de Kathryn Bigelow foi o filme sensação do ano de 2009 que desde Veneza aos Oscars de Hollywood levou tudo quanto era prémios a que estava nomeada.
Vencedor de seis Oscars na cerimónia de 2010 incluindo Filme e Realizadora, aliás a primeira vez que uma mulher vence esta distinção, e também Argumento Original, Montagem, Som e Efeitos Sonoros, esta história centra-se nos acontecimentos que acompanham o dia-a-dia de um grupo de fuzileiros norte-americanos no Iraque que têm como missão desarmar bombas que se encontram nos locais de combate.
Não fosse isto já preocupante o suficiente, aquilo a que assistimos é à própria vivência quase despreocupada com que estes fuzileiros encaram a sua presença em terreno de combate pois já por lá andam com a mínima das preocupações possível fazendo já do clima de guerra o ritmo normal da sua vida.
Todos eles a viver com dramas pessoais. Com problemas com o que deixaram no país deles e muito em especial, com o facto de uma vez regressados aos Estados Unidos, a única coisa por que anseiam e desejam é voltar de novo para um clima de guerra permanente.
Os traumas que há trinta e tantos anos atrás foram quase silenciados com os veteranos de guerra do Vietname são aqui claramente abordados não tendo sido necessário esperar anos e anos para eles virem ao nosso conhecimento enquanto espectadores. Temos então de novo uma jovem geração norte-americana que, uma vez mais, vive com traumas de guerra e com as "normais" inadaptações à sociedade de onde provêm.
Kathryn Bigelow, que se tornou na primeira mulher a vencer um Oscar como Melhor Realizadora do ano, trouxe este filme que desde que havia estreado e passado por diversos festivais internacionais de cinema conquistou prontamente tanto público como crítica.
O direcção realista e credível que ajudou a criar uma atmosfera muito própria neste filme deram a Bigelow a vantagem necessária para tornar um filme de orçamento "menor" num dos grandes filmes do ano ao qual as grandes interpretações do seu elenco, nomeadamente a de Jeremy Renner que obteve a sua primeira nomeação a um Oscar bem como à grande maioria dos prémios entregues na temporada passada, ajudaram a criar este moderno e bem estruturado filme de guerra.
Também em termos técnicos o filme está bem construído... desde aos efeitos sonoros à construção da própria narrativa de flui de uma forma muito coerente, tudo no filme ajuda a perceber não só o que se passa diariamente com estes fuzileiros como principalmente no seu pensamento, provavelmente até o aspecto mais importante pois é a saber o que pensam, em que circunstâncias e o que sentem, que nos ajuda a formar uma ideia mais real do que é afinal este conflito.
Não sendo propriamente o meu filme preferido de guerra, ou sequer até a época em que deflagrou um conflito que mais me apele a estar informado sobre a mesma, este Estado de Guerra não deixa de ser um muito bom filme do género, e possivelmente o primeiro a despoletar uma série de filmes que se centram sobre o que se passa no Iraque, o que leva ainda hoje a muitos defenderem este conflito e a muito especialmente o que se passa nas mentes desta nova geração que para lá caminha e também como ficam, ou não, afectados a um nível mais psicológico.
Bigelow está de parabéns não só pelo facto de ter sido a primeira mulher na História a receber um Oscar pela realização de um filme mas, muito especialmente, por ter tocado de uma forma mais humanista a vida daqueles que arriscam diariamente as suas vidas deixando de certa forma o conflito em si para um plano secundário.
Não será, para mim, um dos melhores ou maiores filmes do ano mas, no entanto, não deixa de ser um muito bom filme que não devemos deixar passar ao lado.
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8 / 10
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terça-feira, 23 de novembro de 2010

The Kids Are All Right (2010)

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Os Miúdos Estão Bem de Lisa Cholodenko tem sido o filme que mais tem dado que falar dos últimos tempos. O motivo chama-se Annette Bening, uma das actrizes principais do filme que tem aqui o seu grande regresso ao cinema num desempenho que já é falado para todo o tipo de prémios e mais algum nomeadamente a sua potencial vitória nos Oscars.
Além de Bening participam também neste filme Julianne Moore, Mark Ruffalo, Mia Wasikowska e Josh Hutcherson em desempenhos consistentes e todos eles com a sua marca bem presente no filme.
A história gira em torno de Nic (Bening) e Jules (Moore) um casal homossexual com dois filhos Joni e Laser (Wasikowska e Hutcherson), que um dia decidem conhecer o seu pai biológico, que é como quem diz o dador de esperma, Paul (Ruffalo).
Após um encontro algo constrangedor, Paul começa cada vez mais a fazer parte da vida dos filhos e do casal, especialmente na vida de Jules que desenvolve uma relação sexual com ele, acabando depois por gerar todo o tipo de problemas maritais entre Jules e Nic.
Esta comédia dramática que além de um bom argumento da autoria de Lisa Cholodenko e de Stuart Blumberg, e que se centra nas realidades de uma família moderna tem um excelente elenco a dar-lhe vida.
Este elenco que já mencionei tem duas das grandes senhoras do cinema da actualidade e tem em Annette Bening a mais séria e forte aposta aos Oscars de 2011 na categoria de Melhor Actriz. Pelo menos é isto que a imprensa norte-americana tem apregoado aos sete ventos desde há largas semanas até esta data, e algo que, muito em breve, iremos verificar se se concretiza ou não.
Pessoalmente adoro Annette Bening. Note-se que uso sem qualquer reserva a palavra ADORAR. No entanto, Bening não tem aqui uma interpretação digna de ser apoiada para o Oscar de Melhor Actriz. Nem tão pouco ela desempenha o principal papel do filme. Este estaria ao cargo de Julianne Moore que também não tem um desempenho que se possa afirmar capaz de competir para Actriz Principal. Ambos desempenhos são bons e Bening surge como um forte apoio para a prestação de Moore mas nenhuma tem um trabalho dominante ao ponto de competir e ganhar prémios pelos mesmos. Agora, uma coisa é eu achar que não têm esse estofo, os desempenhos e não as actrizes em si que já têm provas mais que dadas, e outra coisa é se de facto vão ou não ser nomeadas a prémios algo que, suspeito, irá acontecer com toda a certeza. Mas depois de ver uma Annette Bening numa Beleza Americana ou uma Julianne Moore num As Horas e num Longe do Paraíso, este filme não será com toda a certeza aquele pelo qual elas irão ser recordadas.
O argumento tem com as suas reviravoltas sucessivas que passam desde a vida familiar normal aos dramas da adolescência e até pelo adultério e pela compreensão daquilo que é o conceito de família e especialmente dos novos tipos de família é, possivelmente, o aspecto mais forte do filme e aquele que terá a meu ver uma justa e potencial nomeação a Oscar.
Da mesma forma a banda-sonora da autoria de Carter Burwell que já foi inclusive nomeada aos World Soundtrack Awards, que junta acordes modernos e animados ao mesmo tempo que nos emociono naquele estrondoso final de filme é também uma forte aposta para dar ao seu compositor a primeira nomeação a Oscar na sua respectiva categoria.
Emocionante e cómico, dramático e alegre, é um filme bonito e bem realizado. Dinâmico e bem disposto mas que pelo excesso de publicidade que tem em aspectos dos quais não sai vencedor pode acabar por ficar um tanto à margem daquilo que nós enquanto espectadores esperamos que ele seja.
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7 / 10
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Caminhos do Cinema Português: premiados de 2010

