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Um Homem Singular de Tom Ford foi uma das revelações da temporada passada de prémios e um dos filmes revelação do ano na medida em que o seu realizador vem, nada mais nada menos, da área da moda.
Toda a história deste filme decorre num dia. Esta premissa inicial transportou-me imediatamente para um dos filmes da minha vida... As Horas.
Assim, num único dia percorremos aquelas que serão as últimas horas de George (Colin Firth), um professor universitário que perdera o seu amigo e companheiro num acidente de automóvel que decide não ter mais razão para viver e como tal irá pôr fim à sua vida.
George tem a vida perfeita... Uma relação baseada naquilo que percebemos ser confiança, amizade e amor. Tem uma profissão estável e respeitada. Tem uma amiga que o idolatra. No entanto, com a morte do homem com quem partilha a vida e impedido de comparecer no próprio enterro, George inicia aquele que será para ele o seu último dia de vida. Arruma o seu gabinete. Levanta os seus pertences do banco. Tem um último jantar com a sua amiga.
Tudo parecia resolvido para George. No entanto, aos poucos, pequenos acontecimentos ao longo do dia tendem a mostrar-lhe o quão desejado ainda é. Seja por Charley (Julianne Moore), a amiga que sempre o amou, seja por Kenny (Nicholas Hoult), um aluno que o admira devido ao seu intelecto, ou por Carlos (Jon Kortajarena), um estranho que simplesmente o deseja.
No entanto para George nada parece ter importância pois aquele que sempre amou e representava a sua vida, desapareceu. Tudo o que tinha, tudo o que fazia e todos os que conhecia deixaram de repente de fazer qualquer sentido.
A representação desta vida sem sentido está brilhantemente representada pelo trabalho de fotografia de Eduard Grau que nos mostra um panorama em tons mortos que oscilam entre os castanhos e os cinza e que, ao ser revelado a George alguma beleza que justifique a continuidade da sua vida explodem para cores vivas, vibrantes e fortes como o azul, o vermelho e o laranja. Por vezes estas oscilações de cor são subtis e precisamos de estar atentos ao filme para nos apercebermos delas. Quando de facto o fazemos sentimos no preciso momento que estamos ali naquele momento a assistir a uma transformação na mente de George. Algo que lhe diz que tem de viver e que tem ainda de sentir aquilo que lhe está a ser apresentado quer seja o sorriso de alguém, a atenção de outra pessoa ou simplesmente uma imagem com que se cruza. São estes mesmos elementos que justificam a vida. Que justificam a sua vida. Elementos que precisam de alguém que os testemunhe. Que os viva. Que os sinta. Que os veja.
A banda-sonora é um complemento, não secundário mas sim igualmente importante, da fotografia. O compositor polaco Abel Korzeniowski, nomeado ao Globo de Ouro e uma das maiores falhas dos Oscars 2010, que foi encarregue de compôr a música que deu vida a este filme, não poderia ter sido mais brilhante. Não nomeada a Oscar mas não deixa no entanto de ser a melhor partitura do ano, esta banda-sonora transborda emoção, sentimento, saudade, angústia e vida. Qualquer uma das músicas que a compõe é simplesmente magnífica e é, em anos, das melhores algumas vez compostas e arrisco-me novamente a fazer a comparação à d'As Horas. Correndo o risco de utilizar um cliché, é simplesmente de nos retirar o fôlego.
As interpretações são igualmente geniais. Colin Firth tem aquele que é de longe o seu maior desempenho bem como um dos melhores do ano. Desempenho este pelo qual venceu a Coppa Volpi em Veneza e o BAFTA e foi nomeado a Globo de Ouro Drama e Oscar. Toda a sua expressão é simplesmente magnífica. Assistimos através do seu olhar e do seu comportamento, àquela que é a despedida de um homem da sua própria vida. Depois de perder aquele que amava nada do que o rodeava fazia qualquer sentido. Tudo se tornou dispensável e irrelevante. Especialmente a vida. Como é que poderia vivê-la sem ter ao seu lado aquele que lhe dava sentido? Aquele com quem havia feito planos e cedências... Colin Firth interpreta todas essas angústias não só pelas suas palavras mas também pelo seu olhar. Um olhar que percebemos despedir-se aos poucos de tudo o que estava à sua volta.
