quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Brothers' Nest (2018)

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Brothers' Nest de Clayton Jacobson (Austrália) é uma das longa-metragens exibidas durante a décima-segunda edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que, na passada semana, decorreu no Cinema São Jorge.
Terry (Shane Jacobson) e Jeff (Clayton Jacobson) rumam à casa da mãe e do padrasto numa tentativa de o assassinarem e, dessa forma, evitar que a mãe altere o testamento em seu favor. No entanto, aquilo com que os dois irmãos não contavam era com os momentos em que iriam passar juntos e com as verdades que viriam a ser descobertas.
O primeiro elemento que se destaca nesta longa-metragem australiana é, desde logo, o ambiente isolado e desértico que o imaginário do país faz imediatamente despertar na mente do espectador. Ainda que o país seja dotado de algumas metrópoles entre as quais Sidney, não será menos verdade que rapidamente qualquer um de nós liga o imaginário do país aos seus vastos desertos que a saga Mad Max (1979), de George Miller popularizou ao longo dos últimos quarenta anos. Nesta medida, Brothers' Nest afasta imediatamente o espectador de qual cenário citadino levando-o a um espaço afastado de qualquer cenário de civilização entregando as duas almas a um espaço confinado às quatro paredes de uma casa onde cresceram e onde todas as suas memórias estão guardadas.
Tendo este cenário em mente, aquilo que Brothers' Nest entrega ao espectador é um conto sobre a sede de poder e de posse que rapidamente soltam os uivos de uma vingança desconhecida onde a avareza e a ganância fazem despertar o pior de cada um deles. É na sua estadia naquela casa que o argumento da autoria de Jaime Browne e Chris Pahlow revela dois homens esquecidos por si próprios, que vivem de mentiras e ilusões que revelam como a única forma de satisfazerem um qualquer ego que precisa ser alimentado e que mimam como forma de revelar o melhor de uma vida que, na realidade, não têm. Assim, e por detrás do óbvio saque que querem fazer a vontade de uma mãe moribunda, tanto "Terry" como "Jeff" apenas se concentram num plano meticulosamente elaborado que, no entanto, mais do que revelar a ausência de provas que os incriminem revela, por sua vez, todas as pequenas nuances, dilemas e aspectos de um carácter ferido não só pela vida como, surpreendentemente... pelo seu próprio ego.
Donos de vidas supostamente aceites pela sociedade mas que revelam todos os podres da mesma que se quer rápida, bem sucedida e proeminente, os dois irmãos são, no entanto, o seu oposto. Com famílias destruídas e separadas, com vidas profissionais à beira da ruína e distantes dos valores familiares que muito consistentemente insistem em defender em nome de uma moral paternal, também ela já distante, aquilo que os dois revelam é uma ausência de consciência inicial que os expõe como capazes de tudo para bem suceder neste seu propósito. No entanto, é à medida que o tempo avança que ambos se revelam num patamar distinto de evolução e onde nada é como tenta aparentar. Se "Jeff" se assume como a força bruta para quem, na realidade, nada importa, nem mesmo os tais valores morais de que o património familiar deve ficar nas mãos da família de sangue, é "Terry" que lentamente se revela mais despreocupado com o que lhe sucede preocupando-se, por sua vez, com todas as pequenas memórias que ressurgem com os pequenos passeios que dá pela casa e pela propriedade. "Terry" sente a alma da casa, das paredes, dos objectos e das pequenas lembranças que, sem serem do conhecimento do espectador, se fazem transparecer pelos seus olhares auto-reflexivos e que o levam a equacionar - novamente sem nunca serem revelados mas que se expressam pela sua postura física e psicológica cada vez mais branda - na validade da acção a que se propôs. Será que tudo aquilo valerá a pena ou, por sua vez, irá manchar as memórias de um passado que, afinal, poderá não ter sido tão mau como aquilo que inicialmente julgara?
À medida que a dinâmica entre os dois irmãos se altera, não só entre ambos mas também em relação ao propósito que ali os levou, percebe-se e compreende-se como inevitável a chegada de novas personagens - nomeadamente a mãe e o padrasto - para provocar o esperado clímax nesta história. No entanto, o que poderá acontecer quando a dinâmica dois irmãos para com as suas figuras parentais rapidamente ganha novos contornos alterando a concepção que tinham dos papéis que cada um representou na sua juventude? Será a mãe tão inocente no seu passado? Será o padrasto alguém tão detestável como o haviam imaginado? Poderá esta relação entre irmãos e de filhos para, no fundo, pais sair imaculada depois de um tão grande voto de desdém?! Saber-se-ão verdades julgadas impossíveis e enterradas pelo passado? Irá alguém finalmente compreender o que sempre representou no seio desta família?
Ainda que toda a dinâmica do argumento de Browne e Pahlow seja suficiente para criar uma história não de um terror sobrenatural mas sim daquele que as mentes de duas crianças - agora adultos - criam ao longo dos anos e pelo qual se deixam atormentar como representativo daquele papão debaixo da cama que, na realidade, nunca os abandonou, a realidade é que esta longa-metragem peca um pouco - ao ponto de perder muito da sua verve -, pela excessiva relação entre os dois irmãos que se deixa arrastar ao longo de praticamente sessenta minutos de duração deixando para os instantes finais toda a trágica resolução que se fazia adivinhar para esta família. Não existe grande dinâmica entre as quatro personagens mas sim blocos separados da mesma... primeiro entre os irmãos, destes para com o espaço que os viu crescer, seguido pela que estabelecem com o seu padrasto e, finalmente, com a sua mãe. Se o momento entre os dois irmãos foi demorado ao ponto do espectador compreender que poderia ser editada, é também certo que os momentos estabelecidos com os seus pais pecam por uma conclusão intensa mas apressada ao ponto de nos deixar pouco impressionados enquanto aquele clímax que, na realidade, esperaríamos.
Nota positiva a um brilhante Shane Jacobson que consegue destacar-se no seio desta história como o apontamento moral - ou aquele em que a dita moral mais se manifesta -, pode-se destacar que muito se revela do passado destas quatro personagens quer pelas palavras que trocam quer pelas dinâmicas que são estabelecidas ao longo do tempo mas, ao mesmo tempo, não existem pequenos detalhes que ficam por explorar como, por exemplo, qual a relação que os irmãos tinham com a sua mãe, os vídeos que vêem e como a sua percepção está, afinal, tão distante da realidade ou mesmo o pequeno lembrete que o papel de parede faz despertar a "Terry" de um "algo" que nunca é revelado? Ainda que nunca devidamente explorados ou revelados para lá do essencial, são estes pequenos elementos que deixam uma certa curiosidade no espectador mais atento e que poderiam ter contribuído para melhor a dinâmica destas personagens com o espaço e com elas próprias fazendo, por sua vez, um maior "corte" em momentos de contemplação que, embora importantes, se prolongam para lá do seu tempo. No final, Brothers' Nest expõe muito da comédia negra ou do terror psicológico que algum cinema australiano tão bem tem entregue nas últimas décadas mas, ao mesmo tempo e considerando todos os seus momentos mais intensos, nunca consegue atingir todo o esplendor que poderia ter alcançado se algumas arestas tivessem sido melhor limadas.
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6 / 10
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