JÚRI OFICIAL
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Grande Prémio Cidade de Coimbra: 48, de Susana de Sousa Dias
Melhor Longa-Metragem: Um Funeral à Chuva, de Telmo Martins
Melhor Curta-Metragem: Vicky & Sam, de Nuno Rocha
Melhor Animação: Viagem a Cabo Verde, de José Miguel Ribeiro
Melhor Documentário: Páre, Escute, Olhe, de Jorge Pelicano
Prémio Revelação: O Conto do Vento, de Cláudio Jordão
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JÚRI CAMINHOS
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Melhor Actor: Ivo Canelas, em Desavergonhadamente Real
Melhor Actriz: Rita Martins, em Efeitos Secundários
Melhor Actor Secundário: Nuno Lopes, em Efeitos Secundários
Melhor Actriz Secundária: Beatriz Batarda, em Como Desenhar um Círculo Perfeito
Melhor Realizador: Gonçalo Galvão Teles, em Senhor X
Melhor Argumento Original: Nuno Rocha, em Vicky & Sam
Melhor Argumento Adaptado: Tiago Sousa, em Embargo
Melhor Fotografia: Pedro Patrocínio e Frederico Miranda, em Memórias de Fogo
Melhor Banda Sonora: Bernardo Sassetti, em Como Desenhar um Círculo Perfeito
Melhor Direcção Artística: Artur Pinheiro, em Como Desenhar um Círculo Perfeito
Melhor Guarda-Roupa: Susana Jacobetty, em Kinotel
Melhor Caracterização: Maria Almeida (Nani), em Kinotel
Melhor Montagem: João Braz, em Fantasia Lusitana
Melhor Som: Pedro Lima, em Viagem a Cabo Verde
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JÚRI ENSAIOS VISUAIS
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Prémio Ensaios Visuais: Sinfonia dos Loucos, de Vasco Mendes
Menção Honrosa: Ida de Retorno, de Lourenço Viana
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JÚRI DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE CINECLUBES
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Prémio D. Quijote: 48, de Susana de Sousa Dias
Menção Honrosa: Senhor X, de Gonçalo Galvão Teles
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JÚRI DE IMPRENSA
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Prémio de Imprensa: Um Funeral à Chuva, de Telmo Martins
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PRÉMIO DO PÚBLICO CHAMA AMARELA
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Um Funeral à Chuva, de Telmo Martins
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Meu Amor e um Emmy

A telenovela da TVI "Meu Amor" venceu esta madrugada o Emmy Internacional para que havia sido nomeada há algumas semanas contra uma produção das Filipinas e outra da Argentina.
É raro mas por vezes acontece e, à primeira, foi de vez. Parabéns aos actores, produtores, argumentista, demais técnicos e também à própria TVI que conseguiu aquilo que até hoje não tinha sido alcançado... uma nomeação e uma vitória. E parabéns também por ter arriscado e apostado na produção nacional em vez de a relegar para segundo, ou terceiro, plano.
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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

The Soloist (2009)

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O Solista de Joe Wright é um sentido drama com a participação de Jamiw Foxx, Robert Downey Jr, e Catherine Keener que nos conta a história de Steve Lopez (Downey Jr.) um colunista de um jornal que precisa desesperadamente de encontrar histórias que contar de forma a agradar os seus editores.
É no meio desta pressão que encontra Nathanial Ayers (Foxx) um sem abrigo com um extraordinário talento para a música, e com sérios demónios pessoais, com quem inicia uma relação de proximidade e de certa foram de amizade.
Este filme de Joe Wright, realizador dos extraordinários Orgulho e Preconceito e Expiação, mais não é do que um relato sobre as existentes injustiças sociais e o quão fundo pode descer um Homem quando elas se lhe deparam.
Ao mesmo tempo dá um retrato sobre o nascer de uma amizade. Como ela pode surgir a partir de um acontecimento mais grave, ou proveitoso para uma das partes, mas que, uma vez existente, pode ser sólida e recompensadora para todos.
Confesso que não sendo este um filme que se possa dizer mau, não foi no entanto um que me deixava aquela memória agradável de quando temos uma excelente experiência cinematográfica. Dos dois filmes que vi anteriormente do realizador este fica muito aquém daquilo que esperava. O principal motivo é o esplendor que os anteriores alcançaram e que aqui simplesmente não existe.
Podemos argumentar, é certo, que a história não pede que tenho qualquer esplendor mas não me refiro a algo opulento mas sim que nos deixe aquela marca especial em que, ao vermos o filme, ficamos a pensar "uau"... Isso acontecia com as anteriores obras do realizador, muito em particular com o filme Expiação que nos deixa, pura e simplesmente, de boca aberta ao percebermos que presenciamos uma obra-prima.
Jamie Foxx tem como habitual um intenso papel e Robert Downey Jr. mostra que é, felizmente, capaz de fazer outro género de filme que não a comédia, algo que já tinhamos percebido mas que está, não se sabe bem porquê, esquecido por parte de quem o dirige em filmes.
Finalmente, aquele que considero ser o ponto mais alto do filme, é de longe a sua banda-sonora que é composta pelo já colaborador de Joe Wright, o italiano vencedor de Oscar Dario Marianelli.
É um filme interessante, com desempenhos acima da média e com os seus pontos altos mas que não chega a convencer na sua globalidade... Possivelmente por ter dois precedentes muito fortes por parte do seu realizador e que aqui, apesar dos pontos positivos, não chega a convencer.
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"Nathanial Ayers: You can't hold down angels."
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7 / 10 (tremido)
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domingo, 21 de novembro de 2010

Passengers (2008)

