Isolado de Johnny Martin (EUA) é uma, mais uma, das inúmeras obras cinematográficas que surgem no seguimento não só de um género como de um que é agora alimentado pela onda pandémica da COVID-19 que recentemente a todos nos afectou.
Aidan (Tyler Posey) fica barricada no seu apartamento depois de um estranho vírus afectar a popilação mundial. À medida que o tempo passa e o racionamento de alimentos atinge o seu limite, Aidan vê-se impossibilitado de sair de casa enquanto os Screamers ocupam não só as ruas como também os corredores do bloco do seu bloco de apartamentos. Quando toda a esperança falha, existirá algo pelo qual ainda lutar?
Ainda que muito fresca na memória colectiva, a pandemia da COVID-19 haveria de começar a dar os seus frutos no cinema. Se por um lado a temática não é nova recriando mais uma história de infectados que dominam as ruas de todas as cidades, não deixa de ser curioso que esta em particular tenha saído no ano da própria pandemia. Então o que observamos nesta história que seja, talvez não novo, mas curioso de uma perspectiva social?! Logo à partida consigo identificar três elementos. O primeiro não necessariamente uma novidade mas talvez algo invulgar de verificar no género é o facto de ainda que ausente de conhecimento de uma forma geral, o protagonista
"Aidan" (Posey) ser alguém que nos primeiros dias do contágio e da propagação da infecção consegue ainda ter alertas sobre os relatos noticiosos e do avanço da estranha pandemia que assola a comunidade. Não é comum nestas histórias que a comunicação social "resista" tanto tempo sendo até, de uma forma geral, um dos primeiros elementos da sociedade que acaba por falir de forma quase ruinosa. Atrapalhadas ou bloqueadas as comunicações e informações... mais rapidamente se propaga a infecção...
Esta continuidade informativa proporcionada também pela existência de uma rede energética (é certo que percebemos que é propositada para que algumas das acções da personagem de Posey possam ter crédito), possibilita a
"Aidan" que faça o seu registo de resistente face a um mundo que está à beira de colapsar. O seu vídeo/registo de memórias para uma posterioridade - que poderá não existir - conferem ao espectador um certo conhecimento da dinâmica familiar que existira antes da hecatombe. Uma família unida que agora, o seu último elemento, compreende já não voltar a ter. As memórias que servem apenas como um desabafo de quem sobrevive e, quem sabe, um registo da sua existência num mundo que não voltará a ser o mesmo mas, ainda assim, questiona-se o espectador sobre qual o seu propósito - talvez apenas e só terapêutico - quando a própria rede de energia irá falhar e ninguém lhes poderá ter acesso?!
Finalmente, e ainda que seja um elemento recorrente não é (ainda) uma presença constante nas obras do género, o facto destes infectados (não mortos-vivos) que mais parecem vítimas de um qualquer cataclismo natural que afectou o seu discernimento e capacidade de raciocinar sobre o bem e o mal (uma vez que tentam alimentar-se dos ditos não-infectados), aparentarem ter uma qualquer réstia de consciência que lhes confere uma breve noção de que algo está mal não conseguindo, no entanto, resistir ao impulso maior de atacar indiscriminadamente.
No seio de todo um colapso social, informativo e organizacional,
Alone acaba por revelar a reflexão a partir do seu próprio título... como reagir a um mundo no qual nos encontramos totalmente solitários. Não existe nada nem ninguém que alguma vez conhecemos. Tudo ruiu sem cair. Tudo morrer sem desaparecer. Não houve oportunidade para o luto. Não houve despedidas. Viver em nome de quê? Com que propósito? Para quem? É apenas quando uma última esperança chega no seio de um momento fatal - o aparecimento de uma sobrevivente em
"Eva" (Summer Spiro) e da curiosa alusão aos seus nomes...
"Aidan" e
"Eva" - que o nosso protagonista pensa - afinal - que talvez a vida será melhor de preservar do que desaparecer sem deixar qualquer rasto para um mundo que (talvez) possa ainda existir... mais não seja pela fecundação futura do mesmo.
A esperança não morre... morre todo o demais planeta incluindo os poucos registos de sobreviventes que ainda conseguimos encontrar (assombroso Donald Sutherland e o seu
"Edward" que revela, uma vez mais, que no meio de uma crise... a Humanidade deserta deserdando qualquer um de nós da consciência que em tempos sãos nos caracteriza), e a única certeza para lá do óbvio mundo que não voltará a ser igual é que as sobrevivência (ou a morte) não será tão amarga agora que um tem a presença do outro para ora dar esperança ora alento num potencial momento final.
O realizador Johnny Martin e o argumentista Matt Naylor falham apenas num elemento primordial para estas histórias... Todos nós que seguimos o género compreendemos que nem sempre se conseguem "fechar" estas histórias que, regra geral, têm um final aberto possibilitando a cada um de nós olhar o futuro (ou o que resta dele) da forma como cada um de nós quiser... no entanto este
Alone pega no impossível e faz do final desta narrativa um momento quase absurdo ao conferir ao dois resistentes uma sobrevivência que em nada faz antever o futuro. Depois de uma luta intensa para chegarem ao seu porto seguro... eis que caem no chão e tudo termina... Se era para desistir ali... mais valia ter fechado a porta uns instantes antes e deixar a mente do espectador navegar pela incerteza de que "talvez" alguém não resistisse a um caminho cheio de tantas ameaças. Se o filme tinha conquistado alguma coerência e até suspense na atmosfera que havia criado, é o final que o lança num rumo de obras inacabadas e impossíveis de recuperar... afinal, quem iria querer ver uma sequela de algo que... parece ter terminado como terminou porque se investiu demais no restante filme e agora... já não existia mais capital.
De dinâmico e com um ritmo intenso - exceptuando as caracterizações dos infectados que... poderiam ser melhor elaboradas - e até mesmo um intenso registo da solidão de um sobrevivente para quem o "amanhã" parece não existir,
Alone parece querer encerrar o capítulo apocalipse para dar lugar a um romance não concretizado quando, na realidade, poderia ter dado corpo aos dois factores. Vale pelos primeiros oitenta minutos e deita tudo a perder nos últimos cinco. A ambição da história foi interessante mas não se lhe conseguiu dar a devida atenção e cuidado. Com um Donald Sutherland igual a si própria e a constituir-se como um dos elementos mais fortes desta longa-metragem - todos nós sabemos desde o primeiro momento em que o vemos o que dali vem -, e um destaque positivo para a interpretação de Tyler Posey durante toda a primeira metade do filme,
Alone deixa-nos, na realidade, com uma sensação de que realmente estamos sozinhos... não num apocalipse mas na esperança de que a dupla realizador/argumentista tivessem dado mais credibilidade a um final sem sabor.