Deus Providenciará de Luís Porto é uma curta-metragem de ficção portuguesa que foi exibida na secção competitiva do Shortcutz Viseu e que leva o espectador aos idos anos de 80.
Ano 1984. No interior profundo de Portugal, Maria (Isabel Abreu) é uma mulher solitária e profundamente religiosa que no silêncio dos montes onde vive é violentada por um homem desconhecido.
Deste tenebroso evento resulta uma inesperada e indesejada gravidez colocando Maria numa estranha e complicada situação que colidem não só com a sua devoção religiosa como principalmente com a sua vontade de trazer esta vida ao mundo.
Num momento em que a actual lei do aborto é contestada em Portugal, o argumento de Deus Providenciará da autoria de Jaime Monsanto e Nuno Campos Monteiro não poderia ser mais pertinente na medida em que coloca o espectador não só num paralelismo temporal em relação à data da acção desta curta-metragem como, ao mesmo tempo, estabelece uma proximidade latente entre o espectador e a personagem interpretada pela actriz Isabel Abreu. Se por um lado somos colocados num lapso temporal que não só nos revelam o interior profundo de Portugal com a distância de trinta anos onde - eventualmente como ainda hoje - o padre da aldeia verbaliza a "quase lei" da mesma fortemente influenciando as mentalidades daqueles que por lá vivem, não é menos verdade que o espectador consegue, ao mesmo tempo, colocar-se no presente assistindo a um conjunto de elementos que o fazem questionar se aqueles argumentos são - foram - realmente válidos.
A realidade é, no entanto, bem mais preocupante do que aquilo que a ficção nos transmite - apesar de um fiel retrato - na medida em que bem sabemos que em tempos e em locais onde a (des)informação reinava estando quase sempre nas mãos daqueles que teriam - à partida - um pouco mais de conhecimento do mundo em geral e que emitiam as suas opiniões pessoais como sendo as socialmente aceitadas pelo mundo "lá fora". Era nestes mesmos locais que trágicos acontecimentos como aquele que assolou "Maria", a colocavam não só como uma mulher que vivia a dor em silêncio num mundo - agora - destruído mas que também a colocavam a viver um imenso dilema pessoal na medida em que toda a sua fé era não só abalada pela injustiça a que tinha sido condenada por Deus que a "abandonara" como também pelo padre da Igreja que proferia discursos que tudo apontavam o o filho que tinha no ventre como um "castigo pelo prazer da carne"... Prazer esse que, segundo ele, "Maria" - num sentido lato - teria... "usufruído".
Isabel Abreu, uma magnífica actriz que consegue com a sua expressividade não só fazer notar ao espectador a dor sentida por "Maria" como ao mesmo tempo negá-la dentro do contexto da sua personagem, tem aqui mais uma das suas fortes e intensas interpretações ao nível do já distante Entre os Dedos (2008) onde a dor - mais psicológica do que física - é sofrida com uma contenção extrema das suas sensações e emoções.
A nível técnico Deus Providenciará apresenta também alguns elementos que primam pela excelência nomeadamente a sua extraordinária e profundamente emotiva música original da autoria de Daniel Carvalho mas também a direcção de fotografia de Francisco Vidinha que faz destacar o pré e o pós violação transformando a luminosidade desta curta-metragem num primeiro momento rico em vida e um certo alheamento do que se passa em redor de "Maria" - quanta normalidade existia - e num segundo momento transformando todo o seu ambiente num espaço frio e desprovido de vida que a assolam e consomem.
Como referi logo de início, Deus Providenciará é não só uma curta-metragem de época - uma distante mas não tanto quanto poderemos à partida pensar - mas que essencialmente coloca de novo nos nossos pensamentos o drama de uma mulher - da Mulher - que se vê forçada a viver num silêncio agonizante um drama inimaginável e que ao mesmo tempo se vê a braços com uma condenação externa que a fazem (re)viver todo um momento vezes sem conta... Ontem, tal como hoje, a história repete-se infelizmente nem sempre pelos melhores motivos... e para lá de um qualquer drama que pode ter inúmeras causas mas apenas uma consequência, aqui está questionada não a causa que é tida como um "castigo" de um prazer (?) - inconcebível quem assim o acha - mas sim a consequência que se traduz na vontade de não poder escolher o destino a dar à (sua) própria vida.