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Passageiros de Rodrigo García é um drama sobrenatural (pensamos nós de início que será muito intenso nesta temática mas acaba por não ser), que tem como actores principais Anne Hathaway e Patrick Wilson. Além destes actores contamos ainda com Dianne Wiest, Andre Braugher e David Morse como secundários que conseguem adensar apenas a trama que pensamos, a certo ponto, ser bem mais complexa do que aquilo que parece.
Claire (Hathaway) é contactada a meio da noite por Perry (Braugher) para dar assistência a um grupo de sobreviventes de um desastre de avião. No meio das consultas que faz conhece Eric (Wilson), que a deixa mais inquieta pois parece que este desenvolveu com o acidente capacidades psíquicas até então inexistentes.
Ao mesmo tempo, e à medida que entrevista os sobreviventes, estes vão desaparecendo misteriosamente, o que lança as suspeitas de Claire recaírem sobre a própria companhia aérea que pretende encobrir algo.
À medida que nos aproximamos do final do filme descobrimos finalmente toda a verdade e ficamos espantados, se bem que a certo ponto desconfiamos, sobre o que realmente se passou e se está a passar com todas estas personagens.
Este filme que passa por um drama e por um contexto poderemos dizer algo sobrenatural tem nos seus principais actores interessantes e credíveis desempenhos que nos fazem crer que está realmente algo de muito estranho a acontecer. Tanto Anne Hathaway como Patrick Wilson têm desempenhos muito bons apesar de percebermos facilmente que este estilo de filme mais sobrenatural não é a "praia" deles.
De todo o elenco tenho, no entanto, de destacar as sentidas e emocionantes interpretações de Dianne Wiest e de Andre Braugher que não vou divulgar quem realmente são para não estragar a surpresa àqueles que ainda não viram o filme.
Destaco também o trabalho de fotografia da autoria de Igor Jadue-Lillo que dá ao filme quase de início ao fim uma atmosfera que nos faz crer que em vez de estarmos com os pés bem assentes na Terra, estamos antes numa outra dimensão mais celeste.
Temos então este Passageiros que mantém um clima de suspense e de suspeita a maior parte do tempo e que, no final, tudo se revela finalmente como uma emocionante história que apenas procura a redenção e a aceitação entre as pessoas numa viagem que, arrisco o cliché, é a própria vida.
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7 / 10
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sábado, 20 de novembro de 2010

Bergtagen (1994)

Feitiço de Solveig Nordlund é uma curta-metragem que apesar da sua importante mensagem não deixa de ser um tanto ou quanto aborrecida.
Ao longo de quase oito minutos de duração assistimos a filmagens a enormes arranha-céus que mostram o lado imponente de uma qualquer cidade ao mesmo tempo a que escutamos um conjunto de mensagens num atendedor de chamadas de uma avó, de uma mãe e de amigos de um rapaz ou homem que literalmente desapareceu. Ninguém sabe dele.
À medida que a acção decorre começamos então a assistir a um lado da mesma cidade mais sombrio e negro onde os imponentes arranha-céus dão lugar a prédios em construção ou até mesmo abandonados passando muito bruscamente para um conjunto ainda mais negro de imagens em que se mostram alguns toxicodependentes em pleno acto de consumo.
Ao assistirmos a estas imagens e ao escutarmos as mensagens que familiares e amigos deixam, percebemos muito rapidamente que afinal este homem também entrou por um caminho e estilo de vida que, em última análise, tal como os prédios decadentes e abandonados, também ele irá ter este triste final.
A mensagem é importante e até é bem conseguida numa apreciação geral mas ao mesmo tempo a curta não sai a meu ver totalmente compatível com a mensagem. Afinal, o Homem cai mas as cidades são eternas e por cá irão estar muito para além da nossa existência.
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4 / 10
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

The Lovely Bones (2009)

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Visto do Céu de Peter Jackson era o filme muito aguardado do realizador neo-zelandês e que conseguiu reunir um elenco de luxo onde se destacam as presenças de Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Susan Sarandon, Stanley Tucci, Michael Imperioli e Saiorse Ronan.
Este filme conta a história da família Salmon, e em especial a de Susie (Ronan), uma das filhas do casal Jack e Abigail (Wahlberg e Weisz) que é morta por George Harvey (Tucci), um predador seu vizinho. A sua história não termina por aqui. Após o seu assassinato Susie continua a acompanhar a vida da sua família e como ela se vai destruindo pela ausência de um desfecho para o seu caso, e acompanha especialmente a sua irmã Lindsey (Rose McIver), pela qual George começa a nutrir uma especial atenção.
Nunca é demais referir que Visto do Céu é logo um atractivo para qualquer apreciador de cinema se considerarmos logo à partida o seu elenco. Saoirse Ronan, talvez a mais desconhecida de nós mas já nomeada a um Oscar como actriz secundária pelo seu desempenho em Expiação, tem uma vibrante e emocionante interpretação dramática como vítima de um predador que a assassinou. A sua prestação enquanto Susie Salmon demonstra a angústia de uma jovem que vivia a sua entrada na adolescência onde esperava pelo seu primeiro amor, aqui interpretado por Reece Ritchie, e também a vida de uma adolescente no seio de uma típica família que poderia ser de qualquer parte do mundo.
Stanley Tucci, que teve aqui a sua primeira nomeação a Oscar de Actor Secundário, tem um excelente desempenho como o vilão de serviço. Normalmente habituado a vê-lo a desempenhar personagens simpáticas ou vilões mais "cómicos", este trabalho, que acrescento lhe assentou que nem uma luva, foi no mínimo surpreendente e medonho. Muito ao estilo do que aconteceu com Anthony Hopkins n'O Silêncio dos Inocentes, simpatizamos tanto com o actor que nem mesmo o papel como vilão nos faz gostar menos dele.
A finalizar o elenco temos Susan Sarandon, Rachel Weisz e Michael Imperioli que têm desempenhos sólidos e credíveis no filme. Sarandon como a avó que tenta manter a família unida depois da morte da sua neta. Weisz como a mãe que não consegue aguentar a pressão do que se passa à sua volta e "foge" da família durante uma longa temporada e Imperioli como o detectiva que investigou o assassinato, compondo eles os elos que dão continuidade à vida e aos problemas que atravessam todos os membros desta família.
Finalmente a grande surpresa vem de Mark Wahlberg que nos entrega o desempenho mais dramática e sentido do filme como o pai de Susie que simplesmente entra em colapso por tentar a todo o custo investigar a morte da filha para além daquilo que a própria polícia tenta e faz. Não será um desempenho maior da sua carreira mas pelo menos mostra uma sua nova faceta para além do habitual "mau da fita".
Além de ter um fabuloso elenco onde se destaca este conjunto de actores que dão o seu melhor, e menos não seria de esperar, este filme reune ainda um fantástico conjunto de efeitos visuais que o tornam não só um magnífico filme dramático como também uma excelentemente bem executada explosão de cor e de movimento.
Todos os segmentos que acompanham a vida para além da morte de Susie Salmon são no mínimo magníficos. A explosão entre cores fortes e vivas que a guiam para a aceitação da sua nova condição em contraste com as cores nocturnas e mais pesadas reflexo dos seus sentimentos de pesar e de incapacidade de auxiliar a sua família a poder prosseguir com a sua vida são dos momentos mais felizes e bem conseguidos de todo o filme.
O único factor menos positivo, e que nem é culpa deste filme, é o facto de se aguardar que fosse outro Senhor dos Anéis, considerando que o realizador é o mesmo. Talvez esse aspecto tenha desiludido algumas pessoas que esperavam outro épico quando, na realidade, este filme prende-se mais com aspectos dramáticos e com a sobrevivência de uma família para além da morte de um dos seus, mais concretamente pela morte de um elemento que daria continuidade à própria família. E tudo isto visto do céu, pelos olhos daquela que partiu.
Temos então não um épico mas um filme íntimo, dramático e cheio de sentimentos e emoções que só a verdadeira família poderá na realidade sentir. Imperdível e talvez das obras maiores e melhor de Peter Jackson.
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"Susie Salmon: I wasn't lost or frozen, or gone... I was alive; I was alive in my own perfect world."
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8 / 10
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Shutter Island (2010)

