Tubarões do Gelo de Emile Edwin Smith (EUA) recupera - não necessariamente da melhor forma - o já tão visto cinema (ou filme feito para televisão) onde um predador natural na mais improvável das localizações elimina um por um todos aqueles que lhe fazem frente.
Um grupo de cientistas encontra-se na Antártida para pesquisas sobre a preservação do espaço quando, inadvertidamente, um cardume de tubarões com objectivos bem delineados e um voraz apetite por todo o sangue quente que percorre as inóspitas paragens. Conseguirá este grupo de pouco preparados humanos sobreviver a uma inesperada ameaça?
O realizador, e também argumentista, Emile Edwin Smith tenta dar uma nova cor ao género onde os humanos são perseguidos por um suposto predador pouco preparado para encontrar inteligência superior à sua... no entanto, é quando todo o ambiente natural parece jogar a favor do "bicho" Homem separando-o por elementos naturais desse dito predador que, afinal, os mesmos facilitam o encontro forçado entre ambos dando primazia àquele que "navega" com mais facilidade pelas águas que são disponibilizadas. Por outras palavras, quando tudo parece estar a jogar a favor do Homem... eis que o Animal ganha o seu próprio - e natural - espaço...
A recuperação desta obra, ou deste género de cinema, não é novidade alguma. Já todo o espectador mais desatento viu pelo menos uma das obras do género em questão e, quer sejam transportados por tornados, por tempestades de areia ou até mesmo por transportes públicos (!!!), a realidade é que nenhuma destas auto-denominadas obras cinematográficas conseguiu alguma vez conter o mesmo suspense ou ímpeto dramático consegui por Spielberg já na ida década de '70 com o seu clássico Jaws. Aqui não... nada do que vemos nos prepara para o pasmo que nos espera quando observamos aquilo que se tenta criar com esta "peça".
Se o cenário poderia por si só constituir-se como um interessante veículo para uma obra de terror moderno onde a Natureza joga, de facto, contra o Homem enquanto tal, deixando-o nos limites da sua consciência e de frente para com os seus medos avivados pelo perigo, pela solidão e pela ideia da sua existência (ou falta dela), Ice Sharks parece - e consegue - levar o espectador a um (in)esperado limite da sua paciência presenteando-o com todo um conjunto de momentos sem sentido (o tal nonsense...), que rapidamente o levam a simpatizar com a equipa adversária e desejar que todos aqueles humanos pouco preparados... se deixe levar pela sua ignorância e caia nas garras dos mais antigos e preparados predadores naturais... sim... equipa tubarão terá de vencer.
A acção, ou aquilo que de mais perto se parece como tal, chega logo nos primeiros instantes onde todos ficamos a conhecer qual o perigo que espreita por debaixo dos "nossos" pés... é, no entanto,nesse mesmo momento que todos também compreendemos onde isto nos poderá levar... se é que a algum lado. Os banhos de sangue, ou aquilo que deles é filmado para esse tal dramatismo, são do mais elementar programa informático que pouco deixa à imaginação... todos nós percebemos como foi feito, não causando portanto qualquer tipo de efeito espectáculo mas sim um cada vez maior descrédito naquilo que nos foi oferecido enquanto filme levando a que tudo o que ocorra ao nosso redor se apresente como os já conhecidos lugares comuns que não dinamizar mas sim minam uma história que já de si se apresenta com todas as fragilidades que o mau cinema de género tem proporcionado ao longo dos últimos anos.
É quando convencidos que nada de novo poderá sair de Ice Sharks que, finalmente, damos conta das histórias pouco pessoais que as personagens desta fábula - de facto só falta alguém lembrar-se de colocar os animais a falar - defendem dando apenas espaço à tradicional história de amor rapidamente revelada pelas constantes insinuações entre duas personagens, o drama familiar que cedo termina pelo esquartejamento daqueles que possuem laços sanguíneos (bem ao gosto do tubarão) deixando o que de positivo esta obra pode trazer a cargo das interpretações... Não poderia isto ser mais errado. Não só não são credíveis - antes fossem dentro da sua desgraça - como cedo se parodiam não pela comédia mas sim pela qualidade do absurdo (sim... qualidade...) ao revelarem tão convictamente que os seus desempenhos são forçosamente maus mas que, no fundo... não é por opção mas sim por falta de capacidade da sua direcção... do argumento que lhes foi proporcionado e sobretudo pelas técnicas - se é que algumas - aplicadas para conferir veracidade a uma personagem sob ameaça e perdida no espaço em questão. Mas tudo piora... e rapidamente.
Os momentos e cenários "naturais" oscilam entre o possível e o absurdo (ganhando este último por larga distância) e a todos colocando - actores e espectadores - numa consciencialização colectiva de que aquilo que estamos a ver tem de acabar... e depressa. Primeiro porque poderá tornar-se ainda pior e depois porque, na realidade, num momento em que as espécies naturais desaparecem graças ao aquecimento global... porque não torcer por este predador que, na realidade, até "despacha" aqueles que violam o seu território colocando-os assim em perigo de extinção?! E se este extermínio - deste Homem - surgir rápido... tanto melhor!
Pouco há a retirar de Ice Sharks para lá do óbvio... O espectador ri um pouco pelo absurdo, esquece-se rapidamente daquilo que viu não danificando muita da sua massa cinzenta e, no final, se algum dia pensar que pode fazer uma obra cinematográfica... saberá perfeitamente onde não vir retirar inspiração sob o risco de trazer um qualquer tubarão à vida... da forma mais inesperada e absurda possível. Quanto ao final... se tudo o resto foi o que foi... imagine o espectador aquilo que poderá "reter" deste filme que parece querer suicidar-se sem grande esforço... tal como tudo aquilo que foi aqui apresentado...
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