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Ingen Lyssnar de Elin Övergaard (Suécia) é uma das curtas-metragens exibidas na plataforma online deste quinto dia do We Are One: A Global Film Festival e um dos filmes com uma relevante mensagem social para estes dias que agora vivemos.
Numa pequena cidade sueca discute-se, em reunião pública, a construção de um novo centro de acolhimento para crianças refugiadas. Com alguma resistência da comunidade, duas pessoas tentam intervir para explicar as posições dos dois lados da barricada.
Aquilo que se destaca de imediato em Ingen Lyssnar é a vincada polarização que se denota nos dois extremos desta "aceitação" europeia dos refugiados que chegam ao continente. Se por um lado encontramos toda uma rede institucional disposta (em teoria ou não) a aceitar receber estes refugiados e alguns elementos da população disponíveis a fazê-lo é também sentido o extremo desta posição naqueles que, mais conservadores ou desconhecedores, suspeitam que as crianças que estão por chegar são "rapazes-soldado" colocando, dessa forma, toda a população em risco de violência.
Se são os dois lados, opostos por sinal, que saem em evidência desta história que se centra essencialmente numa sala onde toda a população local discute os prós e contras deste "acolhimento" são, no entanto, os seus comportamentos que se destacam. É sentido desde o primeiro instante que existe uma polarização dos mesmos... Uns aceitam... outros questionam... uns são favoráveis... outros não querem nem pensar mais numa "vaga" de refugiados para um país que, dizem, já está saturado. Mas é nesta discussão de argumentos que tudo se expõe... De um diálogo inicialmente tranquilo e quanto baste amigável rapidamente todos deixam sair o seu lado mais irracional onde tudo é analisado pelo seu extremo e pela imediata violência que representa, caindo por terra não só o debate como a moderação que, até então, tentava o equilíbrio entre todos que agora se concentram não na opinião alheia mas sim na predominância do seu próprio pensamento e preconceito. Instalado o caos... poderá alguém vencer este debate ou serem todos reduzidos ao mais primário dos pensamentos?
Para lá de todo o drama humanitário o que se destaca nesta curta-metragem sueca é um certo, e crescente, sentimento de intolerância que lentamente se afirma nestas sociedades ditas de primeiro mundo. São os comportamentos dos europeus "civilizados" que se destacam num filme que centra toda a sua acção nos mesmos, esclarecendo que o "outro" nem sequer chegou a este país e a esta cidade e já é, desde o primeiro momento, um elemento indesejado pela comunidade sendo explícito através de um conjunto sem fim de preconceitos e juízos de valor e de carácter sobre pessoas - crianças para que fique claro - cujo único propósito é fugir de um conflito armado que vê neles a sua perpetuação e veículo para a violência e controlo.
Inteligentemente mordaz e um perfeito retrato dos dias de intolerância que vivemos, Ingen Lyssnar é, num registo que não tem fim, um conto sobre a essência e a verdade humanas... sempre tão longe do verdadeiro humanismo que tantas vezes apregoa.
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8 / 10
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