É Só Querer de Carlos Therón (Espanha) é o remake de Smetto Quando Voglio (2014), de Sydney Sibilia naquela que parece transformar-se numa tendência espanhola de adaptar ao seu cinema alguns dos mais recentes êxitos de comédia transalpinos como o já verificado com Perfectos Desconocidos (2017), de Álex de la Iglésia.
Pedro (David Verdaguer), Arturo (Ernesto Sevilla) e Eligio (Carlos Santos) eram um exemplo enquanto estudantes. Dez anos passados, todos eles vivem na primeira pessoa os problemas da dita "vida adulta"... Da solidão à separação, da incapacidade de ter um trabalho aos quarenta anos que estão cada vez mais perto, todos eles esperam algo mais da vida... Algo mais que tarda... até ao dia em que Pedro faz uma descoberta que irá revolucionar a vida de todos.
Existe toda uma geração que poderá, em certa medida, identificar-se com as personagens retratadas em Lo Dejo Cuando Quiera... toda aquela geração que já passou os trinta e que dedicou uma vida ao saber e àquilo que as promessa de uma vida "universitária" lhe garantiram encontram nesta longa-metragem um certo irónico paralelismo que os faz recordar "aquilo fui e sou eu". A garantia de uma vida melhor, a certeza de um futuro profissional mais risonho e que poderia conferir um nível de vida diferente daquele que os pais haviam proporcionado encontra nas rápidas e constantes transformações deste já não tão novo século uma paródia ao estilo de vida que, talvez, agora tenham. Nem tudo foram rosas ou tão pouco promessas garantidas... Nem todos os trabalhos e percursos profissionais corresponderam àquilo que se desejou e, de certa forma, as esperadas vidas familiares com os "amores de sempre" também encontram um rápido término quando a tal "promessa! não foi cumprida. As férias, os bens materiais e até mesmo a casa de sonho não cumprido deram lugar à certeza de que "isto" (seja lá o que fôr) não poderá ser melhor... por muito mau que seja.
Mas, nem tudo poderia terminar neste desencanto alucinante. As esperanças, ou melhor, as oportunidades iriam, afinal, aparecer... mas não sob a forma esperada ou mais lícita. O estudo, as invenções e o conhecimento de "Pedro" iriam, afinal, possibilitar-lhe a tal "oportunidade"... ainda que no seu todo esteja a jogar bem longe da sua área de conforto. Mas, a pergunta final, que interessa essa área de conforto se, até ao momento, não lhes possibilitou a concretização de sonhos, de vontades ou, afinal, da tal vida de sonho pela qual tanto lutaram enquanto estudantes exemplares? Do sonho à realidade perderam a vida ou, pelo menos, aquilo que de melhor ela parecia querer entregar-lhes...
Lo Dejo Cuando Quiera é uma comédia simpática e divertida que constrói um conjunto de personagens que se enquadram de forma perfeita no género... o trio protagonista que se conhece desde muito jovens, os conflitos existenciais que todos vivem, as sedutoras fatais e os criminosos com dotes para a comédia e boa disposição transformando os seus noventa minutos numa experiência agradável mas, ao mesmo tempo, vive no assombro de ser uma fórmula já conhecida e tacitamente replicada quando o espectador se recorda da original italiana que, na realidade, não tem tantos anos que a fizesse ser esquecida, e ainda que o trio Verdaguer, Sevilla e Santos desenvolva uma dinâmica comum interessante e se "construa" para lá do trio por si, não deixa de ser verdadeiro que são alguns dos secundários aqueles que melhor conseguem criar empatia com a câmara e, dessa forma, com o público. Exemplo disso está a magnética interpretação de Ernesto Alterio que com o seu "Tacho" não só se estabelece com um dos mais dinâmicos elementos de comédia desta história como sobretudo aquele pelo qual o espectador espera ver mais tempo na câmara. Cómico, transgressor, provocador e ao mesmo tempo a dose perfeita enquanto vilão de serviço, Alterio é, sem margem para dúvidas, a personagem que permanece mais tempo na memória e com a simpatia do espectador.
Para uma sessão ligeira de cinema, Lo Dejo Cuando Quiera cumpre a sua missão. Ainda que com um fundo com o qual muitos de nós se possam identificar - tráfico de droga à parte -, é a esperada (mas previsível) comédia que se destaca através de alguns momentos musicais mais "alternativos". No geral os actores não brilham nem constroem personagens memoráveis (excepção de Alterio já confirmada), a história no seu todo não é original e a comédia espanhola já deu provas de mais e muito melhor mas, ainda assim, esta longa-metragem de Therón consegue cumprir a sua missão de fazer o espectador libertar a sua mente de grandes preocupações e não ir à sala de cinema pensar mas sim descontrair com uma história centrada em grandes problemas mas que se permite não se deixar focar neles. Afinal, há que aproveitar a vida... ou pelo menos algumas das oportunidades que esta nos concede.
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