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Shutter Island de Martin Scorsese é um intenso thriller do realizador de Casino e Tudo Bons Rapazes que marca uma nova colaboração com o seu novo actor fetiche Leonardo Di Caprio.
Scorsese reune aqui aquele que é um elenco de luxo onde participam além de Di Caprio, os actores Ben Kingsley, Mark Ruffalo, Patricia Clarkson, Emily Mortimer, Michelle Williams, Max von Sydow, Jackie Earle Haley, Elias Koteas e Ted Devine. Só pelos nomes já desejamos que o filme valha a pena, e ao considerarmos o realizador, temos a garantia de que mau filme não será.
Acompanhamos então a chegada do detective Teddy Daniels (Di Caprio) que chega a Shutter Island para descobrir o estranho desaparecimento de uma doente que se encontrava num quarto isolado e fechado.
Através de inúmeras incursões quer pela ilha sombria, misteriosa e cada vez mais alvo de uma tempestada que tudo e todos nela isola, assistimos àquilo que para nós é uma cada vez maior intriga política que afecta não só alguns dos doentes que nela se encontram como também os dois detectives que a ela chegaram para investigar o sinistro desaparecimento até que, já bem perto do final começamos a perceber que afinal nem tudo é aquilo que, à partida, parece ser.
Com um por vezes algo sinistro argumento da autoria de Laeta Kalogridis, Scorsese dirige este filme que, não sendo a sua obra maior ou sequer que suplante o anterior filme, consegue ser suficientemente pesado e com algumas ideias com as quais nós somos infelizmente obrigados a concordar e reconhecer que se calhar até aconteceram, e que tem na sua quase totalidade uma certa aura de desconforto.
E desconforto porquê? Bom... começando pela própria temática que envolve o desaparecimento de uma doente que se encontrava isolada é por si só já algo que nos deixa que pensar. Se juntarmos a isto o facto de a ilha/hospital psiquiátrico ter um conjunto de médicos que foram claramente médicos que estiveram em campos de concentração (não esquecer que a acção do filme se centra no período pós-Segunda Guerra Mundial), também o facto de a maioria das personagens assumir desde o início ao final um comportamente francamente estranho e que a personagem principal assume uma teoria de conspiração governamental na época da caça às bruxas... então isto não é desconforto... é quase mesmo a teoria da conspiração.
No entanto esta teoria, que perdura quase durante todo o filme, desvanece já bem perto do final para dar lugar à triste realidade que assombra as personagens centrais do mesmo.
Intensa também é a banda-sonora... Fez-me, por inúmeras vezes, lembrar a d'O Cabo do Medo em que o que realmente assustava era a interpretação de De Niro mas a banda-sonora do filme teve a sua quota parte de culpa em nos manter bastante tensos enquanto assistiamos ao decorrer da acção, e não me espantaria em nada vê-la nomeada a um Oscar na próxima edição em 2011.
Como disse anteriormente esta não será a obra maior de Scorsese ou pela qual este irá ser lembrado. Também não digo que será uma obra menor... Simplesmente não tem a mesma intensidade que têm outras obras, talvez também pelo facto do nome do realizador está fundamentalmente ligado a uma filmografia de filmes de Mafia. No entanto, não será com este filme que iremos ver novamente Scorsese nomeado aos Oscars. Acredito que além da banda-sonora como referi, que o filme obtenha mais umas quantas nomeações em categorias como o Guarda-Roupa, Montagem, Direcção Artística e Som. Pouco mais do que isso. Não será com este filme que Di Caprio irá conquistar a sua nomeação a Oscar de Actor apesar de, uma vez mais, ter conseguido superar-se enquanto actor.
Interessante como um filme de actores onde, além de Di Caprio, também Jackie Earle Haley e o eternamente grandioso Ben Kingsley se destacam uma vez mais de forma bem positiva. E claro, é sempre muito bom ver uma Patricia Clarkson a aparecer novamente no ecrã... só é pena que não em papéis de maior duração porque qualidade têm todos.
Interessante e bom filme de drama e suspense que nos consegue prender do primeiro ao último momento e que nos consegue surpreender na recta final de uma forma muito interessante e bem orquestrada. Como toda a filmografia de Scorsese, também este não se deve perder.
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8 / 10
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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Arena (2009)


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Arena de João Salaviza foi a curta-metragem portuguesa que, em 2009, venceu a Palma de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Cannes para grande espanto e surpresa de todos (pelo menos por estas bandas).
O filme, que sejamos honestos seria completamente esquecido por Portugal não tivesse ele ganho a Palma de Ouro em Cannes, segue Mauro (Carloto Cotta), detido em casa com pulseira electrónica que é abordado por uns miúdos a quem fez uma tatuagem e estão descontentes com o trabalho feito. Como vingança entram na casa de Mauro, agridem-no e roubam o seu dinheiro, algo que gera no mesmo a sede de vingança.
Após sair de casa, violando claramente a sua sentença, persegue-os com o objectivo de recuperar o seu dinheiro e após prender um deles na mala de um carro, Mauro olha para o céu e enquanto faz a sua "mijadela" da praxe, rende-se perante o esplendor daquilo que apenas pode ser equiparado à liberdade, esquecendo assim todos os seus sentimentos de vingança. Nada mais libertador do que um homem aliviar a bexiga a céu aberto... *sigh*
Com interpretações contidas da parte de um Carloto Cotta que tem aqui o desempenho pelo qual a sua carreira já esperava há bastante tempo, porque sim o tipo até tem jeito só lhe faltam mesmo é papéis à altura do seu talento, este filme foi um justo vencedor do elevado galardão que recebeu.
A Carloto Cotta, como disse, era o que lhe faltava. O seu desempenho está bem dirigido e coerente, sendo assim a rampa de lançamento que lhe faz justiça. E podemos ver também como desde então o seu ritmo de trabalho tem aumentado estando ele presente em pelo menos dois filmes longa-metragem e em papéis principais.
João Salaviza está realmente de parabéns e o seu trabalho como realizador desta curta (que aqui pode ser vista na íntegra) é, na minha modesta opinião, notável. Em termos técnicos apenas posso destacar que o seu trabalho de câmara dá a clara sensação do sentimento de clausura enquanto Mauro se encontra no seu minúsculo apartamento e, ao mesmo tempo, quando dele sai sentimos também o que é de facto a liberdade. A imagem em que ele e o céu preenchem o ecrã é demasiado reveladora.
Justo vencedor da Palma de Ouro na categoria de curta-metragem só é pena que desde então não se tenha ouvido mais falar de Salaviza como deveriamos ter. Aguardam-se então novos desenvolvimentos.
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7 / 10
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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Estoril Film Festival: palmarés

