sexta-feira, 20 de julho de 2018

The Damned (2017)


The Damned de Fred Cavender (França) é uma curta-metragem cuja premissa se centra num conjunto de habitantes de uma cidade que se encontra rodeada por um gigantesco muro. Centrados nos seus dramas familiares vivem alheados de uma realidade que lhes escapa... ou estarão todos eles voluntariamente ocupados com a ideia de uma realidade que está para lá desse muro?
Cavender que também escreveu o argumento desta curta-metragem consegue criar uma história que prende o espectador não pela bizarra realidade que estas personagens apresentam como sendo a sua "vida", mas sim pela suspeita do que poderá vir a acontecer com os mesmos quando, deduzimos nós, ousarem ultrapassar aquela aparente fronteira que ali lhes é colocada. O muro, ainda que visualmente ausente de boa parte da dinâmica, ganha contornos de uma silenciosa personagem que parece assombrar a realidade destas "vidas", e que apenas se assume como tal de uma forma lenta à medida que as diferentes dinâmicas parecem ganhar contornos dando corpo às realidades de cada um dos intervenientes que tentam encontrar o seu lugar neste espaço incolor e distante.
Os conflitos e a solidão parecem ocupar cada uma destas personagens. Ora aqueles que tentam começar uma vida nova optando por adquirir um "quarto novo" para a sua casa... naquele que o vende cujo único propósito parece ser conquistar mais rendimento para poder fazer uma viagem turística para o mundo para lá daquele muro... na família disfuncional cuja realidade parece apenas ser sobreviver ao instante seguinte não se preocupando com o que está porvir... ou até mesmo no par solitário que tenta encontrar um qualquer propósito comum e estabelecer uma dinâmica em conjunto para esquecer o pouco que os dias lhes parecem trazer. Nesta medida, até mesmo os propósitos diários são escassos. Compreendemos que poucos, se é que alguns, têm propósitos maiores nas suas realidades e tudo é, compreensível desde o primeiro instante, ausente, distante e sem pequenos elementos de uma realidade à qual qualquer um de nós está habituado. O jantar do par solitário assim o revela quando se deliciam com uma refeição de cenouras das quais já não conheciam o sabor. Ou até mesmo na vida de uma família desfeita onde a jovem filha se assume como o elemento rebelde prestes a perturbar não só a sua vida familiar como aquela desta sociedade que compreendemos "ordeira" e "disciplinada" não por convicção mas sim em prol de uma qualquer ordem que é incompreensível até aos últimos instantes. E é quando o espectador finalmente compreende o que os rodeia, que os enclausura e que domina as suas realidades que se equaciona o fim como a inevitabilidade mais realista que os amedronta. E nesse momento tudo ganha uma explicação deixando o argumento, no entanto, um vazio sobre os porquês desta população ali ter chegado. O que os forçou? Uma crise? Um fim? Uma tentativa de novo começo? Estarão eles na base de uma sociedade estratificada e que apenas lhes confere aquele espaço para viver? Existirá outro mundo para lá daquilo que os contornos daquele muro lhes permitem ver?
Sendo este argumento o ponto forte desta curta-metragem, imediatamente equiparado com a direcção de fotografia que confere um ambiente especial e quase desumanizado ao espaço e às suas personagens, são estas que, no entanto, se afirmam como o elemento mais frágil deste filme curto na medida em que pouca é a exploração das personagens que quase se limitam a um debitar de frases feitas que nos dão - aos espectadores - noções básicas do seu descontentamento ou revolta interior para com o que os rodeia e para com aqueles com quem vivem. Existe pouco nestas personagens e todas elas poderiam ter apresentado muito mais dinamizando a história, o próprio argumento e o ambiente que se esperaria ainda mais negro se equacionarmos que no final compreendemos as suas realidades e o porquê dos medos que aparentam revelar. Ainda assim, e sobretudo pelo potencial exibido nesta história que nos apresenta a realidade destes "amaldiçoados" sem nunca pretender justificar os porquês e os seus passados, The Damned revela-se como uma história que confere ao sentido de fim (ou fim do mundo?) uma nova e interessante perspectiva não esquecendo nunca exibir o ideal de "sonho" que algumas destas personagens insistem em não perder.



7 / 10

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