quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Nudo (2023)


Nudo de Hermínio Cardiel (Espanha) é a mais recente curta-metragem do realizador vallisoletano que dirigiu, entre outras, as curtas-metragens Ogro (2021) e Fuera de Servicio (2016).
Clara (Sara Jiménez) e Lea (Carlota Trueba) dançam juntas um qualquer encontro musical quando são subitamente interrompidas por um homem que as tenta seduzir. Depois de um rápido afastamento e de um regresso a casa, Clara sente que alguém a acompanha... ou será apenas a imaginação dela numa sociedade onde os perigos espreitam em todas as esquinas?
Há uma atmosfera tensa desde os primeiros instantes de Nudo que é, em certa medida, desconhecida do espectador. Sente-se e percebe-se que está presente mas, ao mesmo tempo, desconhece o espectador o que é ao certo que o incomoda nas dinâmicas das actrizes - e subsequentemente apenas para com a protagonista -, e destas para com o espaço envolvente. Inicialmente é perceptível na dinâmica entre ambas. Reconhece-se alguma intimidade mas não se consegue sentir a química esperada entre duas pessoas que aparentemente se amam e desejam. Será algo ainda escondido dos seus pares e das suas famílias ou apenas algo que querem "no momento" e não retirar dali grandes planos para o porvir? Esta tensão é imediatamente sentida quando ambas são interrompidas na sua dinâmica por um tipo descontrolado que quer terminar a "sua" noite da melhor forma possível, custe o que custar e até mesmo na despedida das duas amigas/namoradas que é feita de uma forma próxima mas fria e quase indiferente. É então que, enquanto acompanhamos "Clara" que compreendemos que esta atmosfera se adensa de uma forma mais abrupta e que a cidade, cujas ruas se encontram cada vez mais vazias, escondem algo que equacionamos como uma tragédia prestes a acontecer. Vozes indistintas e risos abafados fazem o espectador imaginar o pior. A tal tragédia que afecta as vítimas solitárias, indefesas e desprotegidas e que, sem darem conta, caem nas suas garras deixando marcas para sempre.
É nesta dinâmica que conhecemos e acompanhamos todos os instantes de "Clara" mas que são rapidamente interrompidos pela inserção de "Fernando" (Roberto Enríquez), um homem que inadvertidamente se depara no seu caminho e que tem uma história ainda mais sombria para relatar. A sua chegada é, assumidamente, inesperada. As suas acções são, no entanto, de tal forma dúbias que permanece uma dúvida sobre até que ponto é a sua existência naquele local tão "ocasional" como inicialmente aparenta ser. "Fernando" mostra-se indiferente ao que acontece. Aos resultados das suas acções e, sobretudo, às consequências que pode vir a ter. A sua apatia, ainda que compreensiva face ao que acaba de fazer, deixa o espectador com um certo incómodo sobre o se terá ou não sido propositado... algo planeado. Ele percebe o que fez mas afastou-se. Permanece sim a dúvida se sabe quem deixou para trás... mas sabe sim que acabou por mudar radicalmente duas vidas... a sua e sobretudo a de "Clara".
Sem um claro desfecho para as duas personagens, e ainda que o espectador possa imaginar qual será por pequenos indícios que são revelados, Nudo termina abruptamente deixando essa conclusão para a imaginação do espectador. Estaria "Clara" realmente a ser perseguida? Seriam os seus medos enquanto jovem mulher a caminhar sozinha pela noite de uma cidade deserta que tomaram conta dos seus pensamentos dando vida aos seus receios? Estaria "Fernando" a segui-la? A procurá-la? O que o terá levado a continuar o seu percurso sabendo que a deixou para trás? Sabia que era realmente ela? O que o levou a assumir e incorporar toda uma calma inesperada naquele momento... especialmente quando alguém está prestes a bater-lhe à porta e trazer-lhe notícias que poderá (ou não?!) esperar... Questões estas que deixam o espectador a pensar e que, sobretudo, o fazem questionar-se também sobre o que escondem as sombras para lá daquelas que a noite de uma cidade exibe com honra e (pouca) glória.

7 / 10

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