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MELHOR FILME: Tilva Rosh, de Nikolai Lezaic
PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI JOÃO BENÁRD DA COSTA: Isabelle Huppert, em Copacabana
PRÉMIO MONTBLANC ARGUMENTO: Andrey Stempkovsky, Anush Vardanyan e Givi Shavgulidze, em Reverse Motion
MENÇÃO HONROSA: Zaur Bolotayev (Fotografia), em Reverse Motion
PRÉMIO CINEUROPA: Tilva Rosh, de Nikolai Lezaic
MENÇÃO ESPECIAL: Song of Tomorrow, de Jonas Holmstrom e Jonas Bergergard
PRÉMIO MEO CURTA-METRAGEM: Sredni Vashtar, de Alana Osbourne e Sing Me Too Sleep, de Magnus Arnesen
MENÇÃO ESPECIAL: Le Dernier Instant, de Bouchra Moutaharik
PRÉMIO L'ÓREAL JOVEM TALENTO: Joana de Verona
PRÉMIO CONCURSO CURTAS-METRAGENS CANON: ETIC
PRÉMIOS ESPECIAIS: John Malkovich, Marisa Paredes, Alberto Garcia-Alix, Baltasar Gárzon, Giya Kancheli
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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Carry on Cabby (1963)

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Com Jeito Vai... Motorista de Gerald Thomas continua a longa série de filmes que reuniu este grupo de actores britânicos entre os anos 50 e os anos 70 naquela que é de longe uma das mais divertidas séries de comédia do cinema daquele país.
A história deste filme decorre numa firma de táxis propriedade de Charlie (Sid James) que para ela dá tudo desprezando e desvalorizando o tempo que passa com a sua mulher (Hattie Jacques) que é cada vez menos, até ao dia em que ela farta resolve dar uma volta à sua vida, tornar-se mais independente e fazer frente à empresa do marido.
Longe dos tempos áureos desta saga britânica em que todos os filmes estavam altamente conotados com uma componente mais sexual em que a mulher é um objectivo para a devassidão de alguns homens, aqui a única coisa que se mantém é mesmo a grande batalha dos sexos que compôs qualquer um destes títulos se bem que de uma forma bem mais inocente.
Interessante como um dos muitos filmes desta saga que durou mais de vinte anos e que tantas e tantas gargalhadas causou aos seus espectadores e fãs mas, de entre os inúmeros títulos consegue ser um dos mais fracos porque já não é tão inocente como os primeiros títulos nem tão pouco é dos mais atrevidos e irreverentes.
Divertido e um bom elemento para causar algumas risadas para aqueles que são seguidores destes filmes mas é de longe a obra máxima de entre todos eles.
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6 / 10
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domingo, 14 de novembro de 2010

Sand Serpents (2009)

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Areias Perigosas de Jeff Renfroe é mais um daqueles filmes que mais valia a pena terem aproveitado o dinheiro gasto para apaziguar qualquer fome mundial do que propriamente no filme em si.
Um grupo de soldados norte-americanos capturados pelos Talibãs no Afeganistão enfrenta um perigo maior do que os ditos... E que perigo é esse? Ora... Nada mais nada menos do que, tal como o próprio nome original do filme indicado, um género de "serpentes" gigantes (e pelos vistos cegas) muito ao estilo do Palpitações mas aqui com muito menos qualidade.
À semelhança do que se passou com o Palpitações II, III, IV e seguintes (foram muitos), que perderam TODA e alguma qualidade e piada que o filme original poderia ter, este Areias Perigosas não foge à regra e é um filme pobre e de fraca qualidade, história e sentido.
E o que é que temos então com este filme? Absolutamente nada que se possa considerar de jeito! Vejamos então... Temos um grupo de heróicos soldados e todos com má pinta que vai para o Afeganistão lutar pela "liberdade" e contra o terrorismo mas que, por serem tão "bons", são capturados pelos talibãs e detidos numa qualquer ruína no meio do deserto. Depois, vindo do nada, quando estão prestes a ser eliminados, ouvem um estrondoso rugir fora do local em que estão e misteriosamente todos os que os capturavam desaparecem sem deixar rasto.
Os americanos, que lá conseguem escapar do seu cativeiro sem guarda, e após pedirem auxílio, quando este está prestes a chegar é literalmente comido por uma cobra gigante, e cega (atentemos aos detalhes), que a partir desse momento e até ao final do filme os persegue sem dó nem piedade.
Been there... Seen that... Nada de novo. É um estilo esgotado logo no final do primeiro de todos a ser feito e que mais ninguém, mas ninguém MESMO, deveria ter repetido o estilo porque em nada de nada adianta.
Perseguições e mais perseguições... Um bando de marines indefesos a fugir de um monstro gigante que os quer comer (mas atente-se ao detalhe que foi o mesmo que os "salvou" dos talibãs) que termina com apenas um ou dois sobreviventes e a eterna criança também ela indefesa mas que se safa para dar continuidade à espécie.
Calma. Não terminou ainda... No momento em que tudo parecia estar no fim e lá iam os sobreviventes no seu helicóptero, lá salta outra cobra gigante do meio do nada para comer mais um (sim, mais um) helicóptero, até que o herói do momento salta em pleno voo rebenta com ele... e com a cobra... Lindo... Muito lindo...
Pobre, fraco, sem graça, sem vigor, sem grande acção... Simplesmente pobre. O típico filme de sexta-feira à noite nesse grande canal que é a TVI.
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1 / 10
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sábado, 13 de novembro de 2010

Care Bears: Journey to Joke-a-Lot (2004)

