Taking Woodstock é mais um filme de Ang Lee que reflete sobre a sociedade americana numa altura muito particular expoente de toda uma década que foi proclamada de paz e amor.
Centrado na localidade de Woodstock nas vésperas e durante o concerto que tornou mundialmente famosa a mesma localidade, retrata a vida de Elliot (Demetri Martin) que decide trazer para perto do hotel dos seus pais (Imelda Staunton e Henry Goodman), o festival de música como forma a poder pagar as dívidas que estes têm.
Por toda a sua odisseia para conseguir que o festival venha mesmo para as suas traseiras, Elliot passa por uma enorme transformação. De controlado passa a boémio. De seguidor de regras a libertino, Elliot vive uma experiência que o liberta dos valores e das algemas que tinha provocadas principalmente pela sua mãe mais conservadora.
Como sempre na sua extensa filmografia Ang Lee consegue uma vez mais fazer um fiel retrato na sociedade norte-americana em que demonstra a presença de valores conservadores espelhados ao mundo mas que ou são derrubados ou então na privacidade são ignorados.
Aqui Lee entrega-nos um relato de como a vida pode parecer enclausurada durante muito tempo mas que com o decorrer do maior acontecimento em celebração à paz, à liberdade e ao amor essas mesmas barreiras que toldam o nosso pensamento e comportamento caem de uma forma arrebatadora.
Nas três personagens da família temos distintas as etapas pelas quais passam. Uma mãe que representa um conservadorismo forte e quase inabalável. A sua presença é o reflexo do poder do dinheiro e do que ele pode fazer. O pai calmo... dividido entre o conservadorismo (o amor que tem pela sua mulher) e os novos tempos mais liberais presente nos bons momentos em que passa com os novos convidados ou em "libertar" o filho do fardo de passar todo o seu tempo num local onde não irá evoluir. Finalmente temos a presença do filho, Elliot que, em todos os momentos se mostra receptivo à mudança e à transformação. Em acolher um novo futuro que, apesar de não saber o que o espera está ao mesmo tempo desejoso que ele chegue.
No que diz respeito às interpretações destaco uma. Não é das principais mas considerando o actor em questão e a grande maioria dos seus papéis, é impossível não destacar Liev Schreiber como a grande surpresa deste filme. Um pequeno mas decisivo papel brilhantemente interpretado pelo actor que funciona algo como uma voz da consciência, o tal "grilo falante" que desperta a curiosidade para ir mais além.
Não sendo um filme mau, este Taking Woodstock não será certamente o melhor ou meu preferido filme de Ang Lee. A Tempestade do Gelo ou o Brokeback Mountain são filmes que em variados aspectos o conseguem superar, mas ainda assim é agradável ver que o realizador de Taiwan continua com uma perspicaz escolha de projectos em que reflete não só períodos exactos na História como acima disso reflete sobre os comportamentos humanos nesses dados momentos e especialmente sobre momentos que significam mudança, por vezes, da sociedade mas com certeza períodos que refletem essa mesma mudança a um nível pessoal e humano.
7 / 10
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