quarta-feira, 21 de julho de 2010

La Finestra di Fronte (2003)


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A Janela em Frente de Ferzan Ozpetek é mais um intenso e bonito drama urbano do realizador turco que, espante-se, é uma co-produção italo-anglo-turco-portuguesa. É verdade... este filme tem também uma pequena mão portuguesa e por cá, para não variar, passou algo despercebido em 2003, ano da sua estreia no nosso país.
Com interpretações de elevado nível onde se destacam os actores Giovanna Mezzogiorno, Filippo Nigro, Raoul Bova e Massimo Girotti, este filme conta-nos a história de Giovanna (Mezzogiorno) e Filippo (Nigro), um jovem casal de Roma com dois filhos que vive os dramas urbanos de uma família com inúmeras dificuldades financeiras e que mais ou menos secretamente ambicionam ter uma vida melhor e realizar os sonhos que noutros tempos, não tão longinquos assim, tinham.
Um dia quando caminhavam na rua são abordados por Davide (Girotti), um homem mais velho que tem, aparentemente, amnésia. Giovanna desconfia, mas após alguma pressão de Filippo recebem-no em casa com o intuito de avisar a polícia.
Apenas mais um factor para atrapalhar a já confusa relação entre o casal que vive constantemente com a pressão da falta de dinheiro e insegurança profissional que Filippo tem. Com isto Giovanna começa a despoletar um interesse por Lorenzo (Bova), o vizinho da frente... aquele que diariamente ela vê da sua janela.
Temos então uma Giovanna dividida entre Lorenzo, que segundo ela poderá mostrar-lhe a vida que ela queria e ainda não teve, e Filippo, o marido fiel e preocupado com a família que lhe oferece segurança e estabilidade.
É com esta divisão que ela vive, e que ao longo do filme assistimos interligada com a experiência de Davide que em 1943 viveu um amor proibido com outro homem, numa altura em que Roma vivia sob a invasão nazi e que tudo e todos eram alvos de suspeitas e de perseguições.
Uma vez mais Ferzan Ozpetek, o magnífico realizador turco, dá-nos mais um excelente filme não só sobre a forma como a sociedade transforma, para bem e para mal, as pessoas mas também sobre a forma como estas se adaptam e sobrevivem em vez de viver, tal como Davide aconselha Giovanna a fazer... Viver.
Temos um magnífico argumento da autoria de Ferzan Ozpetek e Gianni Romoli que aborda temas tão variados como a dificuldade de manter alguma estabilidade financeira ou sobre os problemas de jovens casais em manterem uma família. Sobre a capacidade que nós temos em nos adaptarmos às duras realidades de uma vida dita "adulta". Sobre o preconceito. Sobre a vontade de sermos mais. Sobre o respeito. Sobre a diferença que existe entre amor, paixão e atracção.
As interpretações que dão rosto a todos estes sentimentos e sensações são brilhantes e Ozpetek retirou, como sempre, o melhor de cada um deles. Temos os olhos quase vazios e com sede de ter mais de Mezzogiorno. Podemos sentir o desespero de Filippo Nigro em inúmeros momentos, especialmente quando se senta de noite sózinho na cozinha e a única coisa que consegue fazer é chorar. Percebemos o quão vã e solitária é a vida de Bova que se limita a olhar para alguém que o atrai pela janela e segui-la pelos caminhos por onde ela anda. E finalmente temos Davide que, por ter perdido o seu único e verdadeiro amor através de uma sua escolha, ficou solitário e demente com o passar dos anos.
Temos essencialmente a solidão. A solidão por perda de um amor (Davide). Por não tentar conquistar aquele que se quer (Lorenzo). Por se ter e não se conseguir manter (Filippo). Ou simplesmente por nunca se ter alcançado algo (Giovanna).
Excelente é também a banda-sonora da autoria de Andrea Guerra que foi vencedora do Donatello na respectiva categoria. Muito emocionante mas com uma vivacidade fantástica.
Vencedores de Donatello foram também as interpretações de Giovanna Mezzogiorno e de Massimo Girotti assim como o próprio filme foi vencedor como o melhor do ano. Justo vencedor em todas as categorias que se diga, e pena foi só não ter ganho ainda mais.
Belíssimo filme que apenas confirma o que por aqui já disse inúmeras vezes a respeito do cinema italiano, e que dá um certo orgulho por haver uma mãozita portuguesa pelo meio. Só é pena que o nosso cinema não tenha mais destes exemplos. Magnífico drama digno de ser visto.
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10 / 10
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