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Ursinhos Carinhosos - Viagem à Terra da Brincadeira de Mike Fallows não passa de uma triste e pobre adaptação dos anteriormente engraçados desenhos animados que encheram os ecrãs televisivos nacionais da ida década de 80.
Eu já deveria ter desconfiado que não iria sair grande coisa deste filme não tivesse sido ele uma oferta para aqueles que, na campanha existente, comprassem As Crónicas de Riddick. Vin Diesel e Ursinhos Carinhosos não parece, logo à partida, um casamento feliz.
Aqui temos novamente as aventuras deste grupo de ursos multicolor que, ao contrário de tempos que já lá vão, não conseguem nem ser engraçados nem transmitir a agradabilidade que tinham. Porquê? Bom... na série animada que passava nos anos 80 recordo que os bonecos em si tinham, apesar dos eventuais meios menos evoluídos com que eram feitos, uma graciosidade de movimentos. Aqui, quase vinte anos depois, o que temos é um conjunto de animações que se notam claramente ter sido realizadas através de um programa computorizado que torna os bonecos e seus respectivos movimentos quase como se fossem uns automatos. Resumindo, tem momentos em que assustam mais do que propriamente conseguem provocar graça ou simpatia. Por breves momentos ainda me passou pela mente se realmente eles ainda eram os ursinhos carinhosos ou se por esta altura já estavam na fase dos ursinhos possuídos...
Àparte deste pequeno grande detalhe há também que refletir na própria história do filme. É certo que, sendo o principal público alvo as crianças, a história deve ser mais simples e acessível para que estas consigam captar certos valores e ideias como a amizade, a entre-ajuda e o companheirismo não se deve, de forma alguma, tratar aqueles que são mais jovens como se fossem imberbes que não conseguem captar ideias tão importantes como estas. Há que usar uma linguagem mais acessível, é um facto, mas não partir do princípio que por se ser mais novo se é, ao mesmo tempo, mais limitado e pouco dado a pensar. Ao ver este filme, a ideia que me ocorreu logo foi esta... A linguagem e a tentativa de transmitir ideias está tão básica que acaba por assustar só de pensar que será mesmo necessário recorrer a uma comunicação tão... rudimentar?
Os "ursinhos" podem de facto ainda ser carinhosos. Aliás, assim o serão para toda a eternidade... O que é certo é que qualquer tipo de magia e graça que tinham ficou enterrada, sabe-se lá até quando, tendo passado a algo mecânico demais para pensarmos que poderá vir a ter algum tipo de "salvação".
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1 / 10
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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sanguepazzo (2008)

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Sangue de Guerra de Marco Tullio Giordana é um excelente drama baseado em factos reais passado nos antes 30 e 40 numa Itália dominado por um regime fascista e segue a vida de dois actores da era Mussolini, sendo eles Luisa Ferida e Osvaldo Valenti.
Com este filme seguimos a vida de Luisa Manfrini (Monica Bellucci), mais tarde Ferida, uma figurante e secundária no cinema da era-Mussolini que captou as atenções dos realizadores da época pela sua beleza e graciosidade. Seguimos também o percurso de Osvaldo Valenti (Luca Zingaretti), actor, boémio e mais tarde companheiro de Luísa.
Aqui vimos o seu percurso enquanto actores emergentes e as suas vidas de boémia que passava pela droga e promiscuidade mas ao mesmo tempo pela admiração e respeito tanto dos seus colegas como do público até que, com o eclodir da guerra e o seu envolvimento excessivo com a máquina de guerra fascista, os tornou de amados a odiados e identificados na totalidade com o regime que levara Itália a uma guerra e, como consequência, à sua execução após o final do conflito.
É escusado esconder que este filme era já há muito aguardado por mim. O motivo é mais do que óbvio... Ter a presença da Monica Bellucci é a primeira e principal razão pelo qual me dava muita vontade de o ver. De seguida, ao ser um filme centrado nos acontecimentos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial é, digamos, a "cereja" no topo no bolo.
Quando factores destes se unem e quando o próprio filme foi um dos seleccionados aos Donatello em 2008, é natural que a curiosidade comece a aumentar. E com razão. Foi uma longa espera pelo filme, longa demais até, mas compensou porque o filme deixou uma significativa marca tanto pelos desempenhos como pela história que era, por mim, totalmente desconhecida.
De Luca Zingaretti muito pouco conhecia mas há que ser realista e dizer que tem um estrondoso desempenho enquanto Osvaldo Valenti. A sua loucura e dependências, quer da droga inicialmente quer de Luísa depois, são retratadas de uma forma tão convincente que na realidade acreditamos que as emoções que ele nos transmite estão de facto a ser sentidas pelo actor.
Quanto a Bellucci enfim... que dizer? Não só continua a transmitir a sua imensa, e intensa, beleza no ecrã como cada vez mais se nota que de filme para filme está cada vez melhor. E é deste tipo de argumentos que ela precisa realmente. Aqueles que lhe dão personagens com conteúdo intenso e onde o seu lado dramático pode brilhar muito ao estilo do que aconteceu em Malèna. Sentimos a sua revolta quando é comparada à classe operária sem ninguém sequer conhecer o meio de onde provinha. Sentimos a sua dor quando perde o filho que sempre quis. Sentimos o seu medo quando é perseguida e finalmente sentimos qual o exacto momento em que percebe que irá ser executada. Bellucci está no seu melhor... e cada vez melhor!
De destacar ainda o actor Alessio Boni, que interpreta Golfieri, o amigo de Luisa Ferida, que a lançou e sempre acarinhou como se fosse (e era) o amor que nunca iria ter. Um secundário de peso que em muito contribui para a tentativa de salvação de Ferida e de Valenti.
Este filme, como tantos outros que nos tentam dar um olhar e uma visão sobre os duros anos de guerra, não deixa de ser um intenso filme dramático sobre um período negro da História Europeia e, ao mesmo tempo, uma história de amor entre duas pessoas que apenas se auto-destruiríam com o passar dos anos. Uma relação que passou por todo o tipo de provações, que por uns foi desejada e idolatrada e por outros invejada e odiada.
Um filme que mostra o melhor e o pior das pessoas numa altura em que tudo e todos era questionado e posto em causa e que acaba por mostrar que num conflito acabamos sempre por escolher, (in)conscientemente, um lado. Mesmo quando esse lado é a neutralidade... Esta consegue ser mais vinculadora do que fazer uma escolha convicto do que se faz.
Tecnicamente o filme está, como não seria de estranhar, muito bom. Desde o guarda-roupa de Maria Rita Barbera, à banda-sonora de Franco Piersanti ou à fotografia de Roberto Forza, tudo é feito a que o filme esteja realmente credível, bem executado e que nos dê uma fiel ideia do período negro pelo qual a Europa passava.
Não sei se este Sangue de Guerra será o melhor filme do ano, no entanto, sei que se não o é... está lá muito perto.
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10 / 10
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Córtex - I Festival de Curtas-Metragens de Sintra

