terça-feira, 9 de novembro de 2010

Fish Tank (2009)

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Aquário de Andrea Arnold é um interessante e muito bem dirigido filme britânico não só sobre a passagem da adolescência à idade adulta como também sobre a moral e os valores que devem reger o ser humano.
A dar vida às personagens principais temos Katie Jarvis, uma jovem actriz que tem aqui a sua primeira experiência de representação mas que conseguiu com este filme ser nomeada para inúmeros prémios incluindo o de Melhor Actriz Europeia. Temos também um dos pesos pesados do cinema Europeu da actualidade que é o excelente Michael Fassbender que uma vez mais surpreende e mostra aquilo de que é capaz com mais um forte desempenho.
Neste filme seguimos a vida de Mia (Jarvis), uma adolescente britânica que tem uma personalidade vincada e forte demais que a leva a enfrentar tudo e todos, pensamos nós, apenas por ser uma questão de afirmação. Perita em encontrar confusão por todo o lado por onde passa, depressa percebemos que mais não que uma forma de se proteger de uma sociedade da qual ela própria também vê ter pouco interesse.
Percebemos também pelo seu meio envolvente que Mia vive num ambiente pesado demais para ser uma pessoa dócil. Uma mãe (Kierston Wareing) ainda jovem e preocupada demais com a sua própria vida do que dar atenção às suas duas filhas adolescentes e uma vida de bairro social de onde percebe não conseguir sair facilmente, contribuem para que o seu comportamento seja adequado ao espaço em que vive.
Tudo muda no dia em que a mãe leva para casa Connor (Fassbender), o novo namorado, e por quem Mia vai desenvolver uma paixão secreta que percebemos ir longe demais.
Este filme que além de receber o BAFTA de Melhor Filme Britânico do ano foi ainda seleccionado para a Palma de Ouro em Cannes, tendo vindo a conquistar o Prémio do Júri, e no Fanstasporto recebeu ainda os Prémios de Melhor Filme e Realizador da Semana dos Realizadores, tem além de um óptimo argumento que reflete sobre o dia de uma jovem de um bairro social e sobre a sua adolescência, tem como o seu ponto mais forte as magníficas e credíveis interpretações compostas por Jarvis, Fassbender e Wareing, o trio principal de actores.
Katie Jarvis é, para uma actriz que compõe a sua primeira interpretação, simplesmente brilhante e todos os prémios para que foi nomeada ou que recebeu foram, sem sombra de dúvidas, merecidos. A sua composição enquanto uma jovem socialmente instável e desprotegida num meio que lhe é agreste é magnífica. Sentimos a sua vontade de procurar e ter algo melhor, algo que é mais que evidente quando tenta salvar uma égua que pensa estar a ser vítima de maus tratos. Como não o consegue para ela, talvez consiga para outro ser ainda mais frágil.
Percebemos igualmente o quão complicado é para uma jovem, forte mas francamente fragilizada, poder conseguir ultrapassar as adversidades que a sociedade ou uma família disfuncional lhe colocam, e como estes factores a podem levar a enveredar por caminhos que são menos próprios de um ponto de vista moral. Jarvis é, em todas as frentes, muito convincente no seu trabalho.
Por seu lado temos Kierston Wareing, a mãe, ausente, violenta, distante e socialmente inadaptada. Mãe enquanto jovem e desligada das suas filhas já adolescentes com quem não pretende manter qualquer tipo de relação amigável. As suas filhas nada mais são do que entraves para a sua vontade de farras diárias e, como tal, nada melhor do que as manter fora dos seus interesses e afastadas da sua vida.
Finalmente temos Michael Fassbender, como sempre brilhante, no papel de Connor, o homem que aparece inicialmente na vida da mãe mas que é da filha de quem vai gostar e com quem vai desenvolver uma relação, e tensão, bastante perigosas.
Gosto destes filmes sobre vidas marginais e inadaptadas. Pronto, assumo. Gosto destas histórias ou nem tudo, ou menos nada, é perfeito ou corre bem. Gosto de ver diferentes pessoas perante as adversidades e como, perante elas, conseguem (sobre)viver para que, no final, consigam dizer "eu passei por lá". Perceber como reagem, o que fazem. Perceber, ou não, os porquês e o que as levou a chegar a um determinado ponto ou situação. Como conseguiram de lá sair e como encaram depois tudo o que fizeram ou passaram. Se guardam ressentimentos, angústias ou assuntos por resolver.
Gosto de ver que do Reino Unido continua a surgir cinema de qualidade para além dos magníficos filmes de época que normalmente chegam de terras de Sua Majestade. É bom ver o cinema real, que mostra o que de facto se passa com grande maioria das pessoas que habitam espaços mais ou menos distantes daquele em que nós próprios nos enquadramos e que, em muitos casos, mantêm problemas tão parecidos com os nossos.
Simplesmente brilhante. Digno de destaque e de atenção. Soberbas interpretações que são magnificamente dirigidas por Andrea Arnold que também compôs o argumento. Que durem estas agradáveis surpresas.
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8 / 10
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