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Um Profeta de Jacques Audiard foi o filme que saiu grande vencedor da edição dos César deste ano tendo saído com nove troféus, de um total de treze nomeações, incluindo para Melhor Filme, Actor, Actor Revelação, Actor Secundário e Realizador. Este filme conta com a participação do já veterano Niels Arestrup (César de Actor Secundário) e com a grande revelação não só do cinema francês como também do cinema Europeu que foi Tahar Rahim (César de Actor e Actor Revelação).
Com este filme conhecemos a história de Malik El Djebena (Tahar Rahim) um jovem francês de origem árabe que passou toda a sua jovem vida em centros de detenção juvenil e que aqui inicia a sua primeira sentença de seis anos numa prisão de adultos.
Iletrado, sem qualquer perspectiva de vida para o futuro, sem amigos ou inimigos dentro ou fora da prisão, Malik encontra-se totalmente sózinho no Mundo e nada mais quer do que cumprir a sua pena em paz e sossego. No entanto, pouco tempo depois de chegar à prisão, dividida por muçulmaos de um lado e corsos dominantes e que controlam os guardas do outro, é abordado por César Luciani (Niels Arestrup), o chefe dos mafiosos corsos, que domina o que se passa dentro e fora da prisão. É este César Luciani que vai dizer a Malik que ele apenas tem duas opções... trabalhar para ele dentro da prisão ou morrer.
É então a partir deste momento que Malik entra em acção e muda toda a sua vida. Trabalha para os corsos e para Luciani em particular, e através desta convivência próxima que garante a sua segurança ao ponto de não só trabalhar para ele dentro como fora da prisão nos inúmeros esquemas ilegais que Luciani tem.
Malik aprende a ler e a escrever, aprende a língua corsa, sem ninguém saber, através da convivência que tem com os mafiosos corsos dentro da prisão, ganha posição dentro e fora da mesma e além disso começa principalmente a planear a sua própria vida para ter garantias no dia em que saia. Tudo isto sem ninguém tomar conhecimento até ao ponto em que estando a maioria da mafia corsa fora da prisão, é agora ele que comanda os destinos do que lá se passa dentro.
Este Um Profeta foi sem dúvida o filme revelação em França, e prova disso foram os nove César que o filme ganhou, a própria nomeação ao Oscar de Filme Estrangeiro e dois prémios da Academia de Cinema Europeu nomeadamente ao actor Tahar Rahim.
Com um brilhante argumento da autoria de Jacques Audiard, Thomas Bidegain, Abdel Raouf Dafri e Nicolas Peufaillit, que foi inclusive premiado com o César, este filme dá um excelente retrato do interior multi-étnico de uma prisão francesa, e de certa forma daquilo que é a própria sociedade daquele país. Ao mesmo tempo que se torna num filme dramático ao espelhar os problemas e dificuldades dessa multiculturalidade aguça também o próprio enredo visto que temos um olhar sobre os problemas com a população corsa e a existência da própria Mafia organizada, e bem, no país. Basicamente temos um olhar sobre o país da liberdade, igualdade e fraternidade onde nenhum destes Direitos fundamentais está de facto no "activo".
As interpretações do filme são de primeiro nível. Já não falando de Niels Arestrup, que venceu o César de Actor Secundário, que já nos habituou a intensos e fortes desempenhos onde entrega tudo e algo mais de si, temos um elenco muito interessante por parte dos actores franceses de origem árabe nomeadamente do seu actor principal Tahar Rahim. Este jovem actor é sem sombra de dúvidas a grande revelação do ano não só em França como será seguro dizer que da Europa. Não só venceu o César como o prémio da Academia Europeia de Cinema de Melhor Actor do ano, como é daqueles prémios que é merecido na sua totalidade. De um jovem indefeso e sózinho com um olhar frágil e sem qualquer tipo de esperança no futuro, dentro ou fora da prisão, a sua interpretação como Malik El Djebena mostra de forma clara ao longo do filme, o seu crescimento para se tornar num individuo frio e calculista que apenas pretende salvaguardar-se e planear o futuro que até então não tinha.
A sua confiança que inicialmente era inexistente torna-se aos poucos o motor para a sua própria segurança e liberdade. O motor para se manter vivo e para se infiltrar não só junto dos corsos como, mais tarde, se poder juntar à demais população prisional de origem árabe que começa a povoar de forma exponencial a prisão onde se encontra. A mesma confiança que, fora da prisão, lhe permite gerir negócios que o enriquecem para garantir a sua vida e a sua sustentabilidade.
Como nada neste filme foi deixado ao acaso, também a banda-sonora tinha de estar ao cargo de um mestre da actualidade. Ninguém melhor que Alexandre Desplat para dar vida à acção a que assistimos compondo uma forte e emocionante melodia para o filme, também ela nomeada, mas não vencedora, do César.
Longe vão os tempos em que olhávamos de lado para o cinema francês que, nunca deixando de ter qualidade, poucos lhe chegavam pelas suas histórias quase de contemplação e que muito raramente juntavam boas histórias dramáticas a um bom ritmo e acção. Longe vão também os tempos em que pensar assistir a um filme europeu era quase como pensar que se iria adormecer a meio tempo.
São filmes como este Um Profeta que nos (me) fazem crer que o cinema europeu não só é realista, forte, bruto, pesado e violento, como também é capaz de mostrar das melhores histórias, das melhores interpretações e do mais credível realismo que nos prendem ao ecrã sem dele conseguir desviar por uma vez o olhar. São filmes como este que nos mostram que existem muitas histórias bem perto de nós capazes de nos fazer querer ver mais e mais cinema.
