domingo, 20 de setembro de 2015

Doggers (2015)

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Doggers de António da Silva é um documentário em formato de curta-metragem português presente na secção Hard Nights - António da Silva dedicada ao trabalho do realizador no âmbito da décima-nona edição do QueerLisboa - Festival Internacional de Cinema Queer a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Num parque de estacionamento público junto ao Estádio do Jamor, uma câmara oculta captura as mais diversas interacções sexuais entre homens. Com carros estacionados ou a circular muito lentamente, a sedução e o "engate" acontece de forma espontânea independentemente da idade, físico, estrato social ou marital. De forma natural e algo "animal", põem em prática alguns dos desejos e fantasias que a rotina diária habitual os inibe de realizar.
Seguindo a tradição de documentários provocadores e profundamente voyeuristas - do realizador enquanto quem cria e do espectador que assiste - como o que já havia feito com Bankers (2012) ou Cariocas (2014), António da Silva estreia Doggers seguindo a premissa do termo britânico dogging - encontros ocasionais em parques de estacionamento para observar outras pessoas em acto sexual num comportamento semelhante àquele tido pelos cães - e entregando este documentário que de forma explícita nos apresenta as práticas ali registadas.
Todos filmados de forma anónima mas deixando a percepção de que alguns não se importam e percebem estar a ser filmados, Doggers apenas faz ecoar os sons exteriores ao espaço - carros que circulam na estrada principal - servindo assim da camuflagem perfeita para as longas horas de sexo que aquele parque esconde.
Longe de qualquer conceito moral sobre a sexualidade e a sua prática que ficam literalmente "à porta", estes homens apenas satisfazem a sua libido de forma anónima... Sem se conhecerem e apenas dando resposta ao desejo latente, o espectador percebe que as suas origens, idade, estrato social e inclusive marital - não esquecer que várias são as alianças de casamento que por ali circulam - são diversas. Aquele parque e aquele espaço situam-se assim no domínio de uma liberdade escondida e que não corresponde necessariamente às noções de "moral" - por muito subjectivas que sejam - que se apregoam noutros locais.
Outro é o som que acompanha o espectador e que faz - por diversas ocasiões - sorrir... A rádio está sempre ligada ora com música ora com política e publicidade. Fala-se nos filmes e literatura erótica que alguns políticos lêem enquanto assistimos a explícitos actos sexuais em plena luz do dia... Condenam-se uns, condenam-se os outros... Mas resta a pergunta na mente de quem observa... Condenar quem e porquê? Qual a noção de moralidade que cada um tem e o porquê de se preocupar com os actos alheios? Mas o humor não pára por aqui quando escutamos publicidade a produtos dentífricos enquanto observamos... sexo oral.
Muito para lá de uma rápida condenação dos actos alheios, aquilo que Doggers deixa mais marcado no espectador é a já referida "necessidade" de condenar os mesmos, ou seja, se a dita sociedade impõe um padrão de sexualidade "normal" ou "normalizado" perante todos como praticar aquela para qual cada um sente como sendo a sua manifestação de prazer que não seja fazê-lo de forma anónima, oculta para os olhares comuns e onde todos se evidenciam como um entre muitos longe de qualquer condenação pública?
Eventualmente não será um documentário fácil para todos ou tão pouco aconselhável pois muitos irão considerar pornografia gratuita sem qualquer subtexto mas, ainda assim, não deixa de ser uma obra provocatória - mais uma - de António da Silva que tenta quebrar mitos de "perfeição" e "moralidade" quando ela, na prática, nunca existiu.

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7 / 10
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1 comentário:

  1. What a waste of 6 bucks..good premise but the artsy back and forth isn't really hot.

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