Negros Hábitos de Pedro Almodóvar é, como a grande maioria dos filmes do realizador espanhol, uma história de mulheres, de amor, de dor, de sentimentos e de muito humor.
Almodóvar leva-nos até ao interior de um convento onde as suas freiras, com alguns hábitos pouco ortodoxos, estão habituadas a salvar mulheres da rua e de vidas problemáticas. Estas freiras, que são um autêntico carrossel de experiência mais ou menos experiências fora do vulgar, nomeadamente uma viciada em ácidos, outra em cocaína e lésbica, uma que vive uma paixão secreta e não admitida com um padre, uma que escreve contos eróticos e ainda uma outra que criou e tomou conta de um tigre dentro do próprio convento constituem aquilo que é o único reduto de salvamento para essas mesmas mulheres mais despriviligiadas ou em apuros. Até os nomes pelos quais se tratam são pouco ortodoxos... A Esterco (Marisa Paredes), a Perdida (Carmen Maura), a Víbora (Lina Canalejas) e a Rata de Esgoto (Chus Lampreave)...
É a ele que vai parar Yolanda (Cristina Pascual), uma cantora de um clube nocturno após o seu namorado consumidor de cocaína morrer numa overdose. É neste convento que Yolanda conhece então estas freiras com quem desenvolve relações de amizade e apoio e é por ela que a Madre Superiora (Julieta Serrano) desenvolve uma paixão.
Nesta convento, e através das histórias de todas estas freiras que acima de tudo são mulheres, que tomamos conhecimento dos seus sonhos e sentimentos reprimidos por uma ou outra razão. Conhecemos essencialmente o seu coração. Os seus amores e os seus propósitos de vida. Percebemos ao longo do filme o porquê delas serem como são, o porquê de se auto-reprimirem ou de, apesar de serem freiras, levarem estilos de vida tão marginais e fora daquilo que é dito "normal". Vemos que elas são, acima de qualquer outra coisa, mulheres e seres que sentem.
Pedro Almodóvar tem, desde sempre verdade seja dita, uma capacidade imensa de ser um brilhante contador de histórias. E não são umas histórias quaisquer. São histórias com um profundo sentido humano. São as histórias dos sentimentos. Os que as suas personagens admitem sentir e especialmente aqueles que ficam por dizer mas que, com Almodóvar, são perceptíveis aos nossos olhos enquanto espectadores.
Além dos sentimentos, Almodóvar sempre foi um exímio crítico da sociedade e aos elementos que a compõem. Desde a Igreja, como é aqui o caso à santidade do casamento ou das relações como o reflete na maioria das suas obras, bem como aos novos relacionamentos que na maioria das vezes se encontram escondidos e vividos no segredo.
O elenco do qual sempre se rodeou não poderia deixar de ser do melhor. Julietta Serrano, Marisa Paredes, Carmen Maura e uma muito jovem Cecilia Roth que está aliás praticamente irreconhecível, são alguns dos rostos que dão vida a estas fantásticas, e cheias de vida, personagens que compõem um excêntrico e brilhante filme.
Filme este que, apesar de já ter uns anitos e só agora o ter visto pela primeira vez, contribui para ficar com cada vez maior interesse para descobrir mais e mais desse grande génio que é Almodóvar. Um filme simplesmente imperdível.
.Filme este que, apesar de já ter uns anitos e só agora o ter visto pela primeira vez, contribui para ficar com cada vez maior interesse para descobrir mais e mais desse grande génio que é Almodóvar. Um filme simplesmente imperdível.
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"Madre General: Nada mais parecido com a soberba do que o excesso de humildade."
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8 / 10
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