A tantos, mas em especial ao Sr. Jacques Audiard... os meus mais sinceros parabéns por esta extraordinária obra que tão depressa não irei esquecer.
Com este filme conhecemos a história de Malik El Djebena (Tahar Rahim) um jovem francês de origem árabe que passou toda a sua jovem vida em centros de detenção juvenil e que aqui inicia a sua primeira sentença de seis anos numa prisão de adultos.
Iletrado, sem qualquer perspectiva de vida para o futuro, sem amigos ou inimigos dentro ou fora da prisão, Malik encontra-se totalmente sózinho no Mundo e nada mais quer do que cumprir a sua pena em paz e sossego. No entanto, pouco tempo depois de chegar à prisão, dividida por muçulmaos de um lado e corsos dominantes e que controlam os guardas do outro, é abordado por César Luciani (Niels Arestrup), o chefe dos mafiosos corsos, que domina o que se passa dentro e fora da prisão. É este César Luciani que vai dizer a Malik que ele apenas tem duas opções... trabalhar para ele dentro da prisão ou morrer.
É então a partir deste momento que Malik entra em acção e muda toda a sua vida. Trabalha para os corsos e para Luciani em particular, e através desta convivência próxima que garante a sua segurança ao ponto de não só trabalhar para ele dentro como fora da prisão nos inúmeros esquemas ilegais que Luciani tem.
Malik aprende a ler e a escrever, aprende a língua corsa, sem ninguém saber, através da convivência que tem com os mafiosos corsos dentro da prisão, ganha posição dentro e fora da mesma e além disso começa principalmente a planear a sua própria vida para ter garantias no dia em que saia. Tudo isto sem ninguém tomar conhecimento até ao ponto em que estando a maioria da mafia corsa fora da prisão, é agora ele que comanda os destinos do que lá se passa dentro.
Este Um Profeta foi sem dúvida o filme revelação em França, e prova disso foram os nove César que o filme ganhou, a própria nomeação ao Oscar de Filme Estrangeiro e dois prémios da Academia de Cinema Europeu nomeadamente ao actor Tahar Rahim.
Com um brilhante argumento da autoria de Jacques Audiard, Thomas Bidegain, Abdel Raouf Dafri e Nicolas Peufaillit, que foi inclusive premiado com o César, este filme dá um excelente retrato do interior multi-étnico de uma prisão francesa, e de certa forma daquilo que é a própria sociedade daquele país. Ao mesmo tempo que se torna num filme dramático ao espelhar os problemas e dificuldades dessa multiculturalidade aguça também o próprio enredo visto que temos um olhar sobre os problemas com a população corsa e a existência da própria Mafia organizada, e bem, no país. Basicamente temos um olhar sobre o país da liberdade, igualdade e fraternidade onde nenhum destes Direitos fundamentais está de facto no "activo".
As interpretações do filme são de primeiro nível. Já não falando de Niels Arestrup, que venceu o César de Actor Secundário, que já nos habituou a intensos e fortes desempenhos onde entrega tudo e algo mais de si, temos um elenco muito interessante por parte dos actores franceses de origem árabe nomeadamente do seu actor principal Tahar Rahim. Este jovem actor é sem sombra de dúvidas a grande revelação do ano não só em França como será seguro dizer que da Europa. Não só venceu o César como o prémio da Academia Europeia de Cinema de Melhor Actor do ano, como é daqueles prémios que é merecido na sua totalidade. De um jovem indefeso e sózinho com um olhar frágil e sem qualquer tipo de esperança no futuro, dentro ou fora da prisão, a sua interpretação como Malik El Djebena mostra de forma clara ao longo do filme, o seu crescimento para se tornar num individuo frio e calculista que apenas pretende salvaguardar-se e planear o futuro que até então não tinha.
A sua confiança que inicialmente era inexistente torna-se aos poucos o motor para a sua própria segurança e liberdade. O motor para se manter vivo e para se infiltrar não só junto dos corsos como, mais tarde, se poder juntar à demais população prisional de origem árabe que começa a povoar de forma exponencial a prisão onde se encontra. A mesma confiança que, fora da prisão, lhe permite gerir negócios que o enriquecem para garantir a sua vida e a sua sustentabilidade.
Como nada neste filme foi deixado ao acaso, também a banda-sonora tinha de estar ao cargo de um mestre da actualidade. Ninguém melhor que Alexandre Desplat para dar vida à acção a que assistimos compondo uma forte e emocionante melodia para o filme, também ela nomeada, mas não vencedora, do César.
Longe vão os tempos em que olhávamos de lado para o cinema francês que, nunca deixando de ter qualidade, poucos lhe chegavam pelas suas histórias quase de contemplação e que muito raramente juntavam boas histórias dramáticas a um bom ritmo e acção. Longe vão também os tempos em que pensar assistir a um filme europeu era quase como pensar que se iria adormecer a meio tempo.
São filmes como este Um Profeta que nos (me) fazem crer que o cinema europeu não só é realista, forte, bruto, pesado e violento, como também é capaz de mostrar das melhores histórias, das melhores interpretações e do mais credível realismo que nos prendem ao ecrã sem dele conseguir desviar por uma vez o olhar. São filmes como este que nos mostram que existem muitas histórias bem perto de nós capazes de nos fazer querer ver mais e mais cinema.
A tantos, mas em especial ao Sr. Jacques Audiard... os meus mais sinceros parabéns por esta extraordinária obra que tão depressa não irei esquecer.
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