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O 3º Andar: Terror na Rua Malaseña de Albert Pintó (Espanha/França) é uma das mais recente longas-metragens espanholas de terror e aquela que serve de abertura à edição deste ano do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que hoje se inicia no Cinema São Jorge.
Ainda no período da Transição para a Democracia, os Olmedo chegam a uma Madrid efervescente fugidos das dificuldades económicas da sua aldeia natal. Manolo (Iván Marcos), a sua ex-cunhada e agora esposa Candela (Bea Segura), os filhos mais velhos desta Pepe (Sergio Castellanos) e Amparo (Begoña Vargas), Rafael (Iván Renedo), o filho único do casal e ainda Fermín (José Luís de Madariaga), o pai de Candela com alguns problemas de memória.
Agora na grande cidade onde tudo se afirma com a incerteza natural da vida nova num tempo novo, os Olmedo redescobrem uma casa com uma história muito própria onde tudo ficou adormecido durante alguns anos... incluindo a presença do antigo inquilino.
Tradicional exemplar do novo cinema espanhol de terror destacando toda a influência que o realizador Albert Pintó possui nomeadamente no domínio da curta-metragem, este Malaseña 32 anunciava ser o crescendo de uma obra assinalável. No entanto, as surpresas ainda que presentes, deixam esta obra com algum amargo de boca na medida em que promete e promete... mas falha na sua concretização. Se os instantes iniciais desta longa-metragem apresentam um cenário macabro - muito também fruto do contexto histórico e político que levam o espectador à Espanha pré-Democracia -, e que em boa medida nos transportam para o universo [REC], de Jaume Balagueró, é quando nos encontramos já no período "livre" de 1976 que tudo parece querer confirmar-se como a tal história de terror que nos havia sido prometida.
Lentamente o espectador descobre uma família cujo núcleo oscila entre a esperança de um futuro novo onde os sonhos e as promessas sejam alcançadas como também ainda muita da mágoa de um passado vivido num meio rural e onde os rumores e os insultos são, compreendemos, uma realidade para esta família. Não podendo o espectador esquecer-se de que o casal central desta história tem uma relação assumidamente dúbia - cunhados que se transformam em marido e mulher com um filho em comum -, compreende-se então que existe um "pecado" que não seria de perdoar na terra de onde chegam mas que ali, numa Madrid em ebulição, tudo passaria despercebido e ignorado aos olhares daqueles que querem (agora) uma vida diferente e livre de uma qualquer culpa. E é quando essa vida parece ganhar um novo rumo que, afinal, algo se começa a manifestar nas suas vidas lançando o caos junto daqueles que mais temem os fantasmas de um passado que parece não perdoar.
Se Malaseña 32 parece querer fazer uma reflexão sobre os pecados de uma família - assim se pretende que o espectador os reconheça -, na realidade estes (pecados) assumem-se mais como manifestações de um passado conservador e convencional que lentamente o país vizinho conseguiu não só desmistificar como sobretudo ultrapassar. A vergonha da diferença e dos papéis sociais atribuídos religiosamente à nascença são questionados primeiro pelos detalhes óbvios que a história faculta e, de seguida, pela comparação das vivências das personagens que, para lá dos paralelismos, são primeiramente observados pelas (im)possibilidades da sua concretização... de um lado observamos uma família que, para sobreviver às inevitabilidades de uma vida na pobreza, se uniu ainda que de forma pouco convencional (para os olhares da época e mesmo por vezes à luz dos nossos dias), e onde todos assumiram um papel social que lhe corresponderia. Do outro, temos um vislumbre do passado onde pela força dos valores morais do regime e da religião se vetou ao abandono alguém que sentiu e compreendeu ser diferente e que, em nome dessa diferença, foi esquecido por todos e pelo tempo forçado a viver na clausura, na vergonha e num silêncio que apenas as ditas "forças paranormais" (existiram ou seremos "nós" (sociedade enquanto um todo)) podem voltar a dar voz. Se estes dois mundos colidem pela vontade, comum a ambos, de voltar a viver num papel social que lhe corresponde e que espera neste novo mundo poder começar a fazê-lo, a realidade é que apenas um destes dois manifestos "lados" poderá ver concretizadas as suas vontades.