No entanto sentimos o renascer da sua esperança à medida que o dia passa e encontra pequenas coisas que o despertam de novo para a vida. A sedução física de Carlos... A sedução intelectual de Kenny... A inocência de Jennifer... A simpatia da mãe de Jennifer ou a amizade sempre incondicional de Charley.
Já o disse e digo de novo... é uma das grandes interpretações do ano e, considerando aqueles que foram nomeados, deveria ter sido a vencedora do Oscar este ano.
Nicholas Hoult, para quem se lembra dele como o "stalker" de Hugh Grant num filme já com uns anitos, Era Uma Vez um Rapaz, tem aqui um grande regresso que deverá fazer dele um actor a ter em conta, e a sua importância no filme como aquele que dá esperança a George em poder encontrar outra pessoa com quem poder refazer a sua vida, é fundamental.
Quanto a Julianne Moore não se pode dizer muito. É simplesmente fantástico como em todo e qualquer filme que participe, e só a expressão de desespero e de solidão que sentimos apenas através do seu olhar é reveladora da intensidade com que esta actriz trabalha.
Tal como n'As Horas temos aqui um dia na vida de um homem... e nesse dia, toda a sua vida. Esta simples e complexa ideia caracteriza todo o filme. As transformações que podem ocorrer num dia e que podem transformar toda uma vida são de facto enormes. Aquilo que marca então o Homem enquanto tal, é a capacidade de as saber reconhecer por muito insignificantes que possam, à partida, parecer.
Estamos aqui perante um extraordinário filme com um brilhante argumento e igualmente tocantes interpretações por parte dos seus actores, muito em particular de Colin Firth que tem aqui o papel de toda a sua vida.
Toda a história deste filme decorre num dia. Esta premissa inicial transportou-me imediatamente para um dos filmes da minha vida... As Horas.
Assim, num único dia percorremos aquelas que serão as últimas horas de George (Colin Firth), um professor universitário que perdera o seu amigo e companheiro num acidente de automóvel que decide não ter mais razão para viver e como tal irá pôr fim à sua vida.
George tem a vida perfeita... Uma relação baseada naquilo que percebemos ser confiança, amizade e amor. Tem uma profissão estável e respeitada. Tem uma amiga que o idolatra. No entanto, com a morte do homem com quem partilha a vida e impedido de comparecer no próprio enterro, George inicia aquele que será para ele o seu último dia de vida. Arruma o seu gabinete. Levanta os seus pertences do banco. Tem um último jantar com a sua amiga.
Tudo parecia resolvido para George. No entanto, aos poucos, pequenos acontecimentos ao longo do dia tendem a mostrar-lhe o quão desejado ainda é. Seja por Charley (Julianne Moore), a amiga que sempre o amou, seja por Kenny (Nicholas Hoult), um aluno que o admira devido ao seu intelecto, ou por Carlos (Jon Kortajarena), um estranho que simplesmente o deseja.
No entanto para George nada parece ter importância pois aquele que sempre amou e representava a sua vida, desapareceu. Tudo o que tinha, tudo o que fazia e todos os que conhecia deixaram de repente de fazer qualquer sentido.
