Dou-te os Meus Olhos de Iciar Bollain conta com a interpretação nos papéis principais de Laia Marull e aquele que é para mim um dos maiores actores espanhóis da actualidade, o grande Luis Tosar.
A história deste filme gira em torno de um drama escondido nas sociedades, ou seja, o da violência doméstica. O seu início centra-se naquilo que pensamos ser uma situação extrema de medo onde Pilar (Laia Marull) uma mulher de Toledo tenta rapidamente juntar poucos dos seus pertences e fugir com o seu filho para casa da irmã.
Mais tarde ficamos a saber que foge de Antonio (Luis Tosar) o seu marido que abusa física e psicologicamente dela. Pilar vive uma vida de quase clausura não podendo estar ausente durante muito tempo e não conviver com outras pessoas. Não trabalha, não sai de casa, vivendo única e exclusivamente para estar presente para Antonio.
Ao longo do filme percebemos que os ciúmes de Antonio passam mais pelo facto de Pilar se relacionar com outras mulheres no emprego que entretanto arranjou e pelo facto de agora ganhar interesse em outros assuntos e outras vivências que até então lhe haviam sido desconhecidas, tais como o conhecimento e a valorização que daí lhe advém. Conhecimento é poder, e nestas relações não podem existir dois elementos com igual quantidade de poder.
Dito isto é claro que para dar corpo a estas interpretações só poderiam estar bons actores. Confesso que o conhecimento que tinha de Laia Marull era nulo. Só conhecia a actriz pelo nome e mesmo assim não a associava a nenhum trabalho em concreto. No entanto esta actriz que aqui venceu o Goya de Actriz Principal tem de facto uma forte interpretação que espelha na perfeição o medo tanto de violência física como psicológica que sente por parte de um marido abusador e que a qualquer momento pode explodir num acto de raiva.
Quando ao actor principal, e tal como referi logo na primeira linha deste comentário, Luis Tosar é simplesmente perfeito. Não só é um dos melhores actores espanhóis da actualidade como tem uma presença suficientemente forte para nos deixar arrebatados com a magnitude do seu empenho. Basta o seu olhar ora vazio ou cheio de fúria para nos convencer que o que está a fazer é bom e carregado de força. Tosar é de facto brilhante e extremamente convincente neste desempenho ao ponto de nos deixar a pensar que não seria muito agradável estar por perto quando a situação "aquece". Também ele recebeu o Goya de Melhor Actor da Academia Espanhola de Cinema e verdade seja dita que seria impossível ignorá-lo.
Luis Tosar retrata então um homem que tem como única forma de se impôr a alguém a violência doméstica para com a sua mulher. Ignorado pelo pai, humilhado pelo irmão sente-se pequeno. É esta pequenez que de forma incorrecta e injusta o faz exercer o seu poder sobre a mulher. Sobre aquela que face a ele é um elo mais fraco.
Óptimos desempenhos por parte de todo o elenco que ainda foi premiado com o Goya de Melhor Actriz Secundária para Candela Peña que interpreta o papel de Ana, a irmã de Pilar.
Justo foi também o Goya atribuído ao Melhor Filme do Ano como à realizadora Iciar Bollaín, uma das poucas mulheres que até à data já venceram este importante galardão que premeia o cinema espanhol.
A história não nos tráz nada de novo. Todos sabemos que a violência doméstica é infelizmente um flagelo que continua a assolar inúmeros lares por toda a parte. No entanto, pelo realismo com que é filmado este argumento da autoria da própria realizadora e de Alicia Luna, também ele vencedor de um Goya na sua categoria, consegue convencer-nos enquanto espectadores e criar um filme actual. Testemunha disso são por exemplo as sessões de acompanhamento aos abusadores e das situações que, entre eles, são recriadas. Francamente assustador de tão real que é.
A história não nos tráz nada de novo. Todos sabemos que a violência doméstica é infelizmente um flagelo que continua a assolar inúmeros lares por toda a parte. No entanto, pelo realismo com que é filmado este argumento da autoria da própria realizadora e de Alicia Luna, também ele vencedor de um Goya na sua categoria, consegue convencer-nos enquanto espectadores e criar um filme actual. Testemunha disso são por exemplo as sessões de acompanhamento aos abusadores e das situações que, entre eles, são recriadas. Francamente assustador de tão real que é.
Assim aqui temos mais um magnífico filme que prova que "ali ao lado" se faz cada vez mais e melhor cinema além Almodóvar (com o respectivo respeito e admiração) e que não só são bons em cinema de terror como em intensos e soberbos dramas. Um fantástico filme a não perder.
10 / 10
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