terça-feira, 24 de julho de 2018

Victoria (2016)

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Na Cama com Victoria de Justine Triet (França) que relata um momento da vida de Victoria (Virginie Efira), uma advogada na casa dos trinta anos de idade que procura o amor e a estabilidade sentimental enquanto tenta destacar-se na sua carreira profissional.
Num momento de mudança repentina e inesperada, Victoria vê-se envolvida num caso de agressão sentimental no qual está envolvido Vincent (Melvil Poupaud), um seu amigo e na companhia de Samuel (Vincent Lacoste), um novo assistente.
A realizadora em colaboração com Thomas Lévy-Lasne escrevem um argumento que pretende de forma realista revelar o mundo de uma mulher com uma carreira profissional intensa que, no entanto, não está disposta nem a abdicar do seu lado sentimental nem tão pouco da sua vida familiar como mãe. Mas, se esta tentativa parece honesta na sua concepção e, no fundo, na forma como pretende ilustrar o drama de tantas mulheres deste século XXI, a realidade é que a realizadora e argumentista transforma esta história num relato frenético de uma mulher que se assume desesperada e até mesmo descontrolada na sua vontade em equilibrar e conciliar todas as suas vertentes enquanto uma mulher destes tempos. Ou seja, se por um lado conhecemos "Victoria" como alguém que procura uma vida profissional estável, um casamento harmonioso e também um pai para os seus filhos por outro, aquilo em que ela se transforma está longe de ser ou ter qualquer tipo de estabilidade mas sim reflecte um total e completo descontrolo dela enquanto mulher, profissional e até mesmo mãe. Se a vontade era em revelar ao espectador alguém com objectivos, aquilo que chegou foi uma mulher incapaz de se manter coerente na concretização dos seus desejos.
Convincente a certo ponto, instável no momento seguinte, alegre e triste, segura e insegura, todos os estados de ânimo de alguém passam pela interpretação de Virginie Efira que, no entanto, não consegue dosear correctamente cada um desses momentos para que o espectador consiga encontrar credibilidade em cada um deles... Se de repente a encontramos como uma forte mulher e advogada com convicções muito próprias do mundo que a rodeia, é no momento seguinte que facilmente a vemos cair nos lugares comuns em que muitos a colocam... se é mulher... é frágil... se deseja uma vida sentimental e sexual... é leviana... se quer ser mãe... então que fique em casa não deixando a sua personagem assumir sim cada uma destas perspectivas mantendo-se fiel e coerente ao que cada uma deles representa para si e para o dito papel social que a mesma deve(ria) representar para tantas mulheres que poderiam - a seu tempo - encontrar nesta sua criação pontos de semelhança. Aqui não... tudo aquilo que se espera que a sua personagem não represente... facilmente se transforma numa bandeira caindo a mesma nos espaços que desejava nunca ter conhecido. Efira, por muito que tente distanciar-se dessa mesma noção pré-concebida, acaba por dela não conseguir sair, e o espectador aborrecido com algo que soa a pré-conceito desinteressa-se pelos caminhos pouco tortuosos de uma vida dita moderna.
Espectador esse que acompanha as várias dinâmicas desta mulher... conhece-a num casamento que desejava poder ser o seu... vê-mo-la num tribunal onde deveria ser coerente... mas encontra-mo-la a defender o indefensável com o recurso à "prova" absurda. Vê-mo-la no campo afectivo que tanto deseja... mas com recurso às novas tecnologias onde qualquer um pode abrilhantar aquilo que não é... Qualquer um que recebe em casa ao mesmo tempo que os seus filhos lá tem, falhando também aqui como exemplo parental. O espectador, que tenta não tecer qualquer conjunto de juízos de valor ou reprimendas morais para com uma personagem com quem até pretende criar laços de empatia e compreensão, definha com a incapacidade que sente em compreender uma mulher que parece ter parado numa adolescência não reconhecida tendo, no entanto, todo um conjunto de novas realidades que parece ainda não compreender.
No final surge então o único momento com o qual o espectador poderá criar uma empatia na medida em que é apenas quando perde aquele que sempre esteve ao seu lado, que se concretiza no seu pensamento de que a felicidade (a sua) esteve afinal por perto. Por perto mas tida como algo garantido que lhe escapou por entre os dedos pela falta de reconhecimento em lhe dar crédito e valor. Efira, possivelmente tão perdida quanto a sua "Victoria", divaga desta forma por um filme do qual teve todas as oportunidades para dominar mas que esqueceu controlar, deixando a sua personagem vaguear pela incerteza de alguém que ainda não descobriu onde queria estar... nem tão pouco com quem.
Victoria - Na Cama com - talvez só mesmo hipoteticamente ou pela noção da representação da condição da mulher numa sociedade moderna... Nunca por nunca pela realidade aqui pretendida, nem tão pouco pela imagem da mulher que se pretende séria e profissional, sentimental mas aguerrida mas que, no final, se revela um desastre ambulante sem qualquer noção de onde vem, onde está ou tão pouco para onde quer seguir. E para tudo isto comprovar... que se chame um cão a tribunal... talvez ele consiga ser de facto mais coerente do que esta "Victoria" em rota de colisão com uma ideia ficcionada de que a mulher (apenas por o ser) não é capaz de... simplesmente ser (algo... ou tudo).
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3 / 10
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