sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Nobody (2023)

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Nobody de Marcela Jacobina (Portugal) seleccionada para competição na sétima edição do Planos Film Festival a decorrer no Cine-Teatro Paraíso, em Tomar revela a história da personagem que dá nome a este filme curto interpretado por Marcela Jacobina, uma jovem que centra a sua existência numa dinâmica online com homens aos quais cobra pela sua companhia.
Filmado num cenário que agora nos é familiar de período pandémico (e pós-pandémico) onde, mais do que nunca, as relações oscilaram muito para uma vertente virtual - relações essas que vão das de amizade às sociais e principalmente profissionais -, este Nobody sobre "Nobody", uma jovem mulher que revela o seu latente anonimato e desapego para qualquer tipo de interacções sociais e que apenas interage (ou tenta) com o mundo através das múltiplas e breves ocasiões diárias em que contacta com homens que encara como a sua fonte de rendimento e que a procuram pela sensualidade que deposita na sua persona inspirada em anime japonesa.
Desligada a câmara, pergunta-se ela e nós espectadores, o que existe? Muito pouco ou nada. Uma mão cheio de correspondência por abrir, uma mãe que lhe liga insistentemente e à qual não responde e uma casa que é o completo oposto daquilo que encena para o seu público. Desarrumação, pouco brio e uma  aparente realidade de desapego e motivação para o que a rodeia e que não consiga fazer parte daquele imaginário que dá cor à sua ilusão. E é no meio deste isolamento, que calculamos ser auto-imposto, que se desenrola a sua realidade ou, melhor dizendo, a falta dela. Percebemos que não tem qualquer vontade de interacção social mas, ainda assim, mantém estas relações programadas e furtuitas para a sua subsistência. Existe apenas num limite dessa sobrevivência que, na realidade, passa despercebida a todos menos a um cliente habitual (Carloto Cotta) que insiste estar disponível para lhe dar atenção seja quando for. Mas que ela nega e do qual se afasta concentrando-se, quem sabe, no seu apego por esta solidão que, ao mesmo tempo, parecer querer despedir.
"Nobody" é assim, uma mulher fora do tempo mas reflexo do mesmo em que vive. Está no mundo sem estar. Existe sem existir. Ninguém a conhece ou sabe verdadeiramente quem é. Poderá alguém dar pela sua falta algum dia? Saberá alguém que ela é uma realidade ou apenas um boneco criado e que em qualquer momento poderá desaparecer? É no meio destes dilemas que vive (ou existe?!) e para os quais parece não ter qualquer tipo de resposta ou solução.
Ainda que esta curta-metragem consiga fazer um curioso e interessante retrato das realidades deste século já com mais de vinte anos de existência reflectindo sobre as relações que hoje existem ou como se desenvolvem as dinâmicas entre pares, falta a Nobody um maior desenvolvimento no seu argumento que nos permita pensar mais sobre esta jovem mulher para lá daquilo que faz como modo de sobreviver. Foi pensado o seu isolamento e subsistência através destes encontros ocasionais online ou foi o seu objectivo revelar a sua (in)existência como uma realidade desejada? Existe Nobody para lá desta dinâmica ou não é ela mais do que o seu próprio nick define... ninguém?! É a falta desta exploração de personagem que seria interessante e dinamizaria mais esta curta-metragem que acaba por se resumir à breve revelação de uma vida que não o chega a ser mesmo quando um daqueles com quem interage parece querer saber mais do que aquilo que a sua caracterização esconde. Conseguirá ela alguma vez querer exactamente o mesmo?
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6 /10
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