O Império do Sol de Steven Spielberg tem como actor principal aquele que é hoje o grande herói da ficção científica graças ao Batman e ao Exterminador Implacável, o inglês Christian Bale.
Como não pode deixar de ser, todo o filme que tenha a marca de Spielberg na realização é logo um atractivo para me levar a ver. No já longínquo ano em que estreou em Portugal, e que acabaria por ser o primeiro filme que eu alguma vez veria num cinema (abençoado Cinema Chaby de Mem-Martins), este filme era aguardado com alguma expectativa considerando que era do mesmo realizador que havia feito anos antes Os Salteadores da Arca Perdida e que já nos havia habituado a boas histórias, bem contadas, bem realizadas e bem interpretadas, com todos os ingredientes para se tornarem em grandes filmes, este O Império do Sol não fugiria assim à regra. E confirmou-se.
Este é então mais uma das participações de Spielberg numa história que decorre durante a Segunda Guerra Mundial. Se com 1941 em tom de comédia, com Os Salteadores da Arca Perdida foi a aventura e a acção aqui, tal como mais tarde com A Lista de Shindler e O Resgate do Soldado Ryan, o drama e a emoção é o que impera.
A história decorre dentro do luxo e opulência em que uma pequena comunidade britânica vive numa China à beira de um conflito que iria assolar para sempre o mundo inteiro. Com o estalar da guerra e os bombardeamentos e ocupação japonesa da China, os primeiros alvos seriam estas mesmas pessoas que se encontravam no lado oposto.
Assim temos a passagem de uma comunidade rica e afastada da realidade do país que se vê obrigada a fugir para não serem detidos e mortos.
É então neste contexto que tomamos o primeiro contacto e conhecimento de uma dessas famílias, muito em particular de Jim Graham (Christian Bale), o filho mimado desta família.
A partir daqui está lançado todo o início para aquela que iria ser uma fantástica e comovente viagem pela China ocupada e a luta pela sobrevivência e pela dignidade que iriam ser travadas por este jovem que, no meio da fuga, se perde dos seus pais e se vê obrigado a escapar e (sobre)viver aos horrores da guerra sózinho.
Através de um conjunto notável de actores que têm pequenas participações onde se podem destacar por exemplo Miranda Richardson, John Malkovich, Nigel Havers, Joe Pantoliano e Ben Stiller numa pequena participação, é sem qualquer dúvida Christian Bale que aos 13 anos de idade se destaca num brilhante, comovente e dramático papel que emocionou tudo e todos.
Ao longo de mais de duas horas de duração, que passam rapidamente e acabam sempre por parecer que não foram tão extensas assim tal é o poder de nos captar que Steven Spielberg tem, assistimos à transformação forçada de uma criança mimada num adolescente que viu mais do que deveria para a sua tão jovem idade. Teve o luxo e a opulência. Teve a separação forçada da sua família e a perda de todos os seus bens. Teve a fome, a perseguição e a prisão. Teve tudo ao ponto de quase enlouquecer. A perda de memória, a perda do toque, do carinho e do amor dos seus pais. Perdeu tudo aquilo que nunca sonhou ser importante ao ponto de pouco lhe ligar. E ganhou a consciência do quão importante é tudo aquilo que teve.
Não o que era material, pois um bem é facilmente substituído por outro mesmo que de menor valor, mas ao qual podemos dar igual importância, mas sim as pequenas situações, olhares, toques e cheiros que caracterizam qualquer pessoa enquanto jovem por serem os lugares familiares onde todos encontram refúgio. São essas mesmas coisas que, uma vez perdidas, são mais sentidas. São aquelas a que todos se agarram para poder (sobre)viver para ver a luz de mais um dia. São essas pequenas coisas que nos fazem simplesmente viver.
Se todo o filme merece ser visto, e não digo isto ao acaso, este segmento que deixo aqui é para mim o mais emocionante das suas mais de duas horas de duração, e duvido que não consiga marcar qualquer pessoa que o veja.
Todo o trabalho deste filme está a 100%. A realização como não pode deixar de ser está soberba. O argumento de Tom Stoppard baseado numa obra de J.G. Ballard é simplesmente emocionante. Nada se perde neste filme, tudo contém drama e emoção. As interpretações como referi são de topo. Por muito secundárias ou participações especiais que sejam, todos os actores nos entregam um trabalho inagualável. E no que a Christian Bale diz respeito, apesar da sua ainda jovem idade à altura, tem aqui uma interpretação que foi, infelizmente, ignorada pelos Oscars (como aliás todos o filme que das suas seis nomeações não viu nenhuma convertida numa estatueta dourada).
Além de Bale, há também a destacar a soberba banda-sonora daquele que é já quase um sinónimo dos filmes de Steven Spielberg, o compositor John Williams. Francamente emotiva recebeu uma nomeação ao Oscar na sua categoria que injustamente não venceu, neste filme que é sem margem para dúvidas uma obra máxima na filmografia de Spielberg.
Como ninguém, Steven Spielberg consegue a cada trabalho que faz exceder-se. Não que um ou outro filme sejam mais importantes dentro da sua filmografia, porque não o são, existem sim é aqueles que nos marcam mais, ou que apreciámos mais ver dentro de um conjunto de trabalhos.
Este O Império do Sol é um desses filmes que, para mim, ficam marcados por diversas situações na minha memória e na algo extensa lista de "filmes da minha vida".
"Jim: Learned a new word today. Atom bomb. It was like God taking a photograph."
10 / 10
Sem comentários:
Enviar um comentário