José de João Monteiro (Portugal) é uma curta-metragem que revela uma história, assinada pelo próprio realizador, centrada num qualquer subúrbio onde as revelações pessoais e de um passado perturbado se assumem como determinantes para um futuro porvir.
José (José Cordeiro) celebra o seu décimo-oitavo aniversário. O seu irmão mais velho (Nuno Nolasco) oferece-lhe um fio. Num momento de reflexão sobre o passado, compreensão do futuro e considerações futuras tidas pelo próprio espectador, José revela a história de uma família à procura de si própria.
De imediato a curta-metragem de João Monteiro transporta o espectador para um espaço incerto. Incerto não pela sua condição geográfica que (compreendemos) ser precária e onde as carências são uma certeza, mas sim pela forma como a relação entre os dois irmãos se manifesta. Ainda que próximos, o espectador sente que "José" e o seu irmão são o fruto de algo que, no passado, correu mal. Para lá da morte - que se assume como o ponto de partida principal - ou mesmo de qualquer carência económica que os leva à sua realidade social - "José" a trabalhar na recolha do lixo e o irmão como alguém que aparenta ter encontros casuais com homens mais velhos -, existe uma mágoa presente em ambos que embora os torne indiferentes à realidade alheia, agindo e interagindo com tudo o demais por mera sobrevivência, os transforma em seres emocionalmente próximos compreendendo que tendo muito que os separa - nos caminhos percorridos - estão unidos por um passado comum... perdido mas que lhes confere essa inquebrável ligação familiar e afectiva.
Tudo à volta destes dois irmãos parece degradado. Do seu ambiente natural (pensa o espectador) que se assume sob a forma de uma casa abandonada que se revela como a sua casa (passada ou presente?!), às formas escolhidas para ganharem a sua vida. Nada parecer ter corrido como aquelas oportunidades que eventualmente esperavam ao ponto dos silêncios serem a maior e melhor forma de comunicação que conseguiram encontrar. A própria identidade de "José" é, em boa parte desta curta-metragem, protegida pela câmara impossibilitando o espectador que compreender quem está do outro lado e só já decorrido algum tempo se compreende de facto quem é aquele jovem que agora cumpre o seu décimo-oitavo aniversário ao mesmo tempo que recebemos essa sua aparente apatia para com o mundo que o rodeia. Entre o vive e o sobrevive, desperta a curiosidade no espectador sobre a realidade do seu passado que, não sendo importante para a compreensão do seu "agora", não deixa de ser o factor principal que os levou ao referido momento.
Sem outros elos que não o familiar que os unam, este aniversário marca, de certa forma, a independência de "José" de qualquer responsabilidade familiar a que poderia - até então - estar vinculado. Serão então esses laços afectivos de fraternidade que os continuarão a obrigar a cruzar caminho ou, por sua vez, a compreensão de uma difícil realidade passada que o fará assumir os sacrifícios que o seu irmão mais velho terá efectuado para o manter o mais são e afastado possível de um rumo mais marginal que o próprio escolheu? Será esta realidade fraterna e a compreensão de que mais nada têm no mundo que não eles próprios, o elemento mais importante de um amor e amizade que os salvará desse esperado descarrilar?
Ainda que seja um enigmático José Cordeiro o homónimo protagonista desta história, acaba por ser a presença mais emocional de Nuno Nolasco aquela que cativa a atenção do espectador mais não fosse pelo seu relato semi-aberto de um passado que reconhece ter sido transformador. Nesta perspectiva, e com o recurso a uma direcção de fotografia de André Amaral que emerge o espectador numa constante sensação de fria apatia onde algo mais está para lá das suas parcas palavras conferindo a toda esta obra uma ambiência distante e pouco neutra, José é - poderá ser - um coming of age pouco tradicional onde a inocência não se perdeu neste exacto momento em que chega a tal "maior idade", mas onde, por sua vez, se pode finalmente confessar que esta se manteve no seu subconsciente como uma realidade ida que eternamente se busca sem nunca se conseguir alcançar.
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8 / 10
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