sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Vitae (2020)

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Vitae de Jaime Fidalgo (Espanha/México) é a nova curta-metragem do realizador de Pico de Orizaba (2017) aqui numa história totalmente diferente onde não existe o confronto emocional entre dois homens mas sim entre o Homem e o Mundo que o rodeia ou, pelo menos, aquilo que dele resta.
Um homem (Raúl Insa) acorda num campo deserto. À sua volta todo um conjunto de papéis. Onde estará? O que o espera? Descobre-o quando encontra uma misteriosa caixa...
Esta breve curta-metragem - pouco excede os quatro minutos de duração - prima pela forma como se insere uma personagem da qual o espectador nada conhece, num espaço temporal desconhecido para o espectador. Primeiro, pela forte presença "física" de uma direcção que aproxima a câmara da personagem e esta, por sua vez, do espectador que o acompanha de muito perto, permitindo assim que todos os actos de "Raúl" sejam acompanhados ao milímetro mas, ao mesmo tempo, não conferindo qualquer elemento sobre "tempo" físico e emocional que o levou até àquele momento. Em segundo lugar porque o próprio espectador desconhece se aquele momento é uma realidade para o protagonista ou mesmo uma dimensão diferente que o isola dos acontecimentos que estão, de facto, a ocorrer pela presença numa vila que se assemelha a um espaço fantasma abandonado por qualquer forma de vida há largos anos.
É, no entanto, quando "Raúl" encontra uma misteriosa caixa no chão em condições que parecem confirmar que ali está apenas e só para ele - e estava - que o espectador compreende que o desígnio maior desta história se prende não com o espaço em que se encontra o protagonista mas sim com algo que (aparentemente) o mesmo havia esquecido algures no seu percurso. É esta confirmação - ainda que subtil - que virá segundos depois a ser corroborada por uma breve legenda moral que determina o fim de uma história que se quer inicialmente enigmática mas, finalmente, espontânea pela sua sinceridade.
Sempre acompanhado por uma música adaptada à mensagem principal desta história, Vitae é o recordar de pequenos elementos, histórias, sonhos, desejos e pensamentos que o protagonista - "Raúl" ou qualquer um de nós - construíram ao longo de uma vida e que tantas vezes permanecem encerrados numa caixa apenas para serem descobertos num momento de crise, de estagnação, de procura pelo "eu" mais íntimo ou até mesmo de incerteza quanto ao próximo passo que está por ser, num devir mais ou menos próximo, dado. Os tais "sinais" que são tão subtilmente colocados no caminho de todos nós e que são tantas vezes esquecidos quando decidimos inconscientemente olhar e procurar "no outro lado".
Sensível, pecando apenas por uma curtíssima duração que poderia na sua exploração ter desenvolvido mais o sentido enigmático que o espaço abandonado poderia ter proporcionado, e num registo que poderá ser um potencial desabafo pessoal do realizador face ao mundo ou a si próprio e aos desenhos que eventualmente também o próprio deixou no seu passado - a tal caixa que todos nós guardamos -, Vitae é, para lá de um registo de sonhos, a imagem daquilo que poderia ter sido.
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6 / 10
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