A Luz é para Todos de Elia Kazan coloca um magnífico Gregory Peck num desempenho que lhe valeu uma nomeação para Oscar de Melhor Actor.
O reporter Schuyler Green (Peck) é contratado para fazer uma reportagem sobre o anti-semitismo nos Estados Unidos no período pós-guerra. A ideia é fazer-se ele próprio passar por judeu e assim saber o que as pessoas e instituições pensam da sua pessoa antes e depois de saberem da "sua" falsa religião.
Aquilo que constata é que por detrás de rostos simpáticos e de sorrisos sinceros, esconde-se um profundo sentimento anti-semita que o começa a pressionar a afastar de todos os seus desejos ou vontades.
Este filme que fora nomeado a oito Oscars tendo saído vencedor nas categorias de Filme, Realizador e Actriz Secundária para Celeste Holm, num desempenho como a única pessoa de opinião mordaz e que parece realmente não se importar com a religião de Schuyler olhando sim para o homem que é.
Elia Kazan realiza este filme que quase se pode dividir em dois momentos significativos. O primeiro deles onde somos apresentados às personagens bem como às suas intenções e incertezas sobre o futuro e aquilo a que podem realmente dedicar as suas vidas. É um segmento ainda largo do filme que pode por momentos desmotivar-nos sobre a sua continuação mas que para os persistentes dará, ao mesmo tempo, uma ideia de que se devem agarrar a este filme e esperar pelo que dali poderá surgir.
E esse momento passa rápido... o nosso interesse pelo filme começa lentamente a crescer e não nos conseguimos libertar dele. Quando chegamos à sua segunda metade e assistimos às crescentes injustiças a que uma tão liberal sociedade sujeita um dos seus apenas por ele se apresentar como judeu. E pior sendo na época em que o próprio país participou na luta pela liberdade da Europa onde tantos e tantos foram mortos por uma das maiores barbaries da História.
Mas acima de tudo é a conclusão que advém deste momento que se torna de facto mais importante. Um dos momentos mais importantes deste filme surge no diálogo entre Kathy (Dorothy McGuire) e Dave (John Garfield) onde este lhe diz claramente que apesar de estar mal a descriminação e o preconceito existente nas pessoas, o pior é mesmo quando aquelas ditas de bem em vez de o repudiarem e claramente condenarem simplesmente se mantêm no silêncio dando origem a que esses comentários aumentem e se propeguem indiscriminadamente.
Ao ver este diálogo entre estas duas personagens lembrei-me imediatamente daquela observação de que para o mal prevalecer basta que os homens bons nada façam... e nada mais real e certeiro do que esta observação. Como pode ficar alguém indiferente quando o mal se propaga mesmo que sorrateiramente pela sociedade? Como não reagir? Como não impedir?
É sobre esta premissa que boa parte do filme acaba por se desenrolar. Sobre a inércia de uma sociedade que aceita no silêncio a descriminação a que sujeitam os seus semelhantes. Que no silêncio acaba por consentir com a segregação. Que no silêncio vive... que no silêncio violenta... e que no silêncio se perpetua pelas gerações vindouras.
Excelente filme que tive o previlégio de encontrar perdido no meio de tantos outros e que seguramente afirmo ter sido um justo vencedor dos prémios que alcançou bem como deveria servir como um bom caso de estudo em tantas escolas por este mundo fora. Afinal estes filmes mais não são do que grandes reflexos da História e da sociedade pela qual passamos e, em muitos casos, na qual ainda estamos.
Magnífico... Imperdível... E com Gregory Peck num dos seus melhores registos em cinema.
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"Mrs. Green: You know something, Phil? I suddenly want to live to be very old. Very. I want to be around to see what happens. The world is stirring in very strange ways. Maybe this is the century for it. Maybe that's why it's so troubled. Other centuries had their driving forces. What will ours have been when men look back? Maybe it won't be the American century after all... or the Russian century or the atomic century. Wouldn't it be wonderful... if it turned out to be everybody's century... when people all over the world - free people - found a way to live together? I'd like to be around to see some of that... even the beginning. I may stick around for quite a while."
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8 / 10
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