Num registo de terror imediato que sobrevive principalmente pela compreensão (do espectador) de todo um ambiente "de palco" que constrói um pequeno labirinto por detrás das paredes de um prédio que parece pouca ou nenhuma vida possuir - estando, no entanto, possuído por ela -, Malaseña 32 não resiste a esse imediatismo do pânico e do susto que as sombras e a direcção de fotografia conferem a uma história que, a partir de um dado instante, perde a sua credibilidade pela abordagem à la século XXI de temas que ainda que intemporais pouco parecem conjugar-se com o género cinematográfico que aqui se pretende abordar. Afinal, quantos de nós não reviraram os olhos quando compreendemos as necessidades de um "fantasma" que não só quer voltar a viver como também perpetuar a sua existência... desta forma?!
Com interpretações regulares que não primam pela coerência das suas personagens ou tão pouco fazem jus às capacidades dramáticas de um conjunto de actores firmados no cinema espanhol e outros tantos de uma promissora nova geração, são apenas pontuais elementos técnicos - a já mencionada direcção artística ou a direcção de fotografia e guarda-roupa -, que podem marcar a diferença numa história já de certa forma vista e filmada com olhares mais precisos e coerentes do que aquele aqui apresentado por Pintó. Afinal, basta recorrermos à filmografia anterior do realizador e observar a longa-metragem Matar a Dios (2017) ou as curtas-metragens Nada S.A. (2014) ou RIP (2017) para compreender todo o potencial de um realizador que aqui apenas se limitou a "cumprir" uma obra a mais.
Competente a nível técnico e na atmosfera que inicialmente consegue criar, Malaseña 32 perde-se à medida que se pede coerência nos pequenos detalhes que deveriam "construir" o terror, limitando-se a um conjunto de lugares comuns já observados noutras longas-metragens do género e que aqui mais não são do que "mais do mesmo". Pouco subtil no que respeita à "mensagem" a que se propõe, esta longa-metragem parece apenas querer deixar a ideia de que afinal... o passado por muito mau que se tenha manifestado será possivelmente um pouco melhor do que as vontades que o futuro parece querer revelar.
Ainda no período da Transição para a Democracia, os Olmedo chegam a uma Madrid efervescente fugidos das dificuldades económicas da sua aldeia natal. Manolo (Iván Marcos), a sua ex-cunhada e agora esposa Candela (Bea Segura), os filhos mais velhos desta Pepe (Sergio Castellanos) e Amparo (Begoña Vargas), Rafael (Iván Renedo), o filho único do casal e ainda Fermín (José Luís de Madariaga), o pai de Candela com alguns problemas de memória.
Agora na grande cidade onde tudo se afirma com a incerteza natural da vida nova num tempo novo, os Olmedo redescobrem uma casa com uma história muito própria onde tudo ficou adormecido durante alguns anos... incluindo a presença do antigo inquilino.
Tradicional exemplar do novo cinema espanhol de terror destacando toda a influência que o realizador Albert Pintó possui nomeadamente no domínio da curta-metragem, este Malaseña 32 anunciava ser o crescendo de uma obra assinalável. No entanto, as surpresas ainda que presentes, deixam esta obra com algum amargo de boca na medida em que promete e promete... mas falha na sua concretização. Se os instantes iniciais desta longa-metragem apresentam um cenário macabro - muito também fruto do contexto histórico e político que levam o espectador à Espanha pré-Democracia -, e que em boa medida nos transportam para o universo [REC], de Jaume Balagueró, é quando nos encontramos já no período "livre" de 1976 que tudo parece querer confirmar-se como a tal história de terror que nos havia sido prometida.
