Anticristo de Lars von Trier é um filme com apenas dois actores sendo eles Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg que pelo seu trabalho venceu o Prémio de Interpretação Feminina em Cannes e foi ainda nomeada ao Prémio de Cinema Europeu em 2009.
Após perderem o filho num acidente doméstico, um casal refugia-se na sua cabana de montanha para se isolarem do resto do mundo.
Ela sente-se culpada e amargurada pela morte da criança e vive, após um mês de internamento, uma constante espiral de culpabilização que culminam em auto-mutilação e agressão. Ele assume uma postura mais fria, inicialmente suspeitamos que será devido à sua profissão clínica que lhe permite ver o mundo e os seus problemas de uma forma mais distante.
No entanto, após esta análise inicial questionamo-nos se será mesmo isto ou se não será a sua postura "compreensiva" e reflexiva uma forma de a levar a culpabilizar-se ainda mais pela morte do seu filho.
A questão fundamental do filme prende-se exactamente com isto. A dualidade entre Homem e Mulher. Quem tem mais força. Quem tem mais poder. Especialmente quem tem mais poder sobre o outro. Algo que se confirmará no final, exactamente no final, deste filme.
Se pensarmos nos últimos títulos da filmografia de Lars von Trier, não será difícil imaginar quem é de facto o "Anticristo" deste filme. Von Trier tem tendencialmente o cuidado de criar uma personagem vítima que é normalmente a mulher. Tivemos Grace em Dogville, tivemos Selma em Dancer in the Dark e aqui repete-se a ideia.
Ela (Gainsbourg) é aqui a personagem chave do filme. A vítima. A que perdeu. A que quase enlouquece. A que desespera. A que sofre. A que se se violenta como forma de esquecer ou ultrapassar a dor. A que morre. A que é morta.
Poderoso em termos de imagem, especialmente nas que dizem respeito à violência física e mutilação pela qual passam as personagens do filme. Violento no que diz respeito à sexualidade e a como esta é utilizada como forma de poder e de subjugação.
Li algures nos inúmeros sites de cinema que leio, que ao longo deste filme, apesar de não haver terror propriamente dito, sentimos que através das suas imagens existe "algo". E é de facto verdade. Todo o filme é francamente incomodativo e a sua banda-sonora cria, através de algumas sonoridades alternativas, uma atmosfera francamente perturbadora que, aliada às imagens e ao brilhante trabalho de fotografia de Anthony Dod Mantle (vencedor do Prémio de Cinema Europeu na respectiva categoria) criam uma atmosfera densa e negra dando uma vida própria à floresta onde se encontram.
Li também que é o Homem o verdadeiro Anticristo pois martiriza, e sempre martirizou a Mulher. Temos isto também presente no filme através dos estudos para a tese que Ela tentou concluir sobre a bruxaria. As inúmeras Mulheres que foram torturadas e mortas devido a acusações de prática de bruxaria por Homens cujo único problema era terem receio que elas fossem tão boas como eles. A subjugação. Assim, a Natureza que favorece o Homem através sa sua força e da sua dominância, torna-o também no Anticristo ao vedar à Mulher o direito à sua igualdade.
Algo confuso e confesso que de difícil "digestão" em muitos momentos. Graficamente violento e incomodativo em tantos outros. Seria impossível ser de outra forma se considerarmos quem é o seu realizador. A ser diferente daquilo que é não seria com certeza uma obra de Von Trier.
7 / 10
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