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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dino de Laurentiis

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1919 - 2010
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Ferris Bueller's Day Off (1986)

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O Rei dos Gazeteiros de John Hughes foi um dos grandes sucessos do cinema teen dos anos 80 e que ainda hoje é um marco incontornável no mesmo na medida em que gerou um imenso círculo de fãs que, basicamente, o veneram.
Este filme serviu igualmente como uma rampa de lançamento para o seu actor principal que é, de longe, o grande e único motor do próprio filme. Falo claro de Matthew Broderick que aqui foi nomeado a um Globo de Ouro de Melhor Actor Comédia e que desde então não conseguiu, e provavelmente não conseguirá, semelhante papel que o coloque no "topo".
Neste filme acompanhamos um dia na vida de Ferris Bueller (Broderick), aquilo que em bom português chamamos de "chico-esperto" que, tal como o título do filme indica, é um profissional a faltar às aulas e que aqui decide ter a sua última grande gazeta que servirá quase como um grande desfecho a este perído da sua vida estudantil.
A acompanhá-lo na sua "folga" temos o seu melhor amigo Cameron (Alan Ruck) e a sua namorada Sloane (Mia Sara) ao mesmo tempo que Ed Rooney (Jeffrey Jones) o director da escola o tenta caçar e mostrá-lo como um exemplo do que não deve ser feito, e Jeanie (Jennifer Grey) a irmã que está farta de o ver escapar a todas as trapaças que faz aos seus pais.
Conseguirá Ferris escapar a tudo isto sem ser descoberto? Irá ele ter sucesso em celebrar a sua última e grande gazeta à escola? Estas são as perguntas que quem ainda não viu este filme (como será isso possível?!!) terá de responder depois de o ver...
E que temos então aqui? Temos um de muitos dos filmes que foram feitos por John Hughes sobre as vidas dos adolescentes que estão prestes a entrar na sua idade adulta e que, como tal, vivem todo o tipo de dramas quer existenciais quer sobre o que irão fazer no dia seguinte para dar continuidade às suas vidas.
Também este filme reflete sobre a ausência da família, ou pelo menos a presença de uma família disfuncional onde a materialidade e a valorização de objectos e de promoções são, na teoria, mais importantes do que a estabilidade emocional e afectiva entre o seio familiar. Temos isto muito presente na personagem de Alan Ruck que com o seu "Cameron" retrata na perfeição um adolescente que sente acima de tudo a falta de um pai que o estime.
Vários são os segmentos que neste filme atingem o delírio da comédia... Temos isso presente na parada germano-alemã que é "assaltada" por Ferris, a ida ao restaurante de luxo onde são quebradas quaisquer tipo de convenções ou mesmo os engenhos que a personagem principal encontra para poder fazer crer a tudo e todos que realmente se encontra em casa doente enquanto está a disfrutar os prazeres de uma vida sem preocupações em plena cidade.
Por sua vez também temos os momentos mais tensos e dramáticos, quase todos passados com Cameron em que percebemos claramente que temos ali um adolescente em pânico com aquilo que será o seu "dia seguinte". Assombroso o momento em que, no museu, olha para um quadro e em que percebemos que tal como no que lá está representado, também ele está num local perfeito mas com uma enorme vontade de gritar e de se libertar. Ele anseia pela liberdade. Tanto sua fisicamente como principalmente do seu espírito que vive atormentado e com medo.
Talvez como ninguém até à data, John Hughes conseguiu transpôr ao cinema os anseios, medos, frustrações, os amores, os sonhos e as vontades de toda uma geração que anseava em absoluto pelo futuro e pelo que ele poderia trazer de bom.
Talvez por isso mesmo os seus filmes sejam hoje em dia objectos de culto e com legiões imensas de fãs que vivem e respiram os seus filmes mesmo hoje, passados mais de vinte anos sobre aqueles que foram as suas obras mais emblemáticas.
Talvez por eles representarem aquilo que, basicamente, está na essência de cada um de nós... a vontade de liberdade... de poder sonhar... e principalmente de não perdermos aquilo que nos faz esperar pelo dia de amanhã... a esperança.
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"Ferris Bueller: Life goes by pretty fast. If you don't stop and look around once in a while... you could miss it."
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8 / 10
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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Mean Creek (2004)

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Uma Pequena Vingança de Jacob Aaron Estes é um drama teen que decorre numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos e que tem nos principais papéis Rory Culkin, Trevor Morgan e Scott Mechlowicz.
A acção do filme decorre após aquele que parece ser mais um bullying por parte de George (Josh Peck) sobre Sam (Culkin). Depois de já estar farto de ser constantemente agredido, Sam combina com o seu irmão Rocky (Morgan) e com uns amigos deste em pregar uma partida bem forte a George para o humilhar perante toda a cidade.
Depois de convidarem George sob o falso pretexto da festa de aniversário de Sam, e de dirigirem para o rio onde iriam fazer canoagem, George revela inicialmente uma personalidade mais dócil e frágil até ao momento em que se sente novamente provocado e reage como sempre havia feito até aí. Momento este em que tudo muda de figura.
Este filme composto quase na sua totalidade por actores mais jovens toca num assunto que até há bem pouco tempo era totalmente tabu, ou seja, o bullying. Quantos não serão os jovens que maioritariamente no silêncio não sofrem ataques consecutivos de outros jovens, nomeadamente nas escolas, e que se fecham e isolam tentanto mostrar aos demais que não se passa nada?
Esta seria a premissa inicial do filme até ao momento em que a personagem interpretada por Rory Culkin desabafa e confessa ao irmão o que afinal se tem passado com ele. É então aqui que a história toma outros contornos e se assume como aquilo que ela na realidade é... uma história de vingança. Vingança esta que assumia inicialmente contornos não tão "graves" mas que, com o desenrolar da acção se assumiu como uma vingança pura e dura para alguém que fazia os demais sofrer quer física quer psicologicamente às suas mãos.
Este filme deixa-nos pensar onde está na realidade o agressor. Será ele George, um jovem problemático que mostra que a única atenção de que é alvo é aquela que tem das suas vítimas quando as agride? Serão os agressores os outros jovens que são diariamente alvos destas investidas violentas?
Por sua vez deixa-nos igualmente a ponderar sobre quem será a verdadeira vítima.... É George a vítima na medida em que tem pouca atenção em casa e ainda menos na escola, muito derivado também das dificuldades de aprendizagem que revela ter ao longo do filme? Serão os demais jovens que sofrem às mãos de George?
Quem é a verdadeira vítima e o verdadeiro agressor no meio de tudo? Nada mais simples do que pensarmos que existe apenas uma resposta para ambas as perguntas... A sociedade. É ela que permite que um jovem tenha e continue a ter dificuldades de aprendizagem e que não seja devidamente inserido num contexto de compreensão e atenção. É ela que permite que os mais jovens assistam a todo o tipo de violência e que pensem que essa é a única forma de obtenção so que querem, e não através do diálogo. Finalmente, é também a sociedade, e por sua vez a comunidade, a verdadeira vítima na medida em que são estes mesmos jovens que, de uma forma ou de outra, irão ser os futuros líderes e adultos da mesma, perpetuando assim um ciclo de violência que dificilmente consegue encontrar o seu fim.
Assumo que foram precisas duas vezes para ver este filme, e que ambas foram separados por cinco anos para que pudesse claramente perceber a mensagem que este filme tem. Não por não lhe ter dado devida atenção da primeira vez, mas porque há temas e assuntos que felizmente deixam de ser tabu com o passar dos anos, e podemos assim perceber acções que se passam à nossa volta e por vezes até mesmo connosco. É esta distância temporal que faz este filme realmente ganhar a importância que tem e tornar-se numa importante peça que testemunha aquilo que hoje vulgarmente conhecemos como bullying. Como este assume contornos perigosos que vão desde a violência física à psicológica e como nos compete a nós enquanto comunidade e membros da sociedade tomar medidas para que ela não se perpetue num ciclo vicioso do qual a juventude dificilmente escapa.
A ignorância não é felicidade. Nunca foi. Nunca deveria ter sido. Não é. E espero sinceramente que nunca o seja.
Um aplauso aos brilhantes desempenhos que este grupo de jovens actores aqui tem que retrata de forma exacta e coesa um dos mais fortes e pesados dramas da população mais jovem.
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7 / 10
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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Fish Tank (2009)

