segunda-feira, 6 de abril de 2015

Halloween III: Season of the Witch (1982)

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Regresso Alucinante de Tommy Lee Wallace é o terceiro título da saga Halloween iniciada em 1978 por John Carpenter e o primeiro - e único - que não gira em torno da personagem de Michael Myers como o impiedoso assassino que - aparentemente - ninguém consegue travar.
Nos Estados Unidos a noite de Halloween é uma das mais festejadas. Por todo o país as crianças percorrem as ruas disfarçados à caça de doces... ou partidas. Mas e se a partida fosse para as próprias crianças e por detrás de toda esta celebração existisse uma intenção de carácter duvidoso?!
Quando Daniel Challis (Tom Atkins) parte para uma localidade isolada onde são fabricadas as máscaras Silver Shamrock, longe estaria de imaginar que o seu fabricante Conal Cochran (Dan O'Herlihy) tivesse os seus próprios planos para aquela que seria a noite mais longa do ano.
Mantendo a ténue ligação com os dois títulos que a precederam através da críptica e tensa melodia que foi (é) a personagem não tão silenciosa desta saga, Halloween III: Season of the Witch desvirtualiza toda a dinâmica de "Michael Myers" como a personagem central desta longa-metragem - afinal aqui nem é referido uma única vez quanto mais vislumbrá-lo - e transformando a noite de Halloween como o mote para uma conspiração oculta longe da civilização suburbana característica das obras precedentes. Aqui o mal também provém de uma máscara mas, ao contrário daquilo que sucede com os demais títulos, quem a usa não é o agressor mas sim as vítimas indefesas... as crianças.
Halloween III: Season of the Witch comprova que nenhum suposto paraíso idílico e no qual as suas comunidades vivem uma tranquilidade extrema o são de facto. São estas comunidades, isoladas da tal civilização que parecem tanto abominar, que constroem e cultivam a essência e a origem de um mal prestes a ser libertado de forma a eliminar e anular definitivamente aquilo que tanto desprezam. Com um rosto inicialmente puro e angelical mas que esconde uma raiva acumulada, "Conal" - brilhante Dan O'Herlihy que anos mais tarde veríamos como o igualmente dúbio patrão da OCP de Robocop (1987) - tem os seus próprios planos para esta noite.
Imaginemo-nos a viver num mundo automatizado onde tudo está privado de expressões e, como tal, de pensamento livre. Imaginemos de seguida que o pouco que existe de "real" à nossa volta está sujeito a um conjunto de regras ditatorialmente impostas e que impedem a liberdade de movimento e de pensamento. É neste mundo que a pequena comunidade aqui retratada vive. Não existe oposição nem tão pouco pensamento... e a comunidade é perfeita quando policiada por um conjunto de autómatos - literalmente falando - que eliminam todos os vestígios de intromissão externa na mesma dando-lhe um certo aspecto angelical - pela força imposto - e que se vê agora ameaçado quando sobre ele caem suspeitas de algo sinistro. Mas, se o realizador e argumentista Tommy Lee Wallace até compõem uma interessante premissa sobre a insuspeita dominação pelo poder de uma festividade adorada e difundida pelo demoníaco poder de uma televisão presente em todos os lares... o mesmo falha quando se desconecta da verdadeira essência da saga e da alma - ou ausência da mesma - de "Michael Myers" como o seu mestre absoluto.
O mal propaga-se em pequenas doses... vindas do mais insuspeito dos lugares... e do mais improvável objecto. É, no entanto, a carga negativa com que o mesmo foi elaborado e o suposto voodoo - ou feitiço - que lhe foi incutido que acaba por testar e controlar aqueles que com ele se cruzam... e aqui, considerando a temática festiva, todos com ele se cruzam. Se toda esta dinâmica resulta, o espectador continua, no entanto, a perguntar nos seus pensamentos o que é feito de "Meyers"... qual o objectivo de um título que em tudo se afasta da linha condutora que havia sido registada nas obras de 1978 e sua sequela de 1981 bem como dos actores e personagens que o caracterizam e ao seu espírito... Se se consegue perceber qual o intuito desta obra e da mensagem de uma sociedade controlada e dominada pelo poder do pequeno ecrã que ameaçava ferozmente a cultura do "grande ecrã", na prática Halloween III: Season of the Witch está longe de pertencer ao objecto de culto que é o espírito do mal... "Michael Meyers" resultando aqui a sua maior e mais problemática falha.
Esta obra intermédia, interessante se se abordar enquanto um filme independente da saga Halloween, pode não ser tão tensa como as demais mas é eventualmente mais assustadora se pensarmos na forma como somos, de facto, controlados e dependentes de um pequena ecrã presente em todos os lares. Sobre a forma como consumimos (in)voluntariamente todo o tipo de informação que por ali é propagada e na forma como através da mesma as nossas mentes podem ser mais ou menos controladas (e desfeitas) por quem "do outro lado". Num mundo cada vez mais massificado, global e, por sua vez, cada vez mais pequeno... até que ponto não está uma igualmente pequena "central" que tudo e todos controla, corrompe e corrói?! Não será esse o verdadeiro assassinato físico, mental e social?!
Se Tom Atkins consegue ser um improvável herói de serviço capaz de descobrir a verdadeira trama por detrás de tantas e tão boas intenções é, no entanto, a verve maléfica de Dan O'Herlihy que cativa o espectador desde o primeiro instante. O seu olhar, expressões e diálogos conseguem ser mais assustadores do que um assassino de máscara que cruza as noites à procura de uma vítima já conhecida. O seu olhar denota uma expressão de ódio e rancor que, para lá de qualquer motivo ou explicação para os mesmos, consegue ser mordaz, irracional e até mesmo violento. Se um Oscar fosse - nesta altura - entregue a um filme deste género, o mesmo seria certamente para este actor irlandês como a personificação desse tal "mal" que de irracional pouco aparenta ter.
Intenso mas com as devidas falhas técnicas e até mesmo de execução inerentes ao cinema do género, Halloween III: Season of the Witch não será a melhor sequela de uma saga que se fazia anunciar mas sim um simpático e interessante filme "independente" da mesma que, no entanto, bebe do seu próprio estatuto para se afirmar enquanto um título da mesma. Que não se espere por "Michael Meyers" porque esse aqui... foi de férias mas, no entanto, temos um muito revigorizante "Conal Cochran" que não lhe ficará atrás na sua inspiração para o mal.
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6 / 10
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