segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Hope (2015)

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Hope de Aleix Buch é uma curta-metragem de ficção espanhola que nos apresenta Claudia (Júlia Molins), uma jovem rapariga que atravessou uma horrível e traumática experiência.
Enquanto o espectador presencia e acompanha a sua volta a uma crua realidade, Claudia debate-se com a junção dos fragmentos que lhe revelam a trágica dimensão dos seus dias.
O argumento que é também da autoria do realizador Aleix Buch, remete o espectador para uma viagem a uma mente perturbada e afectada por acontecimentos que nem a própria consegue equacionar. Num perceptível bloqueio mental que a protege da sua experiência, "Claudia" imagina-se num espaço distante onde é entrevistada como que uma testemunha - e é - de um momento que só ela e mais ninguém poderá revelar e que se proporcionou por depositar a sua confiança naquele que seria os seu elo primário e que deveria contribuir para o seu saudável desenvolvimento.
Afectado que foi o seu círculo de confiança fazendo-a ser a testemunha única da perda não só da sua inocência como de todo o conforto que um lar lhe deveria proporcionar, "Claudia" divaga para um momento em que se imagina entrevistada e questionada sobre as experiências que a marcaram e o espectador, ainda desconhecedor do que lhe sucedera, assiste a este "programa televisivo" num misto de incerteza e confusão que transformam a jovem não naquilo que ela realmente é mas numa eventual vítima de um rapto... assalto... detenção forçada.
Num misto de trauma e pouca percepção da realidade como consequência directa do mesmo, "Claudia", uma vítima, imagina toda a sua realidade como um eventual programa televisivo onde se encontra e que lhe fornecem a única imagem - ilusória - de segurança que lhe possibilita muito lentamente conhecer a real dimensão do seu passado recente. A televisão como a fábrica de sonhos funciona na medida oposta ao transformar-se no veículo para a admissão e "compreensão" do seu pesadelo que tem tudo menos de cor-de-rosa ou granjear-lhe qualquer tipo de fama.
A imaginação de Aleix Buch ao delinear uma estreita e muito ténue linha que separa o sonho do tormento, funcionam como o elemento perfeito de Hope, como a esperança que já não existe e que se dissipa lentamente à medida que a realidade volta a ocupar a mente desta jovem agora indefinidamente transformada e forçada a uma perda de inocência antes do seu tempo.
Intensa a interpretação da jovem Júlia Molins enquanto "Claudia" assim como a silenciosamente tenebrosa a cargo de Josep Maria Alejandre como "Nikolaus", o seu pai e que sem interagirem conseguem complementar-se de forma assustadoramente real.
Um último destaque - também ele positivo - para a direcção de fotografia de Oriol Colomar que conferem a Hope um notório sentido negro não só pelo espaço como também pela mensagem e que retiram a toda esta história a tal esperança que o título indica.
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8 / 10
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