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Aquário de Andrea Arnold é um interessante e muito bem dirigido filme britânico não só sobre a passagem da adolescência à idade adulta como também sobre a moral e os valores que devem reger o ser humano.
A dar vida às personagens principais temos Katie Jarvis, uma jovem actriz que tem aqui a sua primeira experiência de representação mas que conseguiu com este filme ser nomeada para inúmeros prémios incluindo o de Melhor Actriz Europeia. Temos também um dos pesos pesados do cinema Europeu da actualidade que é o excelente Michael Fassbender que uma vez mais surpreende e mostra aquilo de que é capaz com mais um forte desempenho.
Neste filme seguimos a vida de Mia (Jarvis), uma adolescente britânica que tem uma personalidade vincada e forte demais que a leva a enfrentar tudo e todos, pensamos nós, apenas por ser uma questão de afirmação. Perita em encontrar confusão por todo o lado por onde passa, depressa percebemos que mais não que uma forma de se proteger de uma sociedade da qual ela própria também vê ter pouco interesse.
Percebemos também pelo seu meio envolvente que Mia vive num ambiente pesado demais para ser uma pessoa dócil. Uma mãe (Kierston Wareing) ainda jovem e preocupada demais com a sua própria vida do que dar atenção às suas duas filhas adolescentes e uma vida de bairro social de onde percebe não conseguir sair facilmente, contribuem para que o seu comportamento seja adequado ao espaço em que vive.
Tudo muda no dia em que a mãe leva para casa Connor (Fassbender), o novo namorado, e por quem Mia vai desenvolver uma paixão secreta que percebemos ir longe demais.
Este filme que além de receber o BAFTA de Melhor Filme Britânico do ano foi ainda seleccionado para a Palma de Ouro em Cannes, tendo vindo a conquistar o Prémio do Júri, e no Fanstasporto recebeu ainda os Prémios de Melhor Filme e Realizador da Semana dos Realizadores, tem além de um óptimo argumento que reflete sobre o dia de uma jovem de um bairro social e sobre a sua adolescência, tem como o seu ponto mais forte as magníficas e credíveis interpretações compostas por Jarvis, Fassbender e Wareing, o trio principal de actores.
Katie Jarvis é, para uma actriz que compõe a sua primeira interpretação, simplesmente brilhante e todos os prémios para que foi nomeada ou que recebeu foram, sem sombra de dúvidas, merecidos. A sua composição enquanto uma jovem socialmente instável e desprotegida num meio que lhe é agreste é magnífica. Sentimos a sua vontade de procurar e ter algo melhor, algo que é mais que evidente quando tenta salvar uma égua que pensa estar a ser vítima de maus tratos. Como não o consegue para ela, talvez consiga para outro ser ainda mais frágil.
Percebemos igualmente o quão complicado é para uma jovem, forte mas francamente fragilizada, poder conseguir ultrapassar as adversidades que a sociedade ou uma família disfuncional lhe colocam, e como estes factores a podem levar a enveredar por caminhos que são menos próprios de um ponto de vista moral. Jarvis é, em todas as frentes, muito convincente no seu trabalho.
Por seu lado temos Kierston Wareing, a mãe, ausente, violenta, distante e socialmente inadaptada. Mãe enquanto jovem e desligada das suas filhas já adolescentes com quem não pretende manter qualquer tipo de relação amigável. As suas filhas nada mais são do que entraves para a sua vontade de farras diárias e, como tal, nada melhor do que as manter fora dos seus interesses e afastadas da sua vida.
Finalmente temos Michael Fassbender, como sempre brilhante, no papel de Connor, o homem que aparece inicialmente na vida da mãe mas que é da filha de quem vai gostar e com quem vai desenvolver uma relação, e tensão, bastante perigosas.
Gosto destes filmes sobre vidas marginais e inadaptadas. Pronto, assumo. Gosto destas histórias ou nem tudo, ou menos nada, é perfeito ou corre bem. Gosto de ver diferentes pessoas perante as adversidades e como, perante elas, conseguem (sobre)viver para que, no final, consigam dizer "eu passei por lá". Perceber como reagem, o que fazem. Perceber, ou não, os porquês e o que as levou a chegar a um determinado ponto ou situação. Como conseguiram de lá sair e como encaram depois tudo o que fizeram ou passaram. Se guardam ressentimentos, angústias ou assuntos por resolver.
Gosto de ver que do Reino Unido continua a surgir cinema de qualidade para além dos magníficos filmes de época que normalmente chegam de terras de Sua Majestade. É bom ver o cinema real, que mostra o que de facto se passa com grande maioria das pessoas que habitam espaços mais ou menos distantes daquele em que nós próprios nos enquadramos e que, em muitos casos, mantêm problemas tão parecidos com os nossos.
Simplesmente brilhante. Digno de destaque e de atenção. Soberbas interpretações que são magnificamente dirigidas por Andrea Arnold que também compôs o argumento. Que durem estas agradáveis surpresas.
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8 / 10
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