Lentamente o espectador descobre uma família cujo núcleo oscila entre a esperança de um futuro novo onde os sonhos e as promessas sejam alcançadas como também ainda muita da mágoa de um passado vivido num meio rural e onde os rumores e os insultos são, compreendemos, uma realidade para esta família. Não podendo o espectador esquecer-se de que o casal central desta história tem uma relação assumidamente dúbia - cunhados que se transformam em marido e mulher com um filho em comum -, compreende-se então que existe um "pecado" que não seria de perdoar na terra de onde chegam mas que ali, numa Madrid em ebulição, tudo passaria despercebido e ignorado aos olhares daqueles que querem (agora) uma vida diferente e livre de uma qualquer culpa. E é quando essa vida parece ganhar um novo rumo que, afinal, algo se começa a manifestar nas suas vidas lançando o caos junto daqueles que mais temem os fantasmas de um passado que parece não perdoar.
Se Malaseña 32 parece querer fazer uma reflexão sobre os pecados de uma família - assim se pretende que o espectador os reconheça -, na realidade estes (pecados) assumem-se mais como manifestações de um passado conservador e convencional que lentamente o país vizinho conseguiu não só desmistificar como sobretudo ultrapassar. A vergonha da diferença e dos papéis sociais atribuídos religiosamente à nascença são questionados primeiro pelos detalhes óbvios que a história faculta e, de seguida, pela comparação das vivências das personagens que, para lá dos paralelismos, são primeiramente observados pelas (im)possibilidades da sua concretização... de um lado observamos uma família que, para sobreviver às inevitabilidades de uma vida na pobreza, se uniu ainda que de forma pouco convencional (para os olhares da época e mesmo por vezes à luz dos nossos dias), e onde todos assumiram um papel social que lhe corresponderia. Do outro, temos um vislumbre do passado onde pela força dos valores morais do regime e da religião se vetou ao abandono alguém que sentiu e compreendeu ser diferente e que, em nome dessa diferença, foi esquecido por todos e pelo tempo forçado a viver na clausura, na vergonha e num silêncio que apenas as ditas "forças paranormais" (existiram ou seremos "nós" (sociedade enquanto um todo)) podem voltar a dar voz. Se estes dois mundos colidem pela vontade, comum a ambos, de voltar a viver num papel social que lhe corresponde e que espera neste novo mundo poder começar a fazê-lo, a realidade é que apenas um destes dois manifestos "lados" poderá ver concretizadas as suas vontades.
Num registo de terror imediato que sobrevive principalmente pela compreensão (do espectador) de todo um ambiente "de palco" que constrói um pequeno labirinto por detrás das paredes de um prédio que parece pouca ou nenhuma vida possuir - estando, no entanto, possuído por ela -, Malaseña 32 não resiste a esse imediatismo do pânico e do susto que as sombras e a direcção de fotografia conferem a uma história que, a partir de um dado instante, perde a sua credibilidade pela abordagem à la século XXI de temas que ainda que intemporais pouco parecem conjugar-se com o género cinematográfico que aqui se pretende abordar. Afinal, quantos de nós não reviraram os olhos quando compreendemos as necessidades de um "fantasma" que não só quer voltar a viver como também perpetuar a sua existência... desta forma?!
Com interpretações regulares que não primam pela coerência das suas personagens ou tão pouco fazem jus às capacidades dramáticas de um conjunto de actores firmados no cinema espanhol e outros tantos de uma promissora nova geração, são apenas pontuais elementos técnicos - a já mencionada direcção artística ou a direcção de fotografia e guarda-roupa -, que podem marcar a diferença numa história já de certa forma vista e filmada com olhares mais precisos e coerentes do que aquele aqui apresentado por Pintó. Afinal, basta recorrermos à filmografia anterior do realizador e observar a longa-metragem Matar a Dios (2017) ou as curtas-metragens Nada S.A. (2014) ou RIP (2017) para compreender todo o potencial de um realizador que aqui apenas se limitou a "cumprir" uma obra a mais.
Competente a nível técnico e na atmosfera que inicialmente consegue criar, Malaseña 32 perde-se à medida que se pede coerência nos pequenos detalhes que deveriam "construir" o terror, limitando-se a um conjunto de lugares comuns já observados noutras longas-metragens do género e que aqui mais não são do que "mais do mesmo". Pouco subtil no que respeita à "mensagem" a que se propõe, esta longa-metragem parece apenas querer deixar a ideia de que afinal... o passado por muito mau que se tenha manifestado será possivelmente um pouco melhor do que as vontades que o futuro parece querer revelar.
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