Lisbon Revisited de Edgar Pêra é uma longa-metragem portuguesa e uma das mais recentes obras do realizador de O Barão (2011).
Nesta viagem que oscila entre sonho nocturno e momento psicadélico por Lisboa, o espectador conhece a mesma através do olhar de um ser em mutação que faz ecoar os seus pensamentos através dos múltiplos heterónimos de Fernando Pessoa permitindo assim não só ver como escutar a voz da cidade.
Com alguns elementos reconhecíveis da cidade de Lisboa, Edgar Pêra lança o espectador numa viagem pelo eterno desconhecido. O filme abre com algumas passagens pelo lado oculto da cidade onde, surgem os outros habitantes da mesma. Plantas e suas raízes, as folhas e um conjunto de seres com vida que habitam na escuridão e no anonimato ganham aqui uma presença e importância determinantes para que o espectador compreenda que, para lá do rebuliço laboral do dia-a-dia, existe todo um conjunto de novos ocupantes que observam tudo e todos com olhos diferentes daqueles aos quais está normalmente habituado. Neste segmento intitulado Dragão do Desassossego, o espectador compreende então que para lá daquilo que conhece existe todo um mundo por descobrir e uma alma em constante transformação.
Da compreensão da consciência - da alma, da cidade, da vida do "outro" lado - à decadência de uma antiga moral imperial, Lisboa é neste Lisbon Revisited a personagem principal de uma história que vibra pela sua essência, pelos seus espaços - ainda que não totalmente compreendidos - e por uma presente voz que se assume como a da sua alma. Compreenderá esta que "fala" e que se faz ouvir?! Poderá a sua problematização ser passível de mutação? Será esta a voz de uma consciência do verde e da Natureza - como uma clara referência ao seu Lisboa Verde 3D (2014) -? Assim, e à medida que se torna compreensível este olha diferente da e pela cidade -, o espectador compreende também que são os seus habitantes "não oficiais" que agora a observam, que vêem a sua alma e até mesmo uma boa parte da sua essência... de gaivotas a pombos, de pássaros comuns aos insectos sem esquecer as plantas estáticas e espalhadas um pouco por toda a capital.
Em todos os segmentos o espectador sente a presença da mão de Edgar Pêra. Da distorção das vozes dos actores que narram cada momento - de Marina Albuquerque a Nuno Melo passando por Miguel Borges todos habituais colaboradores de Pêra -, o realizador volta a insistir no 3D como formato de filmagem - e consagrando assim um pouco da essência deste Lisbon Revisited e da noção de "outras almas" que captam a cidade - mas, ao mesmo tempo, esta obra não consegue facilmente prender o espectador à sua alma como, por exemplo, o conseguiram o já referido O Barão ou A Janela (Maryalva Mix) (2001) tendo, este último, rapidamente captado essa indomável excentricidade da cidade também por uma franja pouco habitual dos seus habitantes "das margens".
Impagável enquanto uma marca óbvia da obra do realizador, Lisbon Revisited deixa, no entanto, a notória sensação - no e ao espectador - que esta obra se assume mais como um ensaio experimental para um posterior capítulo final não se tendo, a mesma, composto como uma obra "finalizada".
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