.Ano 1984. No interior profundo de Portugal, Maria (Isabel Abreu) é uma mulher solitária e profundamente religiosa que no silêncio dos montes onde vive é violentada por um homem desconhecido.
Deste tenebroso evento resulta uma inesperada e indesejada gravidez colocando Maria numa estranha e complicada situação que colidem não só com a sua devoção religiosa como principalmente com a sua vontade de trazer esta vida ao mundo.
Num momento em que a actual lei do aborto é contestada em Portugal, o argumento de Deus Providenciará da autoria de Jaime Monsanto e Nuno Campos Monteiro não poderia ser mais pertinente na medida em que coloca o espectador não só num paralelismo temporal em relação à data da acção desta curta-metragem como, ao mesmo tempo, estabelece uma proximidade latente entre o espectador e a personagem interpretada pela actriz Isabel Abreu. Se por um lado somos colocados num lapso temporal que não só nos revelam o interior profundo de Portugal com a distância de trinta anos onde - eventualmente como ainda hoje - o padre da aldeia verbaliza a "quase lei" da mesma fortemente influenciando as mentalidades daqueles que por lá vivem, não é menos verdade que o espectador consegue, ao mesmo tempo, colocar-se no presente assistindo a um conjunto de elementos que o fazem questionar se aqueles argumentos são - foram - realmente válidos.
A realidade é, no entanto, bem mais preocupante do que aquilo que a ficção nos transmite - apesar de um fiel retrato - na medida em que bem sabemos que em tempos e em locais onde a (des)informação reinava estando quase sempre nas mãos daqueles que teriam - à partida - um pouco mais de conhecimento do mundo em geral e que emitiam as suas opiniões pessoais como sendo as socialmente aceitadas pelo mundo "lá fora". Era nestes mesmos locais que trágicos acontecimentos como aquele que assolou "Maria", a colocavam não só como uma mulher que vivia a dor em silêncio num mundo - agora - destruído mas que também a colocavam a viver um imenso dilema pessoal na medida em que toda a sua fé era não só abalada pela injustiça a que tinha sido condenada por Deus que a "abandonara" como também pelo padre da Igreja que proferia discursos que tudo apontavam o o filho que tinha no ventre como um "castigo pelo prazer da carne"... Prazer esse que, segundo ele, "Maria" - num sentido lato - teria... "usufruído".
Isabel Abreu, uma magnífica actriz que consegue com a sua expressividade não só fazer notar ao espectador a dor sentida por "Maria" como ao mesmo tempo negá-la dentro do contexto da sua personagem, tem aqui mais uma das suas fortes e intensas interpretações ao nível do já distante Entre os Dedos (2008) onde a dor - mais psicológica do que física - é sofrida com uma contenção extrema das suas sensações e emoções.
A nível técnico Deus Providenciará apresenta também alguns elementos que primam pela excelência nomeadamente a sua extraordinária e profundamente emotiva música original da autoria de Daniel Carvalho mas também a direcção de fotografia de Francisco Vidinha que faz destacar o pré e o pós violação transformando a luminosidade desta curta-metragem num primeiro momento rico em vida e um certo alheamento do que se passa em redor de "Maria" - quanta normalidade existia - e num segundo momento transformando todo o seu ambiente num espaço frio e desprovido de vida que a assolam e consomem.
Como referi logo de início, Deus Providenciará é não só uma curta-metragem de época - uma distante mas não tanto quanto poderemos à partida pensar - mas que essencialmente coloca de novo nos nossos pensamentos o drama de uma mulher - da Mulher - que se vê forçada a viver num silêncio agonizante um drama inimaginável e que ao mesmo tempo se vê a braços com uma condenação externa que a fazem (re)viver todo um momento vezes sem conta... Ontem, tal como hoje, a história repete-se infelizmente nem sempre pelos melhores motivos... e para lá de um qualquer drama que pode ter inúmeras causas mas apenas uma consequência, aqui está questionada não a causa que é tida como um "castigo" de um prazer (?) - inconcebível quem assim o acha - mas sim a consequência que se traduz na vontade de não poder escolher o destino a dar à (sua) própria vida.
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