A representação desta vida sem sentido está brilhantemente representada pelo trabalho de fotografia de Eduard Grau que nos mostra um panorama em tons mortos que oscilam entre os castanhos e os cinza e que, ao ser revelado a George alguma beleza que justifique a continuidade da sua vida explodem para cores vivas, vibrantes e fortes como o azul, o vermelho e o laranja. Por vezes estas oscilações de cor são subtis e precisamos de estar atentos ao filme para nos apercebermos delas. Quando de facto o fazemos sentimos no preciso momento que estamos ali naquele momento a assistir a uma transformação na mente de George. Algo que lhe diz que tem de viver e que tem ainda de sentir aquilo que lhe está a ser apresentado quer seja o sorriso de alguém, a atenção de outra pessoa ou simplesmente uma imagem com que se cruza. São estes mesmos elementos que justificam a vida. Que justificam a sua vida. Elementos que precisam de alguém que os testemunhe. Que os viva. Que os sinta. Que os veja.
A banda-sonora é um complemento, não secundário mas sim igualmente importante, da fotografia. O compositor polaco Abel Korzeniowski, nomeado ao Globo de Ouro e uma das maiores falhas dos Oscars 2010, que foi encarregue de compôr a música que deu vida a este filme, não poderia ter sido mais brilhante. Não nomeada a Oscar mas não deixa no entanto de ser a melhor partitura do ano, esta banda-sonora transborda emoção, sentimento, saudade, angústia e vida. Qualquer uma das músicas que a compõe é simplesmente magnífica e é, em anos, das melhores algumas vez compostas e arrisco-me novamente a fazer a comparação à d'As Horas. Correndo o risco de utilizar um cliché, é simplesmente de nos retirar o fôlego.
As interpretações são igualmente geniais. Colin Firth tem aquele que é de longe o seu maior desempenho bem como um dos melhores do ano. Desempenho este pelo qual venceu a Coppa Volpi em Veneza e o BAFTA e foi nomeado a Globo de Ouro Drama e Oscar. Toda a sua expressão é simplesmente magnífica. Assistimos através do seu olhar e do seu comportamento, àquela que é a despedida de um homem da sua própria vida. Depois de perder aquele que amava nada do que o rodeava fazia qualquer sentido. Tudo se tornou dispensável e irrelevante. Especialmente a vida. Como é que poderia vivê-la sem ter ao seu lado aquele que lhe dava sentido? Aquele com quem havia feito planos e cedências... Colin Firth interpreta todas essas angústias não só pelas suas palavras mas também pelo seu olhar. Um olhar que percebemos despedir-se aos poucos de tudo o que estava à sua volta.
No entanto sentimos o renascer da sua esperança à medida que o dia passa e encontra pequenas coisas que o despertam de novo para a vida. A sedução física de Carlos... A sedução intelectual de Kenny... A inocência de Jennifer... A simpatia da mãe de Jennifer ou a amizade sempre incondicional de Charley.
Já o disse e digo de novo... é uma das grandes interpretações do ano e, considerando aqueles que foram nomeados, deveria ter sido a vencedora do Oscar este ano.
Nicholas Hoult, para quem se lembra dele como o "stalker" de Hugh Grant num filme já com uns anitos, Era Uma Vez um Rapaz, tem aqui um grande regresso que deverá fazer dele um actor a ter em conta, e a sua importância no filme como aquele que dá esperança a George em poder encontrar outra pessoa com quem poder refazer a sua vida, é fundamental.
Quanto a Julianne Moore não se pode dizer muito. É simplesmente fantástico como em todo e qualquer filme que participe, e só a expressão de desespero e de solidão que sentimos apenas através do seu olhar é reveladora da intensidade com que esta actriz trabalha.
Tal como n'As Horas temos aqui um dia na vida de um homem... e nesse dia, toda a sua vida. Esta simples e complexa ideia caracteriza todo o filme. As transformações que podem ocorrer num dia e que podem transformar toda uma vida são de facto enormes. Aquilo que marca então o Homem enquanto tal, é a capacidade de as saber reconhecer por muito insignificantes que possam, à partida, parecer.
Estamos aqui perante um extraordinário filme com um brilhante argumento e igualmente tocantes interpretações por parte dos seus actores, muito em particular de Colin Firth que tem aqui o papel de toda a sua vida.
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"George: If it's going to be a world with no time for sentiment, it's not a world that I want to live in."
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10 / 10
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