Sangue de Guerra de Marco Tullio Giordana é um excelente drama baseado em factos reais passado nos antes 30 e 40 numa Itália dominado por um regime fascista e segue a vida de dois actores da era Mussolini, sendo eles Luisa Ferida e Osvaldo Valenti.
Com este filme seguimos a vida de Luisa Manfrini (Monica Bellucci), mais tarde Ferida, uma figurante e secundária no cinema da era-Mussolini que captou as atenções dos realizadores da época pela sua beleza e graciosidade. Seguimos também o percurso de Osvaldo Valenti (Luca Zingaretti), actor, boémio e mais tarde companheiro de Luísa.
Aqui vimos o seu percurso enquanto actores emergentes e as suas vidas de boémia que passava pela droga e promiscuidade mas ao mesmo tempo pela admiração e respeito tanto dos seus colegas como do público até que, com o eclodir da guerra e o seu envolvimento excessivo com a máquina de guerra fascista, os tornou de amados a odiados e identificados na totalidade com o regime que levara Itália a uma guerra e, como consequência, à sua execução após o final do conflito.
É escusado esconder que este filme era já há muito aguardado por mim. O motivo é mais do que óbvio... Ter a presença da Monica Bellucci é a primeira e principal razão pelo qual me dava muita vontade de o ver. De seguida, ao ser um filme centrado nos acontecimentos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial é, digamos, a "cereja" no topo no bolo.
Quando factores destes se unem e quando o próprio filme foi um dos seleccionados aos Donatello em 2008, é natural que a curiosidade comece a aumentar. E com razão. Foi uma longa espera pelo filme, longa demais até, mas compensou porque o filme deixou uma significativa marca tanto pelos desempenhos como pela história que era, por mim, totalmente desconhecida.
De Luca Zingaretti muito pouco conhecia mas há que ser realista e dizer que tem um estrondoso desempenho enquanto Osvaldo Valenti. A sua loucura e dependências, quer da droga inicialmente quer de Luísa depois, são retratadas de uma forma tão convincente que na realidade acreditamos que as emoções que ele nos transmite estão de facto a ser sentidas pelo actor.
Quanto a Bellucci enfim... que dizer? Não só continua a transmitir a sua imensa, e intensa, beleza no ecrã como cada vez mais se nota que de filme para filme está cada vez melhor. E é deste tipo de argumentos que ela precisa realmente. Aqueles que lhe dão personagens com conteúdo intenso e onde o seu lado dramático pode brilhar muito ao estilo do que aconteceu em Malèna. Sentimos a sua revolta quando é comparada à classe operária sem ninguém sequer conhecer o meio de onde provinha. Sentimos a sua dor quando perde o filho que sempre quis. Sentimos o seu medo quando é perseguida e finalmente sentimos qual o exacto momento em que percebe que irá ser executada. Bellucci está no seu melhor... e cada vez melhor!
De destacar ainda o actor Alessio Boni, que interpreta Golfieri, o amigo de Luisa Ferida, que a lançou e sempre acarinhou como se fosse (e era) o amor que nunca iria ter. Um secundário de peso que em muito contribui para a tentativa de salvação de Ferida e de Valenti.
Este filme, como tantos outros que nos tentam dar um olhar e uma visão sobre os duros anos de guerra, não deixa de ser um intenso filme dramático sobre um período negro da História Europeia e, ao mesmo tempo, uma história de amor entre duas pessoas que apenas se auto-destruiríam com o passar dos anos. Uma relação que passou por todo o tipo de provações, que por uns foi desejada e idolatrada e por outros invejada e odiada.
Um filme que mostra o melhor e o pior das pessoas numa altura em que tudo e todos era questionado e posto em causa e que acaba por mostrar que num conflito acabamos sempre por escolher, (in)conscientemente, um lado. Mesmo quando esse lado é a neutralidade... Esta consegue ser mais vinculadora do que fazer uma escolha convicto do que se faz.
Tecnicamente o filme está, como não seria de estranhar, muito bom. Desde o guarda-roupa de Maria Rita Barbera, à banda-sonora de Franco Piersanti ou à fotografia de Roberto Forza, tudo é feito a que o filme esteja realmente credível, bem executado e que nos dê uma fiel ideia do período negro pelo qual a Europa passava.
Não sei se este Sangue de Guerra será o melhor filme do ano, no entanto, sei que se não o é... está lá muito perto.
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10 / 10
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