Na América de Jim Sheridan é aquilo a que eu posso simplesmente chamar de pérola. Um verdadeiro hino à união, à família, à recuperação e à redenção com brilhantes desempenhos por parte do conjunto dos cinco actores que o compõem e ainda com uma fantástica história escrita também pelo realizador como pelas suas duas filhas Naomi e Kirsten Sheridan, que carrega uma complixidade e carga dramática enormes sem com isso ser um daqueles filmes que puxe pela lágrima fácil (mas que acaba por fazê-la cair em todas as devidas ocasiões).
A história dá-nos a conhecer a viagem de uma família irlandesa composta por pai, mãe e duas filhas que, vinda do Canadá tenta entrar nos Estados Unidos e aí recomeçar a sua vida. Recomeçar uma vida não por um ou outro problema financeiro mas sim recuperá-la após a morte do filho que sucumbiu devido a um tumor maligno.
Com este filme Jim Sheridan dirige um fabulosa elenco. Fazem dele parte a actriz inglesa Samantha Morton que com o seu fabuloso desempenho de uma mãe numa família à beira da ruptura e que tenta encontrar um novo lar, conquistou a sua segunda nomeação a um Oscar.
A química entre Morton e o actor Paddy Considine, que aqui interpreta o seu marido, é fulminante ao ponto de percebermos que aquele outrora feliz casal vivia agora um drama profundo que os separava e desgastava ao ponto de a família ir ruindo de dia para dia.
Considine tem em todo o filme talvez o papel mais magoado. Por serem de uma família irlandesa e profundamente crentes, foi Johnny (Considine) que sentiu a maior revolta pelo seu filho não ter sobrevivido. A sua revolta com Deus impediu-o de viver a partir desse dia. Está presente e convive com as suas filhas e mulher mas sente-se emocionalmente apagado... possivelmente morto. Sem alegria. Sem a "vida" suficiente para amar e para sentir. Vive apoderado pelo desgosto e pela mágoa que diariamente o consomem e à custa dos quais não consegue representar e ganhar a vida de uma forma que os retire de uma vida em dificuldades.
A compôr a família temos as duas filhas do casal. A mais nova, Ariel que é possivelmente a "luz" de todos eles, é interpretada pela jovem actriz Emma Bolger que nos entrega não só uma belíssima composição dramática e muito expressiva como ao mesmo tempo nos brinda com pequenos toques de uma comédia ternurenta que encantam qualquer um.
A interpretar Christy, a irmã mais velha temos, Sarah Bolger que é possivelmente o papel mais forte de todo o filme, e ela sim deveria ter conquistado uma nomeação ao Oscar de Melhor Actriz do ano. Não só é ela que funciona como uma narradora de toda a história que nos liga à situação actual da família como ao que a levou ao ponto onde se encontram como, além disso, é ela que funciona como o mais forte elo dramático entre todas as personagens.
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"Christy: Don't "little girl" me. I've been carrying this family on my back for one year, ever since Frankie died. He was my brother too. It's not my fault that he's dead. It's not my fault I'm still alive.
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Johnny: Ah, Christy.
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Christy: Mom was always crying because he was her son. But he was my brother too. I cried too... when no one was looking. I talked to him every night.
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Ariel: She did.
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Christy: I talked to him every night, until...
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Johnny: ... until when?
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Christy: Until I realized I was talking to myself."
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A compôr este maravilhoso elenco temos Djimon Housou (Matteo) que, uma vez mais, tem um fabuloso e gigante papel em cinema que lhe valeu a sua primeira nomeação a Oscar de Melhor Actor Secundário. É ele que funciona como o apoio que esta família vai ter para se aperceber o quão importante são uns para os outros e o quão estão lá uns para os outros. Está presente por um acaso (como todos os elos positivos estão sempre) e é ele que funciona como a alavanca para que a vida desta família se desenvolva de forma positiva. Novamente repito, não me espanta nada que este actor muito em breve tenha um Oscar nas suas mãos.
Com uma realização de luxo, um argumento forte e sensível e interpretações coerentes, consistentes e profundamente dramáticas, este filme assiste ainda a uma forte banda-sonora da autoria de Gavin Friday e Maurice Seezer que conquista qualquer um pelo forte teor dramático que apresenta.
Se todo o filme é bom, e de facto é pois não tem uma sequência que seja considerada desnecessária ou sem qualquer desenvolvimento, tendo tudo no sítio certo, é impossível negar o impacto que o segmento final tem em todo o filme à semelhança da anterior conversa tida entre Johnny e Christy.
Enquanto este segmento entre pai e filha mostra o profundo drama que assolou não só os pais como ambas filhas e relata como uma delas sente que é o únicoo suporte da família tendo para isso "abandonado" de forma obrigatória a idade jovem tornando-se numa adulta, o segmento final não só confirma este aspecto como é possivelmente o momento mais forte de um filme repleto de segmentos profundamente dramáticos e reflexivos.
Não só este Na América é um filme dramático com momentos pontuais de uma comédia muito ligeira que faz sorrir e não rir como é, e afirmo sem qualquer pudor, um dos filmes mais interessantes e bem dirigidos do decénio passado e que facilmente consegue conquistar qualquer um que esteja interessado numa excelente história interpretada por um elenco de luxo quer seja dos actores mais velhos como das duas jovens actrizes que parecem ter nascido de propósito para ali estarem.
"Christy: You should let somebody love you before it's too late."
10 / 10
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